quarta-feira, 8 de março de 2023


 'Cubanos dissidentes têm privilégios que ninguém mais tem nos EUA', diz socióloga

Poucas vezes um trabalho acadêmico causou tanta polêmica na Flórida quanto o mais recente livro da socióloga americana Susan Eckstein.

Eckstein é professora do Departamento de Sociologia da Universidade de Boston (EUA) e é especializada nas relações entre Cuba e os Estados Unidos.

Em entrevista à BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC), a acadêmica afirma que levou seis anos de pesquisa para escrever seu livro Cuban Privilege: The Making of Immigrant Inequality in America (em tradução livre, "Privilégio cubano: a construção da desigualdade migratória nos EUA").

O livro analisa a evolução dos direitos e benefícios que os cubanos migrando para os Estados Unidos gozam por lei desde 1959 — ano do triunfo da revolução de Fidel Castro —, bem diferentes dos que recaem sobre imigrantes de outros países da América Latina e do Caribe.

Quando Eckstein foi a Miami lançar o livro, membros de direita da diáspora cubana lhe declararam guerra, fazendo com que uma palestra em uma livraria fosse cancelada por questões de segurança.

Na Universidade Internacional da Flórida (FIU, na sigla em inglês), onde ocorreu sua palestra mais importante, dezenas de pessoas protestaram do lado de fora. O evento também ocorreu em um ambiente hostil, com constantes acusações de que Eckstein era cúmplice do regime cubano.

>>>> Confira os principais trechos da entrevista.

        Você esperava essa reação?

Susan Eckstein – Nada, me pegou totalmente de surpresa.

Sou apenas uma acadêmica; estou acostumada a conversar com outros acadêmicos. Fora da academia, ninguém mais presta atenção no que escrevemos. Eu havia dado palestras sobre este livro por todo o país e alguns se interessaram, outros criticaram... tudo em um ambiente amigável.

Mas quando vim para Miami, um político local escreveu um tuíte que viralizou, dizendo que eu sou carregada de ódio, que sou uma provocadora anticubana, coisas que eu não sou. Ele reconheceu que não havia lido o livro, mas mesmo assim, formou-se aquele turbilhão que eu não esperava.

        Por que se dedicar a esse tema?

Eckstein – Estudei Cuba por muitos anos, escrevi vários livros e o próximo passo natural foi tentar entender a política de imigração dos Estados Unidos para Cuba.

Além disso, fiquei intrigada com os privilégios que só os cubanos têm. Esses privilégios são únicos e foram conquistados ao longo dos anos.

        Em seu trabalho, você compara migrantes cubanos e haitianos.

Eckstein – Eu estava interessada no tratamento diferente que Washington dá às duas nacionalidades, que vivem em duas ilhas vizinhas. Os haitianos são deportados, enquanto os cubanos recebem status especial de refugiado.

É difícil argumentar que os cubanos merecem mais do que os haitianos. O Haiti é o país mais pobre do hemisfério, há muita violência e agora praticamente não existe um Estado. O fato de os cubanos terem esses privilégios, e os haitianos não, sugere que não é simplesmente uma questão de justiça.

        O que é o "privilégio cubano"?

Eckstein – Refere-se aos direitos ou benefícios que os EUA concederam aos cubanos ao longo dos anos. Esses privilégios têm sido políticos, econômicos e sociais. O termo tenta definir essa situação única para os cubanos.

        Como ele começou?

Eckstein – Como uma história da Guerra Fria. O presidente Eisenhower (1953-61) não tolerava uma revolução a 90 milhas de seu território e começou a receber os cubanos assumindo que eles iriam voltar para Cuba. As autoridades tentaram treiná-los para a invasão da Baía dos Porcos, em 1961.

Quando ela falha, esses cubanos ficam e ganham mais benefícios especiais sob o programa de refugiados mais generoso da história dos Estados Unidos — incluindo faculdade gratuita, treinamento vocacional ou auxílio para colocação no mercado de trabalho. Esse pacote exclui imigrantes de outros países.

Se você fosse cubano, só de vir para os Estados Unidos já adquiria o status de refugiado.

        Por que esses benefícios?

