domingo, 31 de dezembro de 2023

Expansão da operação de Israel gera deslocamentos e novo alerta para o sul da Faixa de Gaza

As Nações Unidas manifestaram alarme face à crescente densidade de pessoas deslocadas internamente em partes da Faixa de Gaza, à medida que os militares israelenses expandem as operações na região.

Na sua última atualização, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha, na sigla em inglês) afirmou que pelo menos 100.000 pessoas deslocadas internamente chegaram a Rafah, a cidade mais ao sul de Gaza, nos últimos dias, após a intensificação das hostilidades em Khan Younis e Deir Al Balah, e as ordens de evacuação do exército israelense.

As Nações Unidas disseram que Rafah já era a área mais densamente povoada de Gaza, com mais de 12.000 pessoas por quilômetro quadrado.

Há também um fluxo contínuo em partes de Deir Al Balah, no centro de Gaza. O Ocha afirmou que as instruções que acompanham um mapa online publicado pelas autoridades israelenses “pedem aos residentes que se mudem imediatamente para abrigos em Deir Al Balah, que já estão superlotados, acolhendo várias centenas de milhares de deslocados internos. O âmbito do deslocamento resultante desta ordem de evacuação permanece obscuro.”

O Ocha também divulgou números da Organização Mundial da Saúde (OMS) que mostram a propagação de doenças em Gaza, “particularmente devido aos recentes deslocamentos em massa no sul de Gaza. Algumas famílias foram forçadas a se mudar várias vezes.”

Cerca de 180 mil pessoas que vivem em abrigos sofrem de infecções respiratórias superiores; há 136,4 mil casos de diarreia (metade deles em crianças menores de cinco anos); 55,4 mil casos de piolhos e sarna; 42.700 casos de erupções cutâneas, além de surtos de icterícia e meningite.

“A falta de alimentos, de itens básicos de sobrevivência e a falta de higiene agravam ainda mais as já terríveis condições de vida dos deslocados internos, amplificam os problemas de proteção e de saúde mental e aumentam a propagação de doenças”, disse o Ocha.

O Ocha disse que, na sexta-feira (30), vários locais foram alvo dos militares israelenses em Khan Younis e Rafah, no sul de Gaza, com ataques aéreos e mísseis atingindo unidades habitacionais e infraestrutura, supostamente resultando em um grande número de mortes em áreas onde os palestinos têm realocado.

À medida que prossegue a sua campanha, Israel apelou repetidamente aos residentes em diferentes partes de Gaza para saírem, mas a ONU já avisou anteriormente que não têm para onde ir.

A análise da CNN descobriu que Israel atacou pelo menos três locais em Gaza, para os quais ordenou a evacuação de civis desde o início da guerra, em outubro.

·        FDI instrui pessoas em Gaza a usarem estradas costeiras em meio aos combates em Khan Younis

As Forças de Defesa de Israel (FDI) emitiram o que chamam de “várias instruções urgentes” às pessoas em Gaza sobre o que consideram rotas seguras no meio dos combates intensificados perto da cidade de Khan Younis, no sul de Gaza.

As FDI publicaram instruções em árabe, bem como um mapa em X, dizendo que o combate e o avanço das forças israelenses na área de Khan Younis significavam que os civis não poderiam usar o eixo principal de Salah Al-Din, que vai de norte a sul no meio de Gaza.

Em vez disso, as FDI disseram que permitiriam o movimento humanitário através de uma rota separada para o oeste de Khan Younis, ao longo da estrada costeira, permitindo o acesso a partes do centro de Gaza, incluindo Deir Al-Balah, que a ONU diz estar superlotada com pessoas deslocadas.

As FDI também anunciaram uma “suspensão tática das atividades militares” de quatro horas no campo de Rafah, no sul, para permitir o reabastecimento humanitário.

Dada a falta de comunicações e de Internet em Gaza, não está claro quantas pessoas estão cientes das instruções das FDI.

 

Ø  Hamas oferece acordo para libertar até 50 reféns, diz Catar

 

O chefe do Instituto de Inteligência e Operações Especiais de Israel (Mossad), David Barnea, informou ao gabinete de guerra israelense que o mediador do Catar indicou que o Hamas estaria disposto a negociar um acordo para a libertação de entre 40 e 50 reféns, incluindo mulheres, adultos e doentes, em troca de um cessar-fogo de entre 20 e 30 dias e a libertação de prisioneiros.   

A informação foi dada pelo Ynet, citando uma fonte israelense, acrescentando que o Hamas retirou a exigência que havia apresentado até então de um cessar-fogo total como condição para o retorno dos reféns.   

Segundo a mesma fonte, Israel teria solicitado esclarecimentos ao Catar, pedindo respostas até este sábado (30).   

Intensos combates ocorrem na manhã deste sábado em Gaza, segundo a Aeronáutica de Israel.   

Também neste sábado, o jornal New York Times informou, com base em entrevistas com oficiais israelenses atualmente em serviço ou aposentados, que o exército israelense não tinha um plano para lidar com um ataque massivo do Hamas ao país, como ocorreu em 7 de outubro.   

“Não havia um plano de defesa para um ataque surpresa”, afirmou Amir Avivi, ex-vice-chefe da Divisão Gaza.   

“O exército não se prepara para coisas que considera impossíveis”, acrescentou o ex-conselheiro de segurança nacional Yaakov Amidror.   

O relatório pinta o quadro de um exército que, por longas horas, não compreendeu a extensão do ataque, respondendo de maneira lenta e ineficiente, enviando equipes muito pequenas e mal equipadas para enfrentar um ataque em massa. 

