Mulher do “cabeça”
do plano do PCC contra Moro teve contrato com ministério de Bolsonaro
Aline
de Lima Paixão, mulher do “cabeça” do plano do PCC para sequestrar Sergio Moro,
é dona de uma empresa que assinou contrato com o Ministério das Comunicações. O
nome é Lokmid Importadora e Exportadora LTDA de São Gonçalo dos Campos, na
Bahia.
Essas
informações constam no Portal da Transparência. Aline é sócia junto com o
administrador Davi Andrade Santos, segundo registros oficiais. De acordo com a
Junta Comercial, a companhia foi criada em 19 de setembro de 2012 e tem um
milhão de capital social.
No
registro consta que a empresa atua no “comércio varejista de produtos
alimentícios em geral”. No contrato do Ministério das Comunicações, a Lokmid
iria receber R$ 2.660,93 em serviço de publicidade institucional. O contrato
foi aberto no dia 19 de agosto de 2022 e está em fase de pagamento.
O
então ministro que realizou essa contratação foi Fábio Faria, do governo do
ex-presidente Bolsonaro, genro do empresário Silvio Santos.
Aline
tem 33 anos e é de Franco da Rocha, no interior de São Paulo. Ela é mulher de
Janeferson Aparecido Mariano Gomes, conhecido como Nefo. Em trocas de mensagens
de diferentes aparelhos celulares, Aline aparece utilizando termos cifrados
como “Tokio”, para Moro, e “Flamengo”, para o ato de sequestro.
Um
ex-membro da facção que procurou o MP paulista para pedir proteção, pois estava
jurado de morte, contou que Janeferson queria sequestrar Moro e sua família. O
objetivo era usá-los como moeda de troca para resgatar da prisão o líder máximo
da facção, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, que está na penitenciária
federal de Brasília.
Aline
foi presa preventivamente em Santa Bárbara d’Oeste, no interior de São Paulo, e
solta pela juíza Gabriela Hardt com uma tornozeleira eletrônica.
É
a única pessoa que saiu da prisão após o início da Operação Sequaz.
No
despacho, a magistrada considera que a defesa de Aline de Lima Paixão informou
que ela é empresária, de boa conduta social, e tem emprego e domicílio fixo,
onde reside com três filhos, de 6, 7 e 13 anos.
Sua
empresa tem um contrato firmado com o ministério das Comunicações de Bolsonaro.
Além da publicidade contratada, Aline recebeu R$ 5.950 de Auxílio Emergencial
do mesmo governo.
As
parcelas de dezembro de 2020 até outubro de 2021 estão disponíveis também no
Portal da Transparência.
PCC: as frustrações que motivaram o plano
de retaliação da facção
No
dia 2 de outubro de 2018, um detento entrou na sala do diretor do presídio e
fez uma revelação perturbadora. Estava em curso um plano milionário para
resgatar Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, e outros 14 membros da alta
cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC) de dentro da Penitenciária 2 de
Presidente Venceslau, no interior de São Paulo.
O
episódio marca o início da ofensiva mais dura das autoridades de segurança
pública contra Marcola e o comando do PCC. A partir dele, líderes da maior
facção criminosa do Brasil foram, pela primeira vez, encarcerados no sistema
penitenciário federal, onde ficam isolados, são supervigiados e perdem o
direito a visitas íntimas. Tirá-los de lá virou prioridade do PCC.
Foram
pelo menos quatro tentativas frustradas de resgatar Marcola da prisão na última
década. Na última delas, no ano passado, o PCC planejou tirar o seu líder
máximo do presídio federal de Porto Velho (RO). Investigadores estimam que a
estrutura, com blindados e aeronaves, custou R$ 60 milhões. Marcola foi
transferido de volta para Brasília em seguida, de onde também já tentaram
resgatá-lo em 2020.
Acumulando
fracassos, a facção também passou a investir mais em vinganças contra agentes
públicos e autoridades brasileiras – o “Plano B” do grupo. A retaliação mais
recente foi desarticulada pela Polícia Federal (PF), na última semana, e tinha
como um dos alvos o senador Sergio Moro (União-PR).
Autor
dos pedidos de transferência dos líderes do PCC, o promotor de Justiça Lincoln
Gakiya, do Ministério Público de São Paulo (MPSP), é uma das autoridades na
mira da facção. Ordens para executá-lo são interceptadas com frequência. “Há
quatro anos não tenho vida social”, declarou na última semana.
