Sabesp é privatizada com perda de pelo
menos R$ 4,5 bilhões para os cofres de SP
O governo paulista
encerrou nesta segunda-feira (22) a privatização da Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) contabilizando uma perda de pelo menos
R$ 4,5 bilhões aos cofres estaduais. O valor é quase um terço dos R$ 14,8
bilhões arrecadados com a privatização.
A conta considera o
valor pelo qual as ações da companhia de água e esgoto foram vendidas na
privatização, recém-concluída, e a atual cotação do papel na bolsa de valores.
Na privatização, as ações da Sabesp foram vendidas a R$ 67 cada uma. Hoje, na
Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, essa mesma ação vale R$ 87.
Para Amauri Pollachi,
especialista em saneamento e recursos hídricos e conselheiro do Observatório
Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento (Ondas), tamanha diferença de
preço criou uma situação absurda. Nela, a gestão do governador Tarcísio de
Freitas (Republicanos) vende a ação num dia. No mesmo dia, o comprador pode
revendê-la e lucrar 30%.
"São quase R$ 5
bilhões que o estado poderia ter embolsado se tivesse vendido as ações pela
cotação atual", reclamou Pollachi, que sempre se opôs à privatização do
serviço de saneamento básico no estado de São Paulo pelo seu papel crucial ao
bem-estar e à saúde da população paulista.
Ele apontou,
inclusive, que a perda pode ser ainda maior se considerado o valor potencial
das ações da Sabesp hoje.
Um estudo do Sindicato
dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo
(Sintaema) encaminhado ao Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP)
indica que cada ação da Sabesp vale R$ 103,90. Considerando esse preço, o
governo paulista abriu mão de cerca de R$ 8 bilhões ao vendê-las por R$ 67.
O estudo do Sintaema
aponta que a Sabesp, sob administração privada, terá de investir menos do que o
governo de São Paulo previu para atender compromissos da privatização. Com
menos investimento, a empresa lucrará mais e antes do estimado. Portanto, tende
a recompensar mais seus acionistas e, por isso, teria uma ação mais valiosa.
<><> Venda
concluída
Nesta segunda-feira
aconteceu a liquidação das operações de vendas de ações programadas no processo
de privatização. O governo de São Paulo detinha 50,5% das ações da Sabesp e
passará a ter 18%.
Os 32% restantes foram
vendidos de duas formas. A empresa Equatorial foi a única interessada em se
tornar o acionista de referência da Sabesp. Comprou 15% das ações da empresa
oferecendo os R$ 67 por ação.
Esse valor baseou a
venda de outros 17% em ações da companhia de forma pulverizada, a investidores
que manifestaram interesse em adquiri-las. A companhia ainda não comunicou quem
são os principais compradores dos papéis: bancos, fundos de investimentos ou
estrangeiros, por exemplo.
Independentemente
disso, a partir desta segunda-feira, a Sabesp já não é mais uma empresa pública
de capital misto. É agora uma empresa privada, com parte de seu capital social
ainda nas mãos do governo de São Paulo, assim como a Eletrobras.
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Conselho
A Sabesp terá um
conselho gestor composto por nove pessoas após a privatização. A Equatorial vai
indicar três nomes, incluindo o presidente.
O governo de São Paulo
também indicará três membros do conselho, assim como os outros acionistas da
empresa.
Com a privatização, a
meta de atender 99% da população com água potável, e pelo menos 90% com coleta
e tratamento de esgoto até 2029. Essas metas também cobrem as áreas rurais e os
núcleos urbanos informais, como favelas e palafitas.
As tarifas social e
vulnerável, que atendem quem está no Cadastro Único para Programas Sociais
(CadÚnico), terão redução de 10%. A tarifa residencial padrão terá queda de 1%,
e as demais, como comercial e industrial, terão 0,5% de diminuição.
O desconto será
subsidiado com recursos de um fundo que receberá 30% do arrecadado com a
privatização, além de parte dos dividendos da Sabesp.
