sexta-feira, 19 de julho de 2024


 Noblat: O uso da máquina do governo para proteger a família Bolsonaro

Por que as advogadas de Flávio Bolsonaro, o filho Zero Um do então presidente da República, foram ao Palácio do Planalto para reunirem-se no final de agosto de 2020 com o ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional, e o chefe da Agência Brasileira de Inteligência, delegado Alexandre Ramagem?

Uma das advogadas contou à GloboNews que foram apresentar a Heleno e a Ramagem sua tese de defesa para livrar Flávio da acusação de ter embolsado parte dos salários pagos a funcionários do seu gabinete à época em que ele era deputado estadual no Rio de Janeiro. O caso ficou conhecido pelo nome de “rachadinha”.

Mas o que o ministro e o delegado tinham a ver com isso? E por que foram recebidas por eles, e pelo próprio Bolsonaro, no gabinete do presidente da República no terceiro andar do palácio? Se o desejo do pai era apenas inteirar-se da situação do filho, ele poderia tê-las recebido no Palácio da Alvorada, onde morava.

Natural que um pai se preocupe com a sorte do seu filho. Natural que esse pai, locatório eventual de um palácio, as recepcionasse ali para uma conversa privada. Mas ele o fez no seu gabinete de trabalho, na presença de funcionários do governo, e esse gabinete não era qualquer um, mas o do presidente da República.

Não bastasse a anomalia, Bolsonaro perguntou às advogadas o que poderia fazer para ajudá-las na tarefa de defesa do seu filho. E sugeriu que procurassem outros funcionários do governo, além do ministro e do delegado ali presentes. Citou o secretário da Receita Federal e responsáveis por empresas de processamento de dados.

Foi o que as advogadas fizeram. Com o secretário da Receita Federal, reuniram-se pelo menos duas vezes – aonde? De novo no Palácio do Planalto e na sede da Receita. Com os demais servidores públicos, não se sabe ainda quantas vezes. E com quem mais? Também não se sabe, mas a Polícia Federal investiga.

No mínimo, Bolsonaro prevaricou. Prevaricação é um crime funcional praticado por funcionário público contra a Administração Pública. A prevaricação consiste em retardar, deixar de praticar ou praticar indevidamente ato de ofício. Parte da máquina do governo foi acionada para proteger Flávio.

Se, como diz uma das advogadas, elas queriam denunciar uma quadrilha criminosa que agia dentro da Receita Federal e que poderia prejudicar a defesa de Flávio, por que não foram bater na porta de instâncias que existem justamente para isso? O Ministério Público Federal, por exemplo. A Polícia Federal, por exemplo.

A disposição de Bolsonaro para mandar às favas todos os escrúpulos, e não somente eles, mas também as normas que regem a administração pública, já fora escancarada na reunião ministerial de 22 de abril daquele mesmo ano. Naquela ocasião, espumando de raiva e aos gritos, ele não poderia ter sido mais claro:

“Eu não vou esperar foder a minha família toda, ou amigos, porque não posso trocar alguém na ponta da linha [da Polícia Federal]. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele. Se não puder trocar o chefe dele? Troca o ministro”.

Bolsonaro queria pôr um homem de sua confiança na superintendência da Polícia Federal no Rio. O ministro da Justiça, Sérgio Moro, se opunha. A Polícia Federal não é um órgão do governo, mas do Estado. Sua independência tem que ser preservada. Então, Bolsonaro trocou o ministro da Justiça.

Quis nomear para o lugar de Moro o delegado Ramagem, que cuidou de sua segurança depois da facada que ele levou em Juiz de Fora e era amigo dos seus filhos. A nomeação foi cancelada por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal. Aí começou a birra de Bolsonaro com o ministro.

Ramagem, hoje, será interrogado no Rio pela Polícia Federal. É suspeito de ter montado na ABIN um esquema paralelo para fazer todas as vontades de Bolsonaro – entre elas, espionar adversários dele e até aliados e poupar de embaraços a primeira família presidencial da história do Brasil.

