quinta-feira, 25 de julho de 2024

Educação como caminho da inclusão e maior qualidade de vida de autistas

O jornalista e professor Ton Felix afirma que, durante sua trajetória, enxergou os impactos positivos que a educação tem na maior inclusão de pessoas com TEA, e que deve ser uma ferramenta para melhoria na qualidade de vida de autistas em todo e qualquer espaço social.

“A inclusão de uma pessoa com autismo começa na sala de aula, onde todas as crianças e jovens têm a oportunidade de aprender juntos, respeitar e compreender as diferenças”, diz ele. “Falar de neurodivergência no contexto educacional é relativamente novo, mas está ganhando cada vez mais espaço para ser discutido e enfatizado em escolas e faculdades.”

Segundo ele, no entanto, as principais barreiras para isso ser eficaz incluem a falta de profissionais qualificados que compreendam e saibam lidar com as necessidades dos alunos neurodivergentes, além da insuficiência de recursos e infraestrutura adequados.

“Muitas escolas e universidades ainda não possuem programas de apoio especializados ou acessibilidade física e tecnológica. A falta de conscientização e formação contínua para educadores também são um desafio, pois muitos não estão preparados para implementar práticas inclusivas de forma eficaz”, ressalta o profissional.

Para ele, é necessário criar mais políticas educacionais que incentivem a inclusão e disponibilizem recursos para a implementação de programas de apoio. Além disso, é crucial promover a conscientização e a sensibilização sobre a neurodivergência em todos os níveis educacionais. “A criação de um ambiente acolhedor e inclusivo depende de um esforço conjunto de toda a comunidade escolar, incluindo pais, professores, alunos e gestores”, afirma Felix.

“É necessário que os educadores sejam capacitados para identificar e apoiar as necessidades específicas dos alunos autistas, criando um ambiente acolhedor e acessível. A educação inclusiva não apenas beneficia os alunos autistas, mas também enriquece o aprendizado de todos, promovendo empatia, respeito e colaboração”, complementa.

Segundo o professor, o ideal é que todos tenham um “olhar treinado” para identificar as necessidades específicas de cada aluno autista e oferecer suporte personalizado. Autistas geralmente têm baixo rendimento em determinadas matérias ou tarefas, podem apresentar trabalhos escritos abaixo do padrão esperado e serem desorganizados ou “difíceis” de lidar. Por outro lado, esses mesmos alunos podem ser muito talentosos.

Para atender às necessidades desses alunos, é fundamental ainda contar com uma equipe multidisciplinar que possa oferecer o suporte necessário. Isso incluiria psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e outros profissionais especializados.

“Infelizmente, nem sempre é fácil montar essa equipe, especialmente em determinadas regiões do país onde o tema ainda é pouco conhecido e os recursos são escassos”, explica. “No ensino básico, essa carência é ainda mais evidente, pois muitos aspectos da educação, incluindo a inclusão de alunos neurodivergentes, ainda são precários.”

“Portanto, embora não haja uma separação formal, há uma necessidade urgente de capacitar profissionais e melhorar a infraestrutura educacional para oferecer um ensino verdadeiramente inclusivo”, continua o professor.

A partir de sua experiência, Felix aponta ainda atenção de não “separar” crianças autistas das outras. “A inclusão, o observar o outro com adaptações e suportes necessários é o caminho para uma educação mais justa e equitativa para alunos autistas.”

“Um professor de apoio pode ajudar o aluno com práticas como: melhorar sua leitura da linguagem corporal, ensinar significados implícitos e inferidos, aprender a entender expressões, metáforas e significados, interpretar o significado das perguntas, ajudar com o conteúdo e na preparação para provas e revisão da matéria faz toda diferença”, sugere.

A educação serve ainda para além das escolas, é necessário estar presente nos consultórios médicos e na família da pessoa com TEA, de acordo com o profissional.

“Tudo isso pode mudar através da informação, do conhecimento”, ressalta Alinne Belo. “Isso precisa ser falado desde a infância. É fundamental para a saúde das crianças que as escolas estejam cada vez mais informadas, preparadas para incluir essas crianças. Elas precisam conviver bem no ambiente e serem acolhidas.”

