terça-feira, 26 de setembro de 2023

Estados e prefeituras ocultam gastos de R$ 5,4 bi em emendas Pix, diz jornal

Prefeituras e estados deixaram de informar como aplicaram 94% dos recursos recebidos nos últimos três anos via “emendas Pix”, modalidade em que o dinheiro público é enviado por parlamentares a seus redutos eleitorais sem precisar passar pelos ministérios. Levantamento feito pelo GLOBO mostra que, dos R$ 6 bilhões repassados de 2020 a 2022, apenas R$ 400 milhões tiveram seu destino justificado ao governo federal — o uso de R$ 5,4 bilhões segue sendo um mistério. A omissão contraria uma orientação do Tribunal de Contas da União (TCU), que, embora tenha transferido aos tribunais locais a responsabilidade de fiscalizar a verba, recomenda a prefeitos e governadores que enviem relatórios atualizados sobre como estão gastando esses recursos da União.

Uma decisão tomada pelo TCU em março deste ano indicou que todos os beneficiados com esse tipo de emenda parlamentar devem prestar contas da aplicação do dinheiro por meio do sistema Transfere Gov, do Ministério da Gestão. Caso haja omissão na apresentação desses dados, a Corte de Contas poderá abrir a chamada “tomada de contas especial”, uma espécie de auditoria extraordinária na contabilidade dessas prefeituras ou governos estaduais. Seis meses após a decisão, entretanto, o tribunal ainda não definiu critérios, como os prazos e os dados que devem ser apresentados.

•        Governo Rui Costa maior beneficiário

Quem mais recebeu recursos via emendas Pix no período foi o governo da Bahia, comandado até o ano passado pelo atual ministro da Casa Civil, Rui Costa. Ao todo, foram R$ 91 milhões repassados aos cofres estaduais, mas apenas R$ 22 milhões tiveram sua destinação justificada. Nos relatórios enviados pela administração local, consta que o dinheiro bancou, por exemplo, a aquisição de duas estações retransmissoras para a TV digital do estado, por R$ 7 milhões.

Um estudo divulgado pela Transparência Brasil em julho deste ano revelou que há uma concentração de repasses pela modalidade a cidades de pequeno porte, com até 10 mil habitantes. Juntas, elas receberam 25% do total alocado por parlamentares em repasses especiais. Ainda de acordo com a entidade, a transferência da fiscalização para os estados torna o problema ainda maior nessas localidades, onde costuma haver baixo rigor nos processos de prestação de contas.

Esse é o caso, por exemplo, da cidade de São Luiz, em Roraima. Com uma população de 7,3 mil, de acordo com o Censo, recebeu R$ 41 milhões em emendas Pix entre 2020 e 2022, mas não justificou como gastou nenhum centavo sequer. No último dia 12, o prefeito do município, James Batista, foi cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral sob a acusação de distribuir cestas básicas, dinheiro e viagens durante sua campanha à reeleição. Ainda cabe recurso contra a decisão.

A mesma São Luiz ficou famosa no ano passado após contratar o cantor Gusttavo Lima por R$ 800 mil. O Ministério Público abriu investigação sobre o show, que foi cancelado por ordem da Justiça. Ao GLOBO, Batista disse desconhecer que a cidade não incluiu os relatórios de gestão no sistema do governo federal. Segundo ele, o valor foi investido em moradia, pavimentação e saneamento básico. Oprefeito também disse já ter explicado ao Ministério Público de onde sairia o dinheiro para o show de Gusttavo Lima. A respeito da destinação dada pelo governo baiano, tanto Rui Costa quanto a atual gestão foram contatados e não se manifestaram.

Para a diretora-executiva da Transparência Brasil, Juliana Sakai, a dinâmica das emendas Pix remete à mesma falta de controle que era observada no caso do orçamento secreto, em que recursos eram repassados a municípios sem identificar o autor da emenda.

— Nas emendas de relator (base do orçamento secreto), a gente não conseguia identificar quem eram os parlamentares que estavam indicando. Agora, a gente sabe quem são esses políticos, mas não para onde o dinheiro está indo — resumiu Juliana Sakai.

