terça-feira, 26 de setembro de 2023

A estratégia de Múcio para limpar a imagem das forças armadas

O Ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, iniciou uma série de encontros do General do Exército, Tomás Paiva, com os principais representantes do Congresso Nacional. Essas reuniões terão início nesta segunda-feira (25).

Na última semana, chamou a atenção a divulgação de informações relacionadas a delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-judante de ordens de Jair Bolsonaro (PL).

Conforme os conteúdos vazados, Cid afirmou ter testemunhado uma discussão entre Bolsonaro e os líderes das três forças armadas (Marco Antônio Gomes, chefe do Exército; almirante Almir Garnier, chefe da Marinha; Carlos Batista, chefe da Aeronáutica) após a derrota nas eleições para o presidente Lula. A conversa, criminosa, girou em torno da possibilidade de um eventual apoio das Forças Armadas a um golpe de Estado.

O teor da delação impulsionou os trabalhos da CPMI, que está investigando os eventos que levaram aos atos antidemocráticos ocorridos em 8 de janeiro. Nesta semana, o general Augusto Heleno, que anteriormente ocupou o cargo de chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo Bolsonaro, será convocado para prestar depoimento perante a comissão.

De acordo com informações de pessoas próximas, a intenção de Múcio é enfatizar o compromisso das Forças Armadas com a democracia e destacar que o esforço para remover a influência política dos quartéis conta com o apoio do General Paiva.

 

       Novo Código Penal Militar do Brasil vai 'reordenar a caserna' e 'enfatizar controle civil'

 

Sancionado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), o novo Código Penal Militar é avaliado como um novo marco jurídico para crimes cometidos por membros das Forças Armadas (FA) brasileiras. Um dos pontos mais polêmicos do documento, que dava a militares direito de criticar publicamente decisões do governo, foi vetado por Alckmin.

Entre as principais alterações que o texto traz estão a inclusão na Justiça Comum do julgamento de crimes cometidos por militares das FA, como no caso de crimes sexuais e violência doméstica, e a proibição do uso de meios violentos como forma de disciplinar a tropa, ressaltando o respeito que o comando deve ter com os subalternos.

Para Erika Kubik, cientista política, professora do MBA em estudos estratégicos e relações internacionais da Universidade Federal Fluminense (UFF), o novo CPM "é uma estratégia de enquadramento das Forças sob o aspecto legal e de delimitação da Justiça Militar como uma esfera de Justiça especial no processo e julgamento de infrações militares tão somente, e não um espaço de julgamento por pares".

Revolta de 8 de janeiro influenciou texto

A aprovação do texto final demonstra do governo uma atitude de reestabelecimento do "princípio de autoridade sobre as Forças", apontou Kubik. "Não há dúvidas que não somente o episódio em si, mas tudo o que antecedeu o 8 de Janeiro influenciou o momento de aprovação das alterações legislativas do CPM e os vetos de Alckmin", salientou a pesquisadora em entrevista à Sputnik Brasil.

"No texto que acabou vetado pelo vice-presidente, os militares não seriam punidos se criticassem publicamente o governo, fato que manteria a politização nas Forças Armadas e afetaria a hierarquia e disciplina, a base da instituição."

De acordo com Kubik, essa atualização do Código Penal Militar deveria ter acontecido há muito tempo.

"O Código Penal Militar antigo foi elaborado em 1969, após o AI-5, durante o momento mais violento da ditadura militar de 1964, quando inclusive a pena de morte contra civis foi reestabelecida para dar conta da antiga ideologia da segurança nacional. Portanto essa legislação deveria ter sido substituída há tempos".

•        Código tinha outra cara nos governos Temer e Bolsonaro

O novo Código Penal Militar foi desenvolvido durante os governos dos ex-presidentes Michel Temer e Jair Bolsonaro, tramitando na Câmara dos Deputados até 2022. O documento contou com participações de militares como o deputado Sergio Peternelli, general contemporâneo de Bolsonaro na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), e com a relatoria de Hamilton Mourão no Senado.

Segundo Kubik, o projeto se deu em um contexto de discussão de "proteção" para militares "em relação à atuação em GLOs [Garantia da Lei e da Ordem], intervenção federal e outras operações vinculadas à segurança pública".