Eckstein – O objetivo era tentar derrubar o regime de Castro. Primeiro, privando Cuba de seu melhor e mais brilhante capital humano, para que não sobrevivesse. Isso falhou, porque o regime treinou um novo grupo de pessoas.

Além disso, aqueles formados nos Estados Unidos seriam bons candidatos — e com posição política favorável a Washington — a voltar e liderar Cuba após a suposta queda de Castro.

        E como o "privilégio" evoluiu?

Eckstein – John F. Kennedy (1961-63) expandiu massivamente o programa de refugiados. Lyndon B. Johnson (1963-69) aprovou a Lei de Ajuste Cubano de 1966, permitindo que qualquer cubano nos EUA obtivesse status legal permanente e cidadania americana. Esta lei foi a mais decisiva e ainda está em vigor hoje.

Outra mudança importante foi com o presidente Clinton (1993-2001), que passou a repatriar migrantes cubanos capturados no mar pela lei conhecida como “Pés Secos, Pés Molhados” (aqueles que conseguiam chegar à terra firme tinham os trâmites facilitados).

        No livro, você afirma que a maioria dos migrantes cubanos que se estabelecem nos Estados Unidos como refugiados não são realmente refugiados.

Eckstein – Eles não são realmente refugiados. Na realidade, depois da revolução, Cuba não deixou sair seus presos políticos, por isso foi muito difícil para as verdadeiras vítimas do regime de Castro obter asilo fora do país.

Os que vinham (aos EUA) faziam-no geralmente para se juntar às famílias, algo que era muito mais difícil para os imigrantes de outros países conseguirem.

        Voltemos à controvérsia sobre o seu livro. Alguns ativistas em Miami a acusam de simpatizar com o governo cubano.

Eckstein – Isso é completamente irrelevante para o meu livro. Este livro não é sobre Cuba, mas sobre a política de imigração dos EUA, ponto final. Este tipo de acusação tem o único objetivo de me difamar.

Fui criticada por dizer que os migrantes cubanos não são realmente refugiados. Li a definição das Nações Unidas sobre o que é um refugiado e também li como, ao longo dos anos, os Estados Unidos mudaram seus critérios sobre a condição de refugiado exclusivamente para os cubanos.

Eu escrevo o que acontece, não é minha visão pessoal. Meu livro não é um manifesto, mas um trabalho acadêmico ao qual dediquei seis anos de pesquisa.

        Seus críticos argumentam que os cubanos não podem ser comparados com pessoas de outros países da região porque, diferente destes, vivem há mais de 60 anos sob uma ditadura que restringe as oportunidades econômicas e políticas. Como você responde a isso?

Eckstein – Não estou tentando justificar as políticas do governo cubano, mas Cuba não é o único país que sofre com um regime repressivo e, mesmo assim, os cubanos têm privilégios que ninguém mais tem.

Sou mais a favor de estender esses direitos a outros imigrantes do que eliminá-los para os cubanos.

        Outro dardo lançado contra você: ao contrário de outros países, Cuba penaliza as emigrações ilegais e, sobretudo em outros tempos, reprimiu ou marginalizou quem voltou depois de ter fugido. Isso não é motivo suficiente para considerá-los todos refugiados?

Eckstein – Eu não acho que esse argumento se sustenta hoje. Décadas atrás, poderia ser válido, mas não mais. A política cubana em relação aos que partem tem variado ao longo do tempo.

Quando a tensão política aumenta, o governo até permite que as pessoas saiam de forma velada. Isso aconteceu na crise de Mariel de 1980 e vemos que está acontecendo agora também.

        Você afirma que, em determinado momento, a política externa passou para segundo plano e a política interna dos Estados Unidos se tornou o motor do privilégio cubano. Como isso aconteceu?

Eckstein – Com o fim da Guerra Fria, a política externa deixou de ser um argumento para privilegiar os cubanos. Os benefícios anteriores ajudaram os cubanos a adquirir educação, riqueza e direitos políticos.

E a comunidade estava concentrada na Flórida, que ganhou destaque na política americana ao se tornar o terceiro estado mais decisivo nas eleições.

Republicanos e democratas consideram fundamental conquistar a Flórida para chegar ao poder e, para isso, precisam do voto dos cubanos, os quais procuram atrair concedendo cada vez mais benefícios à comunidade.

