quinta-feira, 11 de julho de 2024

Marcia Tiburi: ‘Por que os bolsonaristas continuam apoiando seu líder ladrão de joias?’

O paradoxo bolsonarista está em questão: como ser um “cidadão de bem” e apoiar um líder ladrão? Logo a contradição cai por terra como uma máscara: de fato, a expressão “cidadão de bem” passou pela máquina de distorção do fascismo e significa agora o seu contrário. Mas é esse jogo de distorções e mentiras que convém analisar para entender a cabeça dos fascistas, ou melhor, do infeliz cidadão fascistizado pela máquina de devorar cérebros do capitalismo em seu estágio neoliberal. Essa máquina é composta por mídia, igrejas e políticos a serviço dos donos do poder.

O caso das joias roubadas ainda não se encerrou, mas, na lógica dos bolsonaristas não se leva em consideração a democrática e constitucional “presunção de inocência”. Contudo, culpa-se todo mundo, menos o líder messiânico a quem se deve a devoção. Assim funciona a seita.

De fato, as provas abundam no caso de Bolsonaro faltando pouco para que o líder seja condenado e preso. Mas bolsonaristas não se importam. Fazem de tudo para negar o óbvio. Não aceitam argumentos, não querem ver ou ouvir a verdade. O esquema das joias foi detalhado na investigação: o recebimento dos bens por Bolsonaro, o deslocamento e a venda nos Estados Unidos, e a operação deflagrada para recuperar os objetos após o caso entrar na mira da Justiça. Tudo muito detalhado, dirimindo toda dúvida. Mas os bolsonaristas continuarão negando o que houve, como negam a esfericidade da Terra.

De fato, a servidão ao líder autoritário implica identificação. No fundo, o submisso sabe que ele não existe e que depende do líder que ele adora para existir. Se for confirmado que o líder é ladrão, assassino ou homossexual (outro assunto na ordem do dia depois da medalha do “incomível” ao fascista argentino Miley) o cidadão servil sentir-se-á, ele mesmo, um ladrão. Se for ladrão mesmo pode se irritar ao ser descoberto, se não for, pode se sentir irritado pela injustiça. Seu líder tem a função de existir por ele. Mesmo na prisão, ele será amado. Pior seria se ele morresse e o projeto messiânico fosse interrompido, pois mesmo havendo candidatos a Bolsonaro, como havia candidatos a Hitler, o fascismo nunca mais será o mesmo depois dele.

 

•        Bolsonaro roubou e vendeu relógios quando ainda era presidente. Por Jeferson Miola

O relatório da Polícia Federal concluiu que Bolsonaro roubou e vendeu relógios de luxo pertencentes à União quando ainda era Presidente do país.

Na prática dos crimes, Bolsonaro contou com a cumplicidade e o apoio operacional do tenente-coronel do Exército Mauro Cid e do seu pai, o general do Exército Lorena Cid.

A PF reuniu elementos que indicam que o chamado “Kit Ouro Branco” –composto por um relógio Rolex, uma caneta Chopard, um par de abotoaduras, um anel e um rosário árabe– foi desviado para os EUA em junho de 2022.

O “Kit” e outros bens roubados foram ilegalmente transportados em avião da FAB durante a missão oficial de Bolsonaro nos EUA para participar da Cúpula das Américas em Los Angeles.

A PF apurou no Sistema de Tráfego Internacional que o tenente-coronel Mauro Cid integrou a comitiva presidencial que viajou no dia 8 de junho de 2022, mas “seu retorno para o Brasil se deu apenas no dia 21 de junho de 2022”.

Neste período em solo estadunidense, Mauro Cid prospectou lojas para vender os relógios, jóias e demais bens roubados da União.

A PF chegou a esta conclusão a partir da análise de registros no aparelho celular do tenente-coronel.

“Revelou-se que no dia 13 de junho de 2022, às 14h23, ele pesquisou no aplicativo Waze um endereço na cidade de Willow Grove, estado da Pensilvânia/EUA. Após a pesquisa, os dados demonstram que ele iniciou o deslocamento até o destino escolhido”, descreve a PF.

O relatório esclarece que “o endereço refere-se ao Willow Grove Park Mall, o qual apresenta em sua página oficial na internet exatamente o endereço pesquisado e navegado no aplicativo Waze: West Moreland Road, 2500. Trata-se de um Shopping Center, o qual abriga a loja especializada em vendas de relógios novos e usados, Precision Watches”.

Na ocasião, Mauro Cid vendeu um Rolex Day-Date e outro relógio da marca Patek Philippe por U$ 68.000 [sessenta e oito mil dólares] – R$ 346,9 mil na cotação da época.

A localização da loja Precision Watches “coincide com o endereço enviado por MAURO CID para OSMAR CRIVELATTI em 08 de março de 2023, quando estavam tentando reaver os itens do denominado ‘KIT OURO BRANCO’ para devolvê-los ao Estado brasileiro, por determinação do TCU”, diz a PF.

A PF encontrou nos dados armazenados por Mauro Cid uma fotografia do comprovante de depósito bancário no valor de U$ 68.000 realizado pela empresa Precision Watches no dia 14 de junho de 2022 em conta bancária no BB Américas pertencente ao pai dele, o general Lorena Cid.

O dinheiro ilegal obtido com a venda e creditado na conta do general Lorena Cid foi entregue em espécie para Bolsonaro. Para a PF, este procedimento teve o objetivo de evitar, “de forma deliberada, passar pelos mecanismos de controle e pelo sistema financeiro formal, possivelmente para evitar o rastreamento pelas autoridades competentes”.

