terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Em Esplanada (BA), jovens quilombolas produzem cerveja artesanal do mel

A Associação dos Jovens Remanescentes Quilombolas da Bahia (Ajarquiba),  localizada na comunidade Quilombola de Piaçava, zona rural de Esplanada, traz como novidade para a região a produção da cerveja feita com o mel. O sabor da produção é  totalmente inovador e busca ampliar o mercado do mel na região, com sabor que agrada a vários públicos, desde aos que gostam de drinks ao vinho.

O responsável técnico do projeto de Apicultura e Meliponicultura da Ajarquiba e gestor do Empório Ajarquiba, Elicio Neves, diz que a associação desenvolveu um mecanismo de pesquisa de mercado observando as tendências e potencial de cada produto. A cerveja produzida com base no mel é o vigésimo terceiro produto da loja física, criada em 2021. 

Elcio Neves fala que o mel gera novas oportunidades de empreender na região. Para o gerente, a apicultura fortalece os produtores com inovação e há muitas opções de produtos para serem desenvolvidos e comercializados.

“Nosso trabalho tem contribuído com o desenvolvimento da comunidade e de famílias que vêm sendo sustentada pelos produtos derivados das abelhas. As vendas acontecem em feiras, na nossa loja física, clientes ativos em lojas de produtos naturais em Salvador e região metropolitana. Agora entrando no e-commerce para vender mais para todo Brasil”, destaca Elicio Neves.

O responsável pela fabricação da cerveja foi o Dan Moraes, consultor gastronômico e sommelier de cerveja, que ressalta que a associação foi a primeira comunidade quilombola da Bahia a desenvolver uma cerveja produzida à base do mel. “Fiquei encantado com a história e com os produtos, inclusive a base de mel. E a gente teve essa ideia em conjunto e fiquei muito feliz e honrado de estar participando da produção, de conseguir produzir para eles a primeira cerveja quilombola baiana”.

Para o gastrônomo, a discussão do que ia produzir juntamente com a Ajarquiba partiu de uma busca por fazer um produto que não estivesse no mercado pela região. “Ao discutir a ideia, pensei que então ela vai ser uma cerveja mais frisante, que vai ter aquelas bolinhas parecendo espumante, bem leve e refrescante, com um toque de mel, a nível de acidez do próprio mel também. É uma complexidade vinda desse produto de floradas da Mata Atlântica, que é simplesmente sensacional”.

“Como comercialização, acho que é um produto que tem a cara da Bahia, que demonstra muito a nossa regionalidade. É um mercado amplo, porque atinge tanto o público cervejeiro que gosta de cerveja, quanto as pessoas que gostam de mel. Ela tem esse perfil para atrair a galera que curte coquetelaria, drinks, porque ela tem toques de acidez, é bem equilibrada, fácil de beber e a galera que gosta de um espumante, e vinho também vai curtir. Eu tenho bons olhos para cerveja”, complementa o sommelier.

·        Impacto do clima

Juscelso Silva Moreira,  apicultor da região de Ribeirão do Largo, atua no ramo desde 1996 e faz parte da Associação de Apicultores de Ribeirão do Largo que conta hoje com 22 associados. O apicultor ressalta a importância do mel para a região para os pequenos agricultores, mas que atualmente há uma crise na produção. 

“A produção de mel tem um papel importante no desenvolvimento econômico de Ribeirão do Largo principalmente de pequenos agricultores, mas o cenário da apicultura atravessa uma crise enorme em todo sudoeste da Bahia devido a questão climática que vem afetando os produtores de mel em nossa região”, comenta Juscelso. Para o produtor, é esperado para o futuro que haja melhores condições climáticas para que a região volte a produzir uma maior quantidade de mel. 

Erenildo de Magalhães, presidente da Associação do Mel Apis VM (Várzea da Madeira), em Tanque Novo-BA, situado na Chapada Diamantina, também fala das dificuldades que enfrentaram esse ano na região. “Esse ano vivenciamos uma situação atípica e totalmente desfavorável à produção. Com uma seca severa, que comprometeu a produção apícola na região”.

“Além das dificuldades enfrentadas por conta da seca, que exige muito da experiência e uso de técnicas para amenizar os transtornos causados, na parte de comercialização  consideramos os processos de registro muito burocráticos, o que dificulta a licença para escutarmos a produção”, enfatiza o presidente.

 

Ø  Bahia busca criar ambiente de negócios mais simplificado

 

Com a Declaração de Direitos de Liberdade Econômica, instituída pela Lei Federal nº 13.874/2019, que garantiu o livre mercado e colocou o estado como agente normativo e regulador, as Juntas Comerciais do país têm lutado para criar um ambiente de negócios mais simplificado e menos burocrático para quem decide empreender. A Junta Comercial do Estado da Bahia (Juceb) tem implementado uma série de ações e projetos com o objetivo de mudar a dinâmica da legalização das empresas. Até abril de 2022, o estado ocupava a última posição no ranking Tempo Médio de Abertura de Empresas, publicado mensalmente pela Receita Federal, exigindo do empresário três dias e 17 horas para emitir um Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ).

