domingo, 26 de março de 2023

Agripina: quem foi a mulher mais poderosa do Império Romano

Muitos se lembram dos nomes dos primeiros imperadores de Roma antiga — como Augusto, Calígula e Nero —, mas poucos conhecem as mulheres que foram vitais para o sucesso (ou fracasso) de seus reinados.

A mais poderosa delas foi Agripina, a Jovem.

A seguir, apresentamos nove fatos sobre a vida desta poderosa imperatriz romana que viveu entre 15 e 59 d.C.

·         1. Foi uma potência nos reinados de três imperadores

Agripina, a Jovem, foi uma mulher muito importante nos reinados de três dos primeiros imperadores romanos.

Ela era irmã do imperador Calígula, esposa de Cláudio e mãe de Nero.

Cada um a honrou como a mulher mais importante em seu reinado, e ela foi capaz de se aproveitar disso para obter um poder sem precedentes.

·         2. Era 'descendente de um deus'

O bisavô de Agripina foi o primeiro imperador, Augusto.

Quando Augusto morreu, ele foi divinizado, transformado em deus pelos romanos — e um templo foi construído em sua homenagem.

Os romanos faziam sacrifícios regularmente a Augusto, como faziam com deuses.

Por volta de 50 depois de Cristo, Agripina era a única descendente de Augusto ainda viva. Acreditava-se que corria sangue divino em suas veias.

·         3. Foi a primeira mulher a aparecer em frente de moeda

As moedas eram uma importante ferramenta de propaganda no Império Romano.

Agripina e suas irmãs, Drusilla e Livilla, foram as primeiras mulheres vivas a serem retratadas em uma moeda cunhada no início do reinado do irmão delas, Calígula.

Durante o reinado de seu marido Cláudio, Agripina foi a primeira mulher romana a aparecer na frente de uma moeda ao lado do próprio imperador, e não no verso.

·         4. Tentou derrubar o irmão

Embora Calígula tenha concedido enormes honras a ela e a suas irmãs, ele foi um imperador descrito como cruel e insano e acabou sendo o primeiro a ser morto por seus próprios guardas.

Antes de morrer, muitas pessoas tentaram derrubá-lo, incluindo Agripina, sua irmã Livilla, e o cunhado delas, Lepidus, viúvo de Drusilla, que tinha morrido de causas naturais.

Os três foram capturados enquanto ainda estavam conspirando. Agripina e Livilla foram exiladas em uma pequena ilha como punição.

Não foi tão ruim para elas, considerando que Lepidus foi executado.

·         5. Se casou com o tio

Após o assassinato de Calígula, Agripina finalmente voltou a Roma, onde seu tio havia se tornado imperador.

Cláudio era irmão mais velho do pai dela, então foi uma surpresa quando Agripina se casou com ele.

Eles tiveram que convencer o Senado a mudar as leis sobre incesto para que o casamento pudesse ocorrer.

Os historiadores e as más línguas da época diziam que Agripina havia seduzido o tio para se tornar a mulher mais poderosa que os romanos já haviam visto.

Agripina foi ainda a imperatriz mais assertiva da história de Roma.

Ela se sentava ao lado de Cláudio em um trono idêntico ao dele e agia como uma política, algo muito impactante para os romanos, que não permitiam que as mulheres participassem da política.

Em um evento público chegou a usar uma capa militar dourada para mostrar seu poder e ousadia.

·         6. Fundou sua própria cidade

Um dos atos mais importantes de Agripina como Imperatriz de Roma foi fundar uma cidade na fortificação romana que havia sido seu local de seu nascimento.

Ela foi batizada de Colonia Claudia Ara Agrippinensium, mas ficou conhecida como La Colonia.

Atualmente, é a quarta cidade mais populosa da Alemanha e mantém suas raízes romanas no nome: Colônia

·         7. Provavelmente assassinou o marido

Após quatro anos de casamento, Agripina e Cláudio estavam frustrados um com o outro.

De acordo com historiadores, Cláudio lamentava sua decisão de deserdar o filho Britânicus em favor de Nero, enquanto Agripina estava preocupada em perder sua posição de poder caso Nero não se tornasse o próximo imperador.

