domingo, 26 de março de 2023

PM presa por cárcere privado se passou por vítima para despistar família

A policial militar presa em flagrante por agredir e manter em cárcere privado o cuidador que era seu funcionário trocou mensagens com parentes da vítima se passando por ele para impedir que alguém fosse resgatá-lo.

A vítima dormia sete dias no trabalho e folgava apenas um. Por isso, o único meio que a família tinha para se comunicar com ele era pelo telefone - o que sua filha tentou por diversas vezes, sem sucesso, segundo contou ao CORREIO.

Quando finalmente conseguiu, o pai respondeu com frieza e rispidez atípicas. Sem se identificar, ela conta que soube que não era ele quando o questionou sobre não poder se preocupar, enquanto ele estaria desesperado se fosse o contrário.

 “Ele respondeu: ‘Se fosse o contrário, eu perguntaria o que estava acontecendo ao invés de ficar julgando sem saber’. Mas essa resposta não é do meu pai. Perguntei sobre um apelido pelo qual ele me chama e a pessoa não respondeu. Passei 15 minutos ligando e mandando mensagem, mas a pessoa apenas lia”, contou.

A vítima então atendeu afirmando que estava bem e que não havia motivos para a família se preocupar. O que não era verdade. Ao ser resgatado, ele confessou à filha que foi obrigado a mentir. Aquele foi o último contato que eles tiveram até o dia do resgate na quinta-feira (23).

•        Denúncia

A família denunciou o desaparecimento da vítima no dia 21 de março. Na manhã de quinta-feira (23), a polícia entrou em contato com os familiares sugerindo que eles fizessem buscas em hospitais e necrotérios. Mas eles não o encontraram lá.

Foi então que a filha e o genro da vítima resolveram ir até a casa da ex-patroa novamente. Ao invés de chamar pelo pai - como havia feito outros dias sem ter resposta - eles chamaram o nome da PM e, para a surpresa deles, a vítima respondeu.

“Começamos a dizer que ele poderia sair e ele dizia que não, que ela [a policial militar] mataria todo mundo. As pessoas começaram a se aproximar para ajudar, e um rapaz arrancou três folhas do portão, mas nem assim meu pai quis sair. Ele só repetia que ela nos mataria”, contou a filha da vítima. Segundo ela, o pai estava completamente machucado.

•        Terror

A vítima contou à filha que ele não era o único agredido pela policial militar. Segundo ele, a investigada também agredia a mãe - de quem ele era cuidador. “Ela beliscava os mamilos da mãe até machucar. Uma mulher que está acamada”, reproduziu a filha do cuidador

Além das ameaças de morte contra a família do funcionário, a PM também mantinha câmeras em toda a casa, inclusive no banheiro, para vigiar tudo o que acontecia no imóvel e impedir que o ex-funcionário fugisse.

De acordo com o advogado da vítima, Matheus Freitas, a mulher será denunciada à polícia e aos órgãos trabalhistas. Ainda nessa sexta-feira (24), o Ministério Público do Trabalho (MPT) informou que abriu inquérito civil para apurar os aspectos trabalhistas do caso. São eles: cárcere privado e maus-tratos.

A Polícia Militar vai instaurar um processo administrativo disciplinar contra a policial. Inicialmente, ela foi encaminhada para a 1ª Delegacia, onde o caso foi registrado. Depois, segundo a PM, ela foi encaminhada para a Coordenação de Custódia Provisória, localizada no Batalhão de Choque, em Lauro de Freitas, e está à disposição da Justiça.

 

       Bahia recebe projeto-piloto para empregar mulheres vítimas de violência doméstica

 

Com o objetivo de fortalecer iniciativas de equidade que contribuam para a autonomia financeira e o bem-estar das mulheres, Natura &Co e Instituto Avon lançaram nesta quinta-feira (23), na cidade de Simões Filho, o Programa Recomeça, desenvolvido com pioneirismo no estado em parceria com a operadora logística TPC e a prefeitura local. A iniciativa tem o objetivo de criar vagas nos processos de contratação de pessoal de Natura &Co América Latina para mulheres em situação de vulnerabilidade social decorrente da violência doméstica e familiar.

A iniciativa foi oficializada no centro de distribuição da holding no município, após assinatura do termo de cooperação entre as partes, com a presença de Ana Costa, vice-presidente de assuntos jurídicos e de relações governamentais de Natura &Co América Latina; Daniela Grelin, diretora executiva do Instituto Avon; Jurailson Andrade, diretor financeiro da TPC, e o prefeito de Simões Filho, Dinha Tolentino.

