sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Minerais, poder e eleições: quais os interesses por trás da demanda territorial dos EUA no Ártico?

Os EUA anunciaram unilateralmente novas reivindicações territoriais na região do Ártico, Atlântico e Caribe, abrindo uma nova frente de conflitos com vizinhos marítimos. Em véspera de ano eleitoral, os EUA podem estar usando o Ártico para ofuscar recentes derrotas da política externa de Joe Biden.

No dia 22 de dezembro, os EUA reivindicaram território maior do que o estado do Mato Grosso no espaço marítimo nas regiões do Ártico, Atlântico e Caribe, informou documento oficial publicado pelo Departamento de Estado do país.

Washington declarou unilateralmente a expansão de sua plataforma continental no equivalente a um milhão de quilômetros quadrados, principalmente nas regiões do Ártico e mar de Bering, reportou a Bloomberg.

As novas reivindicações territoriais podem gerar desavenças com vizinhos norte-americanos no Atlântico Norte, indicou o pesquisador sênior do The Arctic Institute e pesquisador na Escola Superior de Economia de Moscou, Pavel Devyatkin.

"As demandas potencialmente se sobrepõem às reivindicações do Canadá e do Japão. Os EUA precisarão estabelecer fronteiras marítimas com estes países no futuro", disse Devyatkin à Sputnik Brasil.

No entanto, autoridades russas reagiram com surpresa às reivindicações norte-americanas. O chefe do Comitê Estatal do parlamento russo, a Duma, Nikolai Kharitonov, acredita que elas poderão aumentar as tensões na região do Ártico.

"A expansão unilateral das fronteiras no Ártico é inaceitável e só pode levar ao aumento da tensão. É necessário, antes de tudo, provar a identidade geológica desses territórios, como a Rússia fez [para embasar as suas reivindicações na região]", disse Kharitonov.

Para o deputado russo, as demandas dos EUA deveriam ser analisadas por comitê especializado da Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, também chamada de Convenção de Montego Bay. A Comissão das Nações Unidas sobre os Limites da Plataforma Continental, vinculada à Convenção de Montego Bay, é reconhecida internacionalmente pela sua expertise e já regulou diversas demandas territoriais marítimas, inclusive feitas pelo Brasil.

Os EUA, porém, nunca ratificaram a Convenção de Montego Bay, por isso não está claro qual órgão internacional poderá avaliar as demandas territoriais feitas por Washington.

"Ao contrário das demandas da Rússia, as reivindicações dos EUA não foram submetidas à Comissão das Nações Unidas sobre os Limites da Plataforma Continental, mas sim realizadas unilateralmente", explicou Devyatkin. "Os EUA ainda poderiam apresentar os seus dados sobre os limites da plataforma continental dos EUA à Comissão ou na qualidade de Estado não parte, ou após uma eventual adesão à Convenção de Montego Bay."

O especialista nota que ambas as soluções estão citadas no documento do Departamento de Estado dos EUA e que a administração do presidente norte-americano Joe Biden já declarou interesse em aderir à Convenção de Montego Bay.

A adesão ao órgão da ONU pode ser vantajosa diante dos enormes recursos minerais e energéticos existentes na plataforma continental requisitada pelos EUA. Segundo estimativa de pesquisa geológica conduzida pelo governo norte-americano, as reservas de petróleo no território poderiam representar até 13% das reservas mundiais e as de gás, até 30%.

"O anúncio mostra a importância econômica do Ártico para os EUA. A área indicada contém um fundo marinho rico em minerais importantes e metais de terras-raras", notou Devyatkin.

•        De olho nas eleições?

As circunstâncias do anúncio norte-americano – publicado no fim do ano, às vésperas do início da campanha presidencial de 2024 – pegaram analistas de surpresa.

Para o analista do Finam Financial Group, Nikolai Dudchenko, Washington estaria em busca de boas notícias na área de política externa tanto para suas elites, quanto para o seu eleitorado, reportou a Sputnik.

"EUA estão certamente interessados em obter o controle deste território, o que reforçará a sua posição no mercado energético", disse Dudchenko. "Esta é mais uma vantagem adicional para as elites políticas às vésperas das eleições do próximo ano."

De acordo com o professor de Relações Internacionais e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Pedro Costa Júnior, a política externa do governo Biden amarga três derrotas importantes e, de fato, precisa de boas notícias para o seu eleitorado em 2024.

"Em 2023, os EUA travaram três guerras concomitantes: a primeira é pelo poder global, contra a China [...], a segunda contra a Rússia no território ucraniano e [...] a terceira no Oriente Médio, ao lado de Israel, na promoção do massacre em Gaza", disse Costa Júnior à Sputnik Brasil.

A guerra contra a China seria de longa duração, travada no espaço geoeconômico, geopolítico e cultural, contando com apoio interno de ambos os partidos norte-americanos.

"Neste embate estrutural contra a China, os EUA vêm perdendo espaço. Vemos que sete economias que mais crescerão em 2023 estão no Sul Global, especialmente na Eurásia: a Índia é a economia que mais crescerá, seguida pela China", disse Costa Júnior.

No front ucraniano as coisas tampouco vão bem para a administração Biden. A crescente aversão da opinião pública ao financiamento do conflito leva à crescente popularidade de ideias isolacionistas, personificadas na figura do candidato republicano à presidência Donald Trump.

A ação militar de Israel na Faixa de Gaza veio para complicar um ano de já bastante desgaste para a diplomacia dos EUA. O apoio incondicional dos EUA ao seu aliado no Oriente Médio é cada vez mais questionado pelos próprios eleitores do Partido Democrata. No âmbito internacional, os EUA estão praticamente isolados em votações sobre o conflito nas Nações Unidas.

