quinta-feira, 25 de julho de 2024

Brasil tem mais de mil cidades em situação de seca extrema ou severa

Mais de mil cidades em todo o Brasil estão vivendo sob uma seca severa ou extrema. A falta de chuva alastra o fogo pelo país, que teve o maior número de incêndios dos últimos dez anos. No Amazonas, que tentava se recuperar de uma seca histórica, comunidades já estão isoladas e a ordem é estocar alimentos. O ar está tão seco que mais da metade das cidades brasileiras estão em alerta.

🔥 O ano de 2023 foi de recordes de calor e com chuva abaixo da média, reflexo do El Niño e do aquecimento dos oceanos. O fenômeno já acabou, mas seus efeitos continuam: os primeiros seis meses do ano foram de recorde de calor e a chuva ficou abaixo da média na maior parte do país, com exceção do Sul.

➡️ Tudo está interligado. A falta de umidade pela seca que castigou a região Norte no ano passado, tem um efeito cascata: a umidade que deveria estar no Norte e que seria transportada para o resto do país deixou de existir. Com isso, a seca se alastrou.

⛈️ Segundo os dados do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), ligado ao governo federal e que monitora a estiagem pelo país, 1.024 cidades estão sob a classificação de seca entre extrema e severa (a mais alta da escala).

O número é quase 23 vezes maior do que o registrado no mesmo período do ano passado, quando 45 cidades estavam nesses níveis de seca. (Veja mapa comparativo abaixo)

O monitoramento classifica as cidades em quatro categorias de seca: extrema, severa, moderada e fraca. Ao todo, mais de três mil estão em alguma classificação de seca.

•        Consequências pelo país

Os estados mais afetados são Amazonas, Acre, Espírito Santo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia, São Paulo e Tocantins. Neles, todas as cidades estão sob alguma classificação de seca.

A estiagem vem afetando o abastecimento, isolando regiões que dependem do transporte por rio, causando prejuízos na agricultura e pecuária pelo país e tornando o ar difícil de respirar.

🔥 Segundo o monitoramento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), este ano é o maior em registros de focos de incêndio no país nos últimos 10 anos.

“A seca que estamos vendo é quase generalizada, afetando vários estados. Tivemos um início de ano com chuva muito abaixo da média do Norte ao Sudeste e isso nos trouxe um cenário pior do que o que vivemos no ano passado e as consequências já estão sendo vistas, desde o desabastecimento em algumas regiões até impactos no setor agropecuário”, explica o pesquisador de secas do Cemaden, Marcelo Zeri.

•        Sudeste

No Sudeste, a situação mais crítica está em São Paulo e no Espírito Santo. Nos dois estados, todas as cidades estão sob alguma classificação de seca, de extrema e fraca.

São Paulo registrou em junho o pior índice de focos de incêndio dos últimos dez anos. Com a vegetação mais seca, as chamas se alastram. Com isso, a umidade do ar fica baixa, trazendo riscos para a saúde da população.

O volume do Sistema Cantareira, que abastece milhões de pessoas em São Paulo, está em 63%, o que é considerado bom. No entanto, os especialistas dizem que é preciso cautela já que a seca que se estabeleceu deve perdurar por meses.

Em Itu, no interior paulista, a prefeitura decretou intervenção nos reservatórios particulares por causa da estiagem. Já Piracicaba está em situação de alerta por causa do baixo nível de água dos rios.

No Espírito Santo, a seca que castiga as cidades fez baixar o nível dos reservatórios. O estado está sob alerta e já enfrenta consequências no abastecimento e na produção agrícola. As safras de café, leite e derivados tiveram prejuízos milionários.

A situação também é de alerta no Rio de Janeiro e Minas Gerais. Mais de 90% das cidades estão em situação de seca. No estado mineiro, cerca de 20% dos municípios estão em situação de emergência, com problemas de abastecimento.

•        Centro-Oeste

🔥 No Mato Grosso e Mato Grosso do Sul a seca se traduziu em chamas. Os estados abrigam o Pantanal, bioma que tem a maior planície alagável do mundo. No entanto, o rio Paraguai, o principal do bioma, enfrenta o nível mais baixo de água já visto nos últimos quase 60 anos.

Com isso, o fogo avançou sobre a vegetação, que teve o pior cenário de incêndio desde 1998, pelo menos – ano em que o Inpe começou a monitorar a área. O incêndio consumiu uma área equivalente à de nove campos de futebol por minuto.

