sábado, 30 de dezembro de 2023

Plínio Teodoro: PC Siqueira e Jéssica Vitória não se mataram. Eles foram assassinados

As recentes mortes trágicas de Jéssica Vitória Canedo e de Paulo Cezar Goulart Siqueira, o PC Siqueira, revelam a face perversa de um momento histórico em que as interações sociais se intensificaram por meio das redes, ao mesmo tempo em que as pessoas se distanciaram e vivenciam uma cruel solidão no mundo físico.

Em meio ao universo dos likes e emojis, a cultura e do ódio nas redes sociais promove um verdadeiro tribunal de exceção onde impera a Lei de Talião, que apura, julga e condena à pena do "cancelamento", sem dar direito ao contraditório, indivíduos que, muitas vezes, vivem em sofrimento psíquico.

Em um distante 1897, o sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo social e filósofo francês Émile Durkheim foi o primeiro pesquisador a definir "O Suicídio" - que dá nome a seu livro - como uma questão social. 

Em seu longo e profundo estudo, focado na análise das causas das taxas de suicídios de católicos e protestantes à época, Durkheim afirma que "é a opinião pública que fala por nossa boca" e que "agimos sob a pressão da coletividade, não como indivíduos".

"Existe, portanto, para cada povo, uma força coletiva, de energia determinada, que leva os homens a se matar. Os movimentos que o paciente realiza e que, à primeira vista, parecem exprimir apenas seu temperamento pessoal são na verdade a consequência e o prolongamento de um estado social que eles manifestam exteriormente", afirmou.

Durkheim ainda diz que as "paixões coletivas" atuam como forças sui generis que dominam as consciências dos indivíduos.

Ele, então, em uma espécie de premonição, chega a citar como exemplo "um grande perigo público que determine um aumento do sentimento patriótico" teria como resultado um ímpeto coletivo em que os "os interesses particulares, mesmo os comumente considerados os mais respeitáveis, devem se anular completamente diante do interesse comum".

·        Ecos na modernidade

O triste cenário traçado por Durkheim há exatos 126 anos, infelizmente, encontra eco na barbárie moderna das redes sociais e, mais precisamente, nos suicídios levados a cabo por Jéssica Vitória e PC Siqueira, vítimas implacáveis da pena de morte imposta pelo cancelamento e o discurso de ódio nas redes sociais.

Esse tribunal virtual coloca em julgamento milhares de pessoas que frequentam o universo das redes todos os dias, mas afeta principalmente aqueles mais fragilizados psíquica e emocionalmente, como foram os casos de Jéssica e PC.

A influência das redes sociais em casos de suicídios são refletidos nos números que registram aumento exponencial no número de pessoas que tiram a própria vida a cada ano.

Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, compilado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o número de suicídios no Brasil cresceu 11,8% em 2022 em relação ao ano anterior.

Em 2022, foram 16.262 registros, uma média de 44 por dia. Em 2021, foram 14.475 suicídios. Em termos proporcionais, o Brasil teve 8 suicídios por 100 mil habitantes em 2022, contra 7,2 em 2021. Em 2010, a média nacional era de 5,24, revelando o aumento alarmante no número de pessoas que tiram a própria vida.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o suicídio é a segunda causa de morte entre jovens entre 15 e 29 anos no mundo, só perdendo para acidentes de trânsito. No Brasil, é a terceira causa, atrás apenas de acidentes de trânsito e homicídios. Estudo do Ministério da Saúde aponta que os adolescentes foram os que mais morreram por suicídio no país, passando de 606 mortes em 2010 para 1.022 em 2019, uma elevação de 81% no período.

A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) ainda alerta para casos que acontecem mais cedo: cerca de mil crianças e adolescentes, na faixa etária entre 10 e 19 anos de idade, cometem suicídio no Brasil a cada ano.

Outro dado que reflete o tamanho do problema social vem do Centro de Valorização da Vida, o CVV, que somente no primeiro semestre de 2023 atendeu a uma média de 7,5 mil ligações por dia de brasileiros que buscam apoio emocional e prevenção do suicídio, quase sempre em estados depressivos não diagnosticados.

·        A tríade da "tristeza"

Confundida muitas vezes com a tristeza - um sentimento momentâneo - o quadro depressivo resulta muitas vezes em um sentimento de aversão à vida, que leva a pessoa a pensar em suicídio.