 

        As 7 horas de depoimento de Alexandre Ramagem à PF

O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) prestou um longo depoimento à Polícia Federal (PF) nesta quarta-feira (17) no âmbito do inquérito que investigada a chamada 'Abin paralela'. O bolsonarista, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) durante o governo Bolsonaro, depôs por quase 7 horas: chegou à sede da superintendência da PF no Rio de Janeiro às 15h15 e só deixou o local às 22h, sem falar com a imprensa.

Ramagem, segundo a PF, teria sido o responsável por montar um esquema de espionagem ilegal dentro da Abin, durante o governo Bolsonaro, supostamente utilizada para espionar autoridades, desafetos políticos e até mesmo aliados do ex-presidente, com o intuito de protegê-lo (e proteger seus familiares) de eventuais reveses políticos e jurídicos.

O ex-diretor da Abin depôs justamente em um momento chave da investigação: logo após o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), retirar o sigilo de um grampo que teria feito de uma reunião com Jair Bolsonaro em que são discutidas maneiras de se usar órgãos do governo e a influência do ex-presidente para interferir em investigação da Receita Federal contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-chefe do Executivo.

Esta é a primeira vez que o deputado presta depoimento no âmbito do inquérito da 'Abin paralela'. Ramagem teria sido questionado pelos investigadores sobre o grampo da reunião e dado uma nova versão sobre o fato. Além disso, foi perguntado sobre o material apreendido em seus endereços durante operação de busca e apreensão que foi alvo em janeiro deste ano. Entre os documentos encontrados pelos policiais, estão alguns comprometedores que, para os investigadores, mostram que o ex-diretor da Abin usou a agência para perseguir desafetos e proteger Bolsonaro e seus familiares.

<><> A nova versão de Ramagem

Pouco antes de prestar depoimento à PF nesta quarta-feira (17), Ramagem mudou a versão sobre o motivo de ter feito o grampo da reunião com Jair Bolsonaro, Augusto Heleno, ex-chefe do GSI, e duas advogadas de Flávio Bolsonaro.

No encontro no Palácio do Planalto, segundo a PF, Bolsonaro realizou tráfico de influência ao colocar a Abin, comandada por Ramagem, a serviço da defesa do filho no caso de corrupção que ficou conhecido como "rachadinhas".

A gravação da reunião, que comprovaria, segundo a PF, a interferência do ex-presidente, foi feita pelo ex-chefe da Abin e causou irritação em Bolsonaro.

Em vídeo nas redes, Ramagem afirmou que "a gravação da reunião de agosto de 2020 não foi clandestina" e que o grampo foi realizado devido a uma informação recebida sobre uma pessoa que participaria da reunião e que teria contato com o governador do Rio de Janeiro na época".

"Havia a preocupação de que essa pessoa pudesse apresentar uma proposta nada republicana??, disse Ramagem, sobre o representante do então governador fluminense Wilson Witzel, ex-aliado de Bolsonaro, que teve o mandato cassado em 2021.

<><> O grampo

O ministro Alexandre de Moraes (STF) retirou nesta segunda-feira (15) o sigilo sobre o áudio gravado escondido por Alexandre Ramagem (PL-RJ), então chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), em 25 de agosto de 2020, em reunião com Jair Bolsonaro (PL), o general Augusto Heleno (então ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional – GSI) e uma advogada que defendia os interesses do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do ex-presidente.

Na longa conversa, cuja gravação contou com um 1 hora e 8 minutos, esteve em pauta uma forma de interferir diretamente nas investigações que apuravam a suposta prática de rachadinha no antigo gabinete de Flávio na Alerj, quando ele era deputado estadual. Os auditores da Receita Federal que atuavam no caso eram os alvos da trama costurada no encontro.

O teor da gravação confirma informações preliminares de fontes ligadas à investigação que apontavam que a conversa deixaria inequívoca a ação do então chefe de Estado para interferir no andamento da apuração eventualmente criminosa que recai sobre seu filho primogênito, o que configuraria um crime grave.

Fontes da Fórum na PF, que não estão envolvidas no inquérito, mas que mantêm contato com os investigadores do caso, chamaram a gravação de “a bomba da República”, porque, segundo elas, colocaria o ex-presidente em situação ainda mais complicada diante da Justiça.

