sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

O tamanho da exposição dos brasileiros às fake News

É fim de ano e, quantas vezes por dia você recebeu uma mensagem de boas festas no celular? Melhor assim do que a enxurrada de conteúdos duvidosos, principalmente quando o assunto é política.

Pela primeira vez, um estudo conseguiu quantificar o tamanho da exposição dos brasileiros às chamadas fake news em aplicativos de mensagem.

Nada menos do que 25% do que se fala sobre política no WhatsApp ou no Telegram é distorcido, exagerado ou simplesmente falso.

Uma coisa é louvar a participação e engajamento dos cidadãos no rumo do país, do seu estado, da sua cidade — ano que vem, vamos eleger prefeitos em 5.567 municípios.

Outra é simplesmente ignorar o quanto o sarrafo desse debate pode e deve subir.

Não é tarefa que se resolve com um clique. Basta lembrar há quanto tempo se fala em algum tipo de regulamentação das plataformas digitais sem se chegar a uma conclusão, ou pensar nas consequências por vezes trágicas provocadas por desinformação.

É um desafio diário para quem tem algum grau de envolvimento com a política e usa diariamente os aplicativos de mensagem.

Ou seja, é um desafio para o poder público, para as organizações privadas e, naturalmente, para cada um de nós.

 

Ø  A cada 4 mensagens políticas de apps, 1 é de teor duvidoso, diz pesquisa

 

Uma em cada quatro mensagens de cunho político compartilhadas em aplicativos como WhatsApp e Telegram é considerada duvidosa – ou seja, conteúdos exagerados, distorcidos ou falsos. Os dados são de um estudo inédito elaborado pelo Instituto de Pesquisa Ideia, obtido com exclusividade pela CNN.

O trabalho, intitulado “A corrida do WhatsApp: Marcas, fakes e uma nova fronteira de dados”, feito em parceria com o Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (Ibpad), quantificou o teor e a proporção que essas mensagens ocupam nos dois principais aplicativos usados pelos brasileiros.

Para o trabalho, foi criada uma ferramenta, chamada v-Groups, que monitora o conteúdo acessado por 3,5 milhões de usuários de WhatsApp e Telegram, em uma proporção aproximada de 4 vezes mais mensagens no primeiro app em relação ao segundo.

No estudo, foi detectado que 25% dos conteúdos de teor político exageram ou distorcem informações, ou ainda disseminam desinformação sobre polarização ideológica, legislação e até sobre políticas públicas, como benefícios sociais, entre outras – exemplo disso foi visto durante a pandemia da Covid-19.

O gráfico abaixo mostra a divisão dos principais temas de fake news nos apps de mensagem:

O levantamento aponta que 11% dos brasileiros afirmam receber mensagens políticas no WhatsApp diariamente. A diretora-executiva do v-Groups e CEO do Ideia, Cila Schulman, observa que esses dados foram obtidos em um ano ímpar, sem disputa eleitoral. “É muito provável que esses números sejam maiores em períodos de campanhas”, avalia.

·        Homens são mais sujeitos as fake news que mulheres

Outro achado da pesquisa é que os homens recebem 9% mais mensagens sobre política do que as mulheres em geral, e 13% mais fake news e desinformação. Cila Schulman aponta ainda que pelo menos 10% das mensagens de conteúdo duvidoso são explicitamente hostis, o que as torna um ambiente propício ao aumento da polarização política radicalizada.

A diretora-executiva do v-Groups também destaca que muitos desses conteúdos duvidosos não se restringem à esfera pública ou aos partidos e agentes políticos.

“Também há diversas situações que envolvem empresas, o que representa grande risco de imagem e reputação para as marcas”, explica Cila. São casos de companhias ou produtos associados a algum espectro político que acabam, por esse motivo, sendo alvo de campanhas de boicote ou de desinformação que podem afetar o desempenho dos negócios.

Para realizar esse estudo, a ferramenta selecionou, de forma aleatória, 5.761 usuários previamente cadastrados entre os 3,5 milhões monitorados pelo v-Groups, com dados coletados entre julho e agosto deste ano, seguindo normas da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD).

A cada 100 mensagens cujo teor foi analisado e quantificado, 82 circularam por meio do WhatsApp e 18, pelo Telegram.

 

Ø  PL das Fake News é prioridade para Segurança no começo do ano, diz Cappelli

 

O secretário executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli, afirmou na tarde desta quarta-feira (27) que a aprovação do PL das Fake News é prioridade para pasta no começo do próximo ano. Atual ministro em exercício, Cappelli concedeu entrevista ao programa Bastidores CNN.

Segundo o secretário, o governo tem se articulado junto ao Congresso para tentar aprovar o PL 2630/2020 ainda nos primeiros meses do ano. Na terça-feira (26), Cappelli enviou um pedido à PF (Polícia Federal) para apurar ameaças contra o presidente Lula (PT).