Mais de um século depois dos estudos de Durkheim mostrando os fatores sociais que levam ao suicídio, muitos ainda tendem a classificar a depressão como algo inerente ao indivíduo, ignorando ou minimizando a amplitude da questão que é reflexo da própria sociedade doentia em que vivemos.

Nos últimos anos, três fatores contribuíram para o aumento drástico dos casos de suicídio, vindos da cultura de ódio das redes sociais.

A opressão imposta pelo regime de trabalho incessante do capitalismo moderno leva pais a ficarem cada vez mais distantes dos filhos, especialmente no início da vida.

A necessidade de o casal trabalhar para suprir as necessidades básicas da família e a retirada crescente de direitos trabalhistas levam mães deixarem filhos recém-nascidos aos cuidados de terceiros ainda durante a exterogestação, período em que o bebê ainda se encontra em simbiose física e emocional com àquela que lhe deu a vida.

Em um segundo momento, a responsabilidade pelo desenvolvimento emocional dessas crianças é delegado às telas, sejam de televisores ou telefones celulares.

É aí que um segundo fator altera a relação direta da criança com sua autoestima - fator essencial para o amor próprio e pela vida. As redes sociais transformam o afeto materno e paterno em likes e as diretrizes de convivência, de responsabilidade dos pais, são substituídas pelo ódio e o cancelamento nas redes.

O bulying, não menos grave mas antes restritos aos ambientes físicos, se transforma em cyberbulying, em uma perseguição implacável, 24 horas por dia, nas redes sociais.

A esses dois elementos, soma-se ainda, nos últimos anos, a reascensão da ultradireita conservadora neofacista que destila todos os tipos de preconceitos contra quaisquer indivíduos que se contraponham à tentativa de imposição das crenças e valores "judaico-cristãos" defendidos ferrenhamente por eles.

Vinculadas à uma visão deturpada do cristianismo, amparada por pastores midiáticos e padres ultraconservadores, agem como esteio dos interesses do sistema financeiro e dos grandes conglomerados transnacionais que buscam impor o que ainda resta das premissas criminosas do neoliberalismo - pinçando projetos de ditadores aos quatro cantos da terra plana onde vivem.

De forma higienista, o neofascismo conservador julga e pune quaisquer indivíduos que se oponham à sua visão dualista de mundo e que condena pobres, pretos, gays, pessoas de crenças religiosas diversas, ateus e tantos outros que, somados, representam a maioria da sociedade.

Estes três pilares comprovam que, como Durkheim definiu, o suicídio é, sim, uma questão social. E é preciso rever a própria estrutura de sociedade em que vivemos para que os seres humanos, cada dia mais cedo, deixem de tirar a própria vida.

Jéssica Vitória e PC Siqueira não se mataram. Eles foram assassinados por uma estrutura social doentia. E que precisa ser curada antes que leve a cabo ao suicídio da própria humanidade.

 

Ø  SANTA CATARINA: Diretor de jornal que vendeu matérias elogiosas a Júlia Zanatta foi condenado por tráfico

 

Criticada pela omissão em meio à tragédia das enchentes de Santa Catarina, que deixou ao menos 3 mortos e 5 mil desabrigados no mês de novembro, a deputada Júlia Zanatta (PL-SC), armamentista e apoiadora radical de Jair Bolsonaro (PL), comprou no último mês de outubro por R$ 5 mil uma matéria elogiosa – e mentirosa - no jornal Razão, de Tijucas(SC), no Vale do Rio Tijucas, uma das regiões mais atingidas pelas cheias. Mas um detalhe escapou dos olhos dos meios de comunicação: um dos dos donos do jornal já foi condenado duas vezes, por tráfico de drogas e porte de armas, e chegou a ficar foragido da Justiça.

Lorran François Silva Barentin, diretor do Jornal Razão, cumpre as penas em regime semiaberto, com uso de tornozeleira eletrônica. São dois processos que o envolvem, com as seguintes numerações: 5004984-13.2019.8.24.0072 e 0000644-48.2018.8.24.0072.

O primeiro refere-se a caso ocorrido em 21 de novembro de 2019, com uma condenação definitiva a pena de 1 ano, 8 meses e 15 dias de reclusão, em regime semiaberto. No segundo processo o crime foi cometido em 28 de fevereiro de 2018, com condenação definitiva de 7 anos e 10 meses de reclusão, também em regime semiaberto.

