Povos Indígenas: Apib vai invocar o Supremo
contra “Lei do Genocídio”
A Articulação dos Povos Indígenas do Brasil
(Apib) vai entrar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) no
Supremo Tribunal Federal (STF) se os senadores derrubarem os vetos parciais do
presidente Lula (PT) ao marco temporal, como está ameaçando a Frente
Parlamentar do Agronegócio. Sancionada em outubro com 34 vetos, a Lei
14.701/2023, que trata do reconhecimento, demarcação, uso e gestão de terras
indígenas. Os advogados da Apib solicitarão a tutela de urgência no STF, cujos
ministros já consideraram inconstitucional a tese do marco temporal.
A Amazônia Real recebeu o conteúdo da ADIN na íntegra.
A votação no Congresso está marcada para
ocorrer no próximo dia 14, depois de ter sido adiada por duas sessões (dias 7
de dezembro e 23 de novembro). A Lei 14.701, conhecida como “Lei do Genocídio
Indígena”, tem origem no Projeto de Lei 2903, apresentado pelo ex-deputado
federal Homero Pereira (MT) e aprovado pelo Senado em setembro, sob relatoria
do senador Marcos Rogério (PL-RO).
O coordenador jurídico da Apib, Maurício
Terena, disse que a organização já espera que os parlamentares derrubem
os vetos de Lula. Caso isso ocorra, eles
entrarão imediatamente com a ação, pois a Lei deve entrar em vigor em 48 horas.
“Essa lei viola diversos direitos
fundamentais dos povos indígenas. Ela tenta instituir o marco temporal pela via
Legislativa, mesmo que o STF já tenha declarado sua inconstitucionalidade no
julgamento do recurso extraordinário. Mas além do fundo do marco temporal, há
outras questões extremamente nocivas aos povos indígenas”, disse Maurício
Terena em entrevista à Amazônia Real.
A tese jurídica do marco temporal foi um dos
principais dispositivos vetados por Lula na sanção da Lei 14.701. Ela
estabelecia que os povos indígenas só teriam direito às terras que ocupavam ou
reivindicavam em 5 de outubro de 1988, dia da promulgação da Constituição
Federal. Mas a Apib vê ameaças adicionais a alguns pontos que foram sancionados
pelo presidente.
A “Lei do Genocídio” traz outras medidas que
são graves violações aos povos indígenas: permite empreendimentos nos
territórios sem necessidade de consulta aos indígenas garantida pela Convenção
nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), facilita contato com
povos isolados, veda ampliação de áreas já demarcadas e retira o protagonismo
dos indígenas em atividades econômicas que porventura possam ocorrer em suas
terras.
Na quarta-feira (6), a Frente Parlamentar do
Agronegócio divulgou uma nota dizendo que o grupo “está pronto para derrubar os
vetos ao marco temporal na sessão do Congresso, quando houver”. Segundo a
Frente, “reformar julgamento, passando por cima das decisões do Poder
Legislativo, é um profundo desrespeito à Constituição Federal e alimenta
divisões que só causam prejuízos a nossa nação”. A mobilização dos
parlamentares contra os direitos dos povos indígenas tem sido ampla e
constante.
Na peça judicial, os advogados da Apib
descrevem a criação da Lei 14.701 como um “manifesto revanchismo parlamentar”.
“A lei ora questionada, embora tenha sido originalmente proposta em 2007, foi
açodada em regime de urgência em ambas as casas legislativas, com o fito de
inserir o marco temporal no ordenamento jurídico brasileiro, que já havia sido declarado inconstitucional pelo
STF”, diz trecho da ADIN.
Maurício Terena, que é um dos autores da
ação, salientou que “não se mudam os direitos indígenas por uma lei ordinária
como o Congresso Nacional está fazendo”. O advogado destacou, entre as decisões
mais preocupantes, a flexibilização da política de contato com indígenas
isolados, a liberação para plantação de transgênicos em terras indígenas e a
abertura econômica dos territórios.
“Isso viola o direito à consulta livre,
prévia e informada dos povos indígenas, alterando a Constituição por uma lei
ordinária quando o correto seria por uma Emenda Constitucional. São diversas
preocupações espelhadas ali, perto do genocídio, porque isso vai implicar
diretamente na vida de outros indígenas em diversas áreas”, afirmou.
Os advogados da Apib também alertam que o
texto da Lei 14.701/2023 “foi redigido de maneira unilateral por parlamentares
da bancada ruralista, e em nenhum momento fora oportunizado aos povos indígenas
o direito de se manifestar previamente acerca das medidas que impactam seus
direitos constitucionalmente assegurados”.
A ADIN representa um contraponto à aprovação
da lei, considerada pela Apib como um retrocesso nos direitos dos povos
originários. Para Maurício Terena, há um momento político em torno disso que
precisa de alerta. “Vamos entrar em uma área um tanto nebulosa. O Congresso
tentando minar uma pauta do Executivo, que é a proteção dos povos indígenas.
Então a gente pensa e fica muito preocupado com isso porque é uma sinalização
política”, explica.
As 93 páginas da ADIN apresentam argumentos
contundentes, evidenciando o grave retrocesso que a rejeição do veto pode
acarretar aos indígenas. Diante disso, o documento declara um “risco
iminente de danos irreparáveis e de difícil reparação aos direitos fundamentais
e constitucionais dos povos indígenas do Brasil”, caso os vetos do Lula sejam
amplamente rejeitados pelo Senado, como já sinalizado”.
