sábado, 27 de julho de 2024

PF encontra arquivos em e-mail de Ramagem com orientações para ataque às urnas e ao STF

Documentos encontrados no e-mail de Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), incluem orientações para Jair Bolsonaro sobre ataques às urnas eletrônicas e comentários difamatórios sobre ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Ramagem foi confrontado com esses arquivos durante um depoimento à Polícia Federal.

Segundo reportagem do jornal O Globo, os arquivos contêm recomendações explícitas para Bolsonaro minar a confiança nas urnas eletrônicas e incluem relatos sem comprovação sobre atividades de ministros do STF. Durante o depoimento, Ramagem afirmou que produzia textos "para comunicação de fatos de possível interesse" de Bolsonaro, mas disse não se lembrar se essas mensagens foram efetivamente enviadas. Entre os documentos, um arquivo intitulado "Presidente TSE informa.docx" sugere estratégias para reforçar politicamente a "vulnerabilidade" das urnas eletrônicas.

Além disso, no e-mail de Ramagem, foi descrito um grupo de confiança para o "trabalho de aprofundamento da urna eletrônica", com a participação do major da reserva do Exército Angelo Martins Denicoli, investigado por integrar um suposto plano golpista. Ramagem, porém, negou qualquer lembrança sobre a formação desse grupo ou qualquer trabalho realizado com o militar mencionado.

<><> Assessor de Bolsonaro pediu a Ramagem espionagem de Rodrigo Maia e Joice Hasselmann

Uma descoberta recente da Polícia Federal (PF) revelou que Mosart Aragão Pereira, ex-assessor especial do gabinete de Jair Bolsonaro (PL), instruiu Alexandre Ramagem, na época diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a investigar um veículo observado em um jantar envolvendo Rodrigo Maia e Joice Hasselmann, informa o jornal O Globo.

Em fevereiro de 2020, Pereira enviou uma mensagem a Ramagem com detalhes sobre um carro, enfatizando a necessidade de identificar seu proprietário. Na mensagem, ele relatava: "Precisamos saber a quem pertence para saber quem anda nele. Jantar no Rueda ontem entre o próprio, Joice e Rodrigo Maia. Sendo que essa Pajero chegou com um cidadão com pasta de documento na mão...ficou 29 min e saiu".

Ramagem prontamente respondeu: "Ciente. Vou verificar." Posteriormente, ele encaminhou a mensagem a outra pessoa, cuja conversa foi encontrada impressa em posse de Felipe Arlotta, agente da PF que trabalhava na Abin durante a gestão de Ramagem.

Interrogado na semana passada, no âmbito da investigação sobre a 'Abin paralela', Ramagem declarou que a operação não visava Maia, Hasselmann ou Antônio Rueda, dirigente do PSL na época. Segundo ele, o objetivo era identificar o usuário do veículo, que pertenceria à União.

No depoimento, Ramagem esclareceu que descobriram posteriormente que o carro estava sendo utilizado por Anderson Torres, então secretário de Segurança do Distrito Federal e, posteriormente, ministro da Justiça de Bolsonaro. Ele afirmou que, ao confirmar que o veículo estava sendo utilizado por um agente público, a diligência foi encerrada por não haver irregularidades.

Ramagem também foi questionado sobre sua relação com Pereira e respondeu que ele era um assessor da Presidência com quem tinha contato esporádico durante visitas ao local. Mosart, considerado um homem de confiança de Bolsonaro, permaneceu no gabinete presidencial durante a maior parte do governo, deixando o cargo apenas para concorrer nas eleições de 2022. Ele tentou se eleger deputado federal por São Paulo, mas ficou como suplente.

<><> Senador aliado a Bolsonaro é alvo de suspeita de conspiração

Investigadores da Polícia Federal (PF) têm avaliado os vídeos publicados pelo senador Marcos do Val (Podemos-ES) com ataques à corporação. Os ataques à PF podem motivar novas punições ao político, que já é alvo de outros inquéritos por suspeita de conspirar contra o Estado democrático e de Direito.

O senador, que já teve as redes sociais suspensas e foi alvo de busca e apreensão, classificou a PF como “capataz de Alexandre de Moraes” nos conteúdos publicados. Em um dos vídeos, do Val traz depoimentos de filhos do blogueiro Oswaldo Eustáquio, que está foragido.

