sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Vulnerabilidade social eleva risco de câncer de próstata em homens negros

Estudos mostram que homens negros apresentam maior chance de diagnóstico de câncer de próstata, inclusive com riscos de evolução mais agressiva da doença. Pesquisa publicada no jornal científico Jama Network Open aponta que homens negros, nos Estados Unidos, têm de 60% a 80% mais chances de receber um diagnóstico de câncer de próstata e mais chance de esse diagnóstico ser em estágio mais avançado ou incurável, em relação aos homens brancos.

“Os fatores de risco do câncer de próstata são obesidade, falta de atividade física, tabagismo, exposição a metais pesados e poluição, etc. E o que se sabe é que a população negra, de modo geral, está mais vulnerável a essas condições”, destaca a médica.

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·        A maior incidência de câncer de próstata em pessoas negras tem algum fundamento biológico?

Não há nada estabelecido em relação à questão biológica para explicar a maior incidência de câncer de próstata em homens negros. Muito se interroga se seriam fatores genéticos, mas não se pode afirmar isso, até porque homens negros têm menos acessos a estudos de avaliação genética.

Os homens negros têm risco maior a essa doença, isso é um fato, e quando diagnosticada, ela é ainda mais agressiva e até avançada. Mas será que não é por causa de outros indicativos de risco em detrimento de genética? Os fatores de risco do câncer de próstata são obesidade, falta de atividade física, tabagismo, exposição a metais pesados e poluição, etc. E o que se sabe é que a população negra está mais vulnerável a essas condições.

Um indicador recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é a autoavaliação em saúde, que é quando o paciente reconhece alterações no próprio corpo que podem indicar alguma doença, e a população negra em geral tem pior autoavaliação. Isso é um risco porque as neoplasias são silenciosas e até a manifestação dos sintomas, elas já podem ter se desenvolvido. Por isso, campanhas como o Novembro Azul chamam atenção para os exames.

Acaba que fica muito estigmatizado. Os homens negros estão mais propensos ao câncer de próstata sim, mas por quê? Isso não surge do nada. É por causa de todos os fatores de riscos a que eles estão expostos. Coisas que dependem do acesso à saúde e a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra está aí, e precisa ser aplicada.

·        Existe alguma prevenção específica para a população negra, considerando que os riscos para ela são maiores?

Ainda não há uma indicação específica que mude, por exemplo, a idade de pessoas negras para realizar o exame do câncer de próstata, que hoje é de 50 anos para todos os públicos. Mas é importante que essa população esteja atenta e procure o serviço de saúde.

As campanhas precisam se direcionar também para a prevenção. Ou seja, homens negros precisam saber que exercício e controle de peso auxiliam na prevenção, principalmente se ele já tiver fatores de risco, como tabagismo e histórico familiar em primeiro grau, por exemplo.

·        As campanhas de alerta sobre a doença têm conseguido chegar até o público-alvo?

A academia, assim como as pesquisas, falham muito em conseguir falar com a população, principalmente minorizada. É preciso entender que a prevenção começa na atenção primária, por isso, a gente precisa de um serviço de saúde que funcione em seu nível básico e que tenha representatividade.

Estudo de abril deste ano, da revista Jama Network Open, avaliou os condados norte-americanos e concluiu que, para cada 10 médicos negros na atenção primária, a expectativa de vida da população negra aumentava em 31 dias. Esses médicos não precisavam atender, só de estarem lá já aumentava a expectativa de vida do paciente. Isso levanta uma série de hipóteses.

Será que os homens negros não procuram o serviço de saúde porque não se veem representados nas equipes médicas das campanhas de Novembro Azul?

Outro ensaio clínico publicado na mesma revista, sugere que as informações sobre o câncer de próstata foram consideradas mais confiáveis quando fornecidas por um médico em concordância racial do paciente adulto negro. Isso destaca a importância do aumento da diversidade racial entre os médicos e equipe assistencial em geral na divulgação pública de informações de saúde, para atingir o público almejado.

Sem falar na falta de representatividade nos estudos clínicos. Na maioria dos estudos clínicos de oncologia realizados nos Estados Unidos, apenas de 3 a 5% de todos os participantes são negros. Se a população não está representada, como posso afirmar que aquele tratamento é tão bom para a população negra como para as demais populações representadas? Essas discussões passam muito por isso.