        Como o "privilégio cubano" influenciou os EUA?

Eckstein – Embora o objetivo inicial das medidas não tenha sido alcançado, Flórida e Miami em particular se beneficiaram das capacidades trazidas pelos cubanos.

Entre outras coisas, eles ajudaram a transformar Miami de uma pequena cidade a uma grande metrópole global.

Por outro lado, os afro-americanos locais sofreram no processo, porque os cubanos receberam tratamento favorável nos mundos acadêmico e trabalhista. Não foi intencional, mas parte do privilégio cubano ocorreu às custas dos nascidos americanos e, em particular, dos afro-americanos.

        E como influenciou Cuba?

Eckstein – Acima de tudo, contribuiu para que Cuba perdesse muito capital humano.

Hoje, muitas pessoas querem sair do país. E me pergunto o que será de Cuba, se o país vai continuar sendo um desastre como está hoje, carente de recursos humanos capacitados para gerar riquezas.

        No ano passado, mais de 250.000 cubanos fugiram para os EUA, um recorde histórico. Como o "privilégio cubano" influenciou esse êxodo?

Eckstein - Na sua última semana no cargo, Barack Obama (2009-2017) pôs fim ao direito de entrada livre temporária, que era exclusivo dos cubanos. Assim, os migrantes da ilha começaram a recorrer a uma nova via: pedidos de asilo.

Como os casos de asilo geralmente levam anos para serem resolvidos, depois de um ano os cubanos usaram a Lei de Ajuste Cubano para se tornarem residentes permanentes legais.

O presidente Biden estendeu recentemente para dois anos o direito de entrada em liberdade temporária a venezuelanos, haitianos, nicaraguenses e cubanos, mas apenas estes últimos podem, em um ano, recorrer à Lei de Ajuste Cubano para consolidar seus direitos de longo prazo nos Estados Unidos.

E também, uma vez nos EUA, apenas os cubanos se qualificam para receber benefícios sociais.

 

       Cuba: 4 razões que explicam a histórica emigração da ilha aos EUA em 2022

 

Nunca antes tantos cubanos chegaram aos Estados Unidos em um único ano como em 2022.

Em novembro, eles foram cerca de 270 mil, de acordo com dados da alfândega e da guarda costeira dos EUA, que controlam as chegadas por terra e mar, respectivamente.

Ou seja, segundo dados populacionais de 2021, desde janeiro deste ano 2,4% dos 11,1 milhões de habitantes de Cuba emigraram para os Estados Unidos.

A onda migratória atual supera a desencadeada após o triunfo da revolução de Fidel Castro (250 mil expatriados entre 1959 e 1962), aquela durante o Êxodo de Mariel de 1980 (cerca de 125 mil), os "Voos da liberdade" que deslocaram cerca de 300 mil cubanos entre 1965 e 1973 e a crise dos balseiros de 1994 (mais de 30 mil).

A grande maioria dos cubanos que têm emigrado para os Estados Unidos em 2022 o fazem de forma ilegal e arriscando suas vidas.

O mais comum é voar para a Nicarágua, onde os cubanos não precisam de visto, e acompanhar guias clandestinos por milhares de quilômetros através de Honduras, Guatemala e México, até pisar no solo dos Estados Unidos. As máfias cobram entre US$ 8 mil e US$ 15 mil (cerca de R$ 42 mil a R$ 80 mil).

Há também a opção mais barata, mas ainda mais arriscada, de tentar chegar à costa da Flórida, nos EUA, de barco.

Os planos às vezes falham e muitos acabam deportados ou mortos. Então, por que mesmo assim tantos cubanos estão arriscando suas vidas para chegar aos Estados Unidos?

        1. Escassez e falta de oportunidades

Diana Pérez, uma filóloga de 27 anos e administradora de redes sociais, chegou a Miami em março, após percorrer, por 16 dias, uma rota pela América Central que lhe custou cerca de US$ 10 mil (R$ 53 mil).

"Decidi vir porque em Cuba não se pode fazer nada: comprar comida, produtos de limpeza, sair para tomar um café, viver do trabalho... As pessoas lá não vivem mais, apenas sobrevivem", explicou à BBC News Mundo (serviço em espanhol da BBC).

