Líderes da Resistência Palestina exigem fim imediato do ‘genocídio
sionista’ em Gaza
São quase três meses desde que Israel intensificou
seus ataques fatais contra o território palestino, resultando na morte de mais
de 21 mil civis na região. Enquanto as autoridades de Tel Aviv insistem em
continuar hostilizando toda a Gaza, incluindo a Cisjordânia ocupada e Jerusalém
Oriental, a liderança da Frente Única se viu na urgência de marcar um encontro
nesta quinta-feira (28/12), em Beirute, e declarar, por meio de um comunicado,
as pautas abordadas na reunião.
A discussão que envolveu cinco organismos da
resistência palestina — Hamas, movimento
da Jihad Islâmica, Frente Democrática para a Libertação da Palestina, Frente
Popular para a Libertação da Palestina e Comando Geral da Frente Popular para a
Libertação da Palestina — enfatizou a necessidade de uma luta que impeça a
ocupação e o massacre sionista antes da troca de prisioneiros em uma possível
trégua humanitária.
A declaração final que foi divulgada após a reunião
consultiva entre os representantes da resistência palestina foi recebida pelo
portal Palestinian Chronicle.
O documento contextualiza que o objetivo final de
Israel, por meio de seus ataques brutais, é promover o deslocamento massivo de
palestinos e “acabar com a causa nacional palestina”, liquidando os direitos
legítimos do povo como “a determinação do destino, no estabelecimento da Estado
palestino independente com Al-Quds (Jerusalém Oriental) como capital, e
garantindo o direito de retorno dos refugiados do nosso povo às suas casas e
propriedades, de acordo com a Resolução 194.”
A Frente Única também elogiou a “firmeza heróica”
do povo palestino ao afirmar êxito em conseguir “frustrar os objetivos do
inimigo, demonstrando a sua incompetência e a fragilidade das suas forças no
terreno”. Nesse contexto, os participantes enfatizaram suas tarefas de luta
“até que a guerra brutal e agressão contra o nosso povo sejam repelidas”,
começando pela cessação imediata do massacre e da limpeza étnica em Gaza.
Demandas da Frente Única
A liderança dos grupos da resistência destacou seus
objetivos prioritários na guerra:
- Cessação
imediata do genocídio, da política de terra arrasada e da limpeza étnica
na Faixa de Gaza.
- Quebrar
o cerco, começando pelo fornecimento de todos os recursos básicos ao povo
palestino e, simultaneamente, a reparação de todas instalações destruídas
pelo exército israelense. Isto incluiria o fornecimento de todos
suprimentos necessários para reativar e apoiar o sistema médico, que está
colapsado pelas contínuas agressões israelenses, transferindo também todos
os feridos no território para tratamento em países parceiros do exterior.
- Lançamento
de uma iniciativa internacional para reconstruir todo o patrimônio social
de Gaza destruído pelas forças israelenses, por meio de um acordo conjunto
com as autoridades árabe, islâmica e internacional, além de países
parceiros e organizações internacionais e regionais, como a Liga Árabe, a
Organização de Cooperação Islâmica e as Nações Unidas.
De acordo com o comunicado, a Frente Única também
condenou o Ocidente e entidades políticas pró-israelenses que pregam soluções e
cenários parciais para o chamado “o futuro da Faixa de Gaza”, além de reafirmar
a importância da unidade dos palestinos.
“A causa palestina é a causa de toda a Palestina,
terra, povo, direitos, futuro e destino. A solução para a causa só pode ser
alcançada através do abandono da ocupação e de todas as formas de
assentamentos, abrindo caminho para que o nosso povo determine o seu destino
nacional nas suas terras.”
Unidade estratégica
Os grupos também sugeriram a reparação da divisão
entre os vários movimentos palestinos existentes no território e o fim de todas
as questões políticas pendentes para garantir uma “luta estratégica unificada”
que reintroduza “a nossa causa como nação nacional”.
- Apelo
a “uma reunião nacional abrangente que inclua todas as partes, sem
exceção, para implementar o que foi acordado em diálogos palestinos
anteriores e para enfrentar as consequências da guerra brutal contra o
nosso povo na Faixa de Gaza e os ataques bárbaros de gangues de colonos
(judeus israelenses) e forças de ocupação, e projetos de assentamento e
anexação na Cisjordânia, especialmente em Al-Quds”.
- Uma
solução nacional palestina baseada na formação de um governo de unidade
nacional que forme um consenso nacional abrangente, incluindo todas as
partes responsáveis por unificar as instituições nacionais nas terras
ocupadas na Cisjordânia e na Faixa.
