Os ataques mortais que lançam luz sobre crescente número de sem-teto nos
EUA
Uma série de ataques mortais contra pessoas
sem-teto nos Estados
Unidos coincidiu com um aumento no tamanho da população
de rua no país.
Autoridades americanas divulgaram um relatório em
dezembro mostrando que o número de pessoas
sem-teto aumentou cerca de 12% desde 2022.
Os novos dados surgem após a recente prisão de um
homem acusado de ser assassino em série de pessoas sem-teto em Los Angeles.
Em outro caso, um homem da Califórnia compareceu ao
tribunal na semana passada para responder à acusação de homicídio culposo, após
supostamente filmar a si mesmo atirando em um sem-teto que dormia.
A pesquisa anual Point In Time, realizada em uma
única noite de janeiro deste ano, encontrou 653.104 pessoas em situação de rua
no país.
O Departamento de Habitação e Desenvolvimento
Urbano afirma que este é o maior número de pessoas nessa situação desde que a
contagem começou, em 2007.
Pessoas sem-teto, autoridades e ativistas disseram
à BBC News que esta recente onda de ataques mortais mostra os riscos do aumento
da população vulnerável.
“Os recentes assassinatos de pessoas sem-teto,
muitas que estavam dormindo, são um lembrete cruel de que esta é uma questão de
vida ou morte que deve ser enfrentada com urgência”, afirma Jeff Olivet,
diretor do Conselho Interinstitucional dos Estados Unidos para os Sem-Teto.
Os entrevistados dizem que um ambiente político que
estigmatiza os sem-teto, a habitação inadequada e a violência de gangues
contribuem para criar um mundo perigoso para essas pessoas.
Os ataques estão acontecendo com regularidade e,
muitas vezes, sem qualquer sinal prévio.
“Fui agredido quando estava nas ruas, sem teto”,
conta Keith Jones, que atualmente está hospedado no Union Rescue Mission, um
abrigo no bairro de Skid
Row, em Los Angeles.
"Acordei machucado, sem saber quem me
atacou."
·
Como foram os ataques recentes
Segundo a polícia, nos dias seguintes ao Dia de
Ação de Graças, um homem acusado de ser um serial killer percorreu
as ruas de Los Angeles em um carro atirando nos moradores de rua que encontrou.
Ele também é acusado de matar outro homem durante
um assalto a uma casa.
O suspeito, Jerrid Joseph Powell, de 33 anos, foi
preso e acusado de homicídio.
Powell ainda não se declarou culpado ou inocente,
mas a violência da qual ele é acusado não é algo isolado, dizem entrevistados.
“Esta violência acontece todos os dias, fora da
nossa visão”, afirma Margot Kushel, diretora da Iniciativa Benioff para
Desabrigados e Habitação da Universidade da Califórnia em São Francisco.
Houve também um ataque a tiros em um acampamento de
pessoas sem-teto em Las Vegas em 1º de dezembro, quando uma pessoa morreu e
três ficaram feridas.
A morte de Jordan Neely em Nova York, em maio,
causou grandes protestos.
O homem em situação de rua morreu depois que um
ex-fuzileiro naval, Daniel Penny, o estrangulou após Neely começar a gritar no
trem do metrô.
Penny se declarou inocente da acusação de homicídio
culposo.
·
Alta taxa de homicídios
Quase um quarto das vítimas de homicídios em Los
Angeles no ano de 2022 eram desabrigadas, de acordo com o Departamento de
Polícia local.
Pessoas sem-teto são 1,2% da população da cidade.
Kushel alerta que é difícil rastrear com precisão
todos os homicídios e mortes de pessoas sem-teto, porque é difícil saber a
situação de moradia de uma pessoa a partir de certidões de óbito.
Por isso e por outros fatores, ela acredita que os
números sejam muito maiores do que os registrados.
