Casas do Congresso se dividem sobre reforma eleitoral
A onze dias para que seja sancionada a tempo de
valer para as eleições municipais do ano que vem, a reforma eleitoral e a PEC
da Anista (que altera as cotas de mulheres e negros) acirraram novamente os
ânimos entre Câmara e Senado.
No início do ano, a polêmica envolvendo o rito de
tramitação das Medidas Provisórias (MPs), em que as duas Casas disputaram
protagonismo, deixou Arthur Lira e Rodrigo Pacheco por um tempo sem se falar.
Agora, o protagonismo da Câmara em ditar o rito das votações das duas casas
voltou a incomodar senadores e, inclusive, ameaça a reforma eleitoral.
Pacheco tem descartado fazer uma tramitação
relâmpago dos projetos eleitorais. em declaração recente, avisou que temas
complexos não podem ser votados de forma “açodada” sem permitir uma análise
aprofundada por parte dos senadores. Porém, os deputados têm pressa na
aprovação.
Diante do calendário apertado, presidentes dos partidos
têm pressionado para que as medidas sejam votadas nesta semana para seguirem à
sanção de Lula até a semana que vem. O senador Davi Alcolumbre (União-AP),
então, entrou em campo para tentar intermediar uma solução entre os dois
presidentes.
Isso porque se não forem sancionadas até 6 de
outubro, as mudanças na legislação eleitoral não poderão valer para 2024.
<><> MINIRREFORMA NO SENADO CORRE
CONTRA O TEMPO PARA SER VOTADA
Aprovado a toque de caixa na Câmara dos Deputados,
o projeto que prevê a minirreforma eleitoral corre contra o tempo para ser
apreciada no Senado. Até mesmo o senador Marcelo Castro (MDB-PI), relator do
código eleitoral e cotado para ser o relator da minirreforma eleitoral, vê com
“pessimismo” as chances da Casa Alta apreciar o texto dentro dos próximos 10
dias, a fim de que as regras possam valer já em 2024.
Marcelo Castro se reuniu com o presidente do
Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na última sexta-feira (22), e tratou ponto a
ponto os detalhes da minirreforma conforme sua visão. Como possível relator,
Castro deseja mudar o texto que veio da Câmara, mas o prazo é apertado.
Para que a minirreforma seja aplicada ao pleito do
ano que vem, ela precisaria ser aprovada na Comissão de Constiuição, Cidadania
e Justiça (CCJ), onde atualmente tramita, para então ser votada no Plenário do
Senado. Depois, ela ainda voltaria à Câmara para que as alterações sejam
aceitas pelos deputados. Por fim, o presidente da República teria que
sancioná-la até dia 6 de outubro. Diante do contexto, a expectativa do próprio
Pacheco não é otimista.
Só o fato de o texto da minirreforma não ter sido
apensado ao do novo código eleitoral ainda mantém alguma esperança de que a
proposta tramite de modo célere no Congresso Nacional.
Segundo Castro, foi ideia do presidente do Senado
apensar o texto aprovado na Câmara ao Código Eleitoral, em tramitação no Senado
com relatoria de Marcelo Castro. A união de ambos os textos, segundo o senador,
impedira por completo o avanço do processo.
POR QUE NÃO?
Castro avalia os prazos como exíguos, diante da
certeza de modificações na proposta ao tramitar no Senado.
“O que entendi da posição dele [Pacheco], que é a
minha também, é a gente não votar alguma coisa em detrimento da segurança do
conteúdo. Não vamos prejudicar o conteúdo em função do prazo que nós temos.
Mas, se nós pudermos votar, por que não?”, especulou o senador, que é a favor
da minirreforma. Castro considera que o texto vindo da Câmara aperfeiçoa o
sistema eleitoral, além de contemplar o próprio código relatado por ele.
CRÍTICAS E RETROCESSOS
O código eleitoral possui 898 artigos e foi
estudado por Marcelo Castro para que ele elaborasse um parecer que unifique e
consolide o novo código, que “não traz grandes inovações”. O texto do senador
propõe de fato algumas alterações que, segundo ele, estão contempladas no texto
referente à minirreforma que veio da Câmara.
A minirreforma altera o financiamento de
candidaturas femininas, a prestação de contas partidárias, a propaganda
eleitoral e questões de inelegibilidade, por exemplo. Os itens geraram polêmica
e manifestações contrárias ao avanço da pauta. O parecer do senador em relação
à minirreforma é que ela simplifica e desburocratiza o processo eleitoral, sem
qualquer retrocesso ou prejuízo ao sistema como um todo.
