sexta-feira, 19 de julho de 2024

Cumplicidade sem fim: 'Israel é o braço político-militar dos EUA no Oriente Médio', diz especialista

Para especialistas ouvidos pela Sputnik, os interesses dos Estados Unidos no Oriente Médio e o enorme poder que o lobby israelense tem em Washington tornam impossível à administração Biden pôr fim ao conflito na Faixa de Gaza, que provocou a morte de mais de 38 mil pessoas.

Para compreender a ligação entre Tel Aviv e Washington, não precisamos pensar em Israel como um país livre e soberano, mas como outro estado dos Estados Unidos, como a Pensilvânia, Nova York, o Texas ou a Califórnia, disse o doutor em estudos de relações internacionais pela Universidade Internacional do Atlântico, Eduardo Rosales Herrera, à Sputnik.

"Não é um amigo, não é um parceiro, mas mais um estado e, com base nisso, obviamente os Estados Unidos são como o centro, o guardião. O presidente dos Estados Unidos também é de alguma forma o presidente de Israel. Poderíamos chamá-lo [Israel] de um estado desconfortável", disse Rosales.

"Independentemente do que [Israel] faça, [os EUA] sempre o apoiará, mesmo que cometa atrocidades, mesmo que cometa ultrajes, mesmo que cometa genocídio", afirma o acadêmico.

Segundo ele, o vínculo estreito se explica pelos interesses econômicos e políticos que a Casa Branca tem no Oriente Médio. Por esta razão, o especialista chama Israel de "o braço político-militar dos Estados Unidos naquela região do mundo".

Mas, além disso, o especialista salienta que nos Estados Unidos existe "um lobby judeu muito poderoso" que opera a favor de Tel Aviv a partir dos altos círculos políticos norte-americanos. Nesse sentido, é preciso lembrar que Washington fornece anualmente US$ 300 bilhões (cerca de R$ 1,6 trilhão) a Israel, o que o torna o país que mais recebe ajuda norte-americana, sendo a maior parte em equipamento militar e armas.

<><> EUA são 'cúmplices diretos' do conflito em Gaza

Na quarta-feira (17), o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, destacou perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas (CSNU) que ao fornecerem armas a Israel, os EUA se tornaram parte do conflito na Faixa de Gaza, como no caso da Ucrânia.

"Ao fornecer armas e munições, Washington, e isto é claro para todos, tornou-se um cúmplice direto no conflito, bem como na situação na Ucrânia", sublinhou Lavrov em uma sessão do mais alto órgão de decisão da ONU, acrescentando que se esse apoio for suspenso, o derramamento de sangue também parará, mas que "os Estados Unidos não querem ou não podem fazê-lo", uma opinião compartilhada por Rosales Herrera.

"Biden diz que está preocupado [com Gaza], mas não pode romper esse cordão umbilical [que tem com Israel] desde a sua própria criação ou mesmo antes de ter sido criado como Estado [em 1948]", afirma o acadêmico.

Para o especialista, independentemente de quem vencer as eleições de 5 de novembro, Trump ou Biden, o apoio dos Estados Unidos a Israel será mantido devido aos interesses envolvidos nessa relação.

Ainda existe, no entanto, o risco de que a guerra em Gaza se expanda pela região. A escalada tem sido encorajada pelo próprio governo dos EUA, segundo o internacionalista da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e analista geopolítico, David García.

"O Oriente Médio é um barril de pólvora de sentimentos anti-ianques [antiamericanos]", disse o professor que lembrou o papel que o Irã desempenha nesta equação ao manifestar abertamente o seu apoio ao movimento palestino Hamas e ao Hezbollah.

Além disso, as vítimas civis são outro incentivo para os sentimentos antiamericanos na região, uma vez que milhares de crianças, mulheres e idosos morreram em consequência dos ataques israelenses, muitos deles executados com bombas norte-americanas, observa Rosales Herrera.

O especialista enfatizou ainda que o objetivo do governo de Benjamin Netanyahu, além de controlar a Cisjordânia, não é acabar com o Hamas, mas sim "realizar literalmente uma limpeza étnica", algo que várias nações denunciaram perante a Corte Internacional de Justiça (CIJ) e o Tribunal Penal Internacional (TPI).

¨      Israel pode lançar ofensiva contra o Líbano 'da noite para o dia', adverte ministro da Defesa

O ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, afirmou nesta quarta-feira (17) que o país pode iniciar uma ofensiva no Líbano "da noite para o dia", conforme relatado pelo The Times of Israel. A declaração voltou a acender o temor mundial de uma escalada do conflito no Oriente Médio.

A fala do ministro ocorreu durante encontro com reservistas da Brigada Oded, no norte do país. Segundo o jornal, Gallant destacou que a ofensiva seria inesperada e rápida, acrescentando que Israel está "se aproximando de uma encruzilhada na tomada de decisões".

