Antigo Hospital Espanhol, em Salvador, deixou rastro de dívidas
Fechado em 2014 após falência, e reaberto em 2019
como um referencial Centro de Tratamento para Covid, o Hospital Espanhol, hoje
Hospital Dois de Julho, começou em agosto deste ano a retomar suas atividades
focando no atendimento em clínica geral
- diversas especialidades - após investimento amplo do governo da Bahia,
que arrematou o equipamento.
Embora haja do Estado investimento para reativar
mais de 270 leitos e modernizar a estrutura, o hospital, outrora referências da
Bahia e do Brasil, deixou com sua falência um rastro de dívidas: mais de três
mil funcionários – entre médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares da saúde –
foram demitidos em 2014 e até hoje aguardam os direitos trabalhistas e
indenizatórios já garantidos pelo Tribunal Regional do Trabalho que seria de
responsabilidade do próprio governo da Bahia.
Esta situação levou o Sindicato dos Trabalhadores da Rede Privada
de Saúde do Estado da Bahia (SINDISAÚDE) e o Sindicato dos Enfermeiros (SEEB) a
realizarem uma coletiva a imprensa, ontem, para cobrar a indenização e
pressionar o governo da Bahia, a quem cabe a responsabilidade de quitação. Pelo menos é o que afirma a diretora
financeira do SEEB, Lúcia Dique.
Segundo Lúcia, o governador atual, Jerônimo
Rodrigues, informou que investiria uma verba para o pagamento, mas o valor está
aquém do ideal. “O dinheiro só vai quitar uma parte da dívida trabalhista. Os
trabalhadores vão receber em torno de uns 40% a 50% da dívida, no máximo. São
dez anos, tem gente que nem viva mais está”,
informou.
• Histórico
Logo após seu fechamento em 2014, o então
governador Jaques |Wagner, à época, baixou decreto proibindo o espaço de ser
utilizado para outro tipo de fim que não o hospitalar e declarando-o como bem
de utilidade pública. O texto também obrigava que quem tomasse a frente da
unidade assumisse a dívida. Em 2019, o governo da Bahia adquiriu o equipamento
por R$ 89 milhões, quando reativou como centro de tratamento de Covid, mas os três mil funcionários que foram
demitidos continuam a ver navios.
Neste 2023, o Espanhol completa 128 anos de
existência – foi fundado pela Real Sociedade
Espanhola em 1885 e durante anos foi um dos principais do país. Agora,
atua com uma terceirizada. “O governo da
Bahia fala que vai repassar a verba, faz de conta que não tem responsabilidade
com a dívida trabalhista, mas tem sim. Se na época tivesse repassado para um
Consórcio, talvez estes 3 mil funcionários já tivessem recebido’,conta.
Conhecido por estar localizado em uma área
privilegiada da capital baiana, o bairro da Barra, o Hospital Espanhol tem uma
história louvável que muito orgulha os funcionários que foram demitidos. É o
caso de Perpetua Maria França Andrade, também à espera do pagamento das dívidas
trabalhistas: por 18 anos ela foi enfermeira atuando em unidade aberta: todas
as especialidades, inclusive em infectologia, um dos destaques do equipamento.
“È triste que nós, que estivemos lá nos tempos
áureos, vivenciamos tantas coisas, estejamos passando por essa situação. Lá
tinha os melhores profissionais, os mais preparados e humanizados”, conta.
Pérpetua lembra que o setor de infectologia era um
dos mais bem quistos e, logo em 1996, quando ela entrou, a unidade estava na
luta do combate à AIDS e fazendo testes para a utilização do antirretroviral em
Pessoas que Vivem com HIV. “Foi um momento ímpar na vida de todos nós. Todos os
pesquisadores, especialistas em infectologia passavam pelo setor. Foi um
período muito doloroso lidar com pacientes em situação de AIDS e que ainda não
encontravam respostas em tratamentos. E por outro lado vivenciei a evolução da
ciência. O Espanhol colaborou com o Brasil ser o país pioneiro no tratamento da
AIDS. Ver que nós, profissionais deste período, com essa trajetória, estamos
sendo desrespeitados nos nossos direitos trabalhistas é entristecedor”,
destaca.
Prefeitura
e Osid firmam parceria de reabilitação física e emocional para idosos
A Secretaria Municipal de Promoção Social, Combate
à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre) e as Obras Sociais Irmã Dulce (Osid)
firmaram uma parceria para a requalificação da praça do Centro de Geriatria e
Gerontologia Júlia Magalhães, no Bonfim. Com vigência até agosto de 2025, o
termo de fomento assinado promoverá o repasse no valor de mais de R$ 1,2
milhão, proveniente do Fundo Municipal da Pessoa Idosa (FMPI).
O objetivo é oferecer aos idosos atendidos pela
instituição um espaço ao ar livre para a realização de atividades de
reabilitação física e emocional. O titular da Sempre, Júnior Magalhães,
celebrou a iniciativa, destacando os esforços para ajudar na obra.