O orçamento secreto foi extinto por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF) no fim do ano passado. Além da falta de transparência sobre os autores, os recursos eram divididos de maneira desigual entre os parlamentares, servindo como instrumento para o Executivo manejar apoios políticos.

— A gente sabe que o nível de prestação de contas nos municípios é muito inferior, então é necessário ter regras que determinem como esse processo tem que ser feito e que as informações sejam colocadas em dados abertos para que a gente possa fazer o controle disso — afirmou a executiva.

Chamadas oficialmente de “transferências especiais”, as emendas Pix foram criadas pelo Congresso em 2020 sob a justificativa de reduzir burocracias na hora de parlamentares destinarem recursos federais a aliados. Na prática, elas funcionam, de fato, como uma transferência bancária. Por exemplo: para uma prefeitura conseguir verba pública do governo federal, em geral precisa assinar um convênio com um ministério, que contenha um plano de trabalho definido, com objetivos e metas, além de contrapartidas. Cidades que descumprem essas regras ficam impossibilitadas de receber recursos. Isso não se aplica,contudo, às emendas Pix.

No caso delas, deputados e senadores indicam os beneficiados, e o dinheiro apenas cai na conta de prefeituras e governos, que gastam como julgarem conveniente, desde que não seja para pagar salários ou dívidas.

Mas nem mesmo essa regra tem sido cumprida. Um relatório da Controladoria-Geral da União (CGU) de dezembro de 2022 já apontava para os problemas na transparência desses gastos. De uma amostra de 15 transferências, o órgão de controle encontrou casos em que os valores foram usados para pagar salários de servidores, o que é proibido no caso desse tipo de emenda.

Apesar de diminuir as burocracias, a CGU destacou que a Constituição determina a prestação de contas para qualquer entidade que utilize verbas públicas. “Nessa tentativa de fazer uma redistribuição de recursos mais célere, algumas previsões fundamentais foram relegadas. Entre elas, a obrigação expressa de demonstrar a aplicação dos recursos repassados por meio de transferências especiais”, apontou a CGU.

•        O que é emenda Pix

As chamadas "transferências especiais", conhecidas como emendas Pix, foram estabelecidas pelo Congresso em 2020 com o propósito de simplificar os procedimentos burocráticos que envolvem a alocação de recursos federais por parte de parlamentares em benefício de seus apoiadores.

As emendas Pix operam como transferências bancárias diretas. Normalmente, para que uma prefeitura obtenha financiamento público do governo federal é necessário firmar um convênio com um ministério.

Esse trâmite deve incluir um plano de trabalho detalhado, com metas, objetivos e, em alguns casos, contrapartidas. Municípios que não cumprem essas exigências podem ser impedidos de receber recursos. No entanto, essa mesma condição não se aplica às emendas Pix.

No caso das emendas Pix, deputados e senadores indicam os destinatários, e os recursos são diretamente transferidos para as prefeituras e governos, que têm a liberdade de utilizá-los conforme considerarem apropriado, desde que não seja para quitar salários ou dívidas.

 

       Elio Gaspari: Municípios disputam royalties do petróleo, o grande negócio que Rockefeller não viu

 

No próximo dia 4 de outubro, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) julgará um embargo de declaração que envolve a disputa dos municípios de São Gonçalo, Magé e Guapimirim pela partilha dos royalties do petróleo.

Embargos de declaração e partilhas de royalties são assuntos complicados, com “linhas de projeção ortogonais”, “trânsitos em julgado” e “áreas geoeconômicas”. Esse litígio, contudo, expõe a barafunda jurídica instalada no país e os bons negócios que ela permite.

São Gonçalo, Magé e Guapimirim estão dentro da Baía da Guanabara e querem ser reconhecidos como parte da Zona de Produção Principal. Assim, tomada como referência a produção de 2022, receberiam R$ 610 milhões por trimestre. (A partilha varia de acordo com a produção.) Como o dinheiro sai de uma só cumbuca, municípios que ficam diante do mar aberto, como o Rio de Janeiro e Niterói, perderiam com a revisão dos percentuais da partilha.

