Expansão da operação de Israel gera deslocamentos e novo alerta para o
sul da Faixa de Gaza
As Nações Unidas manifestaram alarme face à crescente
densidade de pessoas deslocadas internamente em partes da Faixa de Gaza, à
medida que os militares israelenses expandem as operações na região.
Na sua última atualização, o Escritório das Nações
Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (Ocha, na sigla em inglês)
afirmou que pelo menos 100.000 pessoas deslocadas internamente chegaram a
Rafah, a cidade mais ao sul de Gaza, nos últimos dias, após a intensificação
das hostilidades em Khan Younis e Deir Al Balah, e as ordens de evacuação do
exército israelense.
As Nações Unidas disseram que Rafah já era a área
mais densamente povoada de Gaza, com mais de 12.000 pessoas por quilômetro
quadrado.
Há também um fluxo contínuo em partes de Deir Al
Balah, no centro de Gaza. O Ocha afirmou que as instruções que acompanham um
mapa online publicado pelas autoridades israelenses “pedem aos residentes que
se mudem imediatamente para abrigos em Deir Al Balah, que já estão
superlotados, acolhendo várias centenas de milhares de deslocados internos. O
âmbito do deslocamento resultante desta ordem de evacuação permanece obscuro.”
O Ocha também divulgou números da Organização
Mundial da Saúde (OMS) que mostram a propagação de doenças em Gaza,
“particularmente devido aos recentes deslocamentos em massa no sul de Gaza.
Algumas famílias foram forçadas a se mudar várias vezes.”
Cerca de 180 mil pessoas que vivem em abrigos
sofrem de infecções respiratórias superiores; há 136,4 mil casos de diarreia
(metade deles em crianças menores de cinco anos); 55,4 mil casos de piolhos e
sarna; 42.700 casos de erupções cutâneas, além de surtos de icterícia e
meningite.
“A falta de alimentos, de itens básicos de
sobrevivência e a falta de higiene agravam ainda mais as já terríveis condições
de vida dos deslocados internos, amplificam os problemas de proteção e de saúde
mental e aumentam a propagação de doenças”, disse o Ocha.
O Ocha disse que, na sexta-feira (30), vários
locais foram alvo dos militares israelenses em Khan Younis e Rafah, no sul de
Gaza, com ataques aéreos e mísseis atingindo unidades habitacionais e
infraestrutura, supostamente resultando em um grande número de mortes em áreas
onde os palestinos têm realocado.
À medida que prossegue a sua campanha, Israel
apelou repetidamente aos residentes em diferentes partes de Gaza para saírem,
mas a ONU já avisou anteriormente que não têm para onde ir.
A análise da CNN descobriu que Israel
atacou pelo menos três locais em Gaza, para os quais ordenou a evacuação de
civis desde o início da guerra, em outubro.
·
FDI instrui pessoas em Gaza a usarem estradas costeiras em meio aos
combates em Khan Younis
As Forças de Defesa de Israel (FDI) emitiram o que
chamam de “várias instruções urgentes” às pessoas em Gaza sobre o que
consideram rotas seguras no meio dos combates intensificados perto da cidade de
Khan Younis, no sul de Gaza.
As FDI publicaram instruções em árabe, bem como um
mapa em X, dizendo que o combate e o avanço das forças israelenses na área de
Khan Younis significavam que os civis não poderiam usar o eixo principal de
Salah Al-Din, que vai de norte a sul no meio de Gaza.
Em vez disso, as FDI disseram que permitiriam o
movimento humanitário através de uma rota separada para o oeste de Khan Younis,
ao longo da estrada costeira, permitindo o acesso a partes do centro de Gaza,
incluindo Deir Al-Balah, que a ONU diz estar superlotada com pessoas
deslocadas.
As FDI também anunciaram uma “suspensão tática das
atividades militares” de quatro horas no campo de Rafah, no sul, para permitir
o reabastecimento humanitário.
Dada a falta de comunicações e de Internet em Gaza,
não está claro quantas pessoas estão cientes das instruções das FDI.
Ø Hamas
oferece acordo para libertar até 50 reféns, diz Catar
O chefe do Instituto de Inteligência e Operações
Especiais de Israel (Mossad), David Barnea, informou ao gabinete de guerra
israelense que o mediador do Catar indicou que o Hamas estaria disposto a
negociar um acordo para a libertação de entre 40 e 50 reféns, incluindo
mulheres, adultos e doentes, em troca de um cessar-fogo de entre 20 e 30 dias e
a libertação de prisioneiros.
A informação foi dada pelo Ynet, citando uma fonte
israelense, acrescentando que o Hamas retirou a exigência que havia apresentado
até então de um cessar-fogo total como condição para o retorno dos
reféns.
Segundo a mesma fonte, Israel teria solicitado
esclarecimentos ao Catar, pedindo respostas até este sábado
(30).
Intensos combates ocorrem na manhã deste sábado em
Gaza, segundo a Aeronáutica de Israel.
Também neste sábado, o jornal New York Times
informou, com base em entrevistas com oficiais israelenses atualmente em
serviço ou aposentados, que o exército israelense não tinha um plano para lidar
com um ataque massivo do Hamas ao país, como ocorreu em 7 de
outubro.
“Não havia um plano de defesa para um ataque
surpresa”, afirmou Amir Avivi, ex-vice-chefe da Divisão Gaza.
“O exército não se prepara para coisas que
considera impossíveis”, acrescentou o ex-conselheiro de segurança nacional
Yaakov Amidror.
O relatório pinta o quadro de um exército que, por
longas horas, não compreendeu a extensão do ataque, respondendo de maneira
lenta e ineficiente, enviando equipes muito pequenas e mal equipadas para
enfrentar um ataque em massa.
