quinta-feira, 9 de março de 2023


 Como asteroide que extinguiu dinossauros fez nascer floresta Amazônica

O impacto de um asteróide é conhecido por ser a causa mais provável da extinção dos dinossauros, mas o que aconteceu com as plantas?

Um estudo realizado no Panamá, com amostras colhidas na Colômbia, aponta que o evento deu origem às florestas tropicais que conhecemos hoje em nosso planeta.

Os pesquisadores usaram pólen e folhas fossilizadas do solo colombiano para investigar como o impacto do meteoro mudou as florestas tropicais da América do Sul.

Depois de uma rocha espacial de 12 km de largura atingir a Terra 66 milhões de anos atrás, o tipo de vegetação que formava essas florestas mudou drasticamente.

Mónica Carvalho, do Instituto Smithsonian de Pesquisas Tropicais no Panamá e coautora do estudo, disse: "Nossa equipe examinou mais de 50 mil registros de pólen fóssil e mais de 6 mil fósseis de folhas de antes e depois do impacto."

        Descobertas

Os cientistas descobriram que plantas coníferas e samambaias eram comuns antes do enorme asteróide atingir a Terra, onde hoje é a Península de Yucatán, no México.

Mas após o evento devastador, a diversidade de plantas caiu cerca de 45% e as extinções se espalharam, especialmente entre as plantas com sementes.

As florestas se recuperaram durante os 6 milhões de anos seguintes, mas as angiospermas, ou plantas com flores, passaram a dominar essas zonas de vegetação.

A estrutura das florestas tropicais também mudou como resultado dessa transição.

Durante o final do período Cretáceo, quando os dinossauros ainda estavam vivos, as árvores que constituíam as florestas eram muito espaçadas.

Suas copas não ficavam uma em cima da outra, deixando áreas abertas que eram iluminadas pelo sol no chão da floresta.

Mas após o impacto, as florestas desenvolveram uma formação densa que permitiu que muito menos luz chegasse ao solo.

Mas como o impacto transformou as florestas tropicais ricas em coníferas esparsas da era dos dinossauros nas florestas tropicais de hoje, com suas altas árvores floridas e orquídeas multicoloridas?

        Mudança radical

A partir da análise do pólen e das folhas, os pesquisadores propõem três explicações diferentes.

Primeiro, os dinossauros poderiam ter evitado que a floresta se tornasse densa, forrageando e pisoteando as plantas que cresciam nas áreas mais baixas das florestas.

Uma segunda explicação é que a queda de cinzas após o impacto enriqueceu os solos dos trópicos, dando uma vantagem às plantas com flores de crescimento mais rápido.

A terceira explicação é que a extinção particular de espécies de coníferas criou uma oportunidade para as plantas com flores tomarem seu lugar.

Essas ideias, diz a equipe, não são mutuamente exclusivas e todas poderiam ter contribuído para o resultado que vemos hoje.

"A lição aprendida aqui é que em choques rápidos... os ecossistemas tropicais não só se recuperam, são substituídos e o processo leva muito tempo", finaliza Carvalho.

 

       Os dinossauros teriam sobrevivido se não fossem atingidos por asteroide?

 

Cerca de 66 milhões de anos atrás, na península de Yucatán, no México, um asteroide de 12 quilômetros de largura caiu na Terra.

O impacto causou uma explosão cuja magnitude é difícil de imaginar hoje — vários bilhões de vezes mais poderosa do que a bomba atômica lançada em Hiroshima.

A maioria dos animais do continente americano morreu imediatamente. O impacto também desencadeou tsunamis em todo o mundo.

Toneladas e toneladas de poeira foram ejetadas na atmosfera, mergulhando o planeta na escuridão.

Este "inverno nuclear" causou a extinção de muitas espécies de plantas e animais. Entre eles, o mais emblemático: os dinossauros.

Mas como os dinossauros estavam se saindo antes deste cataclismo?

Esta é a pergunta que tentamos responder em nosso novo estudo, cujos resultados acabam de ser publicados na revista científica Nature Communications.

Estávamos interessados em seis famílias de dinossauros, as mais representativas e diversificadas dos 40 milhões de anos que antecederam a chegada do asteroide.

Três dessas famílias eram carnívoras: os Tyrannosauridae, os Dromaeosauridae (incluindo o velociraptor, que ficou famoso depois do filme Jurassic Park) e os Troodontidae (pequenos dinossauros semelhantes a pássaros).

As outras três eram herbívoras: os Ceratopsidae (representados em particular pelo tricerátops), os Hadrosauridae (a mais rica de todas em termos de diversidade) e os Ankylosauridae (representados sobretudo pelo anquilossauro, um dinossauro coberto por uma armadura óssea com uma cauda em forma de clava).

Sabíamos que todas essas famílias haviam sobrevivido até o final do período Cretáceo, marcado pela queda do asteroide.

Nosso objetivo era determinar em que proporção essas famílias se diversificaram — formaram novas espécies — ou se tornaram extintas.

