Javier Milei faz 1º discurso como presidente
da Argentina
O presidente eleito da Argentina, Javier
Milei, realizou, nesta tarde de domingo (10), o seu 1º discurso no cargo mais
alto do país. Ele quebrou o protocolo e falou do lado de fora do Congresso,
diferentemente da sua vice, Victoria Villarruel, que discursou dentro do órgão
legislativo.
Em frente à escadaria do parlamento, e com a
presença de seus eleitores e autoridades, Milei passou boa parte do discurso
criticando a herança deixada pelos seus antecessores, e reforçando a
necessidade de cortes nos gastos públicos.
Ele encerrou o seu discurso gritando o seu
slogan famoso: "Viva la libertad, carajo". O termo 'carajo' é menos pesado na Argentina que no
Brasil; ENTENDA.
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky,
e Jair Bolsonaro estiveram na posse. O presidente Lula não foi, mas o Brasil
foi representado pelo chanceler Mauro Vieira.
➡️Herança
"Nestes dias muito se falou sobre a
herança que vamos receber. Que fique claro: nenhum governo recebeu uma situação
pior do que estamos recebendo", disse Milei.
"O kirchnerismo, que em seu início
dizia que tinha superávit fiscal e externo, nos deixa déficits que representam
17% do PIB”, acrescentou.
"Os argentinos, de forma contundente,
expressaram uma vontade de mudança que já não tem retorno. Não há retorno. Hoje
enterramos décadas de fracassos e disputas sem sentido. Brigas que só
conseguiram destruir o nosso país e nos deixar na ruína. Hoje começa uma nova
era na Argentina, de paz e prosperidade".
Milei também mencionou a elevada inflação do
país. "Vamos lutar contra unhas e dentes para erradicá-la".
➡️Ajuste fiscal
Milei disse que "a solução" para a
herança deixada por governos anteriores "implica, por um lado, um ajuste
fiscal (...) que, diferentemente do passado, cairá sobre o Estado e não sobre o
setor privado".
"Tenho que deixar claro que não há
alternativa ao ajuste fiscal", ressaltou.
"Do ponto de vista teórico, se um país
carece de reputação, os empresários não investirão até que venha um
ajuste".
Segundo ele, para fazer políticas
gradualistas seria necessário realizar financiamentos. "E lamentavelmente
tenho que dizer: No hay plata".
"Sabemos que a curto prazo a situação
vai piorar, mas depois veremos os frutos do nosso esforço".
E acrescentou: "Não será fácil: 100
anos de fracasso não se desfazem num dia, mas um dia começam e hoje é esse
dia”.
➡️Infraestrutura
O presidente relembrou a população em
situação de pobreza, os problemas no desempenho dos alunos argentinos na
educação e a situação de emergência na infraestrutura "só 16% das estradas
estão asfaltadas e 11% estão em bom estado", declarou o presidente.
"A situação da Argentina é crítica e de emergência", afirmou.
Ø
Milei quebra protocolo, não fala ao Congresso
O libertário Javier Milei (La Libertad
Avanza) assumiu a presidência da Argentina neste domingo (10). Milei quebrou o
protocolo de posse e fez seu primeiro discurso como presidente a apoiadores,
das escadarias do Congresso, ao invés de falar primeiro no interior da Casa
Legislativa.
Dirigindo-se aos seus apoiadores em frente
ao Congresso, Milei disse que este é o dia no qual foram enterradas décadas de
fracasso e disputas que arruinaram o país.
“Hoje começa uma nova era na Argentina. Uma
era de paz e prosperidade. Uma era de crescimento e desenvolvimento. Uma era de
liberdade e progresso”, disse Milei durante o discurso de posse.
O novo presidente da Argentina retomou a
história do país em discurso e enfatizou o papel do movimento intelectual
liberal argentino conhecido como “Geração de 37” e as bases da Constituição
proposta por eles.
Segundo Milei, “a nossa liderança decidiu
abandonar o modelo que nos tornou ricos e abraçar as ideias empobrecedoras de
coletivismo”.
Para o presidente eleito, os políticos
argentinos teriam abraçado um modelo que não serviu a população e propiciou a
pobreza.
Milei comparou a ruptura gerada pela sua
eleição ao impacto que a queda do Muro de Berlim teve para o mundo.
“Nenhum governo recebeu pior herança do que
a que recebemos agora”, diz Milei.
·
“Não há alternativa possível ao ajuste”
O líder libertário também revisou mais uma
vez as políticas que aplicará a partir de agora para “reorganizar a economia”.
“Não há alternativa ao ajuste, não há
alternativa ao choque”, disse Milei depois de garantir que na Argentina “não há
dinheiro”.
“Infelizmente, isto terá impacto na
atividade econômica, na pobreza e nos salários”, admitiu. Ele também reconheceu
que terá início uma cerimônia de estagflação, mas deve dizer que “não é
diferente do que vivemos hoje”.
“O único ajuste possível é possível; um
ajuste ordenado”, acrescentou.
·
“100 anos de fracassos não podem ser desfeitos num dia”
Milei também comentou sobre os ajustes que
pretende para a economia. “Não há dinheiro. Não podemos nos endividar, não
podemos emitir e não podemos continuar sufocando o setor privado com impostos.