Segundo consta na Receita Federal, o jornal Razão é de propriedade de Araci Barentin, mãe de Lorran. A reportagem entrou em contato com o jornal Razão e pediu o posicionamento do veículo em relação aos fatos noticiados. Atualizaremos a matéria assim que recebermos uma resposta.

·        A fake news

A divulgação ocorreu em "reportagem" no dia 11 de novembro com o título "Deputada Júlia Zanatta traz alívio para empresários do Alto Vale". A foto é uma montagem da deputada sobrevoando as áreas atingidas.

No entanto, a própria notícia diz que "a Receita Federal anunciou a prorrogação do prazo de pagamento do Simples Nacional para empreendedores de quatro cidades do Alto Vale do Itajaí, em Santa Catarina". Ou seja, foi uma ação do governo Lula, a quem a Receita Federal se submete.

À época, Julia Zanatta estava envolta à uma viagem para os Estados Unidos. A parlamentar viajou para Nova York com uma comitiva bolsonarista aproveitando para emendar o "recesso" no Congresso com o feriado de 15 de novembro, que caiu numa quarta-feira.

A informação foi revelada pela jornalista Amanda Miranda em publicação na rede X, antigo Twitter.

·        Método Ricardo Nunes

A estratégia da deputada é semelhante a que o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, realiza com grandes jornais, como FolhaEstadão e O Globo. Nunes tem apoio de Bolsonaro para se candidatar à reeleição no ano que vem.

Entre outubro do ano passado e o mesmo mês de 2023, Nunes gastou R$ 81.687.915,96 em contratos publicitários intermediados pelas agências Mworks e Propeg,  as mesmas empresas que fazem a intermediação de sua gestão om a Folha, o Estadão, o jornal O Globo, rádios comerciais e jornais de bairro para a divulgação de conteúdos propagandísticos.

Conforme já foi revelado por reportagens da Revista Fórum e do The Intercept Brasil, o material publicado nessa imensidão e diversidade de meios de comunicação se trata de conteúdos positivos e elogiosos à atual gestão municipal paulistana, maquiados como jornalismo e informações supostamente de utilidade pública - Leia reportagem exclusiva da Fórum sobre o tema.

 

Ø  Renato Cariani: amigo de influenciador é indiciado por associação ao tráfico de drogas

 

A Polícia Federal indiciou Fábio Spínola por associação por tráfico de drogas, tráfico equiparado e lavagem de dinheiro. Amigo do influenciador Renato Cariani, ele seria o elo entre o bolsonarista e o Primeiro Comanda da Capital (PCC).

Segundo as investigações, Spínola seria cúmplice de Cariani e operaria um esquema para tentar ludibriar os órgãos de fiscalização sobre o desvio de toneladas de solventes como o acetato de etila, acetona, éter etílico, cloridrato de lidocaína, manitol e fenacetina, todos usados para produzir cocaína e crack. 

Além da ligação com a facção criminosa, Spínola criou o pseudônimo de Augusto Guerra para lavar dinheiro com notas fiscais sobre fictícias vendas ao laboratório transnacional AstraZeneca.

Em depoimento no ano passado, no primeiro inquérito aberto em 2016, Cariani mostrou uma troca de e-mail com Augusto Guerra, que segundo ele seria representante da AstraZeneca, e disse que chegou a se encontrar com ele. A Polícia Civil e o Ministério Pública de São Paulo acreditam na versão do influenciador e arquivaram a investigação.

No entanto, a PF descobriu na atual investigação que Guerra, na verdade, é Fábio Spinola, amigo de Cariani, que faria a ligação com o PCC. Spinola chegou a ser preso em maio deste ano na Operação DownFall, sobre organização criminosa que usava mergulhadores para colocar droga no casco de navios.

Ele foi solto uma semana antes da operação da PF, que o encontrou ainda de tornozeleira eletrônica e com R$ 100 mil em dinheiro em sua casa.

Segundo a PF, o montante de produtos químicos desviados seriam usados para produzir toneladas de cocaína e crack.

Cerca de 2 mil litros de três tipos de solventes poderiam ser usados para produzir 1.640 quilos de cocaína. Substâncias em pó usadas para adulterar a droga poderiam resultar em 15,8 toneladas.

A PF ainda relaciona o desvio de 4.875 quilos de fenacetina, que resultaria na produção de 12,2 toneladas de crack.

 

Fonte: Fórum

 

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