terça-feira, 26 de setembro de 2023

Bolsonaristas mandam recados a Mauro Cid

Assessores e aliados de Jair Bolsonaro passaram a classificar a estratégia de defesa do tenente-coronel Mauro Cid como “kamikaze”. A avaliação passou a ser feita após a coluna revelar, na semana passada, que o ex-ajudante de ordens da Presidência relatou, em sua delação premiada, que Bolsonaro teve uma reunião com comandantes das Forças Armadas e ministros da ala militar de seu governo para discutir uma minuta golpista.

No relato, Cid revelou que o ex-chefe da Marinha, o almirante Almir Garnier, mostrou disposição em aderir ao plano golpista. Para o entorno de Bolsonaro, o relato colocou, do mesmo lado, Bolsonaro, a Marinha e também o ex-ministro e general Walter Braga Netto.

O grupo pretende se articular e defender um relato que siga a mesma linha sobre os fatos, isolando, assim, Mauro Cid e buscando descredibilizar sua delação. Na visão dos aliados de Bolsonaro, o principal “culpado” pelo que chamam de “estratégia kamizake” adotada pelo tenente-coronel é o advogado Cezar Bitencourt.

Desde que assumiu a defesa de Cid, no mês passado, Bitencourt despertou incômodo no entorno de Bolsonaro, com a transmissão de sinais trocados sobre a possibilidade de o cliente fazer uma delação e também sobre o conteúdo que foi revelado para a Polícia Federal.

Como informou a coluna, até semana passada o ex-presidente ainda não acreditava que seria alvo direto da delação de Cid.

 

Ø  CPI do Golpe pode ousar além do imaginável

 

A CPI do 8/1 tem uma grande oportunidade de se adiantar à Polícia Federal e convocar oficiais para prestar esclarecimentos sobre os atos golpistas, avalia o colunista do UOL Josias de Souza. Nesta terça (26), a comissão ouvirá o general Augusto Heleno, ministro do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) durante o governo de Jair Bolsonaro (PL) e deve protocolar pedidos para o depoimento de outros militares do alto escalão. Hoje, o desafio da CPI é muito maior. Esses são personagens que a Polícia Federal está condenada a ouvir e ela terá que intimá-los. Pela primeira vez, a CPI tem a oportunidade de sair na frente da PF e convocar esses oficiais. Eles podem até chegar lá e não dizer ou recorrer ao Supremo para assegurar seu silêncio, mas será uma oportunidade de trazer esses oficiais para a frente das câmeras e expô-los a algum grau de responsabilização. Ou a CPI convoca esses militares ou ela se autodesmoraliza. Josias de Souza, colunista do UOL

Ao UOL News, Josias citou os nomes dos comandantes das Forças Armadas Almir Garnier (Marinha) —que, segundo a delação de Mauro Cid, manifestou apoio à intenção golpista sugerida por Jair Bolsonaro—, Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e Carlos de Almeida Baptista Júnior (Aeronáutica) como alvos da CPI. Embora esteja cético quanto aos resultados, o colunista ressaltou a importância das investigações da comissão. Bastidores, opinião e análise dos fatos mais relevantes da política, na palma da sua mão. Baixe o app UOL Não tenho muita expectativa em relação ao potencial do relatório final da CPI para responsabilizar golpistas, mas ela teve o grande mérito de desmoralizar o bolsonarismo naquela tentativa de atribuir ao governo Lula o golpe contra o próprio governo Lula. Há muitos outros generais na mira porque essa tese do autogolpe se desmoralizou. Josias de Souza, colunista do UOL

A cientista política Deysi Cioccari mostrou-se preocupada com os rumos da CPI dos atos golpistas de 8/1. Para ela, a comissão está desviando de seu foco principal, que é investigar os envolvidos na invasão às sedes dos Três Poderes, e se revela mais concentrada em ganhar visibilidade. Parece que o STF tomou conta da agenda pública e a CPI tem avançado muito mais na preocupação de chamar atenção, voltar aos holofotes ou terminar logo e produzir um relatório final. As CPIs já foram um grande instrumento de investigação, mas hoje as vejo muito mais com uma necessidade de aparecer e estar sob os holofotes. Espero estar errada quanto a essa, mas me parece que ela perdeu muito o foco. Deysi Cioccari, cientista política