As mesmas fontes afirmam que Agripina contratou um envenenador profissional que usava um cogumelo de aparência particularmente deliciosa.

Excepcionalmente, não há registros de que Cláudio tenha morrido de causas naturais. Isso fortalece a tese de que Agripina teria matado o próprio marido.

·         8. Foi muito homenageada

Como mãe do imperador Nero, Agripina recebeu ainda mais honrarias.

Tradicionalmente, os romanos se consideravam parte da família do pai e raramente mencionavam suas mães, mas Nero colocou inscrições declarando que ele era "filho de Agripina".

Ela foi a primeira e única mulher a ser homenageada por um imperador dessa maneira.

·         9. Foi assassinada a mando do próprio filho

Apesar de declarar com orgulho que era seu filho e que foi ela quem o nomeou imperador, Nero não era um filho muito grato.

Ele tentou obrigá-la a ser uma mãe romana mais tradicional. Queria que ela ficasse em casa e usasse vestidos bonitos, mas ela queria governar.

Depois de sua pior briga, Nero decidiu que a única maneira de fazer o que queria era matando sua mãe.

Ele primeiro tentou envenená-la, mas ela tomava antídotos diariamente. Então, de acordo com Suetônio, o biógrafo de Nero, ele fez com que o teto do quarto desabasse sobre ela enquanto dormia, mas ela foi avisada antes.

Na sequência, ele tentou matá-la com um barco projetado de tal forma que se desmantelaria quando ela fosse velejar durante a celebração da festa de Minerva. Infelizmente para Nero, ela era uma excelente nadadora e sobreviveu.

Finalmente, ele decidiu usar um método mais direto e sangrento: enviou um soldado que a esfaqueou até a morte em seu quarto. E, após sua morte, afirmou que foi ela quem havia tentado matá-lo.

 

Ø  Friné: o dramático julgamento da cortesã da Grécia Antiga que se despiu para salvar a própria vida

 

As coisas não iam bem para a defesa no Areópago, lugar onde, segundo a lenda, Ares, o deus da guerra, havia sido julgado pelos deuses e condenado por matar Halirrotio, filho de Poseidon, que havia estuprado uma de suas filhas, Alcipe.

No tribunal, localizado a poucos metros da Acrópole, em Atenas, a ré enfrentava, uma das mais graves acusações que poderiam ser feitas contra qualquer pessoa: impiedade, ou desrespeito a condutas ou crenças religiosas, uma das razões pelas quais o grande filósofo ateniense Sócrates havia sido condenado à morte.

Mesmo com sua preparação e esforço, era óbvio que o talentoso Hiperides, um dos dez oradores áticos (eram uma espécie de advogados da Antiguidade clássica), não estava conseguindo convencer o júri.

Com a vida de sua cliente (e sua própria reputação) em jogo, ele tomou medidas extremas.

"...como ela não estava conseguindo nada com seu discurso e era provável que os juízes a condenassem, após conduzi-la a um lugar bem visível e rasgar sua túnica, deixando o peito à mostra, declamou suas lamentações finais diante da visão oferecida por ela...", conta o escritor Ateneu de Náucratis em Banquete dos Eruditos.

Hiperides havia despido diante do júri, naquele lugar sagrado que havia sido regado com água limpa antes do julgamento para lembrar aos presentes que tudo que ali entrasse deveria ser puro, uma hetaira.

As hetairas eram uma classe de cortesãs profissionais da Grécia Antiga que, além de cuidar de sua beleza física, cultivavam suas mentes e talentos em um grau muito mais alto do que era permitido à mulher comum.

Seu nome era Mnēsarétē, que significa "celebrando a virtude", mas era conhecida como Friné, que significa "sapo" e parece um insulto, mas o apelido não se devia às suas feições, mas sim à cor azeitona de sua pele.

Ela nasceu em 371 a.C. em Thespiae, mas se mudou para Atenas e, com o tempo, tornou-se uma celebridade que se escondia da vista do público com um véu.

"Friné era uma mulher muito bonita, mesmo nas partes de sua pessoa que geralmente não eram vistas; não era fácil vê-la nua, porque ela usava uma túnica que cobria toda a sua pessoa e nunca usava os banheiros públicos", escreveu Ateneu.