Este tipo de legislação tem gerado debates
intensos devido às suas implicações na proteção dos direitos e territórios dos
povos indígenas. A ADIN da Apib destaca que a falta de consulta aos povos
indígenas pode violar direitos fundamentais e a autodeterminação dos
povos indígenas, por outro lado, a na Comissão de Agricultura e Reforma
Agrária (CRA), que está negociando a rejeição dos vetos no Senado por defender
que tais medidas são necessárias para o desenvolvimento econômico e a
utilização dos recursos naturais.
·
Direitos indígenas em risco
A Lei nº 14.701 teve seu início em
discussões na CRA do Senado, passando por um processo que culminou com sua
aprovação e encaminhamento para votação no plenário. O projeto, além de abordar
o polêmico marco temporal, também contempla a permissão para a construção de
infraestruturas em territórios indígenas sem a obrigatoriedade de consulta
prévia às comunidades afetadas, bem como a possibilidade de estabelecimento de
contratos de produção entre fazendeiros e indígenas.
Em um único mês, em outubro, o STF
considerou ilegal o marco temporal e iniciou debates sobre sua aplicação na
demarcação de terras indígenas. O Senado, em reação, aprovou um projeto
restabelecendo o marco temporal como norma para essas demarcações. Logo em
seguida, o presidente Lula sancionou a lei do Congresso, mas vetou a tese do
marco temporal.
A discordância entre os Poderes Legislativo
e Judiciário, especialmente em relação ao marco temporal tem sido um ponto
crucial. A votação desse projeto gerou uma série de preocupações, especialmente
sobre o iminente risco de instalação de empreendimentos econômicos em Terras
Indígenas, sem assegurar o direito de consulta, conforme estipulado na
Convenção nº 169.
Ø
Bancos brasileiros são os que mais financiam o agronegócio que desmata
Os bancos brasileiros são os que mais
fornecem crédito para o agronegócio que representa risco às florestas tropicais
no planeta. Segundo análises da Coalizão Florestas & Finanças, entre
janeiro de 2016 e setembro de 2023, instituições financeiras brasileiras
injetaram ao menos US$ 127 bilhões em empresas com histórico de violações
socioambientais na produção de carne bovina, soja, óleo de palma, celulose e
papel, borracha e madeira. A cifra representa nada menos que 41% do total
global de empréstimos (US$ 307 bilhões) levantado pelo estudo. E o Banco do
Brasil, controlado pelo governo federal, lidera o ranking.
O fato do Brasil ter uma elevada produção
de commodities conta para o resultado, mas a coordenadora da
coalizão, Merel van der Mark, sinaliza que os investimentos têm sido feitos sem
que sejam observados os riscos dessas transações para a biodiversidade, destaca
a Repórter Brasil. “O Brasil é um dos países
que mais produz carne e soja. Mas é urgente que as instituições
financeiras adotem políticas de desmatamento zero”, enfatiza ela.
Na ponta dos recebedores de recursos,
empresas que operam no Brasil receberam mais de US$ 20 bilhões ao ano, somando
US$ 188 bilhões entre 2016 a 2023 – o que inclui tanto crédito nacional como de
fontes estrangeiras. As multinacionais de papel e celulose, Suzano e Klabin,
receberam a maior parte dos recursos, seguidas pela Marfrig, gigante do setor
pecuário.
Investigações recentes feitas pela Repórter
Brasil mostraram que a Klabin extraía minérios de áreas de
preservação ambiental, e a Suzano arrendava fazenda flagrada com trabalho
escravo. Uma denúncia feita na França em novembro se baseou em análise do
Center for Climate Crime Analysis (CCCA) para afirmar que 40% dos fornecedores de duas plantas da Marfrig em Mato Grosso tinham
alguma irregularidade socioambiental.
Em tempo 1: A Polícia Federal deflagrou na
4ªa feira (6/12) a Operação Retomada II, contra uma organização suspeita
de grilar e desmatar cerca de 22 mil hectares, equivalentes a mais de 20 mil
campos de futebol, de Terras da União para a pecuária. A Justiça determinou o
sequestro de R$ 116 milhões em bens, explicam Folha, g1, CNN, R7 e O Liberal. Segundo a PF, o grupo provocou o maior
desmatamento da Amazônia. Os 11 mandados de busca e apreensão foram cumpridos
no Pará e em Mato Grosso, contra empresários, engenheiros e até servidores
públicos, que atuariam junto a uma família de pecuaristas na destruição da
floresta. “Identificou-se que empresas, por meio de seus sócios e funcionários,
teriam fraudado cadastros de áreas públicas da União através da inserção de
dados falsos em sistemas e falsificação de documentos”, diz a PF, que não
divulgou os nomes dos suspeitos.
Em tempo 2: A Secretaria de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Sustentável (SEMAD) de Goiás multou uma empresa que pertence ao
governador Ronaldo Caiado (UB) e sua família por desmatamento ilegal. A
vegetação retirada fica em uma área de preservação permanente dentro da Fazenda
Limoeiro, no norte do estado, informa o g1. A propriedade está registrada nos nomes do
governador e de mais cinco irmãos. Dois deles aparecem com administradores.
Em tempo 3: Acabar com o desmatamento – o ilegal e
também o legal – e investir na restauração da vegetação nativa em larga escala
estão entre as medidas sugeridas por um estudo da Universidade de Oxford para que o
Brasil atinja a meta de zerar a emissão líquida de gases do efeito estufa até
2050. A pesquisa afirma que a melhor forma para isso é com o uso de Soluções
Baseadas na Natureza (SBN). Já alternativas mais tecnológicas, como captura,
utilização e estocagem de carbono (CCUS), além de mais caras, não se adaptam
completamente à situação brasileira, explica a Agência Brasil. Olha isso aqui, Jean Paul
Prates!
Fonte: Amazônia Real/ClimaInfo
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