Não há alternativa se não o choque”, disse o novo presidente.
“A sensível proposta progressista nos
levaria a uma hiperinflação à maneira da Venezuela de Maduro e Chávez”, afirmou
Milei, diferenciando-se da experiência venezuelana. “Em termos de segurança, a
Argentina tornou-se um banho de sangue”, acrescentou.
Apesar da perspectiva negativa, o novo
presidente expressou que a Argentina “exige ação e ação imediata. Não vai ser
fácil. 100 anos de fracassos não podem ser desfeitos num dia. Mas um dia começa
e esse dia é hoje”.
Milei reforça que esse caminho será o de uma
sociedade que incluirá menos Estado. “O nosso projeto não é um projeto de
poder, é um projeto de país. Não pedimos acompanhamento cego, mas não vamos
tolerar a hipocrisia e a ambição de poder interferindo na mudança desejada
pelos argentinos”, disse Milei.
“Aqueles que quiserem utilizar da violência
ou da extorsão para obstaculizar a mudança, para vocês digo que encontrarão um
presidente de grandes convicções. Que utilizará todo o aparato estatal para
conseguir as mudanças necessárias em nosso país. Estamos certos de que a
liberdade é a única forma em que poderemos sair do poço em que nos colocaram.”
Ø
Na posse, Milei escreve 'carajo' em livro do Congresso; entenda por que
palavra é menos pesada na Argentina
O presidente da Argentina, Javier Milei,
registrou seu slogan político “viva la libertad, carajo” (viva a liberdade,
caralho) no livro de presença do Congresso Nacional, durante sua cerimônia de
posse neste domingo (10).
Ele termina muitas falas dele com essa frase
e já usa até mesmo como sigla (VLLC) em tuítes. “Viva la libertad, carajo”
também aparece em camisetas e há diversos perfis em redes sociais com esse
lema.
Embora, no dicionário, a palavra espanhola
carajo tenha o mesmo sentido de palavra muito parecida em português, na
Argentina, o termo não tem o mesmo peso obsceno que no Brasil.
Já houve outros momentos em que a palavra
foi usada por políticos: em um discurso famoso de Hugo Chávez, da Venezuela, em
Mar del Plata, na Argentina, em 2005, ele sinalizou que rejeitava a proposta de
bloco comercial da Alca dizendo "Alca al carajo".
·
O palavrão perdeu a carga de obscenidade
Heloisa Pezza Cintrão, professora de
tradução espanhol-português no curso de letras da USP, diz que de fato
"carajo" é uma palavra relacionada ao órgão sexual masculino.
"Carajo, dicionarizado, se refere ao pênis; é esse o significado. É o
mesmo da palavra em português, esse não é um falso cognato", diz ela.
No entanto, a professora afirma que algumas
palavras, de tanto usadas, se esvaziam do sentido. "Eu duvido que eles (os
argentinos) tenham perdido a noção do que 'carajo' significa, mas a palavra
deixou de ter peso de obscenidade", diz ela.
Romilda Mochiuti, professora da Unicamp,
afirma que "carajo" é um marcador de discurso no espanhol falado na
Argentina. "Os marcadores de discurso estabelecem relação que se tem com o
uso dos vocábulos, e a carga semântica vai se diluindo com o tempo, o peso
pejorativo negativo se perde e passa a ter só um peso enfático. Essa é a função
do 'carajo': enfatizar uma expressão", afirma ela.
Ela diz que há outros exemplos parecidos em
outros países de lingua espanhola. Na Espanha, a palavra "coño", que
originalmente é o órgão sexual feminino, é empregada também como um marcador de
discurso -- no caso, para salietar algo, como em "que coño es eso?",
que significa algo como "que coisa é essa".
Em entrevistas ao g1, as duas
professoras citaram a palavra em português "caramba", que é uma
espécie de substituta da palavra original para momentos em que o emprego do
termo original é inapropriado. No Argentina, essa troca não aconteceu,
"carajo" simplesmente perdeu uma parte de sua carga.
A palavra aparece em jornais e até em
transmissões na TV.
·
Não é de bom tom para um presidente
As duas professoras afirmam que
"carajo" não tem a mesma carga na Argentina do que no Brasil, mas
que, ainda assim, é uma palavra que não pertenceria ao discurso político. Milei
a emprega de propósito, elas afirmam.
"'Carajo' não é de bom tom em certos
contextos e, no discurso, é um apelo às emoções e às simplificações", diz
Cintrão, da USP.
O presidente usa muito o termo porque ele
quer se mostrar como alguém que desafia os protocolos, é antissistema e, na
teoria, pertence ao povo.
"A ideia é criar uma identificação
popular, ele quer sinalizar que não tem frescuras. Ou seja, é uma forma de
construção de imagem", afirma ela.
A professora Romilda Mochiuti vai na mesma
linha: a intenção por trás do uso é criar empatia com o público. "Ele
constrói a imagem de alguém que desafia os protocolos", diz ela.
Fonte: g1/CNN Brasil
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