"A política externa de Biden tem sido uma tragédia [...]. Na guerra contra a China, a trajetória dos EUA é de derrota, e nesse ano não foi diferente. Na guerra contra a Rússia vemos uma derrota militar, enquanto a guerra do Oriente Médio dá um grande golpe no poder brando norte-americano", declarou Costa Júnior. "O rei está nu."

 

       Aliados dos EUA mostram pouco entusiasmo pela operação anti-houthis no mar Vermelho, diz mídia

 

Os parceiros de Washington não estão totalmente de acordo com sua liderança em relação à missão marítima para responder militarmente ao grupo militante, escreve a Reuters.

A nova força marítima, proposta por Joe Biden para responder aos ataques de houthis no mar Vermelho, enfrenta dificuldades de reunir participantes, relata na quinta-feira (28) a agência britânica Reuters.

O Pentágono afirma que a força, chamada Operação Prosperity Guardian, é uma coalizão defensiva de mais de 20 países para garantir que o comércio possa fluir livremente através do mar Vermelho, um estreito ponto de passagem vital para a navegação mundial. A UE sinalizou o seu apoio à força-tarefa marítima com uma declaração conjunta que condenava os ataques houthis. No entanto, apenas foram anunciados os nomes de 12 Estados participantes.

Assim, quase metade desses países se recusou a falar de sua contribuição ou permitiu que os EUA o fizessem. As contribuições podem variar, desde o envio de navios de guerra até o simples envio de um oficial da equipe. A Itália e a Espanha, dois dos aliados europeus dos Estados Unidos que foram listados como participantes, emitiram declarações que parecem se distanciar da força marítima.

O Ministério da Defesa da Itália disse que enviaria um navio para o mar Vermelho atendendo a pedidos de proprietários de navios italianos e não como parte da operação dos EUA. A França explicou que apoia os esforços para garantir a liberdade de navegação no mar Vermelho, mas que seus navios permaneceriam sob o comando francês.

Enquanto isso, a Espanha afirmou que não participará da Operação Prosperity Guardian, e que se opõe a uma missão antipirataria existente na UE, a Atalanta, para proteger a navegação no mar Vermelho. No entanto, o primeiro-ministro Pedro Sánchez afirmou na quarta-feira (28) poder considerar a criação de uma missão diferente para enfrentar a questão.

"Os governos europeus estão muito preocupados com a possibilidade de que parte de seu eleitorado potencial se volte contra eles", explicou David Hernández, professor de relações internacionais da Universidade Complutense de Madri, Espanha, e notou que o público europeu está cada vez mais crítico em relação a Israel e desconfiado de ser arrastado para um conflito.

Já a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos declararam que não participariam da missão.

A relutância de alguns aliados dos EUA em participarem da ação reflete, em parte, as fissuras criadas pelo conflito em Gaza, com o presidente dos EUA mantendo um apoio firme a Israel, mesmo com o crescimento das críticas internacionais sobre sua ofensiva, que, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, já matou mais de 21.000 palestinos. No mesmo período, perderam a vida cerca de 1.400 israelenses.

 

       Kim Jong-un ordena preparativos militares contra 'medidas de confronto' dos EUA

 

O líder norte-coreano, Kim Jong-un, emitiu ordem direta ao setor militar de seu país para acelerar os preparativos militares em resposta às "medidas de confronto" sem precedentes dos Estados Unidos.

A Agência Central de Notícias da Coreia (KCNA, na sigla em inglês) reportou que ele instruiu os militares, a indústria de armas e o setor de armas nucleares a serem intensificados.

Anteriormente, a agência havia informado que a vice-chefe do departamento do Comitê Central do Partido dos Trabalhadores da Coreia, Kim Yo Jong, condenou veementemente as "provocações" americanas e de seus aliados na Península Coreana.

Ela acusou essas ações de representarem ameaças à paz e à estabilidade na região e apelou ao Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e à comunidade internacional para condenarem tais atos.

A situação na península tornou-se cada vez mais volátil nos últimos meses, com as trocas de acusações entre os países.

 

       Rússia reabre embaixada em Burkina Faso: 'Fortalecimento da cooperação mútua', diz MRE russo

 

Nesta quinta-feira (28), o Ministério das Relações Exteriores da Rússia anunciou a abertura de sua embaixada no país da África Ocidental.

A Embaixada da Rússia em Burkina Faso foi inaugurada e contribuirá para fortalecer a amizade e a cooperação mutuamente benéfica entre os dois países, disse a chancelaria russa.

A cerimônia oficial de abertura da embaixada foi realizada na capital burquinense, Ouagadougou. Moscou volta a ter uma representação no país após um intervalo de cerca de 30 anos.

"Esperamos que o início do funcionamento da missão diplomática russa em Burkina Faso contribua para aumentar a coordenação da política externa, bem como para fortalecer ainda mais a amizade e a cooperação mutuamente benéfica entre os nossos dois países", afirmou o ministério em um comunicado.

Em outubro, Ouagadougou assinou um acordo com Moscou para a construção de uma central nuclear, para elevar o fornecimento de energia ao país do Sahel, onde menos de um quarto da população tem acesso à eletricidade.

A Rússia também enviou trigo russo gratuito para Burkina Faso na semana passada, cumprindo sua meta de doar até 200 mil toneladas de trigo a países da África, conforme noticiado.

 

Fonte: Sputnik Brasil

 

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