Fazenda onde 7 foram resgatados está segurada pela Mapfre com apoio do
governo federal
A seguradora espanhola Mapfre confirmou
à Repórter Brasil que possui uma apólice de seguro rural ativa para
uma propriedade onde sete indígenas, incluindo uma criança e um adolescente, foram resgatados
de trabalho escravo em Dourados, em Mato Grosso do Sul. A empresa informou que “abriu
procedimento interno após a operação” de fiscalização de autoridades, concluída
em novembro, e que “tomará as medidas cabíveis” caso seja comprovada alguma
irregularidade.
“Como signatária de iniciativas internacionais,
como Pacto
Global da ONU e Agenda 2030, a companhia reitera que possui uma política de subscrição que avalia e
monitora apólices rurais”, acrescentou a Mapfre, em nota (leia a íntegra aqui).
O cliente da Mapfre – e empregador autuado pelo
caso de trabalho escravo – é Virgílio Mettifogo, um dos cinco réus que
respondem na Justiça pelo episódio que ficou conhecido como o Massacre de
Caarapó, ocorrido em 2016, quando fazendeiros abriram fogo contra indígenas, segundo o
Ministério Público Federal, deixando seis feridos e um morto.
Um mês antes do ataque, o governo federal havia
reconhecido, por meio de um relatório antropológico, que os Guarani e Kaiowá
tinham direito sobre uma área de 56 mil hectares ocupada por fazendas, em uma
área vizinha a Dourados, onde ocorreu o episódio de trabalho escravo e infantil
recente. Os indígenas resgatados são da mesma comunidade vítima do massacre.
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Dinheiro público pagou apólice
Em novembro, a Repórter Brasil revelou
que Mettifogo assinou, entre 2020 e 2021, diversas apólices de seguro agrícola com a empresa suíça Swiss Re – uma
delas, cujas coordenadas geográficas da fazenda segurada incidem dentro da área
resguardada aos indígenas. Em nota enviada à reportagem à época, a seguradora
não comentou o caso e disse apenas que “permanece totalmente comprometida com
suas ambições e metas na área de sustentabilidade”. A íntegra pode ser lida
aqui.
Tanto os contratos da Mapfre como os da Swiss Re
foram parcialmente pagos com dinheiro público, por meio do Programa de Subsídio
ao Seguro Rural, do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) – por isso,
vários dados das apólices são públicos, incluindo uma coordenada geográfica das
propriedades seguradas. A pasta está desenvolvendo um sistema de verificação de
conformidade socioambiental das fazendas beneficiadas pela política pública,
mas a previsão é que essa ferramenta só esteja em operação em 2024.
Procurado, o Mapa informou que “não tinha
conhecimento dos fatos relatados” e que “solicitará a manifestação da
seguradora que emitiu a apólice”. “Em caso de confirmação de irregularidade, a
operação será cancelada, a subvenção federal será devolvida e o beneficiário
ficará suspenso de participar do programa”, confirmou o ministério, que
acrescentou ainda que, uma vez que esteja em operação, o sistema permitirá
realizar o monitoramento não apenas antes da assinatura do contrato, mas também
após a concessão da subvenção. Leia a íntegra dos esclarecimentos aqui.
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Piores formas de trabalho infantil
O grupo resgatado na fazenda segurada pela Mapfre
estava alojado em um galpão sem janelas, onde dormiam e cozinhavam, segundo a
fiscalização. Não havia camas, nem colchões, substituídas por tábuas, papelão
ou palha. Para se proteger do frio, os indígenas usavam sacos de embalagens de
produtos da fazenda e algumas cobertas. Não havia banheiros e o grupo fazia
suas necessidades fisiológicas no mato.
Entre os resgatados estavam um jovem de 17 anos e
uma uma criança de 11 anos – as atividades que desempenhavam, em lavoura de
milho, se enquadra na Lista de Piores Formas de Trabalho Infantil publicada
pelo governo brasileiro.
Mettifogo afirmou à reportagem que os trabalhadores
não quiseram ir para o alojamento que havia sido disponibilizado inicialmente,
que, segundo ele, era uma boa casa. “Preferiram ir para outro lugar para
ficarem sozinhos entre eles. Eles falam outra língua”, disse. Sobre a presença
do menino de 11 anos, disse que não havia sido avisado sobre a idade. “Eu nem
sabia que tinha esse menino lá. Você olhava e ele era maior do que os outros”,
explicou.