Em uma publicação no X – antigo Twitter – um perfil identificado como André Luiz fez um comentário dizendo que era preciso “fazer uma vaquinha para pagar um mercenário com um rifle de alta precisão”, sugerindo que o armamento seria usado para atentar contra Lula.

“Nós temos dialogado com o Congresso, com os presidentes da Câmara e do Senado, porque é inevitável que nós tenhamos no Brasil uma regulamentação das redes, e isso não se confunde com coibir liberdade de expressão, mas sim com liberdade para praticar crimes”, disse Cappelli.

“Ter a regulamentação é acompanhar as melhores práticas internacionais. O que o PL 2630 traz, o mundo inteiro está adotando. Qualquer atividade em sociedade possui regras mínimas, que a regulam, que a controlam e estabelecem parâmetros de convivência. Em 2024 vamos, finalmente, avançar com essa legislação, que fará o Brasil a se adequar às melhores práticas internacionais”, complementou.

O PL 2630/2020 

Proposto em 2020, o projeto visa regulamentar a publicação de conteúdos nas redes sociais e responsabilizar as plataformas por eventuais crimes praticados em seus domínios. O projeto atualmente está na Câmara dos Deputados e aguarda votação. A relatoria é do deputado federal Orlando Silva (PcdoB-SP).

Cappelli ainda condenou a campanha empenhada por big techs para derrubar o projeto. “Corporações estrangeiras não podem tentar se esquivar em assuntos internos do Brasil e se colocar acima da economia e do povo. O Brasil possui leis, e as corporações não podem se colocar acima das leis do país”, disse.

Por fim, o secretário ressaltou que mais de 400 pessoas foram presas em 2023 por incentivarem massacres em escolas usando redes sociais. Para ele, esse tipo de crime é a prova de que “o projeto é importante para reforçar a democracia do país”.

“As redes sociais são um território de livre manifestação, todos podem emitir suas opiniões. Mas elas não podem ser um território para que as pessoas incentivem crimes. Não é razoável que alguém faça uma vaquinha para comprar um rifle para atirar no presidente da república, ou que incentive cometer um massacre em escola infantil”, concluiu.

 

Ø  Supremo deve retomar discussão sobre fake news em 2024

 

Com o Executivo pressionando pela retomada da tramitação do projeto de lei das fake news, o Supremo Tribunal Federal deve voltar a debruçar sobre o assunto.

Segundo apurou a CNN, acontecimentos recentes – como o suicídio da jovem Jessica Canedo após perfis publicarem informações falsas sobre ela – mobilizaram os ministros.

Está pendente no tribunal o julgamento de uma ação que vai definir a constitucionalidade ou não do artigo 19 do marco civil da internet.

Esse artigo determina que as redes não são responsáveis pelo que é publicado por seus usuários e que só devem fazer a remoção de conteúdo se forem acionadas judicialmente.

Na avaliação de ministros ouvidos pela reportagem, uma decisão da corte sobre esse assunto, que é central no combate às fake news, pode até facilitar o debate no Congresso.

O Executivo vem utilizando o ataque à conta da primeira-dama Janja e as ameaças sofridas por Lula para tentar retomar a tramitação do projeto de lei de regulação das redes, mas encontra resistências do presidente da Câmara, Arthur Lira.

Lira já avisou a interlocutores do governo que só volta ao assunto se houver consenso e se o governo estiver realmente engajado. Pessoas próximas ao presidente da Câmara lembram que, na derrota sofrida sobre o tema, a articulação do Planalto sequer conseguiu garantir os votos da base aliada.

 

Ø  Governo planeja “corpo a corpo” com evangélicos para aprovar PL das Fake News

 

O governo Lula planeja fazer corpo a corpo com evangélicos no início do ano que vem como parte da estratégia para quebrar resistências ao projeto de lei (PL) das Fake News. A aprovação do projeto se tornou prioridade para a administração petista em 2024.

O advogado-geral da União, Jorge Messias, será escalado para a missão. O ministro, que é evangélico, tem despontado como o interlocutor do governo com o segmento.

“Farei corpo a corpo com os evangélicos. O governo precisa dialogar, pois os evangélicos são vítimas de fake news também”, afirmou Messias à CNN.

A ideia, segundo o ministro, é procurar tanto parlamentares da bancada evangélica quanto líderes religiosos capazes de influenciar os deputados.

A busca, num primeiro momento, será pelos evangélicos vistos como mais moderados para tentar convencê-los sobre a necessidade de a proposta avançar.

Uma reunião deve ocorrer logo no início do ano, já no dia 8 de janeiro, entre ministros do governo para lapidar a estratégia, de acordo com Messias.

“Aprovar o PL das Fake News será a coisa mais importante no primeiro semestre”, disse o AGU.

Será a segunda investida do governo a favor do projeto. No início deste ano, a iniciativa contou com o apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira, mas houve forte oposição dos bolsonaristas e dos evangélicos, além de lobby das plataformas.

Com indicações de que a proposta seria derrotada, Lira adiou a votação, retirando o texto da pauta.

 

Fonte: CNN Brasil

 

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