"Estamos conduzindo uma guerra limitada na região norte. Usamos uma pequena parte das Forças de Defesa de Israel [FDI], mas tudo pode mudar em um segundo, desde um grande golpe no sul até um grande golpe no norte, e será rápido, inesperado e muito intenso; isso também pode acontecer como resultado das ações do Hezbollah", afirmou.

O ministro acrescentou que Israel já pode negociar com o movimento Hezbollah. "Se quiser negociar e chegar a uma situação em que se afaste da linha de fronteira para áreas além do rio Litani, conforme previsto na resolução das Nações Unidas, então chegaremos a um acordo com ele", disse.

O rio Litani, que flui por mais de 140 quilômetros, do vale do Bekaa até o sul do Líbano, perto da cidade de Tiro, é uma fonte estratégica de água doce no país.

As tensões na fronteira entre Israel e Líbano se intensificaram desde as operações militares de Israel na Faixa de Gaza, em outubro de 2023.

O Exército israelense e combatentes do Hezbollah bombardeiam diariamente as posições um do outro em áreas ao longo da fronteira.

De acordo com o Ministério das Relações Exteriores do Líbano, cerca de 100 mil pessoas já foram obrigadas a deixar suas casas no sul do país devido aos bombardeios de Israel. Do lado israelense, foram relatados mais de 80 mil residentes do norte de Israel em situação semelhante.

Nos últimos dias, autoridades militares israelenses informaram a eliminação de vários comandantes de alto escalão e operativos do Hezbollah em ataques aéreos na região. Cada eliminação por Israel provoca uma resposta do movimento libanês com bombardeios em massa no norte do país, lançando dezenas de foguetes e drones.

Em meados de junho, o comando militar israelense anunciou a aprovação de planos para ações militares avançarem no Líbano. Depois disso, o ministro das Relações Exteriores, Israel Katz, ameaçou destruir o Hezbollah e infligir sérios danos ao Líbano em caso de guerra em larga escala, acrescentando que Tel Aviv está perto de tomar uma decisão que mudará as regras no front norte.

Já o secretário-geral do Hezbollah, Hassan Nasrallah, afirmou em 19 de junho que o movimento poderia invadir o norte de Israel em caso de escalada adicional.

¨      Parentes de reféns israelenses criticam Netanyahu: falas imprecisas e grosseiramente irresponsáveis

Parentes de reféns israelenses mantidos pelo movimento palestino Hamas na Faixa de Gaza exigiram esclarecimentos do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu nesta quarta-feira (17) em conexão com relatos da mídia que o citam como tendo dito que "os reféns estão sofrendo, mas não morrendo".

Na terça-feira (16), o portal de notícias israelense Times of Israel citou a declaração de Netanyahu durante uma reunião do gabinete de segurança ao discutir o acordo de reféns.

O primeiro-ministro israelense teria dito que era o Hamas quem deveria estar "sentindo pressão" por esse motivo, e não Israel. No entanto, o portal de notícias também o citou o premiê ao dizer que era preciso fazer tudo para trazer os reféns para casa o mais rápido possível.

"Exigimos que o primeiro-ministro esclareça a sua recente observação de que 'os reféns estão sofrendo, mas não morrendo'. As observações do primeiro-ministro não só feriram profundamente os sentimentos das famílias dos reféns, mas também são factualmente imprecisas e grosseiramente irresponsáveis. A dura realidade é inegável — os reféns já foram mortos em cativeiro. Mais reféns poderão perder a vida neste preciso momento", disse o comunicado publicado pelo Fórum de Reféns e Famílias Desaparecidas.

O acordo de reféns que tem sido discutido nas últimas semanas é "a única opção viável para libertar todos os reféns", acrescentaram os familiares.

"É crucial que todo o governo israelense, liderado pelo primeiro-ministro, faça tudo o que estiver ao seu alcance para acelerar a assinatura deste acordo e não criar obstáculos ao mesmo", dizia o comunicado.

Em maio, o presidente dos EUA, Joe Biden, anunciou um plano para um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza e uma troca de reféns. Espera-se que a primeira fase do acordo inclua um cessar-fogo de seis semanas no enclave em troca da libertação de cerca de 40 reféns israelenses vivos e mortos.

Apesar de várias rodadas de negociações, as autoridades israelenses afirmaram repetidamente que Israel procurou continuar as hostilidades até que todos os seus objetivos fossem alcançados, o principal dos quais, para além da libertação de todos os reféns, é a eliminação completa do movimento Hamas.

Israel tem conduzido operações militares na Faixa de Gaza em resposta ao ataque ao seu território pelo movimento palestino Hamas em 7 de outubro de 2023. Pelo menos 120 reféns ainda estão detidos pelo Hamas no enclave palestino, dos quais mais de 40 são considerados mortos, segundo autoridades israelenses. Durante diversas operações e esforços humanitários, 135 pessoas foram libertadas do cativeiro, número que inclui os reféns mortos cujos corpos foram retirados do enclave.