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Veto à exploração de mão-de-obra
Conceder um seguro rural para uma propriedade
flagrada com trabalho escravo e infantil – ou manter o contrato assinado
anteriormente ao flagrante – não representa uma infração à legislação
brasileira, mas contraria as políticas Ambientais, Sociais e de Governança
(mais conhecida pela sigla ESG, do inglês Environmental, Social and
Governance) e compromissos privados assumidos por companhias.
A Mapfre é signatária do Pacto
Global da Organização das Nações Unidas (ONU), que prevê a
eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório, e da Agenda
2030, iniciativa da mesma organização que lista 17 objetivos de Desenvolvimento
Sustentável, entre eles o de promover o trabalho decente e o crescimento econômico. O
próprio Código de Conduta da Mapfre para fornecedores e parceiros de
negócios ressalta a obrigação de “não utilizar qualquer forma de trabalho
infantil, forçado ou escravo e subcontratar terceiros que utilizam tais
práticas”.
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O massacre de Caarapó
O Massacre de Caarapó resultou na morte do indígena
Clodiode Aquileu Rodrigues de Souza, que era agente de saúde, com um tiro no
abdômen e outro no tórax. Outros seis ficaram feridos, entre eles uma criança
de 12 anos. Há testemunhas que apontam que os tiros partiram do próprio
Mettifogo.
Ainda em 2016, o MPF denunciou o fazendeiro e
outras quatro pessoas, que aguardam o julgamento em liberdade. O grupo responde
pelos crimes de formação de milícia armada, homicídio qualificado, tentativa de
homicídio qualificado, dano qualificado e constrangimento ilegal. O processo já
passou pela fase de alegações finais. A 1ª Vara da Justiça Federal em Dourados
decidiu que os cinco serão levados ao Tribunal do Júri por
conta do crime.
À reportagem, Mettifogo negou participação no
massacre. “É um absurdo. Tem cinco pessoas acusadas de um crime só. O cara
levou um tiro só e tem cinco pessoas acusadas. O laudo da Polícia Federal disse
que não tem como culpar alguém por essa morte. Não tem balística do tiro. Não
tem nada. É uma perseguição”, afirma.
Ø Seguradora
suíça lucra no Brasil com seguro de lavouras irregulares
Da porta de sua casa, uma construção improvisada
com tábuas de madeira cobertas por uma lona plástica, Simão Kaiowa enxerga a
cerca e a porteira onde caiu morto seu parente Clodiodi Aquileu Rodrigues de
Souza, em julho de 2016, depois de ser alvejado com um tiro no abdômen e outro
no tórax numa disputa de terra com fazendeiros da região.
Uns poucos metros adiante, do outro lado da cerca,
se avista a lavoura de Virgílio Mettifogo, o homem acusado de apertar o
gatilho, segundo testemunhas, e um dos cinco réus que respondem judicialmente pelo ataque. O
episódio, que ficou conhecido como Massacre de Caarapó, terminou com outros
seis indígenas hospitalizados, entre os quais uma criança.
O ataque ocorreu um mês após a publicação, pelo
governo federal, de um relatório antropológico que reconhecia o direito dos indígenas Guarani e
Kaiowá sobre uma área de 56 mil hectares no Mato Grosso do Sul. O
relatório apontou ainda a existência de dezenas de produtores rurais –
Mettifogo entre eles – dentro da área em disputa, batizada de Terra Indígena
Dourados-Amambaipeguá I. Até hoje, através de ações judiciais que contestam a
identificação, fazendeiros têm conseguido evitar sua remoção do local.
Mesmo com esse histórico, Mettifogo é um dos
clientes da Swiss Re, uma das principais seguradoras do mundo e também uma das
líderes do mercado de seguros agrícolas no Brasil. Entre 2020 e 2021, quando
ele já era réu por homicídio – o caso ainda aguarda julgamento –, a empresa
assinou três apólices para proteger suas plantações de soja e milho na região
contra eventos climáticos como secas ou geadas.
