Bolsonaristas mandam recados a Mauro Cid
Assessores e aliados de Jair Bolsonaro passaram a
classificar a estratégia de defesa do tenente-coronel Mauro Cid como
“kamikaze”. A avaliação passou a ser feita após a coluna revelar, na semana
passada, que o ex-ajudante de ordens da Presidência relatou, em sua delação
premiada, que Bolsonaro teve uma reunião com comandantes das Forças Armadas e
ministros da ala militar de seu governo para discutir uma minuta golpista.
No relato, Cid revelou que o ex-chefe da Marinha, o
almirante Almir Garnier, mostrou disposição em aderir ao plano golpista. Para o
entorno de Bolsonaro, o relato colocou, do mesmo lado, Bolsonaro, a Marinha e
também o ex-ministro e general Walter Braga Netto.
O grupo pretende se articular e defender um relato
que siga a mesma linha sobre os fatos, isolando, assim, Mauro Cid e buscando
descredibilizar sua delação. Na visão dos aliados de Bolsonaro, o principal
“culpado” pelo que chamam de “estratégia kamizake” adotada pelo tenente-coronel
é o advogado Cezar Bitencourt.
Desde que assumiu a defesa de Cid, no mês passado,
Bitencourt despertou incômodo no entorno de Bolsonaro, com a transmissão de
sinais trocados sobre a possibilidade de o cliente fazer uma delação e também
sobre o conteúdo que foi revelado para a Polícia Federal.
Como informou a coluna, até semana passada o
ex-presidente ainda não acreditava que seria alvo direto da delação de Cid.
Ø CPI do Golpe pode ousar além do imaginável
A CPI do 8/1 tem uma grande oportunidade de se
adiantar à Polícia Federal e convocar oficiais para prestar esclarecimentos
sobre os atos golpistas, avalia o colunista do UOL Josias de Souza. Nesta terça
(26), a comissão ouvirá o general Augusto Heleno, ministro do GSI (Gabinete de
Segurança Institucional) durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) e deve
protocolar pedidos para o depoimento de outros militares do alto escalão. Hoje,
o desafio da CPI é muito maior. Esses são personagens que a Polícia Federal
está condenada a ouvir e ela terá que intimá-los. Pela primeira vez, a CPI tem
a oportunidade de sair na frente da PF e convocar esses oficiais. Eles podem
até chegar lá e não dizer ou recorrer ao Supremo para assegurar seu silêncio,
mas será uma oportunidade de trazer esses oficiais para a frente das câmeras e
expô-los a algum grau de responsabilização. Ou a CPI convoca esses militares ou
ela se autodesmoraliza. Josias de Souza, colunista do UOL
Ao UOL News, Josias citou os nomes dos comandantes
das Forças Armadas Almir Garnier (Marinha) —que, segundo a delação de Mauro
Cid, manifestou apoio à intenção golpista sugerida por Jair Bolsonaro—, Marco
Antônio Freire Gomes (Exército) e Carlos de Almeida Baptista Júnior
(Aeronáutica) como alvos da CPI. Embora esteja cético quanto aos resultados, o
colunista ressaltou a importância das investigações da comissão. Bastidores,
opinião e análise dos fatos mais relevantes da política, na palma da sua mão.
Baixe o app UOL Não tenho muita expectativa em relação ao potencial do
relatório final da CPI para responsabilizar golpistas, mas ela teve o grande
mérito de desmoralizar o bolsonarismo naquela tentativa de atribuir ao governo
Lula o golpe contra o próprio governo Lula. Há muitos outros generais na mira
porque essa tese do autogolpe se desmoralizou. Josias de Souza, colunista do UOL
A cientista política Deysi Cioccari mostrou-se
preocupada com os rumos da CPI dos atos golpistas de 8/1. Para ela, a comissão
está desviando de seu foco principal, que é investigar os envolvidos na invasão
às sedes dos Três Poderes, e se revela mais concentrada em ganhar visibilidade.
Parece que o STF tomou conta da agenda pública e a CPI tem avançado muito mais
na preocupação de chamar atenção, voltar aos holofotes ou terminar logo e
produzir um relatório final. As CPIs já foram um grande instrumento de investigação,
mas hoje as vejo muito mais com uma necessidade de aparecer e estar sob os
holofotes. Espero estar errada quanto a essa, mas me parece que ela perdeu
muito o foco. Deysi Cioccari, cientista política
Ao analisar a queixa de Fabrício Queiroz, que
reclamou da falta de apoio da família Bolsonaro à sua carreira política, Deysi
comentou que o ex-presidente não quer deixar seu legado para alguém tão
controverso quanto o ex-assessor de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL).