- Com
base no princípio do “todos por todos”, destaque na “necessidade de um
cessar-fogo e da cessação permanente de todos os atos de agressão e da
retirada completa da ocupação na Faixa de Gaza como condição para discutir
a troca de prisioneiros”.
- Apelo
ao “desenvolvimento do sistema político palestino sobre bases
democráticas, por meio de eleições gerais – presidenciais, legislativas e
do conselho nacional – condizentes com um sistema de representação
proporcional completo, em eleições livres, justas, transparentes e
democráticas”.
Ø Sigrid
Kaag: Quem é a nova chefe da ONU de ajuda à Gaza?
Ela é uma diplomata experiente e já ocupou vários
postos do alto escalão das Nações Unidas. Mas até para uma profissional tão
qualificada quanto a especialista Sigrid Kaag o cargo representa um enorme
desafio: a partir de 8 de janeiro de 2024, a holandesa de 62 anos coordenará na
Organização das Nações Unidas (ONU) a ajuda humanitária e de reconstrução para
a Faixa de Gaza.
A missão que Kaag e sua equipe enfrentam não será
fácil. Mesmo antes dos ataques do grupo fundamentalista islâmico Hamas a Israel
em 7 de outubro, cerca de 80% dos habitantes de Gaza dependiam da ajuda
humanitária. O Hamas, que controla a Faixa de Gaza desde 2007, é classificado
como uma organização terrorista por Israel, pela União Europeia, pelos Estados
Unidos e por vários outros países.
Os bombardeios e a ofensiva terrestre do exército
israelense, que já dura dois meses, destruíram grande parte da infraestrutura
da Faixa de Gaza. Os combates em uma área de apenas 360 quilômetros quadrados
causaram o deslocamento interno de centenas de milhares de pessoas.
O exército israelense espera que os combates
continuem por meses, o que significa que quase todos os 2,3 milhões de
habitantes de Gaza dependerão de ajuda humanitária no decorrer do próximo ano.
Pelo lado de Israel, há, ainda, a preocupação de
que armas, munição e combustível para os combatentes do Hamas possam chegar à
Faixa de Gaza através de ajuda internacional.
Nesse ambiente difícil, Sigrid Kaag tem as tarefas
de coordenar e monitorar a ajuda internacional de emergência e estabelecer um
mecanismo da ONU para acelerar as entregas de ajuda por meio de países que não
estão envolvidos no conflito.
O Conselho de Segurança da ONU tentou por várias
semanas aprovar uma resolução que pedia a “entrega segura e desimpedida de
ajuda humanitária em grande escala” para Gaza, mas esbarrava, por exemplo, em
veto dos Estados Unidos. O texto foi aprovado pouco antes do Natal e, com ele,
foi criado o novo cargo de Kaag.
·
Retorno à ONU
Sigrid Kaag é uma das políticas de destaque da
Holanda. Ela pertence ao partido liberal de esquerda D66 e já ocupou vários
cargos políticos importantes, como vice-chefe de governo e ex-ministra das
Finanças e das Relações Exteriores do primeiro-ministro de longa data Mark
Rutte.
Depois que o governo de coalizão entrou em colapso
e novas eleições foram convocadas para o final de novembro de 2023, a mãe de
quatro filhos anunciou sua aposentadoria da política holandesa. Antes disso,
Kaag e sua família haviam sido ameaçadas várias vezes, inclusive por
negacionistas do coronavírus.
A pausa não durou muito tempo. Quando Sigrid Kaag
assumir seu cargo nas Nações Unidas, ela retornará ao seu antigo local de
trabalho. Graduada em estudos árabes, de 1994 a 1997 ela foi chefe de relações
com doadores na Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da
Palestina no Próximo Oriente (UNRWA), em Jerusalém, e trabalhou no Fundo das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF) como chefe da Diretoria Regional para o
Oriente Médio e Norte da África, em Amã.
Entre 2013 e 2014, Kaag liderou a missão conjunta
das Nações Unidas e da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW)
para eliminar as armas químicas sírias e tornou-se Representante Especial da
ONU para o Líbano.
·
Uma mulher que ‘nunca dorme’
Sigrid Kaag é uma especialista reconhecida no
Oriente Médio. Fala fluentemente seis idiomas, inclusive árabe. E é casada com
o palestino Anis al-Qag há décadas. Ele trabalhou sob o comando do
ex-presidente da Autoridade Nacional Palestina Yasser Arafat como vice-ministro
de Cooperação Internacional.