Em julho de 2022, os três municípios conseguiram uma liminar do Tribunal Regional Federal de Brasília, assegurando-lhe o benefício. A prefeitura de Niterói foi à luta e obteve do Superior Tribunal de Justiça a suspensão da medida. Durante os dois meses em que vigorou a canetada, perdeu R$ 311,5 milhões.

Na decisão que revogou a liminar, a ministra Maria Thereza de Assis Moura registrou que, segundo a prefeitura de Niterói, a nova partilha drenaria, só em 2022, “aproximadamente, R$ 1 bilhão, o que corresponderia a quase um quarto do orçamento do município para o corrente exercício, fixado em R$ 4,3 bilhões.”

Até aí, se assim tivesse que ser, que fosse, mas a ministra foi ao ponto: “A questão, é perfeitamente resolvível em momento posterior, em ação própria, na qual se discutirá a eventual indenização, caso a sentença de primeiro grau seja confirmada pelas instâncias superiores e transite em julgado sem a sua reforma ou cassação.”

Em abril passado, por unanimidade, a Corte Especial do STJ manteve a decisão da ministra. Entrou em campo o embargo de declaração. Se no dia 4 de outubro ele for negado, a bola volta para o TRF de Brasília. Se for concedido, o dinheiro da partilha fica congelado até que o mesmo tribunal resolva o litígio.

O caso parece uma disputa de municípios por recursos. Há mais. Litigando pelos três municípios está a Associação Núcleo Universitário de Pesquisas, Estudos e Consultorias — Nupec, entidade sem tradição universitária ou fins lucrativos.

Ela contrata diversos escritórios de advocacia com fins lucrativos. Um deles intitula-se Djaci Falcão Advogados. O ministro Djaci Falcão presidiu o STF e morreu em 2012. Quem está na banca é seu neto, filho de um ex-ministro do STJ.

Como quem trabalha de graça é relógio, os doutores contratam seus serviços com uma cláusula de êxito que lhes dá, durante três anos, 20% sobre o valor que os municípios venham a receber com a nova partilha. Só com o breve efeito da liminar cassada, São Gonçalo empenhou R$ 43,9 milhões e Guapimirim, R$ 24,4 milhões. O valor empenhado por Magé, possivelmente gira em torno de R$ 40 milhões.

John D. Rockefeller (1839-1937), o primeiro bilionário do petróleo, ensinou que “o melhor negócio do mundo é uma empresa de petróleo bem administrada, e o segundo melhor negócio é uma empresa de petróleo mal administrada.”

Rockefeller era um predador, mas trabalhava todo dia. Não conhecendo os segredos das partilhas de royalties e os labirintos da Justiça brasileira, deixou de ver um negócio ainda melhor: um litígio contra a ANP e o IBGE.

A Petrobras rala para tirar o petróleo do fundo do mar, os prefeitos (mal ou bem) ralam para administrar os municípios e a turma do litígio fica com 20% por três anos.

 

       Focus: projeção de crescimento do PIB melhora e estimativa de inflação segue igual

 

A projeção de crescimento econômico do Brasil para este ano melhorou, avalia a pesquisa semanal Focus, publicada nesta segunda-feira, 25, pelo Banco Central. A nova mediana das previsões na pesquisa é de que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça 2,92% em 2023. Até então, a taxa esperada era de 2,89%.

As expectativas do mercado em torno do desempenho econômico do país têm melhorado ao longo dos últimos meses, depois dos resultados do PIB nos dois primeiros trimestres do ano. Já o prognóstico para 2024 permanece inalterado, em expansão de 1,50%.

As estimativas de inflação de 2023 e 2024 também não mudaram, permanecendo em 4,86% e 3,86%, respectivamente. Também seguem as apostas para o patamar de juros do fim deste ano e do próximo, com o mercado avaliando a Selic em 11,75% e 9,00% na conclusão de cada período.