Em toda a carreira política, a principal característica do ex-presidente é agir
sob os holofotes. Não sabendo lidar com bastidor, muito menos ele tentará
passar o legado político dele para um personagem tão controverso quanto o
Queiroz. Ele não fez isso com outros com potencial eleitoral, imagina com
alguém tão ambíguo na política brasileira como Queiroz. Deysi Cioccari,
cientista política
- Presidente da CMPI faz jogo bolsonarista
O presidente da CPMI do 8 de janeiro, deputado
Arthur Maia (União-BA, foto), afirmou em entrevista à CNN Brasil que só vai
convocar citados na delação de Mauro Cid se os governistas também aceitarem
chamar o coronel Sandro Augusto Queiroz, que comandava a Força Nacional no dia
dos ataques.
Segundo Maia, caso os governistas não concordem em
votar a convocação do coronel Sandro, será uma perda de tempo, pois ele não
colocará mais nada para votação. Ele se refere à reunião dos governistas que
acontecerá nesta segunda-feira (25) para decidir sobre os próximos alvos da
CPMI.
Os governistas desejam convocar o ex-comandante da
Marinha Almir Garnier, que se tornou alvo após Mauro Cid detalhar tratativas
para levar adiante um plano golpista. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro
teria relatado à Polícia Federal que, durante uma reunião com o presidente da
República, Garnier indicou que poderia aderir à proposta.
O presidente da comissão ressalta a importância de
ouvir tanto o militar quanto outros nomes, mas destaca que os aliados de Lula
precisam aceitar ouvir o outro lado.
“Mais importante do que qualquer outra coisa é
ouvir as duas partes. Não faz sentido ouvir apenas a Polícia Militar do DF e o
Exército e aceitar a blindagem da Força Nacional“, afirma Maia.
Ø Mesmo com maioria, CPI de 8/1 não sai do lugar
A CPI do 8 de Janeiro se encaminha para suas
últimas semanas de trabalho com uma lista de depoimentos de ex-ministros, mas
ainda dividida sobre a possibilidade de convocar Jair Bolsonaro. Até mesmo
entre integrantes governistas há dúvidas sobre sobre os prós e contra de trazer
o ex-presidente.
Na terça-feira, será ouvido o ex-ministro Augusto
Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), enquanto o depoimento do
ex-ministro da Defesa Braga Netto está previsto para semana que vem.
Em relação a Bolsonaro, uma parte dos parlamentares
avalia que ele precisa ser confrontado publicamente com as informações da
delação do tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens. Como mostrou a
coluna da jornalista Bela Megale, do GLOBO, Cid disse que o ex-presidente teve
uma reunião com comandantes das Forças Armadas em que um cenário de golpe foi
discutido.
O entendimento de uma parte dos governistas é que
ficará difícil o ex-presidente dominar a narrativa na sessão diante do que
disse seu ex-auxiliar. Outra parte da base, no entanto, acha que é arriscado
trazer Bolsonaro para CPI e teme que isso seja uma forma de dar palanque para
ele e dê uma chance de reverter um momento negativo.
– Precisa avaliar politicamente a necessidade de
trazê-lo (Bolsonaro). Eu fiz esta proposta no início da CPMI. Na terça, teremos
uma reunião deliberativa. Vamos ver o que conseguimos aprovar – disse a
deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).
A própria senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora
da CPI, já disse em entrevista ao GLOBO que não vê “necessidade de ouvir o
Bolsonaro”. Por outro lado, ela não afastou a possibilidade de pedir o
indiciamento do ex-presidente.
— Bolsonaro pode não vir, mas ele não vindo, não
significa que ele está isento de qualquer tipo de indiciamento, como eu também
não posso dizer se ele será indiciado ou não— afirmou.
Outros nomes ligados a Bolsonaro e que mantinham
uma relação próxima durante o governo dele já tem consenso para irem à CPI do
Congresso. Governistas desejam que esses personagens colaborem e indiquem qual
a participação que o governo passado teve na facilitação dos ataques golpistas
às sedes dos Três Poderes.
Com fim previsto para o dia 17 de outubro e ainda
com uma sessão dedicada para ler o relatório de Eliziane, o tempo para ouvir
todas as pessoas desejadas pela base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
que tem a maioria na comissão, é curto.