A PF concluiu também que, “já em 2023, [Lorena Cid] guardou em sua residência, na cidade de Miami, as esculturas douradas (barco e arvore)”. Além disso, pai e filho “encaminharam os objetos desviados, pertencentes ao acervo público brasileiro, para estabelecimentos comerciais especializados para serem avaliados e vendidos por meio de leilão”.

O trabalho diligente e meticuloso da PF no inquérito sobre o roubo e a venda de bens da União não deixa lugar para dúvidas: Bolsonaro e seus comparsas não escaparão de condenações à prisão.

A Procuradoria-Geral da República está diante do “excesso” de provas de ilícitos cometidos por um criminoso que instalou no Palácio do Planalto um verdadeiro escritório do crime.

 

•        Bolsonaro recebeu envelope com dinheiro vivo logo após chegar aos EUA, segundo a PF

O relatório da Polícia Federal (PF) sobre o caso das joias, pelo qual Jair Bolsonaro e outras 11 pessoas foram indiciadas, aponta, para além do fato de que o ex-presidente teria liderado um esquema criminoso para desviar mais de R$ 6 milhões com vendas ilegais de presentes recebidos em viagens oficiais, uma série de evidências que podem incriminá-lo.

Entre essas evidências está um envelope com dinheiro em espécie recebido por Bolsonaro no dia 31 de dezembro de 2022, isto é, logo após o ex-presidente desembarcar nos Estados Unidos. Os valores em 'cash' foram entregues ao ex-mandatário por Samuel Oliveira, genro de Paulo Junqueira, empresário do agronegócio que hospedou o ex-chefe do Executivo em Orlando.

O pagamento foi descoberto pela PF ao analisar mensagens via WhatsApp trocadas entre o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o assessor técnico militar Daniel Luccas.

"Diante dessas conversas entre Mauro Cid, Daniel Luccas e Marcelo Câmara, ficou evidente que Samuel entregaria uma encomenda (dinheiro) para o ex-presidente Jair Bolsonaro, ainda no ano 2022, enquanto ainda exercia o cargo de Presidente da República do Brasil", diz trecho do relatório da PF.

Ao portal UOL, o empresário Paulo Junqueira negou irregularidades na entrega de dinheiro vivo a Bolsonaro.

"Da minha parte, não foi pedido pra entregar, e nem acredito que o Samuel tenha entregue absolutamente nada para o presidente Bolsonaro. Eu cedi o imóvel pra ele ficar, ele não foi pro meu imóvel no início da temporada que ele teve lá, ele ficou num outro imóvel (...) Agora eu vou receber os meus amigos na minha casa, a casa tem que estar em ordem. Pode ser que o Samuel tenha entregue alguma coisa, não para o presidente Bolsonaro. Pra que alguma coisa tenha sido arrumada, alguma coisa nesse sentido, entendeu. Te garanto também que foi alguma coisa irrisória", declarou.

<><> Bolsonaro e o dinheiro vivo

O ex-presidente Jair Bolsonaro teria recebido dinheiro em espécie em mãos oriundo da venda de joias que ele teria subtraído do acervo presidencial em um esquema criminoso para desviar R$ 6,8 milhões. É o que aponta o relatório da Polícia Federal (PF) sobre o indiciamento do ex-mandatário e outras 11 pessoas por associação criminosa, peculato e lavagem de dinheiro enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), cujo sigilo foi derrubado nesta segunda-feira (8).

No documento enviado ao STF constam mensagens trocadas entre o ex-ajudante de ordens Mauro Cid e o ex-assessor Marcelo Câmara nas quais fica claro que ambos discutiam a melhor maneira de fazer o dinheiro da venda ilegal das joias chegar até o ex-presidente. Em dado momento, Cid sugere evitar transferências bancárias, que deixa rastros, e propõe entregar os valores a Bolsonaro "em cash", isto é, em espécie.

O diálogo via WhatsApp entre Cid e Câmara foi registrado em 18 de janeiro de 2023, quando o ex-assessor estava com Jair Bolsonaro em Orlando, nos EUA. Na conversa, Cid tenta organizar o repasse ao ex-presidente, revelando que seu pai, o general Mauro Lourena Cid, que teria negociado venda de joias no país da América do Norte, possuía R$ 25 mil de uma dessas vendas.

“Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro levar em ‘cash’ aí. Meu pai estava querendo inclusive ir aí falar com o presidente (…) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (…). Eu acho que quanto menos movimentação em conta melhor, né?", diz Cid.

“O relógio, aquele outro kit lá, vai pro dia 7 de fevereiro, vai pra leilão. Aí vamos ver quanto que vão dar”, afirma ainda o ex-ajudante de ordens.

Além de ficar explícito que Cid planejava entregar o dinheiro das joias a Bolsonaro sem deixar rastro, outra troca de mensagens mostra que o ex-presidente deu aval para que um kit de pedras preciosas, também subtraído ilegalmente do acervo presidencial, fosse a leilão nos EUA.

Em 4 de fevereiro de 2023, Cid enviou a Bolsonaro, via WhatsApp, o link com informações sobre um leilão nos EUA para tentar vender um kit de joias de ouro rose, que ocorreria quatro dias depois. Bolsonaro, prontamente, respondeu: "Selva".

 

Fonte: Brasil 247/Fórum

 

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