Além de Mettifogo, outros quatro fazendeiros
tiveram lavouras seguradas pela Swiss Re em coordenadas geográficas que estão
dentro da Terra Indígena Dourados-Amambaipeguá I. São apólices contratadas com
o auxílio de subvenção pública, em que o governo brasileiro paga parte do prêmio,
conferindo um desconto no valor final do serviço ao produtor. Por isso, as
informações de contrato são públicas, incluindo as coordenadas geográficas das
propriedades seguradas.
“Nossa terra indígena está na mão dos fazendeiros,
e eles ainda querem receber seguro agrícola?”, revolta-se Simão.
Segundo um estudo recente publicado pelo portal De
Olho nos Ruralistas, pelo menos 225 fazendas estão registradas em nome de proprietários particulares dentro
de Dourados Amambaipeguá I, a maioria produzindo soja, milho e cana – o que faz
deste o território tradicional mais invadido do país.
O processo de demarcação da Terra Indígena até hoje
não foi concluído. Por isso, segundo o Procurador da República Marco Antônio
Delfino de Almeida, do Ministério Público Federal em Dourados (MS), não há
impedimento legal para a concessão de seguro a fazendeiros dentro da área.
“Mas assegurar plantios em áreas conflituosas não é
coerente com padrões legislativos e corporativos internacionais, especialmente
em empresas instituições que se comprometem a cumprir a Convenção 169 e a
seguir princípios de Environmental, Social and Corporate
Governance (ESG)”, observa.
Em sua política de sustentabilidade, a Swiss Re garante “não apoiar
negócios que impactem negativamente as comunidades locais e os direitos de
grupos específicos de pessoas, como o direito de consentimento livre e
esclarecido para os povos indígenas”. Mas, em nota enviada à Repórter Brasil,
a empresa não comentou o caso. Disse apenas que “permanece totalmente
comprometida com suas ambições e metas na área de sustentabilidade”. A íntegra
pode ser lida aqui.
Já o advogado que representa Mettifogo disse,
através de uma mensagem no WhatsApp, que seu cliente “não tem nada a dizer”.
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Crise climática
Aos seus investidores, a Swiss Re ressalta o compromisso ambiental como um de seus atrativos.
Segundo seu relatório de sustentabilidade de 2022, uma das ambições
para o período até 2025 é avançar na transição para um quadro de neutralidade
de emissões de gases de efeito estufa – meta que a empresa planeja atingir em
2050.
Apesar disso, está segurando negócios que estão
ligados à principal contribuição brasileira para o aquecimento global: o
desmatamento – em 2021, as emissões brutas por desmatamento no Brasil superaram o total de emissões de um país como o Japão, segundo
cálculos do Observatório do Clima. Ao todo, a Repórter Brasil localizou 19
contratos feitos com três propriedades embargadas pelo Ibama por desmatamento
ilegal.
Dados do governo federal mostram que na primeira
década de funcionamento do programa de subsídios públicos ao seguro, 30% dos
sinistros ocorridos em apólices subvencionadas foram causados pela seca e 8%
por chuvas excessivas – dois fatores que podem ser acentuados pelas mudanças
climáticas.
“O agronegócio ajuda a provocar mudanças climáticas
quando produz sobre áreas desmatadas. Mas, à medida que fica mais arriscado
plantar em alguns lugares, há maior demanda por seguro rural – que, no Brasil,
é subsidiado pelo governo. Ou seja, os fazendeiros lucram com o desmatamento e
depois socializam o prejuízo, todo mundo paga para eles”, critica Paulo
Barreto, pesquisador associado do Instituto do Homem e Meio Ambiente da
Amazônia (Imazon).
Uma dessas fazendas é a Manto Verde, da família
Kumasaka, que está sobreposta a duas unidades de conservação federais – a Área de Proteção Ambiental (APA) Serra Da Tabatinga e
o Parque Nacional das Nascentes do Rio Parnaíba. Ela está
localizada em uma das regiões onde o desmatamento mais avança no Brasil, o
Matopiba, nome dado à divisa entre os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e
Bahia.
