Ciro Gomes diz que não quer mais disputar eleições: ‘asfixiado por
aqueles por quem lutei’
O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) afirmou em
entrevista à GloboNews nesta sexta-feira, 29, que “dificilmente” voltará a
disputar eleições. Em 2022, o pedetista amargou seu pior desempenho em uma
campanha à Presidência da República, quando obteve apenas 3% dos votos e ficou
em 4º lugar. Ciro criticou o movimento para fazê-lo desistir de se candidatar
nas últimas eleições.
“Eu fui desistido. Não é bem que eu desisti, não”,
disse. “Quando eu saía de uma eleição difícil, quase impossível, com 12% (dos
votos), eu achava que não tinha direito de desertar da expressão daquilo.
Quando aconteceu aquilo (eleições de 2022), da forma que foi, eu me senti
asfixiado por aqueles por quem eu lutei a minha vida toda. De repete senti:
estou fazendo isso sozinho. Em nome de quê?”
Nas últimas eleições, apoiadores do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva e artistas como Caetano Veloso e Alinne Moraes fizeram uma
campanha para tirar votos de Ciro, batizada de #tiragomes. O objetivo era
estimular o voto útil no petista para derrotar o ex-presidente Jair Bolsonaro
(PL). Ciro na época chamou o movimento de “terrorismo eleitoral”.
À GloboNews, Ciro criticou artistas que apoiam Lula
apesar de concessões feitas ao Congresso. O ex-governador citou repetidamente
as emendas parlamentares liberadas pelo governo como exemplo de falhas da
gestão federal. Diante disso, o cearense afirmou que perdeu “a crença e o
entusiasmo na linguagem eleitoral brasileira”.
“O que me causou um constrangimento e me fez perder
a vontade de disputar minhas ideias eleitoralmente são as mediações”, afirmou.
“Como vou explicar isso aqui (suas ideias de governo) pro povão se não tiver um
conjunto de pessoas equipadas pelo privilégio de serem artistas, intelectuais,
cientistas, líderes estudantis, lideranças sindicais? Essa gente toda está
batendo palma para a destruição do meu País, para o apodrecimento da República.
O cinismo perdeu o pudor. Fala-se: o Congresso é assim”.
Ciro criticou Lula por, segundo ele, agravar a
“relação podre, corrupta, fisiológica e clientelista” com o Congresso. Em
agosto, o petista se tornou o presidente que mais liberou emendas parlamentares
em um único mês. Para o ex-governador, este é um sinal de que a negociação com
os deputados e senadores continua da mesma forma que ocorria com Bolsonaro,
quando revelou-se o esquema do orçamento secreto. “Enquanto isso, nossa elite,
de forma cínica, diz: se não assim, como faria?”, questionou Ciro, propondo a
adoção de plebiscitos para resolução de disputas entre Executivo e Legislativo.
O ex-ministro disse crer que a verba que os
parlamentares ganham com emendas acaba com a equidade na disputa política. “Não
se elege mais uma pessoa jovem, uma pessoa séria no País. Estamos ensinando aos
jovens que a política é assim?”, criticou.
O cearense foi candidato à Presidência quatro
vezes. Em 1998 e em 2002, pelo PPS, chegou a 10,9% e 11,9% dos votos. Em 2018,
com o PDT, alcançou 12,4% do eleitorado. Na última disputa, ficou atrás de
Lula, Bolsonaro e Simone Tebet (MDB). “Eu tenho êxito na política, só não
consegui ser presidente do País. Deus não quis”, disse Ciro na entrevista.
Depois de afirmar que “dificilmente” entraria em disputas novamente, reafirmou:
”Eu vou seguir lutando, mas disputar eleição não quero mais não”.
• Ciro
critica governo Lula e diz que Brasil está em ‘decadência franca’
O ex-governador do Ceará criticou a atuação do
governo federal em diferentes áreas, da economia ao meio ambiente, passando por
segurança, educação e tecnologia. Para ele, Lula “perdeu o pulso faz tempo” e o
País está em “decadência franca” há anos. Ciro disse acreditar que as políticas
públicas não mudaram muito desde a gestão passada.
“É muito melhor criticar um governo como o do Lula,
do que um governo como o do Bolsonaro”, afirmou. “Mas vamos ficar amarrados
nessa âncora mortal? Ao invés de comparar as coisas com o passado, eu comparo
com a promessa que foi feita, que está muito longe de ser atendida, e com as
condições objetivas de fazer diferente, que eu sei que poderia ser”.
