terça-feira, 26 de setembro de 2023

Rosa Weber defende liberdade de imprensa

A ministra Rosa Weber, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), defendeu nesta segunda-feira a prática do “jornalismo independente, livre e profissional” como ferramenta de combate à desinformação e aos discursos de ódio.

A ministra falou durante a abertura do seminário “Liberdade de Imprensa: onde estamos, para onde vamos”, realizado pelo CNJ.

— A liberdade de imprensa constitui pressuposto basilar da democracia. O jornalismo independente, livre e profissional é o maior e melhor aliado no combate à desinformação, ao discurso de ódio e à intolerância – disse a ministra.

Em seu discurso no evento, a magistrada lembrou que em 2009 o plenário do Supremo, ao declarar a não-recepção da antiga Lei de Imprensa, estabeleceu parâmetros amplos de orientação quanto ao conteúdo e a extensão das liberdades de expressão e de imprensa.

— Extrai-se daquele julgamento, como diretriz para os setores público e privado, que o direito de emitir opinião crítica sem risco de represália integra o núcleo essencial do direito à liberdade de imprensa — apontou Rosa.

Para a ministra, contudo, a proteção constitucional não se destina apenas às ideias tidas como “certas ou adequadas”, mas a multiplicidade de opiniões e pontos de vista.

— A Constituição protege o juízo crítico sobre a narrativa de fatos, ainda quando ele não traduza a melhor interpretação dos acontecimentos narrados. Assegurada a livre circulação de diferentes ideias, opiniões e pontos de vista, a exposição ao contraditório é o método por excelência encarregado, em uma democracia, de refutar afirmações falsas e teses inverídicas, incapazes que são de resistir, no livre mercado das ideias, ao confronto com fatos verificados e bons argumentos — defendeu.

Ainda segundo a presidente do STF, que encerra o seu mandato ainda esta semana, não há respostas simples para enfrentar a escala, o alcance e a frequência da propagação de desinformação nas redes de comunicação, especialmente contra a imprensa e os agentes de verificação da veracidade das notícias.

— Esse tema traduz um dos grandes desafios das democracias modernas, especialmente nos países ameaçadas cotidianamente pela ascensão dos discursos autoritários e do pensamento fundamentalista. Enfrentá-los requer esforços coordenados e permanentes — disse.

Temas como censura prévia, sigilo da fonte, indenizações, punibilidade de ataques a jornalistas, desinformação e inteligência artificial, litigância predatória, entre outros, são assuntos que deverão ser debatidos durante o encontro. A ação também conta com o apoio institucional da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).

<><> Para Rosa Weber, fake news são grande desafio contemporâneo

A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), ministra Rosa Weber, afirmou nesta segunda-feira (25) que o combate à desinformação virtual representa um dos “maiores desafios” de países democráticos, e que as ações demandam esforços “coordenados e permanentes”.

Para Rosa, a internet foi ocupada por “agentes do ódio” determinados a, entre outras coisas, “manipular o pensamento individual e coletivo de modo a desacreditar as instituições políticas”.

A declaração foi feita na abertura do seminário “Liberdade de imprensa: onde estamos, para onde vamos”, organizado pelo CNJ em parceria com a Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert).

Em sua fala, a ministra avaliou que o combate à desinformação tem ocupado o centro do debate político global, em especial de países que, segundo ela, têm enfrentado ameaças extremistas e fundamentalistas.

Segundo Rosa, uma “estratégia de combate eficiente” depende de uma compreensão dos “mecanismos pelos quais a disseminação de informação opera”.

“Não há resposta simples para enfrentar a escala e o alcance da frequência da propagação de desinformação nas redes de comunicação. Esse tema traduz um dos grandes desafios das democracias modernas, especialmente nos países ameaçados cotidianamente pela ascensão de discursos autoritários e fundamentalistas. Enfrentá-los requer esforços coordenados e permanentes”, disse.

A ministra, que deixa o STF no próximo dia 2, defendeu que a disseminação deliberada – ou seja, de propósito – de conteúdo inverídico é um “abuso essencialmente fraudulento à liberdade de expressão”, e que deve sofrer repressão do Estado.

“Não se pode ter como lícito, em uma democracia constitucional, ameaçar, tramar, incitar ou induzir outros a tais atos. Os que assim procedem se expõem à justa e legítima repressão do Estado, que age em nome da sociedade. A Constituição Federal e os instrumentos internacionais comportam, como restrições legítimas à liberdade de expressão, a vedação de discursos direcionados a manipular grupos vulneráveis”, declarou.

