No Dia da Mulher, deputado bolsonarista Nikolas Ferreira faz discurso transfóbico na Câmara
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) fez
um discurso transfóbico durante uma seção na Câmara dos Deputados realizada
nesta quarta-feira (8). A fala foi feita na data em que é comemorado o Dia
Internacional da Mulher.
O
parlamentar começou o discurso dizendo a esquerda tinha dito que ele não
poderia falar sobre a data, porque não teria "local de fala". Na
sequência, ele vesta uma peruca loura, diz que passava, então, a se sentir
mulher e que seu nome era "deputada Nicole".
"Eu
tenho algo aqui muito interessante para poder falar. As mulheres estão perdendo
seu espaço para homens que se sentem mulheres. E para vocês terem ideia do
perigo de tudo isso, vocês podem perguntar, qual o perigo disso, deputada Nicole.
Sabe por quê? Por que eles estão querendo colocar uma imposição de uma
realidade que não é a realidade", disse o deputado bolsonarista.
Em
seguida, o parlamentar afirma que poderia ir para a cadeia por conta do crime
de transfobia, e que a esquerda tenta impor uma ideologia acerca das pessoas
transgênero.
"Eu
por exemplo posso ir para a cadeia, deputado, caso eu seja condenado por
transfobia. E por quê? Por que eu xinguei, eu pedi pra matar? Não. Pois no dia
Internacional das Mulheres, há dois anos, eu parabenizei as mulheres XX. Ou
seja, é uma imposição. Ou você concorda com o que eles estão dizendo, ou caso
contrário você é um transfóbico, homofóbico e preconceituoso",
complementou Nikolas.
Depois
ele tirou a peruca e disse que as mulheres não deviam nada ao feminismo.
“Retomem sua feminilidade, tenham filhos, amem a maternidade e formem sua
família. Dessa forma vocês colocarão luz no mundo e serão valorosas.”
Ele
finalizou o seu discurso afirmando que as mulheres "não devem nada ao
feminismo", e pedindo para que elas "retomem a sua feminilidade"
e "formem a sua família".
A
reação nas redes sociais e no Congresso foi imediata. A oposição acusa o
deputado de transfobia. A deputada Tábata Amaral (PSB-SP) anunciou na
tarde desta quarta (8) que está “entrando com com pedido de cassação do mandato
do deputado Nikolas Ferreira”.
A
presidente do PT e deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR) pediu que o
presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) estabeleça punição aos atos de
desrespeito. “Passou da hora de agir, o deboche e o ultraje ocupam o plenário”,
diz o tweet.
A
deputada Daiana Santos (PCdoB-RS) defende que o caso seja levado ao Conselho de
Ética da Câmara. “Repugnante, nojento. O discurso do deputado Nikolas Ferreira
reforça a violência contra as mulheres trans no Brasil. Ao falar isso na
tribuna, ele está ignorando uma parcela da população que vive em um país que,
há 13 anos, lidera o ranking da lista de países que mais mata pessoas trans e
travestis no mundo. Vamos levar este caso para o conselho de ética da Casa”,
disse.
A
deputada Camila Jara (PT-MS) também se pronunciou: “É lastimável que hoje no
dia 8 de março nós mulheres ainda tenhamos que erguer as nossas vozes para
dizer que nós podemos falar por nós mesmos. Nesse sentido, as mulheres da casa
levantam a voz para dizer que não aceitarão o machismo, que não aceitarão
transfobia nessa casa.” Ela disse que, junto ao seu partido, apoia a
representação da deputada Tabata Amaral.
Ø
MP
entra em campo, pressiona Câmara e cassação de Nikolas Ferreira pode se
concretizar
A pressão pela cassação do mandato do
deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) vem
crescendo. Depois de ser acionado no Conselho de Ética da
Câmara por diferentes parlamentares e se tornar alvo de uma notícia-crime no Supremo Tribunal
Federal (STF), o bolsonarista entrou na mira do Ministério Público Federal (MPF) pela fala criminosa que
fez na casa legislativa nesta quarta-feira (8).
O
parlamentar de Belo Horizonte, em pleno Dia Internacional das Mulheres, vestiu uma peruca para desvirtuar o
conceito de lugar de fala, ridicularizar as mulheres e atacar as
mulheres trans.
"Hoje é o Dia Internacional das Mulheres. A
esquerda disse que eu não poderia falar porque eu não estava no meu local de
fala. Então, solucionei esse problema aqui, ó. Hoje, eu me sinto mulher.
Deputada Nicole",
disparou.
Na
sequência, emendou um discurso
transfóbico: "As mulheres estão perdendo seu espaço para homens que
se sentem mulheres. E para vocês terem ideia do perigo de tudo isso é que eles
querem colocar uma imposição de uma realidade que não é a realidade".
A
transfobia, segundo entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF), é um crime equiparável ao de
racismo e passível de punição com até 3 anos de cadeia.
Nikolas Ferreira já responde pelo crime de
transfobia na
Justiça por ter chamado, em dezembro de 2022, a deputada Duda Salabert (PDT-MG),
que é uma mulher trans, de "ele" e "homem". "Ele é
homem. É isso o que está na certidão dele, independentemente do que ele acha
que é", disse à época.