A operadora logística TPC, em conjunto com a prefeitura, realizará o processo seletivo para contratação de mulheres devidamente cadastradas no programa de atendimento a mulheres vítimas de violência da cidade. Também são elegíveis aquelas que estejam sendo atendidas pelo Programa Acolhe, do Instituto Avon. Todas devem atender aos requisitos de qualificação profissional necessários para o cumprimento da função no centro de distribuição. A identidade das trabalhadoras contratadas no âmbito do Programa será mantida em sigilo pelas empresas envolvidas, sendo vedados quaisquer tipos de divulgação ou discriminação no exercício das suas funções.

Para garantir um ambiente de trabalho adequado ao acolhimento dessas mulheres, as equipes de Natura &Co América Latina serão treinadas pelo Instituto Avon, que também terá a responsabilidade de avaliar o Programa e emitir a certificação do seu cumprimento para as empresas.

“Para o Instituto Avon, é uma honra e uma grande oportunidade colaborar com um compromisso tão relevante como esse em Simões Filho. Desde 2008, trabalhamos, todos os dias, com a causa do enfrentamento à violência contra meninas e mulheres para transformar a realidade da população feminina por meio da conscientização e da aproximação com as redes de apoio. A capacitação que realizaremos com os colaboradores permitirá à empresa impactar, de forma positiva, o bem-estar e a saúde física e psicológica das mulheres que vivenciaram diferentes tipos de agressão. A iniciativa busca apoiá-las na superação deste momento de fragilidade, contribuindo para que encerrem ciclos de violência e garantam sua autonomia”, afirma Daniela Grelin.

A capacitação, segundo a executiva, abordará aspectos como as fases do ciclo da violência doméstica, tipos de condutas às quais essas pessoas foram expostas, acolhimento, redes de apoio adequados e a Lei Maria da Penha. Também abordará a importância do mercado de trabalho para que essas mulheres possam viver em seus próprios termos. Participam da primeira edição do treinamento líderes de equipes, gestores e pessoas do departamento de RH do centro de distribuição na cidade.

Ana Costa explica que a escolha por dar início ao Programa Recomeça em Simões Filho se deu em razão do envolvimento dos entes públicos locais com a causa. O município conta com uma base de dados consolidada e já realiza trabalho prévio de alocação de mulheres vítimas de violência e contato com as empresas: a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico recebe dados atualizados da Secretaria Municipal de Política para Mulheres em convênio com a Polícia Militar, um fluxo estruturado que permite viabilizar a iniciativa com mais facilidade.

“O Programa Recomeça se conecta profundamente com os valores de Natura &Co, sobretudo na causa de enfrentamento à violência contra mulheres, que tem no Instituto Avon um dos principais expoentes. Para atender a uma demanda frequente de reinserção profissional dessas mulheres, o Programa prioriza a experiência de mais de 20 anos do Instituto no tema, bem como o repertório do governo local para a construção de políticas públicas sólidas. Isso não apenas viabiliza a contratação dessas mulheres, mas também a sua permanência e seu bem-estar para que possam recomeçar as suas vidas”, acrescenta Ana. Após análise dos resultados positivos, o Programa poderá ser expandido para outras unidades de Natura &Co América Latina, com novos aprendizados e ações.

Para o prefeito Dinha Tolentino, trata-se de uma parceria relevante, que chega para se somar às atividades que a prefeitura já executa em prol das mulheres vítimas das mais diversas formas de violência. “A partir de agora, com muita felicidade, o nosso município passa a fazer parte deste Programa. É assim, com união e ações concretas, como o pagamento do auxílio financeiro da Lei Maria da Penha e o acolhimento no nosso Centro de Referência de Atendimento à Mulher [Cram], que seguimos trabalhando e fortalecendo a rede de apoio às mulheres da nossa cidade. Esse é o legado que deixaremos para a atual e futuras gerações”, expressou o mandatário.

 “Atuamos há 22 anos em Simões Filho e sabemos da importância dos programas sociais para a comunidade. Ao apoiar as vítimas de violência doméstica e oferecer a elas a oportunidade de reinserção no mercado de trabalho, o Recomeça simboliza a inclusão, uma das bandeiras que defendemos”, diz o presidente da TPC, Luis Eduardo Chamadoiro. A empresa, que faz parte da JSL, presta serviços logísticos à Natura e à Avon desde 2010.

 

Fonte: Correio/Tribuna da Bahia

 

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