No evento, Rosa Weber também defendeu a liberdade de imprensa e o jornalismo profissional que, de acordo com ela, são “alvos constantes” dos discursos de ódio nas redes sociais.

“A liberdade de imprensa constitui pressuposto basilar da democracia. Um jornalismo independente, livre e profissional é o maior e o melhor aliado no combate à desinformação, ao discurso de ódio e à intolerância. Sem um Poder Judiciário isento e independente e sem imprensa livre não há democracia constitucional”, disse.

A ministra do STF afirmou, ainda, que a Constituição protege juízos críticos e que é preciso defender a liberdade de expressão de afirmações “eventualmente equivocadas”.

“A exposição ao contraditório é o método, por excelência encarregado em uma democracia, de refutar informações falsas e teses inverídicas,incapazes que são de resistir no livre mercado de ideias. […] Proteger o debate livre implica necessariamente proteger afirmações eventualmente equivocadas”, disse.

Presidente da Abert, Flávio Lara Resende afirmou que, embora sejam direitos assegurados na Constituição, as liberdades de imprensa e expressão ainda precisam de uma “vigilância constante”.

Segundo ele, nos últimos anos, intimidações, ações violentas e a disseminação de fake news foram utilizadas como mecanismos para “descredibilizar” a imprensa e o jornalismo profissional no país.

“Tais ações intimidatórias jamais serão o caminho para o aprimoramento da nossa sociedade, da liberdade de expressão e do Estado Democrático de Direito”, afirmou Lara Resende.

Ainda no evento, o corregedor nacional de Justiça, ministro Luis Felipe Salomão, apresentou um levantamento das ações julgadas pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) contra plataformas digitais.

Segundo ele, entre 2016 e 2023, 78% das decisões do Tribunal trataram da moderação de conteúdos ilícitos em redes sociais. A maior parte dos casos analisados tinha como origem o Facebook (Meta) e o Google.

Salomão afirmou que em 82% dos casos analisados as plataformas somente retiraram o material após serem acionados judicialmente. 4% dos materiais analisados foram retirados antes de uma ordem jurídica.

Para o ministro, isso significa que as empresas “não fazem o dever de casa”.

A retirada de conteúdo antes de decisão judicial está no centro do debate do julgamento do STF sobre o marco civil da internet e no PL das Fake News, que está parado na Câmara dos Deputados.

Em vigor desde 2014, o marco civil da internet funciona como uma espécie de Constituição para o uso da rede no Brasil.

Segundo o texto, os provedores só podem ser responsabilizados quando, após ordem judicial, não removerem o conteúdo.

Duas ações no STF questionam o mecanismo. O julgamento dos casos chegou a ser marcado em maio, mas acabou adiado e ainda não retornou à pauta.

Na última versão do projeto que cria mecanismos de combate às fake news, a proposta estabelece o chamado “dever de cuidado”, no qual os provedores precisam atuar de forma “diligente” para prevenir ou mitigar conteúdos ilícitos veiculados nas plataformas.

 

       Toffoli sai em defesa de Aras

 

O ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), afirmou nesta segunda-feira (25) que o país esteve perto de uma ruptura democrática e que o Brasil talvez não estivesse em uma democracia não fosse a “força do silêncio” do procurador-geral da República, Augusto Aras.

“Não fosse a responsabilidade, a paciência, a discrição e a força de seu silêncio, Augusto Aras, talvez nós não estivéssemos aqui. Nós não teríamos talvez democracia”, disse Toffoli.

A declaração foi dada em cerimônia do CNMP (Conselho Nacional do Ministério Público) em que Aras concedeu medalhas da Ordem Nacional do Mérito do Ministério Público a diversas autoridades —entre elas, Toffoli, o ministro do STF Luiz Fux e o secretário da Casa Civil do Distrito Federal, Gustavo Rocha.

Durante o discurso, Toffoli comparou a gestão de Aras à frente da PGR (Procuradoria-Geral da República) com uma parábola bíblica que trata da graça divina.

“A graça nesse país foi ter nesses quatro anos Antônio Augusto Brandão de Aras à frente do Ministério Público. Esse cabeça branca, como a gente brinca, com responsabilidade”, disse.