Ao analisar a queixa de Fabrício Queiroz, que reclamou da falta de apoio da família Bolsonaro à sua carreira política, Deysi comentou que o ex-presidente não quer deixar seu legado para alguém tão controverso quanto o ex-assessor de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL). Em toda a carreira política, a principal característica do ex-presidente é agir sob os holofotes. Não sabendo lidar com bastidor, muito menos ele tentará passar o legado político dele para um personagem tão controverso quanto o Queiroz. Ele não fez isso com outros com potencial eleitoral, imagina com alguém tão ambíguo na política brasileira como Queiroz. Deysi Cioccari, cientista política

  • Presidente da CMPI faz jogo bolsonarista

O presidente da CPMI do 8 de janeiro, deputado Arthur Maia (União-BA, foto), afirmou em entrevista à CNN Brasil que só vai convocar citados na delação de Mauro Cid se os governistas também aceitarem chamar o coronel Sandro Augusto Queiroz, que comandava a Força Nacional no dia dos ataques.

Segundo Maia, caso os governistas não concordem em votar a convocação do coronel Sandro, será uma perda de tempo, pois ele não colocará mais nada para votação. Ele se refere à reunião dos governistas que acontecerá nesta segunda-feira (25) para decidir sobre os próximos alvos da CPMI.

Os governistas desejam convocar o ex-comandante da Marinha Almir Garnier, que se tornou alvo após Mauro Cid detalhar tratativas para levar adiante um plano golpista. O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro teria relatado à Polícia Federal que, durante uma reunião com o presidente da República, Garnier indicou que poderia aderir à proposta.

O presidente da comissão ressalta a importância de ouvir tanto o militar quanto outros nomes, mas destaca que os aliados de Lula precisam aceitar ouvir o outro lado.

“Mais importante do que qualquer outra coisa é ouvir as duas partes. Não faz sentido ouvir apenas a Polícia Militar do DF e o Exército e aceitar a blindagem da Força Nacional“, afirma Maia.

 

Ø  Mesmo com maioria, CPI de 8/1 não sai do lugar

 

A CPI do 8 de Janeiro se encaminha para suas últimas semanas de trabalho com uma lista de depoimentos de ex-ministros, mas ainda dividida sobre a possibilidade de convocar Jair Bolsonaro. Até mesmo entre integrantes governistas há dúvidas sobre sobre os prós e contra de trazer o ex-presidente.

Na terça-feira, será ouvido o ex-ministro Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), enquanto o depoimento do ex-ministro da Defesa Braga Netto está previsto para semana que vem.

Em relação a Bolsonaro, uma parte dos parlamentares avalia que ele precisa ser confrontado publicamente com as informações da delação do tenente-coronel Mauro Cid, seu ex-ajudante de ordens. Como mostrou a coluna da jornalista Bela Megale, do GLOBO, Cid disse que o ex-presidente teve uma reunião com comandantes das Forças Armadas em que um cenário de golpe foi discutido.

O entendimento de uma parte dos governistas é que ficará difícil o ex-presidente dominar a narrativa na sessão diante do que disse seu ex-auxiliar. Outra parte da base, no entanto, acha que é arriscado trazer Bolsonaro para CPI e teme que isso seja uma forma de dar palanque para ele e dê uma chance de reverter um momento negativo.

– Precisa avaliar politicamente a necessidade de trazê-lo (Bolsonaro). Eu fiz esta proposta no início da CPMI. Na terça, teremos uma reunião deliberativa. Vamos ver o que conseguimos aprovar – disse a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

A própria senadora Eliziane Gama (PSD-MA), relatora da CPI, já disse em entrevista ao GLOBO que não vê “necessidade de ouvir o Bolsonaro”. Por outro lado, ela não afastou a possibilidade de pedir o indiciamento do ex-presidente.

— Bolsonaro pode não vir, mas ele não vindo, não significa que ele está isento de qualquer tipo de indiciamento, como eu também não posso dizer se ele será indiciado ou não— afirmou.

Outros nomes ligados a Bolsonaro e que mantinham uma relação próxima durante o governo dele já tem consenso para irem à CPI do Congresso. Governistas desejam que esses personagens colaborem e indiquem qual a participação que o governo passado teve na facilitação dos ataques golpistas às sedes dos Três Poderes.

Com fim previsto para o dia 17 de outubro e ainda com uma sessão dedicada para ler o relatório de Eliziane, o tempo para ouvir todas as pessoas desejadas pela base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem a maioria na comissão, é curto.