Outro ponto é que a inflação de 2025 e 2026 continuou sendo calculada em 3,50%. Os economistas consultados pela Focus também seguem projetando as taxas de câmbio de R$ 4,95 e R$ 5 por dólar ao fim de 2023 e 2024, respectivamente.

•        Haddad diz que governo criou metas fiscais ambiciosas, mas está "tranquilo"

O governo estipulou metas ambiciosas para o arcabouço fiscal para poder controlar os gastos rapidamente, mas está "tranquilo" e acredita que atingirá os objetivos almejados, disse o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, nesta segunda-feira, 25.

Falando a jornalistas após palestra em evento da Fundação Getulio Vargas (FGV), Haddad disse ainda que o governo quer ver um segundo semestre tão "virtuoso" quanto foi a primeira metade deste ano, após crescimento surpreendentemente forte da economia nos dois primeiros trimestres.

Sobre os investimentos, o ministro disse ainda que o governo tem clareza de que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem o papel de alcançar lugares da economia em que os bancos comerciais não chegam.

No entanto, o ministro ponderou que é preciso encontrar um "ponto de equilíbrio" entre o público e o comercial, e afirmou que o país não tem interesse em subsidiar o que uma empresa pode conseguir levantar no mercado privado.

•        Haddad prega”muita esperança” na economia

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, listou nesta segunda-feira, 25, movimentações na geopolítica e vantagens naturais competitivas que permitem um futuro promissor ao Brasil. Durante fórum de economia da Fundação Getulio Vargas (FGV), o ministro, ao apontar a posição favorável do Brasil, citou o conflito comercial entre Estados Unidos e China, a guerra na Ucrânia e o “enorme endividamento” dos países em desenvolvimento, o que não é o caso do Brasil, que não tem dívida significativa em dólar. “O Brasil está em situação que permite ter muita esperança sobre o futuro”, declarou Haddad. Ele afirmou que o Brasil está chamando cada vez mais a atenção do mundo por ter superado crises externas com resiliência desde a crise financeira internacional de 2008. Mas não só por isso.

Haddad, ao lembrar que quase metade da matriz energética brasileira vem de fontes limpas, acrescentou que o País tem vantagens competitivas ambientais que podem servir de base a uma nova industrialização. Essa matriz energética renovável, disse, permite ao País dobrar a geração de energia limpa em até seis anos. “Temos condições para atrair investimentos em produtos verdes, que podem ser produzidos no Brasil”, destacou.

<><> Congresso surpreendeu no 1º semestre e expectativa é de que surpreenda novamente, diz Haddad

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta segunda-feira, 25, que gostaria de ver a agenda do Congresso Federal andar no segundo semestre na mesma velocidade em que ela se desenvolveu no na primeira metade do ano. Antes, porém, o ministro deixou claro que na agenda com o Congresso "a gente tem que respeitar o tempo do Congresso".

"Eu tenho elogiado o Congresso porque a pauta do primeiro semestre foi espetacular, para dizer o mínimo, o Congresso aprovou o marco fiscal, a reforma tributária e uma série de medidas se saneamento das finanças públicas e aprovou vários marcos regulatórios. Não foi pouco, não", disse Haddad, após ter participado no período da manhã do "18º Fórum de Economia", coordenado pelo Centro de Estudos do Novo Desenvolvimentismo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP).

"Agora, no segundo semestre a gente quer a mesma coisa. Estamos diálogo constante com as duas casas para que a agenda do segundo semestre seja tão virtuosa quanto no primeiro semestre porque quanto mais rápidos nós tomarmos estas medidas de reestruturação dos setores econômicos, mais rápido vamos colher os frutos destas medidas", disse Haddad, acrescentando que por estarmos em um ambiente democrático um poder tem que entender o ritmo do outro.

Haddad enfatizou que o Congresso surpreendeu favoravelmente no primeiro semestre e que não tem nenhuma razão para não repetir o primeiro semestre no segundo.

 

Fonte: Terra/Reuters/UOL/Agencia Estado/O Globo

 

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