¬¬¬ Críticas

Duas crianças, com o rosto distorcido, contam que tiveram a “casa arrombada” e aparelhos “roubados” pela PF, ao se referirem ao cumprimento legal de mandado de busca e apreensão na casa deles. As crianças também atacam o delegado da PF Fábio Shor, responsável por inquéritos contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Segundo apurou a PF, houve o uso das imagens das crianças para evitar sanções, mas Marcos do Val pode ser punido mesmo assim. A Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF) informou que vai buscar caminhos jurídicos para denunciar o senador.

“Os elementos informativos e provas produzidas no inquérito policial devem ser discutidos pela via adequada, ou seja, a judicial, não sendo admitida em hipótese nenhuma a personalização das críticas em redes sociais com objetivo de ferir e expor moralmente o profissional responsável pela condução do inquérito policial”, diz a nota pública.

No vídeo, do Val afirma que “assim que Trump for eleito, ele prometeu trabalhar incansavelmente para ver o ministro Alexandre de Moraes na cadeia”.

•        TSE determina que PF conclua em 5 dias inquérito que apura ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas

O corregedor-geral eleitoral, ministro Raul Araújo, deu um prazo de cinco dias para que a Polícia Federal (PF) finalize um inquérito administrativo iniciado em agosto de 2021 para investigar os ataques às urnas eletrônicas feitos por Jair Bolsonaro (PL).

Embora a decisão de Araújo tenha sido tomada em 28 de junho, ela só foi publicada no Diário de Justiça Eletrônico (DJE) na quarta-feira (24). “Verifica-se que o prazo concedido para conclusão do mencionado Registro Especial nº 2021.0058802 transcorreu sem manifestação da Polícia Federal nestes autos. Diante disso, oficie-se a autoridade policial responsável para informar a esta Corregedoria-Geral os resultados das investigações referentes ao Registro Especial nº 2021.0058802, no prazo de 5 dias”, diz um trecho da decisão, segundo o jornal O Estado de S. Paulo.

O inquérito administrativo foi instaurado após declarações de Bolsonaro – incluindo lives – sobre uma suposta fraude nas eleições de 2018, das quais ele saiu vencedor. Bolsonaro chegou a afirmar que teve mais votos do que o resultado final indicou. Contudo, o ex-mandatário nunca apresentou provas.

Na época da abertura do inquérito, o plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que a apuração abrangeria “ampla ‘dilação probatória’, promovendo medidas cautelares para a colheita de provas, com depoimentos de pessoas e autoridades, juntada de documentos, realização de perícias e outras providências que se fizerem necessárias para o adequado esclarecimento dos fatos”.

Este procedimento investigativo levou a Justiça a determinar a desmonetização de canais e publicações de apoiadores de Bolsonaro que foram considerados disseminadores de fake news e desinformação.

 

•        Quem é Patrick Brito, que hackeou Bolsonaro, Mourão e fez trabalhos ilegais para a Abin Paralela. Por Joaquim de Carvalho

Patrick Brito começou a cursar Física na UFRJ em 2012, mas alguns meses depois abandonou a faculdade. Ele nunca teve emprego regular, mas sempre se manteve num padrão acima da média. Já morou nos Estados Unidos, durante alguns meses, e hoje reside em Belgrado, na Sérvia. Filho de uma funcionária de gráfica e de um eletricista de automóveis, como vive Patrick Brito?

“Eu sou hacker, sempre vivi da minha renda como hacker”, afirmou. Patríck Brito se tornou o  personagem central de um escândalo sobre um esquema de espionagem ilegal que teria sido utilizado por setores da Polícia Civil de São Paulo, e também por políticos de Araçatuba e Bauru, no interior do Estado. Ele cobrou por esses serviços.

Patrick também diz ter trabalhado para a Embaixada dos EUA no Brasil e para a Abin, durante o governo Bolsonaro, o que deveria motivar a Polícia Federal a ouvi-lo, dentro da operação Última Milha. Mas, apesar de sua disposição de dar o seu testemunho ou confessar seus crimes, até agora nenhum policial federal o procurou.

Suas declarações e documentos, reveladas em primeira mão pelo jornalista André Fleury, do Jornal da Cidade, de Bauru, levaram à abertura de uma Comissão Especial de Inquérito (CEI) na Câmara daquela cidade. Os vereadores investigam a denúncia de que Patrick teria sido contratado pela prefeita, Suéllen Rosim (PSD), para espionar um jornalista e vereadores, inclusive uma parlamentar do PT.