• Tarcísio entrega Sabesp abaixo do preço
para empresa privada e diz que fez história
O governador Tarcísio
de Freitas (Republicanos) participou na manhã desta segunda-feira (22) de uma
cerimônia que concluiu o processo de privatização da Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo (Sabesp). A maior empresa de saneamento do país,
que registrou um lucro líquido de R$ 3,1 bilhões em 2023, teve 32% de suas
ações vendidas com o preço abaixo da média.
Tarcísio comemorou a
venda da empresa nas redes sociais e disse que “fez história” ao entregar a
companhia para a iniciativa privada. “Fizemos história! A empresa referência
nacional em saneamento básico se torna ainda mais forte a partir de agora. Uma
enxurrada de investimentos privados para levar água na torneira e esgoto pra
todo mundo. Saneamento mais rápido, melhor, mais barato e para todos!”,
publicou no X, antigo Twitter.
As ações da Sabesp
foram vendidas a R$67 cada, valor 18,3% abaixo dos R$87, preço de fechamento na
Bolsa de Valores na última quinta-feira (18). A venda de 32% da empresa
resultou em R$ 14,8 bilhões aos cofres do governo paulista e representa uma perda de pelo menos R$ 4,5 bilhões aos
cofres estaduais. O valor é quase um terço dos R$ 14,8 bilhões arrecadados com
a privatização.
"Hoje não tem
martelo. Acho que ficaram com medo", disse o governador em uma tentativa
de piada com o que ocorreu na sede da Bolsa em março do ano passado, quando ele
quase quebrou o símbolo da B3 ao encerrar o leilão do Rodoanel Norte.
Em discurso inflado,
ele defendeu os trabalhos realizados pela gestão para viabilizar a
desestatização do saneamento, prometeu redução da tarifa, limpeza de rios e
universalização do saneamento até 2029.
"Não faltou nesse
processo uma série de atributos, não faltou ousadia, não faltou coragem, não
faltou dialogo, não faltou respeito, não falta criatividade pra que a gente
construísse um modelo que não é o modelo de Buenos Aires, não é o modelo de Berlim,
não é o modelo do Reino Unido, não é o modelo do Chile, não é o modelo de
Portugal, não é o modelo da Eletrobrás, é o modelo da Sabesp, é o nosso modelo,
é o modelo de São Paulo e é o melhor modelo da história."
O governador disse
ainda ter "muito orgulho da PGE" e defendeu que o processo foi feito
"para libertar a Sabesp".
"Quantas ações
judiciais, quanta guerra, confusão, que vinham daqueles que não entendem".
Com a conclusão do
processo, a nova gestão da Sabesp assume a empresa após a eleição do novo
Conselho de Administração, em assembleia geral de acionistas.
Antes, a aquisição de
15% das ações da Sabesp pela Equatorial precisa ser aprovada pelo Conselho
Administrativo de Defesa Econômica (CADE).
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Tarifa
Com o novo modelo, o
governo promete redução de até 10% nas tarifas social e vulnerável para
famílias inscritas no Cadastro Único (CADÚnico) e para que tem renda familiar
per capita entre R$ 218 e R$ 706 (meio salário mínimo).
Além disso, haverá 1%
de desconto para os demais clientes residenciais. E 0,5% de redução nas outras
tarifas, como comercial e industrial.
"A redução [da
tarifa] começa a partir de hoje. Então, obviamente, tem uma questão que é proporcional,
nós temos tarifas que estão, vamos dizer, que não têm o mês fechado, então nós
temos os dias de tarifa cheia e a partir de hoje a gente passa a ter a redução
proporcional de maneira que no próximo ciclo a gente vai ter aquele resultado
da redução de tarifa que foi colocado, 10% de redução nas tarifas sociais dos
vulneráveis, 1% pros consumidores residenciais e 0,5% pros consumidores
comerciais e industriais", disse Tarcísio nesta terça.
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Proposta única
Na semana passada, a
gestão estadual confirmou que o fundo de investimentos Equatorial cumpriu com
as exigências previstas na oferta pública inicial e, assim, adquiriu o bloco
prioritário de 15% das ações da Sabesp.
O grupo foi o único a
apresentar proposta de compra e vai desembolsar R$ 6,9 bilhões pela fatia da
companhia.