“A Lei da Liberdade Econômica trouxe um novo olhar para a abertura e legalização das empresas no Brasil, em especial para as atividades econômicas consideradas de baixo risco (sanitário, ambiental e de incêndio), que agora passam a gozar de tratamento diferenciado e são dispensadas de ato público para o seu funcionamento (Lei Federal nº 13.874). Hoje, a Bahia é o segundo estado mais rápido do Brasil para se abrir uma empresa, com um tempo médio de apenas 9 horas, e vem mantendo esta posição há quatro meses. Um resultado jamais alcançado antes”, destaca a presidente da Juceb, Marise Chastinet.

Esta realidade, completa a dirigente, se tornou possível através do uso de tecnologia e ações de gestão, “que envolveram desde capacitação de pessoas até desenvolvimento de sistemas que permitem automatização de etapas e interação com os órgãos envolvidos na legalização de negócios, em especial as secretarias municipais, que passaram a dar tratamento diferenciado às empresas que atuam com atividades de baixo risco”, relata a presidente.

O processo 100% digital de registro de empresas é uma realidade em todo o estado desde março de 2023, não mais exigindo que os empresários se desloquem para protocolar um pedido de abertura, alteração ou baixa de seu negócio. “No entanto, ainda há muito o que evoluir. Novos projetos e sistemas estão sendo desenvolvidos, alguns com implantação ainda em 2023. Em dezembro próximo, uma parceria entre Juceb, Corpo de Bombeiros e Sebrae lançará o licenciamento simplificado de combate a incêndio, permitindo que empresas que atuam com atividades de baixo risco recebam do Corpo de Bombeiros seu documento de liberação de funcionamento de forma automática, logo após a abertura da empresa, documento este que, atualmente, se leva meses para conseguir”, destaca a presidente da Juceb.

Ainda de acordo com Marise Chastinet, a Juceb também vem trabalhando para, em 2024, se tornar uma Autoridade Registradora para a emissão de certificados digitais e-CNPJ de forma mais simples e barata, principalmente para emissão das notas fiscais. “A Junta Comercial da Bahia, de forma inovadora, já estuda o uso da inteligência artificial para auxiliar tantos os servidores quanto os clientes a realizarem o registro das empresas, e as primeiras entregas dessa tecnologia devem ocorrer no primeiro trimestre de 2024”, adianta a presidente.

Considerando o número de abertura de empresas, que vem crescendo exponencialmente, em 2022 foi registrado aumento de 12,07% em relação a 2021, com 39.451 novas empresas abertas, o maior quantitativo já registrado na história da Juceb, segundo dados da assessoria do órgão responsável pelo registro de atividades ligadas a sociedades empresariais do estado da Bahia. “O ano de 2023 deve ultrapassar o quantitativo de 2022, com 35.144 empresas abertas até outubro, o que significa um aumento de 5,12% em relação ao mesmo período de 2022, devendo alcançar um novo recorde até dezembro.

Logo, vemos que os baianos continuam buscando o empreendedorismo como forma de geração de renda e isso não deve mudar para 2024, que promete ser um ano com ainda mais empresas abertas”, avalia Marise Chastinet.

Em relação ao fechamento dos negócios, a presidente da Juceb afirma que o órgão está atento e, assim, lança neste mês de dezembro uma ferramenta de Business Inteligence (B.I), denominada Painel Empresarial, para disponibilizar dados que possibilitem o poder público e a sociedade civil observarem o movimento de abertura, alteração e fechamento das empresas na Bahia de forma mais dinâmica. “Teremos cruzamento de informações por municípios, contribuindo para a identificação das regiões e atividades econômicas que mais carecem de apoio para construir um desenvolvimento mais sustentável e seguro para o nascimento e crescimento das empresas”.

·        Por município

Até outubro de 2023, 35.144 foram registradas na Juceb como Sociedades Limitadas, Empresários Individuais, Sociedades Anônimas e Cooperativas, dentre outras, sendo Salvador o município que mais abriu empresas: 8.135, seguido de Feira de Santana, com 2.043 empresas registradas; Vitória da Conquista, com 1.225. Até o mesmo período, a Juceb contabilizou 33.855 empresas fechadas. O setor com maior número de empresas extintas foi o Comércio, com um total de 15.130. Para o fechamento definitivo de uma empresa, é necessário o arquivamento na Junta Comercial do ato de extinção/distrato, serviço normalmente prestado por um contador ou advogado contratado.

Com o isolamento social imposto pela pandemia do coronavírus, a contratação de profissionais ficou prejudicada, fazendo com que as empresas fechassem as portas sem realizar a devida baixa na Junta Comercial. Por esta razão, em relação aos dados oficiais, o quantitativo de extinções no período da crise sanitária mundial tem se mostrado inferiores aos dos anos seguintes. Enquanto em 2020 o total de extinções foi de 20.399, no ano seguinte se registrou 22.862. Em 2022, esse total subiu para 24.097. Em 2023 esse número já atinge 33.847 extinções, demonstrando que a regularização dessas extinções da pandemia vem ocorrendo ao longo dos anos, de acordo com a análise da Juceb.

 

 

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