Em entrevistas recentes, Patrick Brito abriu um pouco mais o seu baú de segredos, e contou que hackeou o próprio Bolsonaro, quando este era candidato, em 2018. Foi contratado por quem? “Esse nome eu vou manter em sigilo”, declarou.

Em 2019, o hacker teria sido procurado pelo comunicador André, filho do empresário Paulo Marinho, que é primeiro suplente do senador Flávio Bolsonaro. André Marinho lhe teria pedido  para tentar localizar o celular de Gustavo Bebianno, ex-ministro de Bolsonaro.

Bebianno faleceu em março de 2020, dois meses depois de denunciar o projeto de Carlos Bolsonaro de transformar a Abin numa polícia política, a tal Abin Paralela.

Bebianno, antes de morrer de infarto, disse que o celular estava escondido e que contém mensagens que comprometem o então presidente da república. Procurado, André negou o contato com o hacker.

A prefeita de Bauru também negou o contato com Patrick, mas seu cunhado Walmir Henrique Vitorelli admitiu que conversou com ele, em 2021, supostamente para tratar de uma reação a uma campanha de difamação que havia nas redes sociais contra sua esposa. O cunhado da prefeita diz que pretendia obter serviços “legais”.

Para quem negociou com o hacker, fica cada vez mais difícil sustentar versões como esta. Recentemente, Patrick mostrou à CEI da Câmara Municipal de Bauru recibos de depósitos de mais de R$ 160 mil em favor dele, a partir de ações de Walmir Vitorelli.

O cunhado da prefeita é irmão de um policial civil em Araçatuba, Felipe Garcia Pimenta, da equipe do delegado divisionário Carlos Henrique Cotait, que também teria usado serviços ilegais do hacker.

A Polícia Civil em Araçatuba obteve mandado de prisão contra o hacker, mas não conseguiu cumpri-lo, porque Patrick reside na Sérvia desde março de 2021.

Cotait está sendo investigado pela Corregedoria da Polícia Civil em São Paulo, e uma das provas é a gravação em que o delegado diz ter a intenção de matar o hacker, por conta das denúncias que este fez contra ele.

Patrick Brito chegou a ser preso na Servia, depois que o governo brasileiro pediu sua extradição, mas foi solto e agora está prestes a obter asilo naquele país, já que corre o risco de ser assassinado no Brasil, vítima de queima de arquivo.

O hacker está cada vez mais desenvolto em suas declarações, embora diga que tenha medo de morrer. A violência é um traço marcante de sua trajetória. Ele tem 30 anos de idade e, aos sete, perdeu o pai, executado com 6 tiros, alguns na cabeça.

Um ano antes, em 2000, o pai já tinha sido alvo de atentado, e havia ficado paraplégico. Em Araçatuba, o que se diz é que foi queima de arquivo. Frank Renan Alves de Brito, o pai de Patrick, teria sido ligado à banda podre da polícia e também a quadrilhas de desmanche de carros.

Dois tios de Patrick já foram presos por tráfico. O hacker foi criado pela mãe, que permaneceu solteira depois da gravidez. Frank era primo dela em primeiro grau.

“Lembro muito pouco do meu pai. A última imagem que tenho dele é ele me levantando e me passando numa máquina dessas de amolar peças. Era uma brincadeira dele. Tinha brincadeira dessas. Me lembro dessa cena”, disse Patrick.

Mesmo com essas dificuldades, o hacker sempre foi bom aluno. “Gosto muito de exatas e ensinava os colegas”, contou. Quando tinha 16 anos, redigiu um projeto de lei de apoio do Estado a pequenos agricultores, e foi selecionado para visitar a Assembleia Legislativa de São Paulo, dentro do programa Parlamento Jovem.

Quando teve a oportunidade de usar o microfone, questionou o então presidente da Assembleia, Barros Munhoz, sobre as denúncias de corrupção que pesavam contra ele. Tentaram lhe cassar a palavra, mas Patrick seguiu adiante.

O hacker diz que sua satisfação é revelar o que os poderosos tentam esconder. Sua ação é um caso de polícia, claro, mas não deixa de ser também uma ação política. Pelo que tem falado e mostrado, Patrick é nitroglicerina pura.

É preciso ouvi-lo, e as instituições têm o dever de apurar tudo, recolher as provas que tem, buscar outras e punir os culpados.

Quem tem medo de Patrick Brito?

 

Fonte: Brasi 247/Agencia Estado

 

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