PM presa por
cárcere privado se passou por vítima para despistar família
A
policial militar presa em flagrante por agredir e manter em cárcere privado o
cuidador que era seu funcionário trocou mensagens com parentes da vítima se
passando por ele para impedir que alguém fosse resgatá-lo.
A
vítima dormia sete dias no trabalho e folgava apenas um. Por isso, o único meio
que a família tinha para se comunicar com ele era pelo telefone - o que sua
filha tentou por diversas vezes, sem sucesso, segundo contou ao CORREIO.
Quando
finalmente conseguiu, o pai respondeu com frieza e rispidez atípicas. Sem se
identificar, ela conta que soube que não era ele quando o questionou sobre não
poder se preocupar, enquanto ele estaria desesperado se fosse o contrário.
“Ele respondeu: ‘Se fosse o contrário, eu
perguntaria o que estava acontecendo ao invés de ficar julgando sem saber’. Mas
essa resposta não é do meu pai. Perguntei sobre um apelido pelo qual ele me
chama e a pessoa não respondeu. Passei 15 minutos ligando e mandando mensagem,
mas a pessoa apenas lia”, contou.
A
vítima então atendeu afirmando que estava bem e que não havia motivos para a
família se preocupar. O que não era verdade. Ao ser resgatado, ele confessou à
filha que foi obrigado a mentir. Aquele foi o último contato que eles tiveram
até o dia do resgate na quinta-feira (23).
• Denúncia
A
família denunciou o desaparecimento da vítima no dia 21 de março. Na manhã de
quinta-feira (23), a polícia entrou em contato com os familiares sugerindo que
eles fizessem buscas em hospitais e necrotérios. Mas eles não o encontraram lá.
Foi
então que a filha e o genro da vítima resolveram ir até a casa da ex-patroa
novamente. Ao invés de chamar pelo pai - como havia feito outros dias sem ter
resposta - eles chamaram o nome da PM e, para a surpresa deles, a vítima
respondeu.
“Começamos
a dizer que ele poderia sair e ele dizia que não, que ela [a policial militar]
mataria todo mundo. As pessoas começaram a se aproximar para ajudar, e um rapaz
arrancou três folhas do portão, mas nem assim meu pai quis sair. Ele só repetia
que ela nos mataria”, contou a filha da vítima. Segundo ela, o pai estava
completamente machucado.
• Terror
A
vítima contou à filha que ele não era o único agredido pela policial militar.
Segundo ele, a investigada também agredia a mãe - de quem ele era cuidador.
“Ela beliscava os mamilos da mãe até machucar. Uma mulher que está acamada”,
reproduziu a filha do cuidador
Além
das ameaças de morte contra a família do funcionário, a PM também mantinha
câmeras em toda a casa, inclusive no banheiro, para vigiar tudo o que acontecia
no imóvel e impedir que o ex-funcionário fugisse.
De
acordo com o advogado da vítima, Matheus Freitas, a mulher será denunciada à
polícia e aos órgãos trabalhistas. Ainda nessa sexta-feira (24), o Ministério
Público do Trabalho (MPT) informou que abriu inquérito civil para apurar os
aspectos trabalhistas do caso. São eles: cárcere privado e maus-tratos.
A
Polícia Militar vai instaurar um processo administrativo disciplinar contra a
policial. Inicialmente, ela foi encaminhada para a 1ª Delegacia, onde o caso
foi registrado. Depois, segundo a PM, ela foi encaminhada para a Coordenação de
Custódia Provisória, localizada no Batalhão de Choque, em Lauro de Freitas, e
está à disposição da Justiça.
Bahia recebe projeto-piloto para empregar
mulheres vítimas de violência doméstica
Com
o objetivo de fortalecer iniciativas de equidade que contribuam para a
autonomia financeira e o bem-estar das mulheres, Natura &Co e Instituto
Avon lançaram nesta quinta-feira (23), na cidade de Simões Filho, o Programa
Recomeça, desenvolvido com pioneirismo no estado em parceria com a operadora
logística TPC e a prefeitura local. A iniciativa tem o objetivo de criar vagas
nos processos de contratação de pessoal de Natura &Co América Latina para
mulheres em situação de vulnerabilidade social decorrente da violência
doméstica e familiar.
A
iniciativa foi oficializada no centro de distribuição da holding no município,
após assinatura do termo de cooperação entre as partes, com a presença de Ana
Costa, vice-presidente de assuntos jurídicos e de relações governamentais de
Natura &Co América Latina; Daniela Grelin, diretora executiva do Instituto
Avon; Jurailson Andrade, diretor financeiro da TPC, e o prefeito de Simões Filho,
Dinha Tolentino.