Ø “O Hamas
não é apenas terrorismo, e Israel errou na resposta” diz Lucio Caracciolo
>>> Eis a entrevista.
·
Vocês dedicam muito espaço ao Hamas: você acha que ele pagará um preço
por essa guerra?
A coisa mais importante sobre o Hamas, que
exploramos nesta edição, é que não está claro o que há dentro dele. O grau de
controle da cabeça política parece limitado (e a Limes entrevista o
chefe político, Haniyya). Além disso, uma vez tudo terminado, as contas
serão feitas no campo palestino, e alguém poderá perguntar
ao Hamas por que provocou em Israel uma reação bastante
provável. É preciso dizer também que a operação do dia 7 de outubro não foi
levada a cabo apenas pelas Brigadas al-Qassam. Além da jihad Islâmica,
também houve dissidentes e provavelmente simples criminosos que se aproveitaram
da situação. A operação não ocorreu exatamente conforme o planejado, e se eu
fosse um civil palestino faria algumas perguntas.
·
O que você acha da acusação de que o Hamas é uma organização terrorista?
O terrorismo é uma modalidade de guerra
particularmente vil, mas não é um sujeito político. Tanto que o mais conhecido
terrorista palestino recebeu o Prêmio Nobel da Paz (Arafat). Não há
uma definição incontestável. No dia 7 de outubro, o Hamas certamente
utilizou um método terrorista, mas, ao defini-lo simplesmente como terrorista,
tal como a al-Qaeda, perdemos de vista o fato de que se trata de um
movimento de massas, que ganhou as eleições, que foi apoiado primeiro
por Rabin em função anti-Arafat e também por Netanyahu, que
favorecia a transferência de dinheiro do Catar para o Hamas.
E Netanyahu? Ele pagará um preço?
Se não pagar agora, não pagará mais. A minha
previsão é que seu futuro oscilará entre uma aposentadoria dourada e a prisão.
É verdade que ele nos acostumou a ter sete vidas, mas gastou todas elas. Um
governo futuro não poderá tê-lo como líder, a menos que a guerra seja eterna.
·
Nos debates na TV, Paolo Mieli pergunta provocativamente: “O que você teria feito no lugar de
Netanyahu?”
Pode-se responder
tranquilamente: Israel fez o que quase todos esperavam. Mas não acho
que, com a cabeça fria, isso possa ser considerado útil ao Estado
de Israel. A vingança desproporcional, que sempre
caracterizou Israel, não o favoreceu. No espaço de poucos dias, os
bombardeios, na percepção internacional, levaram a perder de vista o massacre
de 7 de outubro e a ficar do lado dos palestinos. O elemento da propaganda é
decisivo em tal contexto e, portanto, foi um erro. Israel está
travando a guerra que o Hamas queria, assimétrica, em que os
terroristas só têm de se perpetuar.
O que você faria, pergunta Mieli? Respondo com
um paradoxo: nada. O problema não é se vingar, mas sim proteger o próprio povo
e, no caso de Israel, também o da diáspora que enfrenta ondas de
antissemitismo ou de simpatia pelos palestinos. Se Israel, após uma pausa
de alguns dias, tivesse decidido não entrar em Gaza, de onde tinha
escapado, mas sim fechar todas as saídas de forma séria, começando a atacar
seletivamente os chefes do Hamas, incluindo no Irã, se necessário, teria
vencido a guerra de propaganda de forma esmagadora e salvado muitas vidas entre
os reféns ou entre seus próprios soldados. E poderia ter se apresentado para
uma futura mesa de negociações em uma posição de força política e moral.
·
É verdade que há uma nova temporada de iniciativas dos Estados árabes?
Acho que não. O Catar sempre joga em
todas as mesas. Sendo uma jazida com um Estado em cima dela, está de bem com
todo o mundo. Fala com os Estados Unidos, a Rússia, os israelenses e
os palestinos, tentando comprar a tranquilidade. Doha parece um
centro de conferências de negócios em nível mundial, um hub de
mediação, mas não uma potência política. A potência clássica da região é
o Egito, mas está em sérias dificuldades e teme o influxo de milhares de
palestinos, incluindo muitos Irmãos Muçulmanos, inimigos de Al Sisi.
Depois de se encontrar com Netanyahu e de ter estabelecido relações
ocultas com Israel, a Turquia tornou-se patrocinadora dos
“terroristas” libertadores do Hamas, tentando se apresentar como o líder
islâmico que abrange todo o espectro do mundo muçulmano. Por um lado,
o Irã patrocinou o Hamas, mas não quer chegar ao conflito com
os Estados Unidos, porque sofreria graves perdas. Não se entrevê nenhum
ator, e a guerra durará o suficiente com um reposicionamento de todos e sem
nenhuma esperança imediata de um acordo entre israelenses e palestinos.
·
O New York Times perguntou se os Estados Unidos podem se concentrar na
China enquanto devem gerir duas guerras ao mesmo tempo. O que você responde?
Não, eles não vão conseguir. Na edição
da Limes, explicamos que existem contatos notáveis entre os Estados
Unidos e a Rússia e também com a China, para estabelecer
regras de envolvimento que evitem que os conflitos em curso desemboquem em uma
guerra mais ampla, que os Estados Unidos, com a perda de identidade, não
podem gerir.
·
E a Itália?
Não pode fazer muito. O fato de estar empenhada no
front humanitário é importante, não é só um ato simbólico. Não esqueçamos que
temos milhares de soldados ao longo da fronteira com o Líbano.
Fonte: CNN Brasil/Ansa/IHU
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