Soma-se à falta de tempo a ausência de sintonia entre a relatora e o presidente da CPI, deputado Arthur Maia (União-BA), que já convocou uma sessão de requerimento nesta semana para também atender pedidos da oposição, como convocar um representante da Força Nacional, algo feito com o objetivo de desgastar o ministro da Justiça, Flávio Dino.

Em uma manobra, Maia já anunciou que vai fazer uma votação em bloco, em que pedidos governistas e da oposição serão apreciados ao mesmo tempo. Em entrevista coletiva na semana passada, o deputado disse que “ou aprova todos os requerimentos ou rejeita todos”.

Entre as prioridades dos governistas estão os ex-ministros militares Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Walter Braga Netto (Casa Civil e Defesa), que já têm data programada para irem à comissão. Sem data marcada, também estão na mira o almirante Garnier, ex-comandante da Marinha, Paulo Sérgio, ex-ministro da Defesa e ex-comandante do Exército, Filipe Martins, ex-assessor para Assuntos Internacionais do governo Bolsonaro, o empresário Meyer Nigri e o general Mauro Cesar Lourena Cid, pai de Mauro Cid. Além da reconvocação do próprio Mauro Cid.

Também há uma movimentação para aprovar a quebra do sigilo fiscal e bancário de Garnier e para pedir relatórios do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) de Bolsonaro e da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Heleno irá depor nesta terça-feira. Já Braga Netto deve ir ao Congresso na próxima semana. Também nesta semana a CPI irá ouvir Alan Diego dos Santos, um dos apontados na tentativa de ataque com bomba no aeroporto de Brasília.

O deputado Rafael Britto (MDB-AL), um dos autores de requerimento para convocar Heleno, disse que “ainda existem esclarecimentos a serem dados pelo ex-chefe do Gabinete da Segurança Institucional (GSI), do governo Bolsonaro, em especial sobre o seu envolvimento nos atos do dia 08 de janeiro e sobre seus indicados ao GSI”.

Garnier e Filipe Martins entraram na mira da CPI após a delação de Cid. De acordo com relatos do ex-assessor de Bolsonaro, ambos se mostraram favoráveis a um golpe para impedir que Lula assumisse a Presidência. Fundador da construtora Tecnisa e próximo de Bolsonaro, Meyer Nigri chegou a ser investigado pela Polícia Federal por manter conversas de teor golpista com outros empresários durante a eleição de 2022.

 

Ø  CPI do MST propõe criminalização radical

 

O presidente da CPI do MST, deputado Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS), vai apresentar ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um “pacote de invasão zero no campo”. Trata-se de uma lista com propostas que endurecem as penas para quem participar dessas ações. “Não tenho dúvidas de que, quando a CPI acabar, vão recomeçar as invasões”, afirmou Zucco à Coluna.

A primeira lista, à qual a Coluna teve acesso, tem sete projetos. Um deles classifica como terrorismo atos violentos contra propriedades públicas e privadas. Outro permite a ação da polícia sem a necessidade de ordem judicial para retomada de propriedades invadidas. Há ainda proposta que determina a perda de benefícios de programas sociais a quem invade e outras para suspender ou impedir acesso a programas da reforma agrária. As proposições são de deputados do PP, PL, Republicanos e Novo.

A ideia de ter as propostas no relatório de Salles não foi considerada suficiente, porque a oposição sabe da dificuldade de aprovar o relatório do deputado Ricardo Salles (PL-SP). Na quinta-feira passada, 21, após travar uma disputa com o Centrão, o relator recuou e tirou o nome do deputado federal Valmir Assunção (PT-BA) da lista de pedidos de indiciamento em seu relatório final. Na ementa, também definiu o MST como “organização criminosa”, disse que o modelo é “fracassado”, “improdutivo”, faz “mau uso do dinheiro público”, conta com o “acobertamento estatal” e “romantiza e banaliza crimes, abusos e violências”.

Como mostrou a Coluna, apesar de ter retirado o indiciamento do deputado Valmir Assunção para tentar aprovar seu parecer final na CPI do MST, Salles tem uma “carta na manga”. Ele e o presidente do colegiado têm em mãos um relatório paralelo, que indicia o parlamentar e ministros do governo Lula. E prometem acionar esse gatilho caso o Centrão – principalmente o líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA) – não garanta os votos para aprovar o parecer.

 

Fonte: O Globo/O Antagonista

 

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