<><> Deputadas não se unem por cota
feminina na Câmara
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que livra
os partidos de punições por descumprir regras de participação de mulheres e
negros nas eleições, a PEC da Anista, deve ser votada amanhã na Câmara,
respaldada por declarações públicas de deputadas federais da esquerda à
direita. Além disso, 76% das parlamentares da Casa silenciaram sobre a possível
queda de participação feminina prevista no projeto, em um levantamento feito
pelo GLOBO.
O apoio à PEC já foi explicitado por nomes de
diferentes siglas, da presidente do PT e correligionária de Luiz Inácio Lula da
Silva, Gleisi Hoffmann (PR), à deputada Bia Kicis (PL-DF), aliada de Jair
Bolsonaro. Ambas se manifestaram a favor das mudanças nas regras para limitar
aplicações de sanções às legendas. Em um discurso, a petista chegou a pedir a
extinção a Justiça Eleitoral e recuou após a repercussão negativa.
A PEC da Anistia será analisada por uma comissão
especial e, na sequência, pelo plenário. Depois, vai para o Senado. Para valer
nas eleições municipais de 2024, precisa receber a chancela de ambas as Casas
antes de 6 de outubro.
O perdão aos partidos une legendas rivais, a
exemplo de outro projeto, a minirreforma eleitoral, já aprovada na Casa com
apoio de mais de 70% das deputadas que participaram da sessão. A minirreforma
também enfraquece o cumprimento da cota feminina, ao possibilitar que
federações sejam consideradas no cálculo, hoje restrito a cada sigla, e ao
permitir que recursos recebidos por candidatas possam bancar gastos de campanha
de homens em alguns casos.
Em relação à PEC da Anistia, poucas parlamentares
têm se manifestado publicamente. Em um levantamento feito pelo GLOBO, que
questionou durante duas semanas as 94 deputadas federais sobre o tipo de cota
feminina (cadeiras, candidaturas ou ambos) e o qual percentual elas defendem,
72 parlamentares não responderam. Nesse grupo, apenas seis deputadas
sinalizaram publicamente apoio à aprovação da PEC da Anistia, e outras oito
discursaram ou fizeram postagens nas redes sociais contra o texto debatido.
O relatório discutido na comissão especial da PEC
prevê a implementação de uma reserva inicial de 15% das cadeiras do Legislativo
nas três esferas (federal, estadual e municipal) destinada às mulheres. Esse
percentual passa a ser de 20% em 2026. Por outro lado, a proposta flexibiliza o
cumprimento da atual cota de candidaturas. Na prática, desobriga os partidos a
lançarem o mínimo de 30% de mulheres no pleito.
Já entre as 22 deputadas que responderam ao GLOBO,
14 defenderam tanto as cotas de cadeiras no Parlamento quanto a de candidaturas
com percentual mínimo maior que 15%, e duas indicaram apoiar o mesmo modelo,
mas com percentual de 15%. Outras cinco se disseram favoráveis à manutenção das
regras atuais, que preveem o preenchimento de 30% das candidaturas de mulheres
na disputa eleitoral. Uma parlamentar, Julia Zanatta (PL-SC), manifestou-se
contrariamente a qualquer cota
Apesar de ter defendido no levantamento a
coexistência de reservas de vagas e assentos com percentual acima de 15%, a
presidente nacional do Podemos, Renata Abreu (SP), já indicou que votará a
favor da PEC, assim como outras seis deputadas com a mesma posição.
Para pesquisadoras do tema, a PEC representa um
retrocesso, já que as deputadas eleitas em 2022 ocupam 17% das cadeiras e a
média nacional de mulheres nas Casas Legislativas também já supera os 15%.
— O texto me parece um recado dos homens: para que
mulheres entrem, eles têm de sair e, no que depender deles, não vai ocorrer —
diz Ligia Fabris, especialista em representação política de mulheres e
violência política de gênero.
A advogada eleitoral Luciana Nepomuceno caracteriza
a proposta como “canto da sereia” por aparentar um avanço que não se
concretiza:
— Se o partido tiver que apresentar dez candidatos,
ele pode lançar apenas sete homens e deixar três vagas em aberto. Para que
adianta a reserva de cadeiras, se o partido não precisa preencher
(candidaturas) com mulheres? — questiona.
No levantamento feito pelo GLOBO, 20 das 22
deputadas que responderam às perguntas concordaram com a afirmação de que o
fato de existir hoje uma maioria de homens no Congresso dificulta a aprovação
de um percentual maior que 15% para a reserva de cadeiras. Além disso, 12
elencaram o pouco acesso de mulheres a cargos de comando e de participação nos
partidos políticos como principal dificuldade para a entrada de candidatas no
Legislativo.