Tentativas
de fuga de Marcola
A
tentativa de resgate de Marcola da P2 de Presidente Venceslau, em 2018, foi
revelada pelo delator com duas condições: anonimato absoluto e nunca mais ser
chamado para depor. Com várias ações simultâneas, o plano era cinematográfico.
Uma
das células da facção era responsável por incendiar caminhões e bloquear a
Rodovia Raposo Tavares. Outras iriam atacar a estação de energia elétrica,
cortar o sinal de comunicação e lançar granadas e tiros de fuzil contra o
Comando da Polícia Militar no Interior (CPI-8) e cercar o 42º Batalhão da PM,
localizado na cidade. O objetivo era impedir o voo do helicóptero Águia e a
reação da polícia.
No
comando da operação estava Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, traficante
com ligações com a ‘Ndrangheta, a máfia da Calábria, na Itália, e amigo de
infância de Marcola.
Foragido
na época, Fuminho havia formado um exército de homens treinados em suas
fazendas na Bolívia e contava até com soldados africanos, experts em armas
pesadas. Ele foi preso em Moçambique, pela PF, em 2020.
Em
2014, o MPSP já havia descoberto um plano para resgatar Marcola de helicóptero.
Policiais ficaram dias de tocaia na mata ao redor da P2 de Presidente Venceslau
para tentar abater a aeronave.
No
episódio do delator, no entanto, as autoridades tinham razões a mais para levar
o esforço do PCC a sério. Em setembro de 2018, mês anterior à descoberta do
plano, 20 criminosos haviam invadido o Presídio de Piraquara, na Grande
Curitiba, e resgatado 29 presos da facção.
Outro
motivo era que Marcola acabara de ser condenado no âmbito da Operação Ethos, em
fevereiro de 2018. Com mais uma sentença na sua ficha criminal, a pena
acumulada do líder do PCC chegou a mais de 330 anos de prisão – o que
praticamente inviabilizava sua progressão de regime ou liberdade por meios
legais.
Ameaças
contra promotor
Contra
o plano de resgate do PCC, autoridades de segurança fecharam o aeroporto da
região e chegaram a instalar barreiras nas pistas de pouso e decolagem.
Levados
para reforçar a segurança de Presidente Venceslau, homens da Rondas Ostensivas
Tobias de Aguiar (Rota) prenderam duas mulheres em flagrante, na saída de
visitas na P2, no dia 8 de dezembro de 2018.
Dentro
de uma bolsa preta, decorada com borboletinhas, os PMs encontraram duas cartas
cifradas e anotações do PCC. O setor de inteligência decodificou o conteúdo e
concluiu se tratar de um “salve” para executar o promotor Lincoln Gakiya e o
coordenador da unidade prisional.
“Salve
do frango Japoneis [Gakiya] é um pouco mais complicado mais da pra fazer também
ora que quiser o que ta pegando é que a cidade dele é bem maior que w pra dar
balão depois é mais dificil, mais os irs tão nessa pegada [sic]”, aponta a
transcrição da mensagem.
Já
a outra carta ligava a ordem de execução ao pedido de transferência de Marcola
para o sistema federal. “Presta atenção todos vcs da restrita [sic], essa
missão é de extrema, pois se o amigo aqui for pra federal, essa situação tem
que ser colocada no chão de qualquer forma”.
Uma
nova mensagem seria interceptada na Penitenciária de Junqueirópolis, no
interior, em janeiro de 2019.
“Não
posso falar no telefone a Gaep [Gaeco] ta pegando tudo no grampo e referente o
Japonês Promotor continua a mesma fita ele ta dando mó sorte”, diz um trecho.
“Fiquei sabendo que vocês quase pegaram ele no transito (…) sei que vocês estão
arriscando a vida de vocês pela nossa luta e causa [sic].”
Lula x Moro: novo confronto une e anima a
oposição
O
embate entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o senador pelo
Paraná Sergio Moro (União Brasil), que se arrasta há anos desde a operação
Lava-Jato, ganhou um novo capítulo nos últimos dias com declarações fortes de
ambos os lados e um plano da facção PCC para atacar o parlamentar. A disputa,
que movimenta o cenário político brasileiro, já proporcionou a cada um,
momentos de glória e derrotas. Condenado pelo então juiz, o petista foi solto e
retornou ao Palácio do Planalto derrotando o principal aliado de Moro, o
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Na
terça-feira, Lula declarou que repetia um “mantra” quando esteve preso na
Polícia Federal (PF), em Curitiba. “De vez em quando um procurador entrava lá
dia de sábado, ou dia de semana, para visitar, perguntar se estava tudo bem.