"Hoje, quando observamos aquele período, notamos que representava um momento de ampliação do papel dos militares na segurança pública e na política. O momento atual, contudo, é de conter esse impulso e reordenar a caserna."

Nesse sentido, o vice-presidente Geraldo Alckmin "soube usar o momento de sancionar a lei aprovada pelo Congresso Nacional para enfatizar o controle civil sobre as Forças Armadas", avaliou a pesquisadora.

 

       Comandante do Exército, Tomás Paiva se pronuncia após delação de Mauro Cid sobre militares

 

Comandante do Exército, que assumiu a força após os atos golpistas de 8 de Janeiro no lugar de Júlio César de Arruda, o general Tomás Paiva se pronunciou pela primeira vez após a divulgação de trecho da delação do tenente-coronel Mauro Cid sobre a tentativa de Jair Bolsonaro (PL) de tentar cooptar a cúpula militar para um golpe de Estado após a derrota para Lula nas urnas.

Segundo Mauro Cid, Bolsonaro se reuniu com a cúpula das Forças Armadas onde buscou apoio dos militares para um golpe de Estado, chegando a apresentar uma minuta que previa a prisão de adversários políticos.

Cid afirmou ainda que o então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos, teria colocado as tropas à disposição de Bolsonaro para o golpe. No entanto, o Comando do Exército e o Alto Comando das Forças Armadas não teriam aderido às ideias golpistas.

Então comandante do Exército, o general Marco Antônio Freire Gomes teria ameaçado dar voz de prisão a Bolsonaro. “Se o senhor for em frente com isso, serei obrigado a prendê-lo”.

Segundo reportagem de Maria Cristina Fernandes, no Valor, o general tinha conhecimento de que não havia condições para o golpe dentro do Exército. Ele sabia que os comandantes do Sul (Fernando Soares), do Sudeste (Thomaz Paiva), do Leste (André Novaes) e do Nordeste (Richard Nunes) não apoiariam quaisquer aventuras golpistas de Bolsonaro.

Além disso, Freire Gomes estaria ciente de que um golpe dado por Bolsonaro não teria apoio dos Estados Unidos de Joe Biden, tanto de militares, quando de civis. Seis comitivas estadunidenses já teriam vindo ao Brasil em 2022 para dar esse recado a Bolsonaro e às Forças Armadas.

•        Tomás Paiva

Em entrevista a Igor Gadelha, do Portal Metrópoles, Tomás Paiva afirmou que não teve acesso à delação de Cid, mas que o militar deve responder ao inquérito criminal, determinado por Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), antes de ser tomada qualquer ação administrativa no Exército contra ele.

“A lei diz que, na sobreposição de ações judiciais com as ações administrativas, as judiciais prevalecem. Dessa forma temos, por lei, que esperar as manifestações da justiça que seguem seu curso", afirmou.

Sobre a trama golpista de Bolsonaro envolveu a cúpula das Forças Armadas, Tomás Paiva foi sucinto ao dizer que "o Exército cumpriu a Lei" ao garantir a posse de Lula.

“O que é certo: o Exército cumpriu a lei, garantindo a posse ocorrida em 1º de janeiro. Isso era o dever constitucional e foi realizado através da Coordenação de Segurança de Área, realizada pelo Comandante da 3ª Brigada de Infantaria Motorizada de Cristalina (GO)”, disse Paiva.

 

       Mourão rebate delação de Cid e diz não acreditar em tentativa de golpe

 

O ex-vice-presidente e atual senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS) disse neste domingo (24) não acreditar que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) esteve envolvido em um possível plano golpista. Para Mourão, embora Bolsonaro estivesse desgastado pela derrota nas eleições, não seria possível que ele ‘ultrapassasse as quatro linhas da Constituição’.

A declaração se refere a delação premiada do ex-ajudante de ordens Mauro Cid, que acusou o ex-presidente de se reunir com a alta cúpula militar para discutir a possibilidade de golpe no país. Na época, apenas o Almirante Almir Garnier Santos, da Marinha, teria aderido à ideia.

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“Apesar de desgastado pela perda da eleição, não acredito que o JB estimulasse uma solução fora das quatro linhas da Constituição”, disse Mourão, em entrevista ao jornal O Globo.