Entre 2016 e 2021, a Swiss Re assinou 17 contratos
com os Kumasaka para garantir eventuais perdas em suas lavouras de soja na
Manto Verde. Neste mesmo período, a Fazenda Manto Verde foi alvo de diversas
fiscalizações ambientais que renderam R$ 15 milhões em multas, e levaram ao
embargo de 2,4 mil hectares da propriedade onde foram identificados desmates e
plantios sem autorização – quase a totalidade da área disponível para plantio
na fazenda.
O advogado dos Kumasaka, Edson Vieira Araujo, disse
que os embargos “foram fruto de uma briga institucional entre os órgãos
ambientais” e que a fazenda estaria em processo de regularização (leia a
íntegra das respostas aqui). Em maio,
uma decisão judicial suspendeu os embargos. Mas eles estavam válidos quando os
contratos com a Swiss Re foram assinados.
A legislação brasileira proíbe o cultivo de lavouras em áreas sob embargo, de modo a
garantir a regeneração da vegetação nativa. A Repórter Brasil perguntou à Swiss
Re se o perímetro segurado pela empresa dentro da Fazenda Manto Verde incluía
áreas embargadas, mas a empresa não respondeu.
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Amazônia e Cerrado em risco
O caso da Manto Verde não é isolado. Em 2020, a
Swiss Re fechou negócio com o agricultor Edvair José Manzan para segurar uma
plantação de 547 hectares de soja na Fazenda São Francisco, em Peixe, no estado
do Tocantins. Desde novembro de 2018, um embargo do Ibama já recaia sobre a
propriedade, onde o órgão identificou o desmate ilegal de 92 hectares de
Cerrado. O embargo permanecia válido quando o contrato foi assinado.
Dados recentes do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe) revelam que o desmatamento no Cerrado aumentou em 21% nos
primeiros seis meses do ano – e três quartos dessa destruição ocorreram no Matopiba, onde há um boom de lavouras.
Manzan admite o desmate: “na época, meu pai abriu
um pouco mais do que é permitido e configurou desmatamento”, disse à
reportagem, mas assegurou que mantém preservada uma área de mata equivalente a
35% da fazenda. “Somente a área considerada pela autuação do Ibama está
embargada, o restante da fazenda está totalmente dentro da lei. Portanto, a
empresa segurou uma área de plantio legalizada”, completou. A íntegra
pode ser lida aqui.
Também em 2020, o pecuarista Jefferson Luiz
Bazanella assinou um contrato com a Swiss Re para segurar 27 cabeças de gado na
Fazenda Queda Livre, em Novo Progresso, no Pará – mas parte dessa fazenda havia
sido embargada seis anos antes, quando uma fiscalização do Ibama identificou o
desmate ilegal de floresta amazônica na fazenda e em uma propriedade vizinha,
que pertence a um familiar de Bazanella. Assim como nos demais casos
mencionados nesta reportagem, esse embargo também estava em vigor o momento da
assinatura do contrato.
A pecuária é o principal vetor de desmatamento da Amazônia –
área verde que representa um terço das florestas tropicais do mundo, razão pela qual
sua preservação é considerada central para que o planeta atinja as metas do
Acordo de Paris. Bazanella não respondeu às tentativas de contato, mas o espaço
permanece aberto para sua manifestação.
Em suas políticas de sustentabilidade voltadas ao Brasil, a Swiss Re
afirma apoiar “o reflorestamento da Mata Atlântica”, mas não há no documento
publicado em 2023 qualquer menção à Amazônia ou ao Cerrado. A empresa também
afirma colocar em prática princípios de “devida diligência” para casos
sensíveis do ponto de vista socioambiental.
Mas, em sua manifestação enviada à redação, não
comentou esse ponto, nem os casos levantados pela reportagem. A íntegra da nota
da empresa pode ser lida aqui.
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Seguro e trabalho escravo
Ainda em 2020, a Swiss Re também segurou uma
plantação de café do produtor Fuad Felipe em São Tomás de Aquino, Minas Gerais.
A assinatura do contrato ocorreu dois meses após uma fiscalização do governo
federal constatar que o produtor mantinha 39 trabalhadores rurais em condições
análogas à escravidão na colheita do produto em outra de suas propriedades.
Entre os resgatados, havia três adolescentes de apenas 14 anos de idade.