No relatório divulgado em meados de dezembro, não
há dados sobre as mortes de pessoas sem-teto, mas as autoridades americanas
afirmam que pessoas nessa situação vivem, em média, menos do que aquelas que
têm habitação adequada.
Pessoas sem-teto também enfrentam riscos maiores em
situações violentas e não fatais, de acordo com uma pesquisa de 2023 realizada
pela Iniciativa Benioff para Desabrigados e Habitação.
Cerca de 38% dos sem-teto entrevistados afirmaram
já ter sofrido violência física ou sexual.
Quase metade não conhecia os seus agressores, e
parte dessa violência veio de pessoas que não eram sem-teto, segundo a
pesquisa.
Os moradores de rua entrevistados relacionaram isso
“ao estigma da falta de moradia”.
Os perigos para as pessoas desabrigadas crescem à
medida que essa população aumenta, dizem especialistas.
“As pessoas sem-teto são colocadas em ambientes
densos, como Skid Row e acampamentos por toda Los Angeles”, aponta o reverendo
Andy Bales, presidente da instituição de caridade cristã para os sem-teto Union
Rescue Mission.
“Quanto mais pessoas ficam presas na situação de
rua e são colocadas juntas, mais tensão, mais violência.”
·
Bilhões de dólares, poucas soluções
Funcionários do governo federal no setor de habitação
apontaram como fatores para o aumento da população de rua o término de
subsídios do período da pandemia, o aumento do preço dos aluguéis e a oferta de
imóveis aquém da demanda.
Estados como a Califórnia já destinaram milhões de
dólares para programas de habitação e estão planejando mais investimentos.
“A crise dos sem-teto no Estado foi configurada há
décadas”, disse o governador Gavon Newsom em outubro.
Jones, que está tentando encontrar moradia
permanente em Los Angeles, conta que há muitos serviços de saúde mental,
reabilitação e abrigo oferecidos, mas as pessoas desabrigadas muitas vezes não
têm conhecimento deles.
Ele espera que uma maior conscientização e diálogo
possam ajudar a manter as pessoas seguras.
“Eu encorajo a todos: se você vir um sem-teto sendo
abusado ou agredido, há muitos números para os quais você pode ligar”, diz ele.
"Alguém pode ajudar."
Ø 'Êxodo da
pobreza': milhares de imigrantes se juntam à nova marcha para entrar nos EUA
Uma extensa caravana de migrantes da América
Central e do Sul partiu do México em direção à fronteira dos Estados Unidos.
Até 8 mil pessoas de todas as idades,
principalmente da Venezuela, Cuba e México, fazem parte da procissão — eles
levam uma faixa na qual está escrito "Êxodo da Pobreza".
O movimento acontece dias antes da chegada do
secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, à Cidade do México —
ele quer chegar a novos acordos
para controlar a migração.
O número de pessoas detidas na fronteira dos EUA
com o México ultrapassou
2 milhões tanto nos anos fiscais de 2022 como de 2023.
Só em setembro deste ano, foram mais de 200 mil
migrantes, segundo o governo americano.
A caravana da véspera de Natal partiu da cidade de
Tapachula, no sul do México, perto da fronteira sul do país com a Guatemala.
Um migrante hondurenho que se juntou à procissão
disse estar fugindo de uma gangue criminosa que ameaçava matá-lo.
"Fiquei com medo, então decidi vir para o
México na esperança de poder ir para os EUA", afirmou José Santos à
agência de notícias Reuters.
Na sexta-feira (22/12), o presidente do México,
Andrés Manuel López Obrador, disse querer colaborar novamente com os EUA para
resolver as preocupações sobre a migração.
O líder mexicano deve se reunir com o secretário de
Estado dos EUA nesta quarta-feira (27/12).
A Casa Branca disse, em um comunicado, que Blinken
discutiria a "migração irregular sem precedentes" na região e
identificaria formas de os dois países "enfrentarem os desafios de
segurança fronteiriça".
Fonte: BBC News Mundo
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