Outra área de atuação do governo criticada por Ciro
foi a da política externa. Para ele, o Brasil deveria voltar seus olhos à
resolução de conflitos e tensões na América Latina. “Lula está buscando ser um
pop star, uma celebridade internacional, a falar bobagens em assuntos externos
complicados e complexos”, afirmou. “Eu fui ao Parlamento Europeu e o que eu
ouvi me obrigou a defender o Lula, de tanta bobagem que ele falou. Lula só se
preocupa com a paz onde a imprensa está olhando”.
• Irmãos
Gomes em disputa
O ex-ministro não citou na entrevista a briga com o
irmão, Cid Gomes. O senador deve sair do PDT para se filiar ao PSB, do
vice-presidente Geraldo Alckmin, sigla em que já esteve por oito anos, quando
foi eleito e reeleito para o governo do Ceará, em 2006 e 2010. Em outubro deste
ano, Cid Gomes ameaçou deixar o PDT após uma reunião acalorada que contou com
bate-boca e troca de ofensas entre ele e Ciro.
Cúpula
do PSB vê como ‘praticamente acertada’ filiação de Cid Gomes após briga com o
irmão no PDT
Partido do vice-presidente Geraldo Alckmin, o PSB
deve ser a nova sigla do senador Cid Gomes a partir de janeiro do ano que vem. Atualmente
no PDT, Cid busca um novo partido após brigar com o irmão e ex-candidato à
Presidência Ciro Gomes (PDT). De acordo com um integrante da cúpula do PSB, a
filiação de Cid à legenda está “praticamente acertada”, devendo ser
oficializada ainda no primeiro mês de 2024.
O grupo de Cid deve anunciar até o início de
janeiro a filiação em massa para o PSB. A informação foi inicialmente noticiada
pelo jornal O Globo e confirmada pelo Estadão. Procurada pela reportagem, a
assessoria do senador disse que a filiação ao novo partido ainda não está
definida e que o senador ainda está discute com a sigla questões que envolvem
as eleições municipais de 2024. A reportagem apurou tratar-se justamente de
negociações com relação à migração de aliados de Cid Gomes ao partido.
Em outubro deste ano, Cid Gomes ameaçou que iria
deixar o PDT após uma reunião acalorada que contou com bate-boca e troca de
ofensas entre ele e o irmão Ciro. Depois do encontro, foi realizada uma
intervenção do comando nacional do partido no diretório estadual da legenda no
Ceará, tirando o senador do comando. Em novembro, a Justiça suspendeu a ação.
Após a briga com ex-presidenciável, Cid deixou
claro a sua intenção de deixar o PDT, mas sem anunciar qual seria a sua próxima
legenda. Foi ventilada a possibilidade do senador ir para o PT, mas a cúpula
petista resistiu à ideia.
Caso Cid realmente deixe o PDT para ir ao PSB, o
partido de Ciro, que tem atualmente três senadores, passará a ter apenas dois:
Leila Barros (DF) e Weverton (MA). Já a sigla de Alckmin aumentará a sua
bancada de quatro para cinco senadores. Atualmente, os integrantes da da
legenda no Senado são Ana Paula Lobato (MA), Chico Rodrigues (RR), Flávio Arns
(PR) e Jorge Kajuru (GO).
A ida de Cid para o PSB não será inédita, já que o
senador esteve na sigla por oito anos. Foi pela legenda que ele foi eleito
governador do Ceará em 2006 e reeleito em 2010. Em ambas as eleições, o PT
fazia parte da coligação cidista. Em 2013, ele deixou o partido junto com o
irmão para ingressar no PROS e em 2015, novamente ao lado de Ciro, foi para o
PDT.
• Racha
no PDT envolve apoio ao PT e eleições estaduais em 2022
O “racha” do PDT no Ceará tem origem nas eleições
de 2022, quando o partido decidiu lançar o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto
Cláudio (PDT) na disputa pelo governo do Estado. Foi uma vitória do grupo de
Ciro Gomes que custou uma aliança de 16 anos com o PT, simpático à candidatura
de Izolda Cela. Ex-governadora do Ceará, ela havia assumido o cargo com a saída
de Camilo Santana (PT) para a disputa do Senado. Quem venceu foi o candidato
petista, Elmano de Freitas, com Cláudio terminando em terceiro.
Após as eleições, o PDT entrou em um acordo com o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no plano federal, com o presidente
nacional da sigla, Carlos Lupi, ocupando o Ministério da Previdência. No Ceará,
a maioria dos deputados votam com o governo de Elmano, mas a adesão do partido
não foi oficializada, justamente pela resistência do grupo ligado a Roberto
Cláudio e Ciro Gomes, que preferem assumir uma postura oposicionista aos
governos petistas.
Fonte: Agencia Estado
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