Em
reação à nova declaração de Nikolas Ferreira, a procuradora da República Luciana Loureiro de Oliveira, do MPF no
Distrito Federal, protocolou uma representação contra o bolsonarista em
que solicita adoção de medidas de responsabilização cível (dano moral coletivo)
e/ou criminal.
De
acordo com a procuradora, a conduta do bolsonarista configura incitação à discriminação por motivo de
gênero. Ela ainda oficiou a
Mesa Diretora da Câmara dos Deputados a investigar a fala criminosa
do deputado mineiro, fazendo aumentar a pressão por sua cassação.
“Represento, ainda, pelo encaminhamento, à Câmara
Federal, de requerimento a ser apreciado pela Mesa Diretora da Casa, a fim de
apurar a suposta violação ética, nos termos do art. 9o do mencionado código,
devendo-se salientar que, se a legitimidade para o requerimento é outorgada a
qualquer cidadão, com mais razão, pode o Ministério Público, mormente no
exercício das funções de procurador dos direitos do cidadão (art. 12, LC
75/93), adotar tal medida”, escreveu Luciana Loureiro em seu despacho.
Cassação
O
discurso de Nikolas Ferreira ridicularizando as mulheres e praticando
transfobia na Câmara pode levá-lo
a responder a um novo processo na Justiça e, inclusive, ser
cassado.
Após
a nova declaração, deputadas já começaram a se movimentar para punir o
bolsonarista. À Fórum, as deputadas federais Fernanda Melchionna e Sâmia Bomfim, ambas do PSOL, informaram que, através da bancada da
legenda, entrarão com representação
pedindo a cassação de Nikolas Ferreira no Conselho de Ética da
Câmara. As parlamentares também acionarão o Supremo Tribunal Federal (STF) com uma ação
apontando o crime de transfobia por parte do parlamentar.
"A fala de Nikolas Ferreira não é só
desrespeitosa e esdrúxula, é uma fala transfóbica, machista, misógina, uma
afronta a todas as mulheres em pleno dia 8 de março. Transfobia é crime. Esse
delinquente é reincidente no crime: como vereador em BH promoveu ataques
transfóbicos, e mais recentemente, apoiadou e estimulou os atos
golpistas e autoritários", disse à Fórum a deputada Fernanda
Melchionna.
"Em pleno 8 de março o bolsonarista Nikolas
Ferreira utiliza o púlpito da Câmara para destilar ódio contra mulheres trans.
Esse discurso incentiva e autoriza a violência em nosso país, que é líder em
número de mortes dessa população. É inaceitável: transfobia é crime, a
truculência da extrema direita não nos assusta e um mandato parlamentar não
pode ser escudo para a impunidade! Junto com a bancada do PSOL, estou
apresentando representação no Conselho de Ética e também uma notícia-crime no
STF", afirmou, por sua vez, Sâmia Bomfim.
A
deputada Erika Hilton (PSOL-SP),
que é mulher trans, também se manifestou sobre o caso.
"A estratégia dos bolsonaristas e transfóbicos
é antiga: Usam nossas vidas de escada para se construir. Agradeço o apoio de
todos. Hoje mesmo eu, o PSOL, e deputadas de diversos partidos acionaremos o
Conselho de Ética contra Nikolas Ferreira e enviaremos notícia crime ao
STF".
Tabata Amaral (PDT-SP) é outra parlamentar
que anunciou ação no Conselho de Ética da Câmara para cassar
Nikolas Ferreira.
As
representações devem ser endossadas, ainda, por deputadas de outros partidos,
como Gleisi Hoffmann, do
PT, que utilizou as redes sociais para cobrar punição ao bolsonarista.
Ø
Parlamentares
vão pedir cassação de Nikolas Ferreira por fala transfóbica na Câmara
Deputados
federais do PSOL, PDT e PSB pediram, nesta quarta-feira (8), a cassação do
mandato do deputado federal Nikolas
Ferreira (PL-MG) por suposta transfobia após
discurso no plenário da Câmara durante este Dia Internacional da Mulher.
A
representação protocolada pede ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL),
que um processo disciplinar seja instaurado no Conselho de Ética na Casa e que
Ferreira seja punido com a cassação ao fim de toda a análise. Na avaliação do
grupo, o deputado quebrou o decoro parlamentar.
Além
da bancada do PSOL, também assinam o documento as deputadas Duda Salabert
(PDT-MG) e Tabata Amaral (PSB-SP), os deputados André Figueiredo (PDT-CE) e
Túlio Gadelha (Rede-PE), e o presidente do PSB, Carlos Siqueira.
Nikolas Ferreira vestiu uma peruca durante discurso na tribuna da Câmara
dos Deputados e falou que se sentia uma mulher transexual e,
por isso, teria “lugar de fala” no Dia Internacional das Mulheres.
