Educação como caminho da inclusão e maior
qualidade de vida de autistas
O jornalista e
professor Ton Felix afirma que, durante sua trajetória, enxergou os impactos
positivos que a educação tem na maior inclusão de pessoas com TEA, e que deve
ser uma ferramenta para melhoria na qualidade de vida de autistas em todo e
qualquer espaço social.
“A inclusão de uma
pessoa com autismo começa na sala de aula, onde todas as crianças e jovens têm
a oportunidade de aprender juntos, respeitar e compreender as diferenças”, diz
ele. “Falar de neurodivergência no contexto educacional é relativamente novo,
mas está ganhando cada vez mais espaço para ser discutido e enfatizado em
escolas e faculdades.”
Segundo ele, no
entanto, as principais barreiras para isso ser eficaz incluem a falta de
profissionais qualificados que compreendam e saibam lidar com as necessidades
dos alunos neurodivergentes, além da insuficiência de recursos e infraestrutura
adequados.
“Muitas escolas e
universidades ainda não possuem programas de apoio especializados ou
acessibilidade física e tecnológica. A falta de conscientização e formação
contínua para educadores também são um desafio, pois muitos não estão
preparados para implementar práticas inclusivas de forma eficaz”, ressalta o
profissional.
Para ele, é necessário
criar mais políticas educacionais que incentivem a inclusão e disponibilizem
recursos para a implementação de programas de apoio. Além disso, é crucial
promover a conscientização e a sensibilização sobre a neurodivergência em todos
os níveis educacionais. “A criação de um ambiente acolhedor e inclusivo depende
de um esforço conjunto de toda a comunidade escolar, incluindo pais,
professores, alunos e gestores”, afirma Felix.
“É necessário que os
educadores sejam capacitados para identificar e apoiar as necessidades
específicas dos alunos autistas, criando um ambiente acolhedor e acessível. A
educação inclusiva não apenas beneficia os alunos autistas, mas também
enriquece o aprendizado de todos, promovendo empatia, respeito e colaboração”,
complementa.
Segundo o professor, o
ideal é que todos tenham um “olhar treinado” para identificar as necessidades
específicas de cada aluno autista e oferecer suporte personalizado. Autistas
geralmente têm baixo rendimento em determinadas matérias ou tarefas, podem apresentar
trabalhos escritos abaixo do padrão esperado e serem desorganizados ou
“difíceis” de lidar. Por outro lado, esses mesmos alunos podem ser muito
talentosos.
Para atender às
necessidades desses alunos, é fundamental ainda contar com uma equipe
multidisciplinar que possa oferecer o suporte necessário. Isso incluiria
psicólogos, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos e outros profissionais
especializados.
“Infelizmente, nem
sempre é fácil montar essa equipe, especialmente em determinadas regiões do
país onde o tema ainda é pouco conhecido e os recursos são escassos”, explica.
“No ensino básico, essa carência é ainda mais evidente, pois muitos aspectos da
educação, incluindo a inclusão de alunos neurodivergentes, ainda são
precários.”
“Portanto, embora não
haja uma separação formal, há uma necessidade urgente de capacitar
profissionais e melhorar a infraestrutura educacional para oferecer um ensino
verdadeiramente inclusivo”, continua o professor.
A partir de sua
experiência, Felix aponta ainda atenção de não “separar” crianças autistas das
outras. “A inclusão, o observar o outro com adaptações e suportes necessários é
o caminho para uma educação mais justa e equitativa para alunos autistas.”
“Um professor de apoio
pode ajudar o aluno com práticas como: melhorar sua leitura da linguagem
corporal, ensinar significados implícitos e inferidos, aprender a entender
expressões, metáforas e significados, interpretar o significado das perguntas,
ajudar com o conteúdo e na preparação para provas e revisão da matéria faz toda
diferença”, sugere.
A educação serve ainda
para além das escolas, é necessário estar presente nos consultórios médicos e
na família da pessoa com TEA, de acordo com o profissional.
“Tudo isso pode mudar
através da informação, do conhecimento”, ressalta Alinne Belo. “Isso precisa
ser falado desde a infância. É fundamental para a saúde das crianças que as
escolas estejam cada vez mais informadas, preparadas para incluir essas crianças.
Elas precisam conviver bem no ambiente e serem acolhidas.”