"Ressalto, ainda, que, a eventual divulgação parcial – ou mesmo manipulação – de trechos da Informação de Polícia Judiciária nº2404151/2024 (fls. 334-381), bem como da gravação nela referida, tem potencial de geração de inúmeras notícias incompletas ou fraudulentas em prejuízo à correta informação à sociedade", diz o despacho do ministro como argumento para levantar o sigilo da gravação.

Num trecho crítico da conversa, aos 48 minutos, após tratarem longamente de um caminho para descobrirem quem são os auditores da Receita Federal que chegaram a relatórios contra o senador Flávio Bolsonaro, e como o fizeram, o então presidente da República diz diretamente no diálogo para procurar o chefe do Dataprev, Gustavo Canuto, que foi ministro do Desenvolvimento Regional no governo Bolsonaro. A sugestão é para uma finalidade obviamente ilegal.

Já o general Augusto Heleno, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), alerta que a ação não pode “vazar”, naturalmente por se tratar de uma atitude criminosa. Bolsonaro então responde que Heleno pode confiar em chefe do Dataprev: "Meu ministro".

Um minuto antes, Bolsonaro demonstrava temor em ser gravado: “A gente nunca sabe se tem alguém gravando alguma coisa. Não estamos buscando o favorecimento de ninguém”, disse.

 

        LOBBY: Bolsonaro abre empresa de grafeno após usar governo para facilitar exploração

Jair Bolsonaro tem um novo empreendimento. Ele e seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), se tornaram sócios em uma empresa aberta recentemente para explorar grafeno, um material de carbono proveniente do grafite, com apenas um átomo de espessura, que segundo estudos pode ter aplicações tecnológicas, como criação de baterias menores e mais eficientes.

Trata-se da startup Bravo Grafeno Tecnologia e Inovação LTDA, registrada na Junta Comercial do Distrito Federal em 11 de junho deste ano. Além de Jair e Flávio, constam como sócios da empresa um assessor parlamentar de Flávio, Fernando Nascimento Pessoa, o empresário Maichel Chiste e o ex-candidato a deputado distrital Pedro Leite (Podemos).

Segundo o registro, a atividade principal da empresa é "comércio a varejo de peças e acessórios novos para motocicletas e motonetas". Além de usos tecnológicos para baterias, o grafeno, em tese pode ser usado no setor bélico.

Em nota enviada ao site O Antagonista, que noticiou a criação da empresa, Flávio Bolsonaro disse que "acredita no potencial" do grafeno.

“Jair Bolsonaro é uma espécie de embaixador do grafeno, pois foi pioneiro em dar visibilidade para os benefícios singulares desse mineral abundante no Brasil e sempre acreditou na capacidade dos pesquisadores brasileiros nesse segmento. Por acreditar no potencial do grafeno, está entusiasmado em fazer parte da empresa, o que muito nos honra”, declarou o senador.

Bolsonaro sempre foi obcecado pelo grafeno. Defende o material desde seus tempos de deputado e, durante seu governo, tentou facilitar a exploração no Brasil ao criar Programa de Inovação em Grafeno. A iniciativa, entretanto, não foi para frente.

<><> Grafeno nos testículos

Em junho de 2023, Jair Bolsonaro disparou uma fake news inacreditável: durante uma live feita pelo senador Marcos Ponte (PL-SP), ex-presidente disse que a vacina da Pfizer contra a Covid-19 com RNA mensageiro faz "acumular grafeno nos testículos e nos ovários”.

"Agora vocês vão cair para trás. A vacina de RNA tem dióxido de grafeno. Onde ele se acumula segundo a Pfizer, que eu fui ler aquele trem lá, no testículo e no ovário. Eu li a bula”, havia disparado o ex-mandatário,

Depois, com medo da Justiça, Bolsonaro pediu desculpas pela declaração.

"Em relação a uma conversa no dia de ontem, na cidade de Jundiaí (SP), sobre a existência de óxido de grafeno na vacina de tecnologia mRNA, houve um equivoco da minha parte. Como é de conhecimento público sou entusiasta do potencial de emprego do óxido de grafeno, por isso inadvertidamente relacionei a substância com a vacina, fato desmentido em agosto de 2021. Mais uma vez lamento o falado e peço desculpas".

 

Fonte: Metrópoles/Fórum

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