A
operadora logística TPC, em conjunto com a prefeitura, realizará o processo
seletivo para contratação de mulheres devidamente cadastradas no programa de
atendimento a mulheres vítimas de violência da cidade. Também são elegíveis
aquelas que estejam sendo atendidas pelo Programa Acolhe, do Instituto Avon.
Todas devem atender aos requisitos de qualificação profissional necessários
para o cumprimento da função no centro de distribuição. A identidade das
trabalhadoras contratadas no âmbito do Programa será mantida em sigilo pelas
empresas envolvidas, sendo vedados quaisquer tipos de divulgação ou
discriminação no exercício das suas funções.
Para
garantir um ambiente de trabalho adequado ao acolhimento dessas mulheres, as
equipes de Natura &Co América Latina serão treinadas pelo Instituto Avon,
que também terá a responsabilidade de avaliar o Programa e emitir a
certificação do seu cumprimento para as empresas.
“Para
o Instituto Avon, é uma honra e uma grande oportunidade colaborar com um compromisso
tão relevante como esse em Simões Filho. Desde 2008, trabalhamos, todos os
dias, com a causa do enfrentamento à violência contra meninas e mulheres para
transformar a realidade da população feminina por meio da conscientização e da
aproximação com as redes de apoio. A capacitação que realizaremos com os
colaboradores permitirá à empresa impactar, de forma positiva, o bem-estar e a
saúde física e psicológica das mulheres que vivenciaram diferentes tipos de
agressão. A iniciativa busca apoiá-las na superação deste momento de
fragilidade, contribuindo para que encerrem ciclos de violência e garantam sua
autonomia”, afirma Daniela Grelin.
A
capacitação, segundo a executiva, abordará aspectos como as fases do ciclo da
violência doméstica, tipos de condutas às quais essas pessoas foram expostas,
acolhimento, redes de apoio adequados e a Lei Maria da Penha. Também abordará a
importância do mercado de trabalho para que essas mulheres possam viver em seus
próprios termos. Participam da primeira edição do treinamento líderes de
equipes, gestores e pessoas do departamento de RH do centro de distribuição na
cidade.
Ana
Costa explica que a escolha por dar início ao Programa Recomeça em Simões Filho
se deu em razão do envolvimento dos entes públicos locais com a causa. O
município conta com uma base de dados consolidada e já realiza trabalho prévio
de alocação de mulheres vítimas de violência e contato com as empresas: a
Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico recebe dados atualizados da
Secretaria Municipal de Política para Mulheres em convênio com a Polícia
Militar, um fluxo estruturado que permite viabilizar a iniciativa com mais
facilidade.
“O
Programa Recomeça se conecta profundamente com os valores de Natura &Co,
sobretudo na causa de enfrentamento à violência contra mulheres, que tem no
Instituto Avon um dos principais expoentes. Para atender a uma demanda
frequente de reinserção profissional dessas mulheres, o Programa prioriza a
experiência de mais de 20 anos do Instituto no tema, bem como o repertório do
governo local para a construção de políticas públicas sólidas. Isso não apenas
viabiliza a contratação dessas mulheres, mas também a sua permanência e seu
bem-estar para que possam recomeçar as suas vidas”, acrescenta Ana. Após
análise dos resultados positivos, o Programa poderá ser expandido para outras
unidades de Natura &Co América Latina, com novos aprendizados e ações.
Para
o prefeito Dinha Tolentino, trata-se de uma parceria relevante, que chega para
se somar às atividades que a prefeitura já executa em prol das mulheres vítimas
das mais diversas formas de violência. “A partir de agora, com muita
felicidade, o nosso município passa a fazer parte deste Programa. É assim, com
união e ações concretas, como o pagamento do auxílio financeiro da Lei Maria da
Penha e o acolhimento no nosso Centro de Referência de Atendimento à Mulher
[Cram], que seguimos trabalhando e fortalecendo a rede de apoio às mulheres da
nossa cidade. Esse é o legado que deixaremos para a atual e futuras gerações”,
expressou o mandatário.
“Atuamos há 22 anos em Simões Filho e sabemos
da importância dos programas sociais para a comunidade. Ao apoiar as vítimas de
violência doméstica e oferecer a elas a oportunidade de reinserção no mercado
de trabalho, o Recomeça simboliza a inclusão, uma das bandeiras que
defendemos”, diz o presidente da TPC, Luis Eduardo Chamadoiro. A empresa, que
faz parte da JSL, presta serviços logísticos à Natura e à Avon desde 2010.
Fonte:
Correio/Tribuna da Bahia
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