“Hoje,
o dia internacional das mulheres, a esquerda disse que eu não poderia falar,
pois eu não estava no meu local de fala. Então, eu solucionei esse problema
aqui. Hoje eu me sinto mulher. Deputada Nikole”, disse enquanto colocava uma
peruca amarela.
Ele
prosseguiu falando que as mulheres estariam “perdendo seu espaço para homens
que se sentem mulheres”. E que “eles estão querendo colocar uma imposição de
uma realidade que não é a realidade”.
O
parlamentar disse ainda que corria o risco de ir para a cadeia por transfobia
por ter parabenizado apenas as “mulheres [cromossomo] XX”. “É uma imposição. Ou
você concorda com o que eles estão dizendo, ou caso contrário você é um
transfóbico, homofóbico e preconceituoso”, falou.
Depois
ele tirou a peruca e disse que as mulheres não deviam nada ao feminismo.
“Retomem sua feminilidade, tenham filhos, amem a maternidade e formem sua
família. Dessa forma vocês colocarão luz no mundo e serão valorosas.”
A
reação nas redes sociais e no Congresso foi imediata. Parte dos parlamentares
acusa o deputado de transfobia.
Na
representação contra Ferreira, os deputados afirmam que, “como é possível
depreender da fala do deputado, o conteúdo de seu discurso tem caráter ofensivo
e criminoso, uma vez que direcionado a manifestar discriminação e ridicularizar
pessoas transexuais e travestis”.
“A
declaração do deputado federal Nikolas Ferreira é extremamente grave e atenta
contra a ordem jurídica e social fixada pela Constituição Federal; descumpre os
deveres postos no CEDP [Código de Ética e Decoro Parlamentar] da Câmara dos
Deputados; agride o disposto em diversos tratados e acordos internacionais que
o país se comprometeu a observar; e desborda, ainda, em ilicitude penalmente
tipificada. Sua prática, por conseguinte, é inconstitucional, ilegal e não
compatível com a ética e o decoro parlamentar”, acrescentam.
Arthur
Lira publicou em suas redes sociais uma “reprimenda pública” contra a atitude
do deputado e disse que o plenário “não é palco para exibicionismo”.
·
Notícia-crime no STF
A
deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP), líder do partido, disse que a legenda vai
apresentar uma notícia-crime ao STF. Se aceita, a notícia-crime se tornará uma
ação penal, e o deputado responderá na condição de réu.
"Nada
mais típico do que um machista desocupado do que fazer isso justamente no dia 8
de março. Tentou fazer uma piada de algo que não tem graça. A expectativa de
vida da população trans é de cerca de 27 anos", afirmou.
·
Transfobia
A
transfobia foi equiparada ao crime de
racismo pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2019.
Os
ministros consideraram na oportunidade que atos preconceituosos contra
homossexuais e transexuais devem ser enquadrados no crime de racismo.
Segundo
a advogada criminalista Priscila Pamela, a fala do deputado configurou
"patentemente" o crime de transfobia.
"Em
casos semelhante, os tribunais já têm decidido pelo crime exatamente por
ataques a pessoas que não reconhecem o sexo de nascimento, que tem uma
identidade de gênero diversa. A fala revela uma destilação de ódio",
afirmou.
·
Injúria racial
O
deputado bolsonarista já responde a uma ação pelo
crime de injúria racial após ofender a deputada Duda Salabert
em 2020, quando ambos eram vereadores em Belo Horizonte.
Nikolas
deu entrevista a um veículo de comunicação e se referiu a Duda, uma mulher
transexual, usando pronome masculino. Ele nega ter cometido crime.
Ø
Lira
diz que Câmara não é palco para preconceito e faz reprimenda após fala
transfóbica de Nikolas Ferreira
O
presidente da Câmara, deputado Arthur Lira (PP-AL),
escreveu nas redes sociais nesta quarta-feira (8) que o plenário não é palco
para "exibicionismo" nem para "discursos preconceituosos".
Lira se referia à fala
transfóbica feita mais cedo pelo deputado Nikolas Ferreira (PL-MG).
O
presidente da Câmara também disse que Nikolas mereceu uma "reprimenda
pública".
"O
plenário da Câmara dos
Deputados não é palco para exibicionismo e muito menos
discursos preconceituosos. Não admitirei o desrespeito contra ninguém. O
deputado Nikolas
Ferreira merece minha reprimenda pública por sua atitude no dia
de hoje", escreveu Lira.
Mais
cedo, Nikolas disse na tribuna que as mulheres estão perdendo espaço para
homens que se sentem mulheres.
Pouco
antes dele, subiu à tribuna a deputada Erika Hilton (PSOL-SP). Ela e a deputada
Duda Salabert (PDT-MG) são as primeiras deputadas federais transexuais da
história.
O
deputado desrespeitou as deputadas ao vestir uma peruca e dizer que, neste Dia
Internacional da Mulher, se sentia uma mulher.
Em
sua postagem, Lira afirmou que se solidariza com todos que foram ofendidos.
"A
todas e todos que se sentiram ofendidas e ofendidos minha solidariedade",
afirmou o presidente da Câmara.
Fonte:
iG/Fórum/g1
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