Oito em cada dez cubanos que emigram para os Estados Unidos têm entre 15 e 59 anos, ou seja, a grande maioria está em idade de trabalhar.

Mas eles não querem fazer isso em Cuba, onde o salário médio mensal de um emprego público equivale a aproximadamente US$ 22 (R$ 115). O setor privado se limita a um grupo restrito de atividades e ofícios.

Para a socióloga Elaine Acosta, da Universidade Internacional da Flórida, a onda migratória cubana é produto "da crise estrutural e do esgotamento de um modelo político e socioeconômico que não oferece alternativas viáveis para sustentar a vida na ilha".

"A pobreza e as desigualdades sociais e territoriais aumentaram significativamente, juntamente com uma crescente deterioração da assistência social", explicou à BBC News Mundo.

Cuba está em crise há décadas, mas a pandemia — que atingiu fortemente o turismo, um setor-chave —, o aperto do embargo econômico dos EUA e uma fracassada reforma monetária e salarial, entre outros fatores, acabaram afundando ainda mais a economia da ilha.

Hoje, o governo não consegue pagar seus credores, então os suprimentos vindos do exterior são limitados — algo especialmente grave em um país que importa entre 60 e 70% dos alimentos que consome.

Na tentativa de arrecadar divisas, o Estado, que monopoliza o comércio legal no país, vende alimentos e produtos básicos em dólares, moeda à qual apenas parte da população tem acesso.

Isso deu origem a um mercado paralelo, mas não resolveu o problema da escassez. Para conseguir frango, pão, arroz, xampu ou pasta de dente, é preciso frequentemente pegar várias horas de fila desde a madrugada.

"Durante o dia, ou você trabalhava ou ficava na fila para conseguir comida. Não dava para fazer as duas coisas", lembra Diana.

Sua geração não viveu a relativa prosperidade dos anos 1970 e 1980, quando a União Soviética subsidiou a ilha. Esses jovens viveram apenas o longo declínio após o bloco comunista sucumbir.

Assim, para eles, as perspectivas de mudança são praticamente nulas, motivo pelo qual seus sonhos por sucesso profissional e abundância passam pela emigração.

"Como disse Joan Manuel Serrat sobre a Espanha rural na época do franquismo, os jovens cubanos de hoje não esperam que esta terra lhes dê amanhã o que não lhes deu ontem", resume Juan Carlos Albizu-Campos, professor do Centro de Estudos da Economia Cubana da Universidade de Havana.

        2. A falta de liberdade

Em 11 de julho de 2021, dezenas de milhares de cubanos saíram às ruas para exigir liberdade e melhores condições de vida. Foi uma onda de protestos sem precedentes.

As autoridades responderam nos meses seguintes com prisões em massa e julgamentos sumários. Mais de 1,5 mil pessoas, a maioria jovens, foram detidas e pelo menos 670 seguem presas até hoje, segundo a ONG Cubalex.

Também se tornou lugar-comum convocar e interrogar na delegacia cidadãos que criticam abertamente o sistema de partido único, firmado há mais de seis décadas.

"Chegava uma hora que você não conseguia nem se expressar, postar algo ou fazer um comentário. Sabendo que tudo estava errado, você não podia falar, porque poderia ter um problema sério", lembra Diana.

"Nos últimos tempos, por postar qualquer bobagem no Facebook, você podia ser intimado e até preso."

A jornalista, escritora e ativista cubana Mónica Baró sustenta que a falta de liberdade está sendo um fator importante — e subestimado na mídia — para a emigração.

"Depois do 11 de julho, muitas pessoas que participaram das manifestações emigraram, assustadas com o nível de repressão", diz ela.

Mónica explica que, embora grande parte dos manifestantes e pessoas que apoiaram as passeatas não tenham sido presas nos primeiros meses, "muitos ficaram assustados e passaram a temer que em algum momento fossem identificados em vídeos e então fossem detidos".

Alina Castillo, atriz de 28 anos, chegou a Miami em abril, após uma odisseia de 14 dias pela América Central, semelhante à da maioria dos cubanos que chegaram nos EUA este ano.