No campo da esquerda, a maioria do PT tende a
apoiar a proposta, embora nomes como o da deputada Benedita da Silva (RJ)
indicaram reprovar o texto. Já o PSOL tem se manifestado contra a PEC da
Anistia. Na comissão especial que analisa o projeto, Fernanda Melchionna (RS)
tem alertado que a reserva de cadeiras servirá como um “teto de vidro”,
limitando a participação das mulheres:
— Existe uma disputa principalmente com os homens
dos partidos conservadores e do Centrão, já que a chegada de mais mulheres
representará a perda de privilégios nas decisões sobre políticas públicas
brasileiras — diz a deputada.
A oposição à PEC não fica restrita à esquerda. A
deputada Eliane Braz (PSD-CE) defende a manutenção da cota de candidaturas:
— O estímulo à participação feminina por meio da
cota de gênero está previsto há 26 anos. Estamos em 2023 e muitos partidos
seguem insistentemente buscando jeitinhos para não cumprir a legislação.
Queremos avançar muito mais. Não aceitamos nenhum retrocesso.
Coordenadora do programa de Diversidade e Inclusão
da FGV Direito Rio, Yasmin Curzi defende, para aumentar a participação feminina
na política, vagas garantidas em um percentual superior ao que já é realidade,
investimento na campanha para assegurar candidaturas competitivas e segurança
psicológica. Ela critica a anistia aos partidos:
— A proposta atropela os entendimentos do TSE e do
Supremo, o que é extremamente grave. Há o argumento de que muitos partidos
pequenos são punidos pelas multas e que mulheres eleitas perderam os mandatos
pelas fraudes. Isso não deveria ser discutido, é um erro justificando outro.
No Senado, a bancada feminina, liderada por
Daniella Ribeiro (PSD-PB), vai se reunir esta semana para definir uma posição
conjunta — parte das 15 senadoras da Casa está insatisfeita com a proposta da
Câmara.
Três senadoras afirmaram ao GLOBO defender cotas de
cadeiras e de candidaturas com percentual superior ao fixado pelo texto na
Câmara. São elas Soraya Thronicke (Podemos-MS), Mara Gabrilli (PSDB-SP) e
Zenaide Maia (PSD-RN). Já Dorinha Seabra (União-TO) é a favor da manutenção da
regra atual.
— Mudamos a legislação quando percebemos que não
adiantava haver cotas, se a mulher não recebesse também cota de investimento
para campanha e na propaganda eleitoral ela não ocupasse espaço de TV. É
necessário garantir estrutura— diz Gabrilli.
É
deplorável a resistência de Lula, que não pretende nomear uma mulher para o STF
Mulheres exigem respeito. Precisam e merecem ser
mais vistas nos radares dos comandantes do país. Nessa linha, a jornalista Ana Dubeux (“A
justiça das mulheres”- Correio Braziliense – 24/09) permanece incansável na luta
pelos direitos sociais e políticos das mulheres. Lula precisa parar com o
bolorento jogo do empurrando com a barriga.
Sabe que pode trocá-las quando quiser. Como fez,
pateticamente, com Ana Mozer. Para satisfazer o apetite feroz do centrão. Lula
colocou dezenas de mulheres em ministérios, autarquias e bancos.
Por que não colocar uma mulher, também, no Supremo
Tribunal Federal (STF), como clama a jornalista Ana Dubeux?
A meu ver, a indiferença desmerece as mulheres.
Basta de desculpas esfarrapadas e lorotas. Dubeux enfatiza e finaliza,
mantendo-se acesa e atenta a posição de luta:
“Mais mulheres no Judiciário em posições de poder é
uma necessidade para corrigir injustiças históricas — não apenas a favor de
outras mulheres, mas a favor de uma sociedade melhor para todos”.
Aqui em Brasília e no resto do país, o calor
selvagem acena para a sombra e água fresca. Guarda-chuva, boné e roupa leve
aliviam o ardente massacre. O forte calor é vingança dos que destroem a
natureza e o meio ambiente.
O filtro solar é parceiro de fé contra o câncer de
pele. O calor derrete os ossos. O picolé e o sorvete são benvindos. O brutal calor envelhece o espírito. Esmaga o
verde. Azeda frutas. Briga com o suor. Aborrece os nervos. Cega o humor.
Destrói alegrias. Entristece sonhos. Adormece o prazer. Desafia vaidades.
Provoca tragédias. Esmorece idosos.
Bendita água. Protege os corpos e as almas.
Fonte: O Globo/Congresso em Foco/Tribuna da
Internet
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