No Mato Grosso do Sul, o rio Perdido, que tem quase 300 quilômetros de extensão, virou um caminho de areia, sem água em vários trechos. O rio é importante para o abastecimento de centenas de famílias e também suporte da produção agrícola, que já dependem de caminhão-pipa.

•        Norte

O Norte, que tentava se recuperar da pior seca em 40 anos, vive novamente um período de estiagem. Com a região já vulnerável, seca e sem água, a estiagem ganhou força.

📈 Muito antes do que se viu acontecer no ano passado, rios estão secando. No Amazonas, 19 rios receberam neste ano menos água do que 2023, o que indica que a descida pode ser mais severa. Há mais de 10 mil pessoas afetadas pela crise, comunidades isoladas e o governo tem emitido alerta para as pessoas estocarem comida.

Governos do Acre e de Rondônia decretaram situação de emergência pelo baixo nível dos rios. A região vem enfrentando meses sem chuva e altas temperaturas, o que piora a situação hídrica. O calor aumenta o processo de evapotranspiração, que é a transformação da água em vapor, levada para a atmosfera.

Os dois estados já enfrentam problemas de abastecimento em algumas regiões e impactos no setor agrícola.

“A estação chuvosa, que deveria estar acabando agora, foi muito baixa. De forma geral, vimos chover menos do que 5% do que deveria acontecer. Tivemos os níveis mais baixos registrados até então. E a consequência é a seca que estamos vivendo.” — Renato Cruz Senna, climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa).

•        Seca mais intensa e mais extensa

A previsão dos meteorologistas é de que a situação da seca seja mesmo mais intensa do que a vista em 2023.

➡️ Para se ter uma ideia, em junho do ano passado, quando começava o período de estiagem, eram 45 cidades com classificação de seca extrema e severa.

📈O número é mais de 20 vezes menor do que o observado no último mês, em que mais de mil cidades foram impactadas nas duas piores classificações de seca.

🔎 A previsão de seca é feita pelo Cemaden mensalmente e, depois, atualizada ao fim de cada mês para o que, de fato, aconteceu. Neste mês, até o dia 19 a previsão

os pesquisadores, a situação grave vem se confirmando.

“A estiagem começou antes do ano passado, isso já faz com que o período a ser enfrentado seja maior. Somado a isso, ela ainda está mais intensa e afetando mais regiões. Para o mês de julho, são mais de mil cidades na previsão e isso vem se confirmando.” — Marcelo Zeri, pesquisador do Cemaden.

•        Por que isso está acontecendo e o que podemos esperar?

➡️ Você pode se perguntar: os meteorologistas anunciaram o fim do El Niño em junho, por que então ainda estamos vivendo seca?

A resposta continua sendo o fenômeno, que se somou a outros fatores como as águas mais quentes do oceano e as mudanças climáticas, que aqueceram mais as cidades. Com isso, sua intensidade ganhou outras potências e a previsão é de que ainda vamos ouvir sobre suas consequências por algum tempo.

Esse cenário meteorológico trouxe, em 2023, uma seca que foi a pior dos últimos 40 anos não só no Amazonas, mas também no Pará, Acre, Amapá, Maranhão, Piauí, Bahia e Sergipe.

➡️ O Norte do país é importante para definir a umidade e a chuva pelo Brasil por causa da Amazônia. Ela funciona como um grande bolsão de umidade, que chega do oceano pela Foz do Amazonas e circula pela Amazônia, que empurra esse ar úmido para o restante do país.

Sem isso, o país enfrentou um longo período de estiagem e não conseguiu se recuperar. Isso faz com que a seca que estamos vivendo agora seja mais intensa e extensa.

“O país não conseguiu se recuperar da estiagem do ano passado, já que não teve chuva ou umidade que pudesse minimizar os impactos. O Norte já está sendo muito afetado de novo e nosso sistema é interligado. Ou seja, isso vai afetar o restante do país.” — Ana Paula Cunha, especialista em secas do Cemaden.

Agora, o cenário pode mudar com a chegada da La Niña, que tem o efeito contrário do El Niño, e pode reforçar a formação de chuva e minimizar a estiagem pelo país.

➡️ No entanto, ela deve começar em agosto e para que tenha impactos significativos precisa ser intensa.

Ainda assim, a previsão é de que, com a sua chegada, a situação só seria minimizada em seis meses.