¨      Israel usou mísseis e bombas dos EUA em ataque mortal recente a uma escola de Gaza, diz mídia

Fragmentos de duas munições fabricadas pelos EUA foram identificados no local de um ataque israelense a uma escola no centro da Faixa de Gaza que matou dezenas de pessoas, informou a CNN nesta terça-feira (16), citando especialistas em armas.

O Exército israelense confirmou que atacou uma escola no domingo (14) administrada pela agência palestina de refugiados da ONU UNRWA no campo de refugiados de Nuseirat, na convicção de que abrigava militantes do Hamas. A CNN informou que pelo menos 22 pessoas deslocadas abrigadas no local foram mortas.

Patrick Senft, coordenador de pesquisa da ARES (Armament Research Services), uma consultoria especializada em armas e munições, disse à CNN que uma imagem das munições remanescentes mostrava "tampas de parafusos distintivas, slots para aletas e o mecanismo interno da seção da cauda de uma GBU-39", uma munição guiada ar-superfície de cerca de 113 quilos feita pela Boeing.

Trevor Ball, um ex-membro sênior da equipe de eliminação de explosivos do Exército dos EUA, disse que as imagens também apresentavam partes de um míssil Hellfire feito nos Estados Unidos.

Em uma campanha militar que já dura nove meses desde o ataque do Hamas em 7 de outubro do ano passado, quando militantes mataram 1.200 israelenses e fizeram mais de 250 reféns, Israel matou mais de 38 mil palestinos, deixou feridos mais de 80 mil, 6 mil estão desaparecidos e dezenas de milhares desabrigados, dizem autoridades palestinas do enclave.

¨      Pequim está tentando expulsar Washington da liderança no espaço, diz inteligência militar dos EUA

De acordo com o Pentágono, a China está aumentando muito rapidamente suas capacidades militares no espaço, incluindo em armas de energia direcionada ou tecnologias antissatélite.

A China pretende afastar os Estados Unidos como o "líder global no espaço" e usar o espaço em detrimento de Washington, disse na quarta-feira (17) o chefe da inteligência militar do Pentágono.

"A China está tentando remover os Estados Unidos como líder global no espaço e usar o espaço de forma prejudicial para nós, e eles estão contando com o que percebem como um excesso de dependência do espaço por parte dos Estados Unidos", disse Jeff Kruse em um fórum de segurança em Aspen, Colorado, EUA.

Kruse disse que os EUA estão notando um enorme aumento nas capacidades militares da China no espaço, refletido no crescimento de armas de energia direcionada, tecnologias antissatélite e tecnologias de guerra eletrônica.

Anteriormente, o vice-diretor da Administração Espacial Nacional da China disse que Washington está dificultando os intercâmbios espaciais com Pequim, mas que não será capaz de impedir o rápido desenvolvimento do setor espacial na China. Ao mesmo tempo, o Ministério das Relações Exteriores da China pediu aos EUA que removessem os obstáculos à cooperação espacial.

¨      Trump afirma que se eleito não defenderá Taiwan de ameaças da China

Antes de sofrer uma tentativa de assassinato e ser confirmado como candidato pelo Partido Republicano na disputa pela Casa Branca, o ex-presidente Donald Trump concedeu uma entrevista de 90 minutos a jornalistas da Bloomberg, no resort de luxo Mar-a-Lago, na Flórida, no mês passado, que foi divulgada na noite de terça-feira (16).

Entre os tópicos abordados na entrevista, Trump afirmou que se ganhar as eleições presidenciais em novembro, não defenderá Taiwan de potenciais ameaças da China, que considera a ilha parte de seu território.

"Acho que Taiwan deveria nos pagar pela defesa. Você sabe, não somos diferentes de uma seguradora, […] Taiwan não nos dá nada", disse Trump, que afirmou "conhecer bem e respeitar muito" o povo da ilha.

Ele também criticou os EUA e a gestão atual do governo de Joe Biden por permitir que Taiwan alcançasse "liderança massiva" no setor de semicondutores.

Trump questionou por que os EUA estavam agindo como "seguro" de Taiwan quando, segundo ele, os taiwaneses haviam capturado negócios de chips americanos.

Os Estados Unidos vendem bilhões de dólares em armamentos a Taiwan sob obrigações legislativas para fornecer os meios de defesa.

Em outra parte da entrevista, o ex-presidente prometeu impor tarifas sobre a China entre 60% e 100%, mas indicou que recuaria na proibição do aplicativo de propriedade chinesa TikTok. Ele também mencionou que o líder chinês, Xi Jinping, era "um bom amigo" até a pandemia.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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