“Assim que o
diagnóstico de TEA é fechado, as crianças precisam de uma atenção de todos os
envolvidos. É importante que os pais entendam seu transtorno. Elas não podem,
por exemplo, ser expostas à telas antes de dois anos e a partir dessa idade só
por uma hora. Essa pessoa tem que ter um ambiente acolhedor, alguém que
brinque, que estimule ela de acordo com suas necessidades”, ressalta Liubiana
Arantes de Araújo, presidente do Departamento de Desenvolvimento e
Comportamento da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Erasmo Casella,
neurologista pediátrico e membro da Sociedade Brasileira de Neurologia
Infantil, destaca que, muitas vezes, no consultório, os pais e responsáveis
entram em estado de “negação”.
“Eles estão muitas
vezes negando a situação. Você, tendo certeza do diagnóstico, tem que procurar
que eles se envolvam e iniciar o tratamento conjunto o mais rápido possível. É
importante que essas pessoas reconheçam e comecem a trabalhar com as crianças o
quanto antes”, fala.
Para isso, os médicos
ainda precisam ser capacitados para orientar os pais e/ou responsáveis. “No
início, a família pode enfrentar dificuldades em conseguir estimulação
adequada, o mais importante é o treinamento de pais para essa criança ser
estimulada da forma que deve ser”, acrescenta.
“As pessoas precisam
olhar para quais são as necessidades e habilidades que devem ser respeitadas e
estimuladas para que a pessoa com autista seja feliz, alcance seu potencial.
Muitas pessoas com autismo têm dons maravilhosos e podem colaborar muito com a
sociedade”, aponta Liubliana.
Os profissionais ainda
ressaltam a necessidade do incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento de novos
métodos de ensino que atendam às necessidades específicas dos alunos autistas,
“permitindo assim, a realização de pesquisas mais profundas e a obtenção de
dados mais precisos sobre essas e outras questões neurodivergentes”, diz o
professor Felix.
“Buscar práticas com
base em evidências científicas e aplicar a neurociência com afeto é
fundamental”, completa Liubliana.
• Abordagens e benefícios da inclusão
escolar de crianças autistas
O Transtorno do
Espectro do Autismo (TEA) é uma condição que compromete em algum grau o
desenvolvimento na comunicação, interação social e comportamento.
O processo de
alfabetização de crianças autistas requer abordagens específicas e adaptada
para atender às suas necessidades individuais. Além disso, a inserção dessas
crianças na rotina escolar e o apoio familiar são fundamentais para seu
desenvolvimento e sucesso acadêmico. Descrevendo um pouco sobre as abordagens
utilizadas para estimular a alfabetização de crianças autistas, destaca-se a
consciência fonológica. Essa abordagem visa desenvolver a capacidade da criança
de associar as letras aos seus sons, promovendo a compreensão da relação entre
a escrita e a fala. Para crianças autistas que possuem comunicação não verbal, o
método Picture Exchange Communication System (PECS) é uma das alternativas
utilizadas. Esse método envolve a troca de figuras como forma de ampliar o
repertório de comunicação da criança.
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A inclusão de crianças
autistas na rotina escolar, quando realizada de forma adequada, traz diversos
benefícios. Entre eles, destacam-se a melhora na socialização, no
desenvolvimento da autoestima, no aprendizado acadêmico, na autonomia e em
outras áreas importantes do desenvolvimento infantil.
A matrícula em escolas
especializadas em pessoas com deficiência é indicada quando é detectada a
necessidade de apoio permanente e abrangente para a criança autista. Essa
decisão deve ser tomada com base na avaliação individual de cada criança e nas
recomendações de profissionais da área.
O apoio da família
desempenha um papel fundamental nos resultados da inclusão escolar de crianças
autistas. A parceria entre a família e a comunidade escolar favorece o
aprendizado e o desenvolvimento da criança. A família pode fornecer informações
relevantes sobre o histórico da criança, auxiliando na elaboração do Plano
Educacional Individualizado (PEI) e no processo de inclusão.
Todas as escolas devem
promover a acessibilidade para todas as crianças, independentemente de seu
diagnóstico ou deficiência. É essencial que as instituições de ensino se
baseiam na legislação brasileira de inclusão e promovam a formação continuada,
especializações, cursos e palestras para todos os docentes.
Fonte: CNN
Brasil/Canal Autismo
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