 

Ø  “O Hamas não é apenas terrorismo, e Israel errou na resposta”  diz Lucio Caracciolo

 

>>> Eis a entrevista.

·        Vocês dedicam muito espaço ao Hamas: você acha que ele pagará um preço por essa guerra?

A coisa mais importante sobre o Hamas, que exploramos nesta edição, é que não está claro o que há dentro dele. O grau de controle da cabeça política parece limitado (e a Limes entrevista o chefe político, Haniyya). Além disso, uma vez tudo terminado, as contas serão feitas no campo palestino, e alguém poderá perguntar ao Hamas por que provocou em Israel uma reação bastante provável. É preciso dizer também que a operação do dia 7 de outubro não foi levada a cabo apenas pelas Brigadas al-Qassam. Além da jihad Islâmica, também houve dissidentes e provavelmente simples criminosos que se aproveitaram da situação. A operação não ocorreu exatamente conforme o planejado, e se eu fosse um civil palestino faria algumas perguntas.

·        O que você acha da acusação de que o Hamas é uma organização terrorista?

O terrorismo é uma modalidade de guerra particularmente vil, mas não é um sujeito político. Tanto que o mais conhecido terrorista palestino recebeu o Prêmio Nobel da Paz (Arafat). Não há uma definição incontestável. No dia 7 de outubro, o Hamas certamente utilizou um método terrorista, mas, ao defini-lo simplesmente como terrorista, tal como a al-Qaeda, perdemos de vista o fato de que se trata de um movimento de massas, que ganhou as eleições, que foi apoiado primeiro por Rabin em função anti-Arafat e também por Netanyahu, que favorecia a transferência de dinheiro do Catar para o Hamas.

E Netanyahu? Ele pagará um preço?

Se não pagar agora, não pagará mais. A minha previsão é que seu futuro oscilará entre uma aposentadoria dourada e a prisão. É verdade que ele nos acostumou a ter sete vidas, mas gastou todas elas. Um governo futuro não poderá tê-lo como líder, a menos que a guerra seja eterna.

·        Nos debates na TV, Paolo Mieli pergunta provocativamente: “O que você teria feito no lugar de Netanyahu?”

Pode-se responder tranquilamente: Israel fez o que quase todos esperavam. Mas não acho que, com a cabeça fria, isso possa ser considerado útil ao Estado de Israel. A vingança desproporcional, que sempre caracterizou Israel, não o favoreceu. No espaço de poucos dias, os bombardeios, na percepção internacional, levaram a perder de vista o massacre de 7 de outubro e a ficar do lado dos palestinos. O elemento da propaganda é decisivo em tal contexto e, portanto, foi um erro. Israel está travando a guerra que o Hamas queria, assimétrica, em que os terroristas só têm de se perpetuar.

O que você faria, pergunta Mieli? Respondo com um paradoxo: nada. O problema não é se vingar, mas sim proteger o próprio povo e, no caso de Israel, também o da diáspora que enfrenta ondas de antissemitismo ou de simpatia pelos palestinos. Se Israel, após uma pausa de alguns dias, tivesse decidido não entrar em Gaza, de onde tinha escapado, mas sim fechar todas as saídas de forma séria, começando a atacar seletivamente os chefes do Hamas, incluindo no Irã, se necessário, teria vencido a guerra de propaganda de forma esmagadora e salvado muitas vidas entre os reféns ou entre seus próprios soldados. E poderia ter se apresentado para uma futura mesa de negociações em uma posição de força política e moral.

·        É verdade que há uma nova temporada de iniciativas dos Estados árabes?

Acho que não. O Catar sempre joga em todas as mesas. Sendo uma jazida com um Estado em cima dela, está de bem com todo o mundo. Fala com os Estados Unidos, a Rússia, os israelenses e os palestinos, tentando comprar a tranquilidade. Doha parece um centro de conferências de negócios em nível mundial, um hub de mediação, mas não uma potência política. A potência clássica da região é o Egito, mas está em sérias dificuldades e teme o influxo de milhares de palestinos, incluindo muitos Irmãos Muçulmanos, inimigos de Al Sisi. Depois de se encontrar com Netanyahu e de ter estabelecido relações ocultas com Israel, a Turquia tornou-se patrocinadora dos “terroristas” libertadores do Hamas, tentando se apresentar como o líder islâmico que abrange todo o espectro do mundo muçulmano. Por um lado, o Irã patrocinou o Hamas, mas não quer chegar ao conflito com os Estados Unidos, porque sofreria graves perdas. Não se entrevê nenhum ator, e a guerra durará o suficiente com um reposicionamento de todos e sem nenhuma esperança imediata de um acordo entre israelenses e palestinos.

·        O New York Times perguntou se os Estados Unidos podem se concentrar na China enquanto devem gerir duas guerras ao mesmo tempo. O que você responde?

Não, eles não vão conseguir. Na edição da Limes, explicamos que existem contatos notáveis entre os Estados Unidos e a Rússia e também com a China, para estabelecer regras de envolvimento que evitem que os conflitos em curso desemboquem em uma guerra mais ampla, que os Estados Unidos, com a perda de identidade, não podem gerir.

·        E a Itália?

Não pode fazer muito. O fato de estar empenhada no front humanitário é importante, não é só um ato simbólico. Não esqueçamos que temos milhares de soldados ao longo da fronteira com o Líbano.

 

Fonte: CNN Brasil/Ansa/IHU

 

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