 

Ø  Confira 10 hábitos alimentares que podem prevenir o câncer de próstata

 

O câncer de próstata é o segundo tipo de câncer mais incidente entre os homens brasileiros. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA) é estimado o surgimento de 71.730 novos casos da doença por ano entre 2023 e 2025 no Brasil.

Ana Salomon, professora de Nutrição do Centro Universitário de Brasília (CEUB), revela que hábitos de vida saudáveis e o consumo balanceado de alguns alimentos são aliados da saúde masculina e um bom método de prevenção da doença. A especialista acrescenta que os alimentos são as principais fontes das substâncias protetoras do organismo, não podendo ser substituídos por suplementos.

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"A prevenção do câncer de próstata deve ser parte de um estilo de vida saudável que promova a saúde física e também a mental”, explica. Segundo a especialista, alimentação equilibrada, rica em antioxidantes, fibras e alimentos saudáveis, peso adequado e a prática regular de atividade física contribuem para reduzir o risco do câncer de próstata e os demais tipos da doença. A docente adverte que o alto índice de gordura corporal, especialmente na fase adulta, é um fator de risco para diversos tipos de câncer, incluindo o de próstata. 

>>>> Confira as dicas da profissional para prevenir o câncer de próstata:

  1. Mantenha uma dieta rica em frutas e vegetais, de preferência com baixo teor de amido, excluindo tubérculos, como batata, mandioca e inhame. O INCA recomenda o consumo diário de 400 gramas de frutas e vegetais, sendo 160 de frutas e 240 de vegetais não amiláceos (cenoura, beterraba, nabo, cebola, alho, alho-poró e folhagens, como alface e couve). 
  2. Consuma moderadamente produtos lácteos em até duas porções por dia, com preferência por versões desnatadas ou semidesnatadas. O alto teor de gordura saturada nos laticínios pode ser prejudicial à saúde. 
  3. Inclua fibras na dieta, pois elas trazem minerais essenciais e são importantes na prevenção do câncer. São recomendados cereais integrais, verduras, frutas e legumes, além de opções como granola, farelo de trigo, aveia, linhaça, chia, quinoa e gergelim.
  4. Alimentos ricos em antioxidantes de cor laranja ou vermelha – mamão, goiaba, acerola, manga, cenoura, pimentões e tomates – são grandes aliados no combate ao câncer: "Estes são exemplos, como carotenoides e licopeno, que contribuem para a proteção contra as células cancerígenas".
  5. Mantenha um índice de massa corporal (IMC) abaixo de 25 e a circunferência abdominal menor que 90 cm. "Para o controle de peso, a prática regular de atividade física é fundamental. Manter-se ativo promove um perfil circulatório e respiratório melhor, auxiliando o corpo a combater processos cancerígenos", explica.
  6. Evite o consumo de fast food e alimentos ultraprocessados, que são ricos em gordura saturada e trans, assim como alimentos com alto teor de açúcar, que contribuem para o ganho de peso, como refrigerantes e doces. Mesmo os sucos de caixinha devem ser consumidos com moderação.
  7. No rol dos supérfluos, entram as bebidas alcoólicas. Embora haja recomendações do consumo moderado de algumas para a saúde cardiovascular, a nutricionista do CEUB frisa que no caso do câncer, o álcool está associado a um risco maior.
  8. Atenção ao consumo de carne vermelha e embutidos, especialmente de carnes industrializadas, como presunto, salsicha, linguiça, bacon e similares, pois são conhecidos por conter conservantes que podem aumentar o risco de câncer. "Preferencialmente consumir carnes in natura e não mais do que 3 porções de carne vermelha por semana. Para substituir, aves e peixes são opções mais saudáveis", alerta.
  9. Não substitua alimentos por suplementos vitamínicos e minerais. doses desbalanceadas de vitaminas e minerais, que podem inclusive competir entre si, mesmo quando em doses adequadas."Os alimentos são as principais fontes dos das substâncias protetoras do organismo".
  10. Dietas vegetarianas e veganas podem ser benéficas na prevenção em comparação com a dieta onívora. "A dieta mediterrânea é um ótimo exemplo de alimentação saudável, com variedade de frutas, vegetais, cereais e peixes”.

 

Fonte: JB/iG

 

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