"Não saí por falta de comida, mas pelas limitações impostas por eu não concordar com o governo cubano. Eles não permitiam a liberdade de expressão de artistas e intelectuais. Não tínhamos o direito de criar um espaço privado para nos expressarmos."

"Vi que, em alguns anos, minha carreira seria interrompida pelo fato de pensar diferente ou de ter participado de alguma manifestação. Eu já sentia que falar o que eu queria poderia causar problemas, até para o meu grupo de teatro", diz a atriz.

        3. Visto ampliado para a Nicarágua

O passaporte cubano é um dos mais restritos do mundo, tendo isenção em menos de 30 países.

Um deles é a Nicarágua, já que em novembro de 2021, os governos de Daniel Ortega e Miguel Díaz-Canel assinaram um acordo para permitir que os cubanos entrem livremente no país centro-americano como turistas.

Esta se tornou, então, a principal porta de entrada pelo continente para aqueles que visam chegar aos Estados Unidos.

Alguns especialistas acreditam que o acordo com a Nicarágua foi uma manobra intencional do governo cubano para dar uma válvula de escape para a população e aliviar as pressões internas em um momento de forte insatisfação pela escassez e repressão.

"O governo cubano continua usando politicamente a migração de forma instrumental, transformando-a em uma ferramenta para neutralizar as pressões e descontentamentos internos. Também é um mecanismo de negociação com os governos da região", analisa a socióloga Elaine Acosta.

Albizu-Campos, por sua vez, minimiza o acordo de isenção de visto.

"É apenas mais um facilitador: o que ele faz é possibilitar a mobilidade por uma rota, mas o êxodo teria ocorrido com ou sem acordo entre Cuba e Nicarágua", conclui.

De qualquer forma, é significativo que o número de migrantes cubanos que chegam à fronteira com os Estados Unidos tenha disparado desde a abertura dessa nova rota.

        4. O que os espera nos EUA

Embora em 2022 muitos cubanos também tenham emigrado para a Europa — especialmente artistas e intelectuais de Havana — e para outras partes da América Latina e do mundo, a verdade é que a grande maioria foi para os Estados Unidos, por vários motivos.

A primeira e fundamental é o apoio das famílias cubanas que já vivem nos Estados Unidos. Elas formam uma comunidade de mais de 1,3 milhão de pessoas e dão suporte aos parentes que decidem deixar a ilha.

"Ter meu irmão, tios e primos aqui facilitou as coisas para mim. Eles me receberam na casa deles, nos primeiros meses não precisei pagar aluguel nem alimentação e, uma vez acomodada, posso começar a pensar em ser independente", diz Diana.

O caso de Alina Castillo é parecido: ela se estabeleceu na casa de sua mãe, moradora de Miami há oito anos.

Além disso, geralmente são os parentes nos Estados Unidos que financiam a travessia ilegal de Cuba até lá, já que os valores exigidos são incompatíveis com o bolso de qualquer habitante da ilha.

Outro fator são as oportunidades de trabalho que os EUA oferecem aos migrantes, e especialmente aos cubanos.

Não é muito segredo que, diferentemente da Europa, em Miami e em outras cidades dos Estados Unidos é relativamente fácil trabalhar ilegalmente em um restaurante, em uma loja ou em outros tipos de negócios.

Isso, juntamente com alguma ajuda governamental na alimentação e na saúde, permite que os recém-chegados garantam seu sustento.

Além disso, a Lei de Ajuste Cubano concede aos migrantes de Cuba um tratamento preferencial em relação aos de outros países: se eles passarem pelo menos um ano e um dia no país, já podem começar os trâmites para fincar residência e, em poucos anos, poderão se tornar cidadãos.

"Os privilégios que os migrantes cubanos desfrutam, tanto em termos de admissão preferencial quanto de assistência na chegada, criaram incentivos para que eles deixem Cuba em direção aos Estados Unidos", explica William Leogrande, professor da Universidade Americana em Washington e especialista nas relações Cuba-Estados Unidos.

A BBC News Mundo pediu posicionamento do governo cubano sobre a atual onda migratória, mas não obteve resposta.

 

Fonte: BBC News Mundo

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