“Estamos capacitando equipe, estudando modelos de
boas práticas de outros municípios e buscando referências em instituições com
expertise, como as Osid, para oferecer serviços socioassistenciais e
proporcionar mais dignidade aos idosos que são assistidos por eles”, afirmou.
Maria Rita Pontes, superintendente das Osid,
aproveitou a oportunidade para agradecer a parceria com o município e também
ressaltou a necessidade da intervenção para o cuidado dos pacientes atendidos:
“O que nos inspirou foi observar a condição dos idosos, e com a realização
desse projeto proporcionaremos um espaço de socialização e dignidade para
eles”.
Brasileiros
se dividem sobre legalização de psicodélicos como remédios
A primeira pesquisa nacional sobre uso terapêutico
de substâncias psicodélicas, realizada pelo Datafolha em 12 e 13 de setembro,
mostra brasileiros divididos sobre a legalização medicinal desses fármacos: 43%
se declaram a favor e 46%, contra. Sem opinião se dizem 10% dos entrevistados,
e 2%, indiferentes.
Há diferenças significativas entre grupos
populacionais. Registra-se mais apoio a psicodélicos medicinais do lado dos
homens (49%, contra 37% de mulheres) e de jovens de 16 a 24 anos (47%, perante
36% de 60 anos em diante).
Entre os 62% que ouviram falar em psicodélicos, um
quinto afirmou considerar-se bem informado. Mais ou menos informados são 31%, e
12%, mal informados. Como seria de esperar, mostram-se mais favoráveis a esses
tratamentos pessoas com conhecimento do tema (49% apoiam, versus 33% dos que
desconhecem).
A pesquisa ouviu 2.016 pessoas em 139 municípios de
todo o Brasil. A margem de erro máxima para o total da amostra é de dois pontos
percentuais para mais ou para menos.
Nota-se um descompasso entre católicos e
evangélicos: os primeiros divididos, 44% contra e 44% a favor do uso medicinal,
e os últimos majoritariamente contra (51% a 36%). Neste caso, a diferença fica
próxima do limite entre margens de erro específicas para os dois contingentes,
respectivamente de 3 e 4 pontos percentuais.
Psicodélicos, também conhecidos como alucinógenos,
são compostos proibidos na maior parte dos países. No Brasil, LSD, psilocibina
de cogumelos e MDMA (ecstasy, bala, molly) integram a lista F da Anvisa
(Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de substâncias de uso proscrito.
A exceção é a ayahuasca, ou daime. Mesmo contendo o
composto proibido DMT (dimetiltriptamina), o chá pode ser tomado legalmente no
país, desde que em contexto religioso.
A proibição dessas substâncias alteradoras da
consciência se espalhou pelo mundo a partir de 1970, com a chamada guerra às
drogas declarada nos EUA. Foi uma reação ao consumo de LSD e maconha por jovens
pacifistas no movimento a contracultura. A proscrição, entretanto, está sob
revisão em alguns países.
O principal impulso por trás do revisionismo vem da
ciência biomédica. Estudos clínicos vêm mostrando, de uma década para cá,
potencial terapêutico promissor de MDMA e psilocibina, principalmente, para
tratar transtornos como estresse pós-traumático e depressão resistente aos
medicamentos disponíveis.
É de supor que, à medida que esse potencial se
confirme e psicodélicos sejam aprovados para uso psicoterapêutico nos EUA em
2024 ou 2025, como se espera, a divisão de opiniões no Brasil se resolva em
favor da regulamentação. A pesquisa Datafolha traz indícios nessa direção.
Questionados sobre a hipótese de um médico de
confiança receitar tratamento com psicodélicos como o mais indicado, uma
ligeira maioria (52%) diz que concordaria; destes, aceitariam com certeza 36%,
e outros 16%, talvez. Outros 43% disseram que não estariam de acordo com isso.
A legalização do uso religioso de psicodélicos,
apesar de a ayahuasca ser legalizada no Brasil em cerimônias de igrejas como
Santo Daime, União do Vegetal e Barquinha, é condenada por 62% e favorecida por
25%. A taxa dos contrários, aqui, é um pouco mais alta entre evangélicos (69%)
na comparação com católicos (62%).
Marcante, por outro lado, revela-se a recusa da
legalização completa do uso de psicodélicos, ou seja, para venda e recreação:
80% contra e meros 11% a favor. Os indiferentes são 2% e 7% não opinaram.
Os entrevistados, por outro lado, demonstram
confiança limitada na capacidade de autoridades decidirem sobre o uso medicinal
de substâncias psicoativas como psicodélicos e maconha. No Congresso confiam
43% e não confiam 55%; no governo federal, 50% e 48%, respectivamente.
Bem melhor se saem cientistas, nos quais a
confiança vai a 77%, e profissionais de saúde, com 74%. No fundo do poço ficam
líderes religiosos, apesar da influência eleitoral e parlamentar que exercem
nessa discussão: 60% não confiam neles para decidir isso, e só 37% confiam (9%
muito, 28% um pouco)
Fonte: Tribuna da Bahia/FolhaPress
Nenhum comentário:
Postar um comentário