Cid afirmou à Polícia Federal que Bolsonaro discutiu a minuta de um texto que promoveria intervenção militar e impediria a troca de governo. Além dele e do ex-ajudante de ordens, os chefes das Forças Armadas e ministros militares do Palácio do Planalto estavam presentes na reunião.

Mauro Cid ainda disse que apenas Garnier Santos aceitou o plano golpista. Ele teria dito a Bolsonaro que sua tropa estaria pronta para aderir a um chamamento do então presidente. Já o comando do Exército afirmou, naquela ocasião, que não embarcaria na ideia dos bolsonaristas.

A Polícia Federal tem tratado a delação de Mauro Cid como chave para as investigações e, por isso, tenta manter o máximo sigilo possível. No entanto, para haver responsabilização de alguns dos agentes citados, seriam necessárias provas.

 

       “Exército cumpriu a lei, garantindo posse de Lula”, diz comandante

 

Em meio à revelação de que Jair Bolsonaro teria discutido com a cúpula militar um golpe para evitar a posse de Lula, o atual comandante do Exército, general Tomás Paiva, saiu em defesa da força terrestre.

À coluna o general afirmou que “o que é certo” é que o “Exército cumpriu a lei”, ao “garantir” a posse do atual presidente da República em 1º de janeiro de 2023, apesar das tentativas golpistas de Bolsonaro.

“O que é certo: o Exército cumpriu a lei, garantindo a posse ocorrida em 1º de janeiro. Isso era o dever constitucional e foi realizado através da Coordenação de Segurança de Área, realizada pelo Comandante da 3ª Brigada de Infantaria Motorizada de Cristalina (GO)”, disse Paiva.

A declaração vem dias após a imprensa divulgar que, em delação premiada, Mauro Cid afirmou que Bolsonaro teria discutido uma minuta golpista em reunião com os chefes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica à época.

Durante a conversa, segundo o relato de Cid, o almirante Almir Garnier Santos, então comandante da Marinha, teria dito a Bolsonaro que suas tropas estariam à disposição para cumprir as ordens do presidente.

À coluna Tomás Paiva afirmou que o Exército não teve acesso às declarações de Mauro Cid, que é tenente-coronel da Força, pois elas continuam em sigilo, determinado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.

“Nossa ideia é esperar que as investigações terminem para fazer qualquer avaliação”, disse o comandante, ressaltando que só será possível punir os militares envolvidos após a conclusão das investigações.

 “A lei diz que, na sobreposição de ações judiciais com as ações administrativas, as judiciais prevalecem. Dessa forma, temos, por lei, que esperar as manifestações da justiça que seguem seu curso”, declarou.

 

       Ex-comandante do Exército cancelou desmonte de acampamento golpista no QG

 

Último general no comando do Exército do governo Jair Bolsonaro (PL), Marco Antônio Freire Gomes reprimiu o então comandante militar do Planalto, general Gustavo Henrique Dutra de Menezes, de levar adiante uma operação de desmonte do acampamento golpista em frente ao Quartel General de Brasília, de onde partiram os extremistas para os atos de depredação na Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro.

Em tom de deboche, Freire Gomes contou aos integrantes do Alto Comando do Exército sobre a ordem dada ao comandante do militar do Planalto no dia 29 de dezembro de 2022, um dia antes de entregar o cargo ao sucessor, Júlio Cesar Arruda.

“O Dutra é um irresponsável, um maluco. Mandei cancelar a operação", teria dito Freire Gomes, sobre a ação de desmontar o acampamento. A informação foi revelada por Marcelo Godoy na edição desta segunda-feira (25) do Estadão.

Em sua justificativa ao Alto Comando, Freire Gomes aventou a possibilidade um "tumulto" e que "ninguém saberia qual seria a reação de Jair Bolsonaro a dois dias da posse de Lula".

Dutra teria dado a ordem para desmontar o acampamento sem avisar o superior por receio de que ele barraria a operação. Ao perceber a movimentação, Freire Gomes ligou enfurecido para o subordinado, chamando de "maluco" e "irresponsável" e ordenando que a ação de desmonte fosse cancelada.