“De nossa parte,
trazemos experiência de ampla estrutura e eficiência no atendimento aos
clientes. Nas nossas distribuidoras levamos energia a 34 milhões de clientes.
Completamos em 2024 20 anos de existência. Uma história que nos levou a ser um
dos maiores agentes de energia do país", disse Augusto Miranda, CEO da
empresa durante o evento nesta manhã.
A mudança na
composição da Sabesp faz parte da decisão do governo paulista de diminuir sua
participação acionária na empresa — ou seja, privatizar a companhia de
saneamento. O Executivo paulista tinha 50,3% dos papéis e decidiu ficar com
apenas 18%.
A venda, portanto, foi
de 32% das ações, sendo 15% para o grupo Equatorial e 17% para investidores,
incluindo pessoas físicas. Os outros 49,7% dos papéis já eram listados em bolsa
de valores.
<><> Sobre
a Sabesp
Atualmente, metade das
ações da empresa está sob controle privado, sendo que parte é negociada na B3 e
parte na Bolsa de Valores de Nova York, nos Estados Unidos.
Em 2022, a empresa
registrou um lucro de R$ 3,1 bilhões. Desse montante, 25% foram revertidos como
dividendos aos acionistas e R$ 2,4 bilhões destinados a investimentos.
Atendendo 375
municípios com 28 milhões de clientes, o valor de mercado da empresa chegou, em
2022, a R$ 39,1 bilhões.
<><> Venda
de ações
Ao todo, a venda de
17% dos papéis da empresa rendeu R$ 7,9 bilhões ao governo de São Paulo.
O preço definido por
ação foi de R$ 67 — mesmo valor negociado com a Equatorial Participações e
Investimentos, investidor estratégico da Sabesp, que já tinha adquirido 15% dos
papéis por um total de R$ 6,9 bilhões. (leia mais abaixo).
Os investidores
interessados tiveram do dia 1º a 15 de julho para reservar 17% das ações da
companhia. Pessoas físicas também puderam participar.
Ao longo da pré-venda,
as buscas totais pelos papéis mobilizaram R$ 187 bilhões de investidores
interessados em concorrer a um pedaço da empresa.
A soma das vendas
também coloca a desestatização da Sabesp como a maior oferta pública de ações
do ano no país.
Conforme mostrou o g1,
a principal forma de adquirir ações da Sabesp durante a privatização foi por
meio da reserva de papéis — processo simples que pôde ser realizado por meio da
conta do investidor em qualquer corretora de valores.
No portal das
corretoras, os interessados puderam procurar pela opção de "ofertas
públicas" e escolher a Sabesp sob o código SBSP3.
No momento da reserva,
no entanto, ainda não havia a definição do preço da ação da empresa. Os valores
foram divulgados dias após o encerramento do período de reservas.
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Constitucionalidade
A privatização da
empresa foi alvo de diversas ações da oposição, que aponta irregularidades do
governo no processo. O PT questiona a constitucionalidade da lei de autoria do
governo Tarcísio de Freitas e aprovada pela Assembleia Legislativa em dezembro de
2023.
O partido pede a
suspensão da eficácia de atos administrativos do Conselho de Administração da
companhia e do Conselho Diretor do Programa Estadual de Desestatização (CDPED).
A legenda defende que
a lei fere os princípios da Administração Pública: legalidade, moralidade,
impessoalidade, isonomia, publicidade e eficiência.
Na quinta (18), a
Advocacia-Geral da União defendeu a suspensão do processo. A AGU afirmou que os
fatos narrados e os documentos mostram que esses princípios não foram
observados no processo de desestatização da empresa, que é uma sociedade
constituída por ações de mercado que integra a administração indireta do estado
de São Paulo.
Entretanto, no sábado
(20), o pedido foi rejeitado por pelo presidente do Supremo Tribunal Federal
(STF), Luís Roberto Barroso.
Segundo o ministro,
"não compete ao STF arbitrar a conveniência política e os termos e
condições do processo de desestatização da Sabesp".
Fonte: Brasil de Fato/Brasil
247/g1
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