“Faço essas referências porque são coisas [que serão] contadas mais à frente da história. Porque poucas pessoas sabem, mas estivemos bem próximos da ruptura. E na ruptura não tem Ministério Público, não tem direitos, não tem a graça. A graça é ser amigo do rei”, completou o ministro.

Crítico à Lava Jato e responsável pelos últimos reveses à força-tarefa, Toffoli ainda disse que o Ministério Público deve dar efetividade a direito e não a “abusos, ódios, intolerância e destruição de instituições”.

“É o exemplo desse Ministério Público que defende as instituições e a democracia e que não as destrói. E não as usa como um alpinismo para outros interesses. O Ministério Público que dá a graça do senhor da vinha igual para todos”, concluiu Toffoli, citando novamente a parábola bíblica.

A cerimônia de elogios foi a última presidida por Aras após quatro anos à frente da PGR e do CNMP. Ele deixará o comando das instituições nesta terça-feira (26). O presidente Lula (PT) ainda não definiu quem será o sucessor.

Em seu discurso, Aras não comentou sobre sua sucessão e disse que faria um balanço de seu mandato mais tarde, durante sua última sessão ordinária do CNMP.

O procurador, porém, afirmou que o Ministério Público Federal é hoje uma instituição “muito mais madura, mais ciosa de suas responsabilidades” do que na época em que a Constituição Federal foi promulgada, em 1988.

“Saibamos nos inspirar naqueles que nos guiaram até esse momento da nossa história e construíram o caminho que hoje trilhamos e construímos para aqueles que nos sucederão”, disse.

Aras foi criticado durante sua gestão sob a acusação de ser omisso nas investigações que miravam o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) —responsável pela sua indicação e recondução mesmo fora das listas tríplices formadas pela categoria do Ministério Público.

Numa tentativa de se cacifar para uma recondução na PGR já sob Lula, Aras fez publicações em redes sociais em que se distanciava da gestão Bolsonaro. Em vídeos, ele defendia sua gestão no exame da conduta de governantes quanto ao enfrentamento à Covid-19 e também na área do meio ambiente.

Nas publicações, Aras encampava ainda o discurso de que o órgão foi diligente na fiscalização de atos administrativos e gastos públicos destinados ao combate da pandemia. Cita situações como a crise da falta de oxigênio em hospitais de Manaus.

 

       Padilha diz que Lula ainda não escolheu PGR

 

O ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou nesta segunda-feira que o presidente Lula está “em seu processo de decisão” sobre a escolha do nome que vai substituir Augusto Aras no comando da Procuradoria-Geral da República. Padilha destacou ainda que o presidente está “conversando muito com interlocutores”. Aras deixará o posto nesta terça-feira.

— Eu defendi muito ao presidente que ele não tem que ter qualquer tipo de exigência em relação a esse calendário de definição desse nome. Ele tem o tempo dele para definir, o presidente gosta de entrevistas as pessoas, tem conversado muito com interlocutores sobre isso, está no seu processo de decisão. Sempre lembrando: não basta correr porque depois o senado vai fazer a sabatina. Não é a primeira vez que o brasil teve uma situação de interinidade.

Como mostrou o GLOBO, em seus últimos dias como procurador-geral da República, Augusto Aras se dedicou a fazer um desagravo a si mesmo. Compartilhou com amigos uma lista de feitos na PGR, lançou um livro sobre como a sua gestão “salvou vidas” na pandemia e, em sua sessão de despedida no Supremo Tribunal Federal (STF), declarou ter sido vítima de “incompreensões e falsas narrativas”.

O discurso revela incômodo com avaliações de sua trajetória por parte da opinião pública. Desde que assumiu o cargo, acumulou críticas pelo alinhamento e a leniência com o ex-presidente Jair Bolsonaro, principalmente pela gestão da crise da Covid-19, bem como a proximidade com políticos do Centrão.

Lula pretende emplacar outro nome no posto, mas o entorno do presidente não esconde o plano de escolher um PGR com perfil semelhante ao de Aras — alguém que evite a “criminalização da política” e seja “antilavajatista”.

Como o GLOBO mostrou, a concorrência interna para tentar influenciar o presidente Lula nas escolhas para as vagas na PGR e no STF ampliou o clima de disputa no governo. As fissuras cresceram na última semana, especialmente com o retorno da discussão sobre a divisão do Ministério da Justiça, caso Flávio Dino seja escolhido para assumir a vaga de Rosa Weber na Corte.

 

Fonte: O Globo/FolhaPress

 

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