Durante cinco anos, compilamos todas as informações conhecidas sobre essas famílias para tentar descobrir quantas delas havia na Terra em um determinado momento — e que espécies estavam em cada grupo.

Na paleontologia, cada fóssil recebe um número único para fins de rastreamento, o que nos permite acompanhá-lo na literatura científica ao longo do tempo.

O trabalho foi tedioso — fizemos um inventário da maioria dos fósseis conhecidos dessas seis famílias, que representavam mais de 1,6 mil indivíduos de cerca de 250 espécies.

Não é fácil categorizar adequadamente cada uma das espécies e datá-las corretamente: um pesquisador pode fazer o registro de uma determinada data e espécie, e então outro pode reexaminar o fóssil e fazer uma análise diferente.

Nestes casos, tínhamos que tomar nossas próprias decisões — se houvesse muitas dúvidas, eliminávamos o fóssil do estudo.

Depois que cada fóssil foi devidamente classificado, usamos um modelo estatístico para estimar o número de espécies que evoluíram ao longo do tempo para cada família.

Conseguimos assim rastrear as espécies que apareceram e desapareceram entre 160 e 66 milhões de anos atrás e estimar, novamente para cada família, as taxas de especiação — a evolução de novas espécies — e extinção ao longo do tempo.

Para estimar essas taxas, tivemos que levar em consideração vários fatores de confusão.

O registro fóssil é tendencioso: é desigual no tempo e no espaço, e alguns tipos de dinossauros simplesmente não fossilizam tão bem quanto outros.

Este é um problema bem conhecido na paleontologia ao estimar a dinâmica da diversidade do passado.

Modelos sofisticados podem contabilizar a preservação desigual ao longo do tempo e entre as espécies.

Ao fazer isso, o registro fóssil se torna mais confiável para estimar o número de espécies em determinado momento.

Mas é importante ter cautela, porque estamos falando de estimativas, e essas estimativas podem mudar se encontrarmos mais fósseis, por exemplo, ou novos modelos analíticos.

        Um declínio acentuado

Nossos resultados mostram que o número de espécies estava em declínio acentuado desde 10 milhões de anos antes da queda do asteroide até os dinossauros serem extintos.

Este declínio é particularmente interessante porque é mundial e afeta tanto grupos carnívoros, como os tiranossauros, quanto herbívoros, como o tricerátops.

Algumas espécies diminuíram drasticamente, como os anquilossauros e ceratopsianos, e apenas uma família das seis — a Troodontidae — apresentou um declínio muito pequeno, que ocorreu nos últimos cinco milhões de anos de existência dos dinossauros.

O que pode ter causado esse forte declínio? Uma teoria é a mudança climática: naquela época, a Terra passou por um período de resfriamento global de 7°C a 8°C.

Sabemos que os dinossauros precisam de um clima quente para que seu metabolismo funcione adequadamente.

Como costumamos ouvir, eles não eram animais ectotérmicos (de sangue frio) como crocodilos ou lagartos, nem endotérmicos (de sangue quente), como mamíferos ou pássaros.

Eles eram mesotérmicos, sistema metabólico entre répteis e mamíferos, e precisavam de um clima quente para manter sua temperatura e assim desempenhar funções biológicas básicas.

Essa queda de temperatura deve ter tido um impacto muito forte sobre eles.

Vale destacar que identificamos um declínio escalonado entre herbívoros e carnívoros: os comedores de vegetais diminuíram ligeiramente antes dos comedores de carne.

É provável que o declínio dos herbívoros tenha causado o declínio dos carnívoros. Isso é o que chamamos de extinção em cascata.

        O golpe de misericórdia

Os dinossauros teriam desaparecido independentemente da queda do asteroide?

Uma grande questão permanece: o que teria acontecido se o asteroide não tivesse caído? Os dinossauros estariam extintos de qualquer maneira, devido ao declínio que já havia começado, ou eles poderiam ter se recuperado?

É muito difícil dizer. Muitos paleontólogos acreditam que, se os dinossauros tivessem sobrevivido, os primatas e, consequentemente, os humanos, nunca teriam aparecido na Terra.

Um fato importante é que uma possível recuperação na diversidade pode ser muito heterogênea e condicionada ao grupo, de modo que alguns grupos teriam sobrevivido e outros não.

Os hadrossauros, ou dinossauros "com bico de pato", por exemplo, mostraram alguma forma de resiliência ao declínio e poderiam ter se recuperado posteriormente.

O que podemos dizer é que os ecossistemas do final do período Cretáceo estavam sob pressão significativa devido à deterioração climática e grandes mudanças na vegetação, e que o asteroide deu o golpe final.

Este costuma ser o caso no desaparecimento de espécies: primeiro elas estão em declínio e sob pressão, então outro evento intervém e acaba com um grupo que poderia estar à beira da extinção de qualquer maneira.

 

Fonte: BBC Future

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