Soma-se à falta de tempo a ausência de sintonia
entre a relatora e o presidente da CPI, deputado Arthur Maia (União-BA), que já
convocou uma sessão de requerimento nesta semana para também atender pedidos da
oposição, como convocar um representante da Força Nacional, algo feito com o
objetivo de desgastar o ministro da Justiça, Flávio Dino.
Em uma manobra, Maia já anunciou que vai fazer uma
votação em bloco, em que pedidos governistas e da oposição serão apreciados ao
mesmo tempo. Em entrevista coletiva na semana passada, o deputado disse que “ou
aprova todos os requerimentos ou rejeita todos”.
Entre as prioridades dos governistas estão os
ex-ministros militares Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e
Walter Braga Netto (Casa Civil e Defesa), que já têm data programada para irem
à comissão. Sem data marcada, também estão na mira o almirante Garnier,
ex-comandante da Marinha, Paulo Sérgio, ex-ministro da Defesa e ex-comandante
do Exército, Filipe Martins, ex-assessor para Assuntos Internacionais do
governo Bolsonaro, o empresário Meyer Nigri e o general Mauro Cesar Lourena
Cid, pai de Mauro Cid. Além da reconvocação do próprio Mauro Cid.
Também há uma movimentação para aprovar a quebra do
sigilo fiscal e bancário de Garnier e para pedir relatórios do Conselho de
Controle de Atividades Financeiras (Coaf) de Bolsonaro e da ex-primeira-dama
Michelle Bolsonaro.
Heleno irá depor nesta terça-feira. Já Braga Netto
deve ir ao Congresso na próxima semana. Também nesta semana a CPI irá ouvir
Alan Diego dos Santos, um dos apontados na tentativa de ataque com bomba no
aeroporto de Brasília.
O deputado Rafael Britto (MDB-AL), um dos autores
de requerimento para convocar Heleno, disse que “ainda existem esclarecimentos
a serem dados pelo ex-chefe do Gabinete da Segurança Institucional (GSI), do
governo Bolsonaro, em especial sobre o seu envolvimento nos atos do dia 08 de
janeiro e sobre seus indicados ao GSI”.
Garnier e Filipe Martins entraram na mira da CPI
após a delação de Cid. De acordo com relatos do ex-assessor de Bolsonaro, ambos
se mostraram favoráveis a um golpe para impedir que Lula assumisse a
Presidência. Fundador da construtora Tecnisa e próximo de Bolsonaro, Meyer
Nigri chegou a ser investigado pela Polícia Federal por manter conversas de
teor golpista com outros empresários durante a eleição de 2022.
Ø CPI do MST propõe criminalização radical
O presidente da CPI do MST, deputado Tenente
Coronel Zucco (Republicanos-RS), vai apresentar ao presidente da Câmara, Arthur
Lira (PP-AL), um “pacote de invasão zero no campo”. Trata-se de uma lista com
propostas que endurecem as penas para quem participar dessas ações. “Não tenho
dúvidas de que, quando a CPI acabar, vão recomeçar as invasões”, afirmou Zucco
à Coluna.
A primeira lista, à qual a Coluna teve acesso, tem
sete projetos. Um deles classifica como terrorismo atos violentos contra
propriedades públicas e privadas. Outro permite a ação da polícia sem a
necessidade de ordem judicial para retomada de propriedades invadidas. Há ainda
proposta que determina a perda de benefícios de programas sociais a quem invade
e outras para suspender ou impedir acesso a programas da reforma agrária. As
proposições são de deputados do PP, PL, Republicanos e Novo.
A ideia de ter as propostas no relatório de Salles
não foi considerada suficiente, porque a oposição sabe da dificuldade de
aprovar o relatório do deputado Ricardo Salles (PL-SP). Na quinta-feira
passada, 21, após travar uma disputa com o Centrão, o relator recuou e tirou o
nome do deputado federal Valmir Assunção (PT-BA) da lista de pedidos de
indiciamento em seu relatório final. Na ementa, também definiu o MST como
“organização criminosa”, disse que o modelo é “fracassado”, “improdutivo”, faz
“mau uso do dinheiro público”, conta com o “acobertamento estatal” e “romantiza
e banaliza crimes, abusos e violências”.
Como mostrou a Coluna, apesar de ter retirado o
indiciamento do deputado Valmir Assunção para tentar aprovar seu parecer final
na CPI do MST, Salles tem uma “carta na manga”. Ele e o presidente do colegiado
têm em mãos um relatório paralelo, que indicia o parlamentar e ministros do
governo Lula. E prometem acionar esse gatilho caso o Centrão – principalmente o
líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA) – não garanta os votos para
aprovar o parecer.
Fonte: O Globo/O Antagonista
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