A Swiss Re é uma das multinacionais sujeitas ao UK
Modern Slavery Act, legislação do Reino Unido que se aplica a qualquer empresa
com receita anual no país superior a £36 milhões. Ela determina que tais
empresas devem adotar medidas para identificar, prevenir e mitigar a escravidão
moderna em suas operações e redes de negócios, além de publicar uma declaração
anual para relatar essas ações.
Felipe já era cliente da seguradora desde pelo
menos 2017. E, em 2021 e 2022, o cafeicultor voltou a contratar seguros da
Swiss Re, desta vez para o cultivo de soja na mesma Fazenda Bom Jardim onde os
trabalhadores foram resgatados em 2020.
Fuad Felipe não respondeu às nossas tentativas de
contato, mas o espaço permanece aberto para suas manifestações.
Em sua declaração anual relativa ao ano de 2020 –
mesmo ano do resgate na fazenda Bom Jardim – a Swiss Re informou que sua
“estrutura de risco empresarial sustentável especifica critérios que podem
levar a excluir uma empresa de nossas transações de seguros, resseguros ou
investimentos”, entre eles violações dos direitos humanos, trabalho forçado e
escravidão. Mas a empresa não comentou o caso específico. Disse apenas que “ao
avaliar uma possível transação, utiliza informações disponíveis para garantir
que ela atenda aos critérios ambientais, sociais e de governança” e que seus
processos e análises estão em constante atualização.
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Responsabilidade do governo
Segundo uma norma publicada em junho de 2022 pela Superintendência de Seguros
Privados – a autarquia federal que gere o mercado de seguros no país – a
responsabilidade de verificar se a apólice de seguro está dentro dos parâmetros
socioambientais esperados é da seguradora. Mas todos os contratos analisados
nesta reportagem foram pagos, em parte, com dinheiro público do Programa de
Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR) do governo federal. Apenas 17 entre
as 115 empresas que operam seguros no país podem participar.
Em 2022, o governo federal investiu R$ 1 bilhão no
PSR, o que significou 7,4% dos valores negociados em seguros rurais no país. O
valor previsto para o PSR no orçamento de 2023 é ligeiramente maior, R$ 1,06
bilhão. O programa existe há 18 anos e, entre 2015 e 2021, o número de apólices
subvencionadas saltou de 39,8 mil para 212,9 mil.
O Ministério da Agricultura e Pecuária audita 1% do
total de apólices de seguro rural subsidiados para fazer um pente fino nas
informações contidas na apólice. Estas propriedades também são fiscalizadas in
loco. Mas isso tem sido insuficiente para evitar contratos em áreas ilegais.
“No Brasil, hoje existem ferramentas para evitar
essa sobreposição [seguro em área embargada]”, lembra Barreto, do Imazon. Ele
aponta o uso de sistemas imagens de satélite e os dados públicos do Cadastro
Ambiental Rural, que permitem obter informação integral sobre o perímetro de
uma fazenda e das áreas protegidas em seu interior. “Dá para analisar 100% dos
contratos, não é preciso fazer uma amostragem”, completa. Neste ano, o Banco
Nacional Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), começou a bloquear a concessão de crédito rural após análise
remota de conformidade ambiental com base em critérios semelhantes.
Em nota, o Mapa informou que um sistema de
monitoramento “está em fase de testes” e que não tinha conhecimento dos casos
mencionados pela reportagem. A íntegra
pode ser lida aqui. “O sistema vai cruzar a área informada na apólice com seis critérios e
vai negar subvenção para áreas embargadas, terras indígenas, unidades de
conservação, sítios arqueológicos, territórios remanescentes de comunidades
quilombolas e propriedades com registro de trabalho escravo”, ilustra Jônatas
Pulquério, diretor do departamento de Gestão de Riscos do Mapa.
Em sua página na internet, a Swiss Re se apresenta como
“uma das principais fornecedoras mundiais de resseguros, seguros e outras
formas de transferência de riscos” e diz que seu trabalho visa “tornar o mundo
mais resiliente”. Presente em 25 países, a receita líquida da empresa nos seis
primeiros meses de 2023 foi de 1,4 bilhão de dólares, o equivalente ao resultado do ano
inteiro de 2021.
Fonte: Reporter Brasil
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