Assim, apenas aqueles que pagavam podiam vê-la... em carne e osso.

Quem não podia se dar ao luxo disso, tinha a oportunidade de admirar seus atributos de outro jeito: pelo fato de ela ter sido uma mod02elo bastante procurada por pintores e escultores, entre eles Praxíteles, o mais renomado escultor do século 4 a.C. e que a imortalizou em uma das mais famosas obras de arte da Grécia Antiga.

·         As Afrodites

O enciclopedista romano Plínio, o Velho, conta que por volta de 330 a.C., a ilha grega de Kos encarregou Praxíteles de fazer uma estátua da deusa do amor, da beleza, do prazer, da paixão e da procriação.

O artista esculpiu não uma, mas duas Afrodites: vestida e nua.

Os residentes de Kos ficaram horrorizados ao ver a segunda escultura, então mantiveram a primeira. Mas seus vizinhos em Cnido não eram tão recatados e ficaram com a deusa despida.

O historiador romano diz que o rei Nicomedes gostou tanto da escultura nua de Praxíteles que ofereceu a Cnido, em troca, o perdão de suas dívidas.

Embora os cnidianos tivessem recusado a oferta, eles conseguiram pagar o que deviam graças ao fato da Afrodite nua ter se tornado um ímã turístico.

A figura reproduzida em pedra também enriqueceu a mulher que a possuía.

·         As paredes de Tebas

Além de seus atributos físicos, Friné era "uma deusa dos trocadilhos e do pensamento prático", de acordo com Ateneu, que também registrou que ela foi possivelmente a mais rica mulher criadora de seu próprio sucesso de seu tempo.

Ela acumulou tanta riqueza que se ofereceu para financiar a reconstrução das muralhas de Tebas, destruídas por Alexandre, o Grande, em 336 a.C..

Mas exigiu que as palavras "Destruída por Alexandre, restaurada por Friné, a cortesã" fossem inscritas nas paredes.

A ideia de uma mulher (e acima de tudo uma cortesã) reconstruir o que Alexandre, o Grande, havia destruído, era tão perturbadora para os patriarcas da cidade que preferiram manter as ruínas.

·         E o julgamento?

Hipérides despiu Friné na frente do júri.

A cortesã estava lá porque, como disse Ateneu, "durante as festividades Eleusinas e as de Poseidon, à vista de todos, ela tirava sua túnica, soltava os cabelos e entrava no mar".

A acusavam de profanar a festa com sua oferenda, e Hipérides mostrava como ela cometera o crime.

Era um corpo tão perfeito que só poderia ser feito pelos deuses, ele argumentou. Seria desrespeitoso para eles privar o mundo dessa obra divina.

Como eles poderiam condenar uma mulher que era tão bonita que havia representado Afrodite?

"...e fez com que os juízes sentissem um respeito reverente pela ministra e serva de Afrodite, garantindo por devoção religiosa que ela não deveria ser morta", escreveu Ateneu.

A verdade é que a história do julgamento de Friné foi recriada com base em poucas passagens de escritos da época e relatos de autores que não estiverem presentes.

Sabe-se que o julgamento ocorreu e que o discurso de Hipérides em sua defesa foi um dos mais admirados da Antiguidade, mas dele restam apenas alguns fragmentos.

Há também dúvidas sobre a causa que levara à acusação, e há uma outra versão do final, em que a própria Friné, vestida, fala com cada um dos jurados e os convence de sua inocência.

Nada disso impediu que o dramático litígio inspirasse várias obras de arte, desde pinturas como as que ilustram esta reportagem e várias outras, até esculturas de artistas como o americano Albert Weine.

Poetas como Charles Baudelaire, Francisco de Quevedo e Rainer Maria Rilke escreveram pensando em Friné, o francês Camille Saint-Saëns criou uma ópera que leva seu nome, e o italiano Mario Bonnard dirigiu um filme sobre a cortesã.

Esplêndido legado do julgamento, apesar de não termos provas da veracidade dos fatos.

 

Fonte: BBC Radio 4/BBC News Mundo

 

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