“Assim que o diagnóstico de TEA é fechado, as crianças precisam de uma atenção de todos os envolvidos. É importante que os pais entendam seu transtorno. Elas não podem, por exemplo, ser expostas à telas antes de dois anos e a partir dessa idade só por uma hora. Essa pessoa tem que ter um ambiente acolhedor, alguém que brinque, que estimule ela de acordo com suas necessidades”, ressalta Liubiana Arantes de Araújo, presidente do Departamento de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Erasmo Casella, neurologista pediátrico e membro da Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil, destaca que, muitas vezes, no consultório, os pais e responsáveis entram em estado de “negação”.

“Eles estão muitas vezes negando a situação. Você, tendo certeza do diagnóstico, tem que procurar que eles se envolvam e iniciar o tratamento conjunto o mais rápido possível. É importante que essas pessoas reconheçam e comecem a trabalhar com as crianças o quanto antes”, fala.

Para isso, os médicos ainda precisam ser capacitados para orientar os pais e/ou responsáveis. “No início, a família pode enfrentar dificuldades em conseguir estimulação adequada, o mais importante é o treinamento de pais para essa criança ser estimulada da forma que deve ser”, acrescenta.

“As pessoas precisam olhar para quais são as necessidades e habilidades que devem ser respeitadas e estimuladas para que a pessoa com autista seja feliz, alcance seu potencial. Muitas pessoas com autismo têm dons maravilhosos e podem colaborar muito com a sociedade”, aponta Liubliana.

Os profissionais ainda ressaltam a necessidade do incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento de novos métodos de ensino que atendam às necessidades específicas dos alunos autistas, “permitindo assim, a realização de pesquisas mais profundas e a obtenção de dados mais precisos sobre essas e outras questões neurodivergentes”, diz o professor Felix.

“Buscar práticas com base em evidências científicas e aplicar a neurociência com afeto é fundamental”, completa Liubliana.

 

•        Abordagens e benefícios da inclusão escolar de crianças autistas

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma condição que compromete em algum grau o desenvolvimento na comunicação, interação social e comportamento.

O processo de alfabetização de crianças autistas requer abordagens específicas e adaptada para atender às suas necessidades individuais. Além disso, a inserção dessas crianças na rotina escolar e o apoio familiar são fundamentais para seu desenvolvimento e sucesso acadêmico. Descrevendo um pouco sobre as abordagens utilizadas para estimular a alfabetização de crianças autistas, destaca-se a consciência fonológica. Essa abordagem visa desenvolver a capacidade da criança de associar as letras aos seus sons, promovendo a compreensão da relação entre a escrita e a fala. Para crianças autistas que possuem comunicação não verbal, o método Picture Exchange Communication System (PECS) é uma das alternativas utilizadas. Esse método envolve a troca de figuras como forma de ampliar o repertório de comunicação da criança.

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A inclusão de crianças autistas na rotina escolar, quando realizada de forma adequada, traz diversos benefícios. Entre eles, destacam-se a melhora na socialização, no desenvolvimento da autoestima, no aprendizado acadêmico, na autonomia e em outras áreas importantes do desenvolvimento infantil.

A matrícula em escolas especializadas em pessoas com deficiência é indicada quando é detectada a necessidade de apoio permanente e abrangente para a criança autista. Essa decisão deve ser tomada com base na avaliação individual de cada criança e nas recomendações de profissionais da área.

O apoio da família desempenha um papel fundamental nos resultados da inclusão escolar de crianças autistas. A parceria entre a família e a comunidade escolar favorece o aprendizado e o desenvolvimento da criança. A família pode fornecer informações relevantes sobre o histórico da criança, auxiliando na elaboração do Plano Educacional Individualizado (PEI) e no processo de inclusão.

Todas as escolas devem promover a acessibilidade para todas as crianças, independentemente de seu diagnóstico ou deficiência. É essencial que as instituições de ensino se baseiam na legislação brasileira de inclusão e promovam a formação continuada, especializações, cursos e palestras para todos os docentes.

 

Fonte: CNN Brasil/Canal Autismo

 

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