Mais tarde, al-Qag fundou o Fórum Internacional
pela Paz, que tem como objetivo promover o diálogo entre israelenses e
palestinos, europeus e países mediterrâneos e implementar projetos de
desenvolvimento cultural, econômico e social.
Kaag foi especialmente elogiada por diplomatas
internacionais por seu trabalho na destruição dos estoques de armas químicas da
Síria, o que lhe rendeu o apelido de “Mulher de Ferro”. Sigrid Kaag é “uma
mulher que nunca para de trabalhar e praticamente nunca dorme”, disse certa vez
um diplomata sírio.
·
Críticas a Israel
Apesar do currículo, nem todos em Israel estão
satisfeitos com a nomeação de Kaag. Vários meios de comunicação do país
informaram que ela havia criticado as políticas israelenses no passado. Como
vice-primeira-ministra da Holanda, por exemplo, ela entrou em conflito com seu
chefe Mark Rutte por causa de política dele, supostamente favorável a Israel.
Na década de 1990, Kaag acusou o primeiro-ministro
israelense Benjamin Netanyahu de usar “conotações racistas e demagógicas” sobre
o parceiro palestino nas negociações de paz, de acordo com o jornal
israelense Haaretz. E ela teria se referido uma vez aos colonos
israelenses como “colonos ilegais em terras confiscadas”.
O relacionamento de Israel com a ONU tem sido
tenso, e não apenas desde o polêmico discurso do Secretário-Geral da ONU,
António Guterres, em outubro de 2023. Israel critica a ONU devido a uma maioria
pró-palestina do Sul global na Assembleia Geral.
Kaag terá de usar muito do seu talento diplomático
para conseguir que mais ajuda emergencial chegue a Gaza. Ainda bem que a
holandesa “nunca dorme”, pois descansar no novo trabalho será pouco provável.
Ø Israel joga
'água gambá' e asfixia fiéis palestinos ao barrar entrada na mesquita sagrada
de Jerusalém
O que era para ser uma manhã comum no bairro de
Wadi al-Joz, próximo à Cidade Velha de Jerusalém ocupada, se tornou mais um
palco de hostilidades.
Já nas primeiras horas do dia, dezenas de fiéis
palestinos foram surpreendidos pelas forças
israelenses, que pulverizaram "água gambá", conhecido como "skunk
water". A ferramenta tem sido comumente utilizada contra o povo palestino
em uma tentativa de "humilhar" e evacuar os civis.
Os ataques desta sexta-feira (29/12) aconteceram
logo depois que os religiosos foram barrados de entrar na mesquita de Al-Aqsa, como
resultado das medidas rigorosas impostas pelas autoridades de Tel Aviv para o
ingresso ao local sagrado.
Sem opção, o grupo se direcionou ao bairro de Wadi
al-Joz para a realização dos rituais. No entanto, foi justamente nesse caminho
que a polícia israelense reprimiu os religiosos.
De acordo com a agência de notícias Wafa,
além da "água gambá", os policiais também usaram balas de metal
revestidas de borracha e gás lacrimogêneo, o que acabou ferindo e asfixiando
dezenas de vítimas no local.
Em uma sexta-feira comum, a mesquita de Al-Aqsa
chega a receber até 70 mil pessoas. Neste dia, apenas 12 mil puderam entrar no
templo sagrado para as orações. A polícia israelense também submeteu os fiéis a
revistas, examinando seus cartões de identidade e proibindo a entrada de
pessoas fora da cidade de Jerusalém.
O complexo de Al Aqsa é um dos lugares mais
importantes para o Islã, mas também é relevante para o judaísmo. Por isso, tem
sido foco de tensões entre Israel e o povo palestino durante décadas.
Inclusive, a mesquita sagrada de Jerusalém já foi
alvo de invasões e ataques das Forças de Defesa de Israel (IDF) em diversas
ocasiões desde o início do governo de Benjamin Netanyahu. Algumas dessas ações
ao local chegaram a produzir mortos e feridos, e foram repudiadas por
organismos internacionais de proteção aos direitos humanos.
Vale lembrar também que a "água gambá"
foi usada em 2008 pela primeira vez, quando Israel pulverizou o líquido contra
manifestantes na aldeia palestina de Ni'lin, na Cisjordânia ocupada. Desde
então, a ferramenta tem sido usada regularmente em canhões de água contra
bairros palestinos com o objetivo estratégico de promover deslocamentos e
evacuações.
Fonte: Opera Mundi/Deutsche Welle
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