 

•        Secura no Brasil: umidade no ar abaixo de 10% no Sudeste

A forte massa de ar seco que predomina sobre o Brasil há vários dias vem causando níveis de umidade no ar muito baixo em vários estados. A tarde de 23 de julho foi excepcionalmente seca no Sudeste e no Centro-Oeste do país.

Regiões nos estados de São Paulo, Mato grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Pará, Rio De Janeiro, Espírito Santo e Ceará registraram menos de 20% de umidade no ar. Entre as capitais, a mais seca foi São Paulo, com apenas 13% de umidade no ar. Foi a tarde mais seca na capital paulista desde novembro de 2021.

Na tarde de 23 de julho, o menor nível de umidade no país, até às 18 horas, pela medição do Instituto Nacional de meteorologia foi de 8% em Salinas, na zona rural de Nova Friburgo, na região serrana do estado do Rio de Janeiro. A cidade de Monte Verde, no Sul de minas, registrou apenas 9% de umidade no ar. E repetindo o que vem sendo observado nos últimos dias, a região de Cotriguaçu, no norte de Mato Grosso, teve mais uma tarde com menos de 15% de umidade no ar.

 <><> Confira os locais mais secos do Brasil em 23/7/24

8% Nova Friburgo/Salinas (RJ)

9% monte Verde (MG)

10% Cotriguaçu (MT)

13% São Paulo (SP), Iperó (SP)

14% Barretos (SP), Jardim (MS), Corumbá (MS), Miranda (MS)

15% Porto Murtinho (MS), Cuiabá (15%), Vila Bela da Santíssima Trindade (MT), Campina Verde (MG), Pradópolis (SP)

16% Oliveira (MG), Barueri (SP), Três Lagoas (MS), Coxim (MS), Cacoal (RO)

17% Água Clara (MS), Pontes e Lacerda (MT), Sonora (MS), Ariranha (SP), Pompeu (MG)

18% Teresópolis/Parque Nacional (RJ), Sidrolândia (MS), Campo Grande (MS), Ituiutaba (MG), Lins (SP), São Luiz do Paraitinga (SP), São Simão (SP),Paracatu (MG), Montes Claros (MG),São José do Rio Claro (MT)

19% Gama (DF),Itapira (SP), Formiga(MG), Passos (MG), Salto do Céu (MT),Primavera do Leste (MT), Tupã (SP),Valparaíso (SP), Jaguaribe (CE)

20% Bebedouro (SP), Caldas (MG), Alegre (ES), Araguaçu (TO), Marianópolis do Tocantins (TO), Santana do Araguaia (PA), Nova Maringá (MT), Campo Verde (MT), Rondonópolis (MT), Varginha (MG), Marília (SP)

•        Entenda por que Belém está há 19 dias sem chuva

Nesta quarta-feira (24), completou 19 dias que a Região Metropolitana de Belém não registra qualquer tipo de chuva e os termômetros têm alcançado temperaturas máximas de 34°, segundo a meteorologia. E, por enquanto, não há previsão de o clima mudar. O tempo deve continuar de sol forte nos próximos dias.

A quantidade de chuvas, na Região Metropolitana de Belém, neste mês de julho está 80% abaixo do que era esperado para o período, segundo Adriroseo Santos, coordenador do 1º Distrito de Meteorologia (Disme), do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). O cenário só deve mudar a partir de agosto.

[A transição do El Niño para o La Niña] em conjunto com a alta pressão anticiclonete que se formou no oceano Atlântico entrou para o continente, causando o bloqueio atmosférico que está impossibilitando a instabilidade (chuvas).

O motivo para a ausência de chuva, explica o meteorologista Adriroseo Santos, ocorre devido a um bloqueio atmosférico que impede a formação de chuvas.

Além disso, a região vive o período de transição do fenômeno El Niño para o fenômeno La Niña, ambos ligados as temperaturas das águas do oceano Pacífico.

O La Niña está relacionado a diminuição desta temperatura e o El Niño pelo aquecimento das águas. "O La Niña é o que provoca chuva na nossa região", reforça Adriroseo.

A estiagem é ainda mais forte na região sudeste do Pará. Por lá, cidades como Santa Maria das Barreiras, Conceição do Araguaia e Redenção não registram chuvas há quase 70 dias.

 

Fonte: g1/ClimaTempo

 

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