Segundo a reportagem, desde o dia 4 de novembro, logo após a derrota de Bolsonaro quando atos golpistas começaram a surgir pelo país, Dutra defendia que o acampamento fosse desmobilizado.

No dia 11 de novembro, uma nota assinada pelo almirante Almir Garnier Santos (Marinha), pelo general Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e pelo tenente-brigadeiro do ar Carlos de Almeida Baptista Junior (Aeronáutica), então comandantes das três Forças, condenou "eventuais excessos cometidos em manifestações" de bolsonaristas e criticou "eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos".

"São condenáveis tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública; bem como quaisquer ações, de indivíduos ou de entidades, públicas ou privadas, que alimentem a desarmonia na sociedade", diz trecho da nota, que avaliza as violentas manifestações de bolsonaristas, com acampamentos e fechamentos de rodovias pelo país.

"Vai dar merda, comandante”, teria alertado Dutra ao superior, Freire gomes.

Após a nota conjunta das Forças Armadas houve aumento das manifestações de bolsonaristas, que pediam ajuda dos militares para uma "intervenção" e impedir que Lula tomasse posse. Após a publicação da nota, o público à frente do QG de Brasília chegou a ser estimado em 100 mil em 15 de novembro.

•        Troca no comando

O general Freire Gomes foi substituído por Júlio César de Arruda um dia após impedir o desmonte do acampamento golpista, quando Bolsonaro se preparava para fugir para os EUA, evitando passar a faixa para a Lula.

Após os ataques do dia 8 de Janeiro, Lula promoveu nova mudança no comando do Exército, demitindo Arruda e colocando em seu lugar o general Tomás Paiva - que teria se colocado contra uma tentativa de golpe de Bolsonaro desde o início.

Em entrevista a Igor Gadelha, do Portal Metrópoles, Tomás Paiva comentou pela primeira vez sobre a delação de Mauro Cid sobre a tentativa de Bolsonaro de cooptar a cúpula das Forças Armadas.

De acordo com o tenente coronel, Bolsonaro se reuniu com a cúpula das Forças Armadas onde buscou apoio dos militares para um golpe de Estado, chegando a apresentar uma minuta que previa a prisão de adversários políticos.

Cid afirmou ainda que o então comandante da Marinha, o almirante Almir Garnier Santos, teria colocado as tropas à disposição de Bolsonaro para o golpe. No entanto, Freire Gomes teria ameaçado dar voz de prisão a Bolsonaro. “Se o senhor for em frente com isso, serei obrigado a prendê-lo”.

Segundo reportagem de Maria Cristina Fernandes, no Valor, o general tinha conhecimento de que não havia condições para o golpe dentro do Exército. Ele sabia que os comandantes do Sul (Fernando Soares), do Sudeste (Thomaz Paiva), do Leste (André Novaes) e do Nordeste (Richard Nunes) não apoiariam quaisquer aventuras golpistas de Bolsonaro.

Além disso, Freire Gomes estaria ciente de que um golpe dado por Bolsonaro não teria apoio dos Estados Unidos de Joe Biden, tanto de militares, quando de civis. Seis comitivas estadunidenses já teriam vindo ao Brasil em 2022 para dar esse recado a Bolsonaro e às Forças Armadas.

Tomás Paiva afirmou que não teve acesso à delação de Cid, mas que o militar deve responder ao inquérito criminal, determinado por Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), antes de ser tomada qualquer ação administrativa no Exército contra ele.

“A lei diz que, na sobreposição de ações judiciais com as ações administrativas, as judiciais prevalecem. Dessa forma temos, por lei, que esperar as manifestações da justiça que seguem seu curso", afirmou.

Sobre a trama golpista de Bolsonaro envolveu a cúpula das Forças Armadas, Tomás Paiva foi sucinto ao dizer que "o Exército cumpriu a Lei" ao garantir a posse de Lula.

“O que é certo: o Exército cumpriu a lei, garantindo a posse ocorrida em 1º de janeiro. Isso era o dever constitucional e foi realizado através da Coordenação de Segurança de Área, realizada pelo Comandante da 3ª Brigada de Infantaria Motorizada de Cristalina (GO)”, disse Paiva.

 

Fonte: O Cafezinho/Sputnik Brasil/Fórum/iG/Metrópoles

 

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