Entrava 3 ou 4 procuradores e perguntava ‘tá tudo bem?’. Eu falava ‘não está
tudo bem...Só vai estar bem quando eu foder esse Moro’. Vocês cortam a palavra
‘foder’ aí…”, disse o presidente ao portal Brasil 247.
Em
resposta, o senador disse que Lula aprendeu tal expressão durante o período em
que esteve na cadeia. “Eu fiquei chocado com a fala, um linguajar todo
inapropriado para um presidente, e eu fico pensando o que o presidente aprendeu
nesse período. Devia fazer uma reflexão e evitar todos aqueles escândalos de
corrupção que aconteceram no governo do PT. Aparentemente ele aprendeu apenas o
linguajar de cadeia”, afirmou Moro ao site Antagonista.
Apesar
da repercussão, os principais ingredientes que provocaram a retomada do embate
entre ambos ainda estava por vir. Na quarta-feira, a Polícia Federal realizou
uma operação para desmantelar uma organização criminosa que pretendia atacar e
assassinar autoridades em cinco estados do país, entre elas o senador Sergio
Moro.
• "Plano de homicídios"
O
parlamentar era um dos principais alvos dos criminosos ligados ao Primeiro
Comando da Capital (PCC), confirmaram fontes da Polícia Federal à AFP. O
ministro da Justiça, Flávio Dino, disse que, além de Moro, havia policiais
entre os possíveis alvos do “plano de homicídios” e que o “trabalho sério da PF
salvou a vida, graças a Deus, de Sergio Moro”.
Um
dia depois, na quinta-feira, Lula fez a declaração mais polêmica deste novo
capítulo. “Eu não vou falar porque acho que é mais uma armação do Moro. Quero
ser cauteloso, vou descobrir o que aconteceu. Mas é visível que é uma armação
do Moro”, disse o presidente. Lula, porém, expôs suspeita sobre a atuação da
juíza Gabriela Hardt, substituta de Moro na condução da Operação Lava Jato na
Justiça Federal de Curitiba e responsável por assinar os mandados de prisão.
• Prato cheio para a oposição
A
declaração foi um prato cheio para os adversários do presidente. Na
sexta-feira, o deputado federal por Minas Gerais Nikolas Ferreira (PL)
protocolou um pedido de abertura de investigação contra Lula por “eventual
prática de incitação ao crime em desfavor” de Moro. “As declarações podem
influenciar a violência contra autoridades que buscam combater a criminalidade.
E isso tem que ser coibido”, afirmou Nikolas sobre o pedido.
Na
sequência, o senador Rogério Marinho (PL-RN) enviou uma notícia-crime ao
Supremo Tribunal Federal (STF) para que o presidente seja incluído no inquérito
das fake news por ter questionado a veracidade do plano de sequestro do PCC a
Moro. “Questionar o trabalho desenvolvido pela Polícia Federal, pelo Ministério
da Justiça e pelo Ministério Público do Estado de São Paulo, sem qualquer
embasamento, é atentar contra as instituições republicanas”, declarou.
"Não há imunidade parlamentar para
canalhice", diz Dino após fala de Moro
O
ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, declarou neste sábado
(25/3) que acusações de ligação entre o PT e o PCC "não passam de
canalhice", e que não há indícios ou provas. Sem citar o senador Sergio
Moro (União-PR) que, poucas horas antes, fez uma associação em suas redes
sociais entre o partido e a facção criminosa, o ministro afirmou ainda que
"não há imunidade parlamentar para proteger canalhice".
"Essas
afirmações de ligação do PT com o PCC não passam de canalhice. Não há indício,
prova, nada. Só canalhice mesmo. Lembro que não há imunidade parlamentar para
proteger canalhice", escreveu Dino em sua conta no Twitter.
Mais
cedo, Moro fez em suas redes sociais uma associação entre Lula e o PT à facção
criminosa, questionando a ligação de um dos criminosos envolvidos no esquema
com o uso do e-mail "lulalivre1063@icloud.com", apontado durante a
investigação da PF.
• Oposição aproveita brecha após fala de
Lula para atacar o governo
A
oposição vem se aproveitando da repercussão de fala do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) no início da semana à TV 247 e a operação deflagrada pela
Polícia Federal (PF) um dia depois, que desmontou um esquema do PCC para atacar
autoridades, incluindo o ex-juiz. Um dos principais ataques é o uso de notícias
faltas sobre a ligação entre a legenda e a facção criminosa. Na entrevista,
Lula declarou que, na prisão, dizia que só ficaria bem após "foder o
Moro".
A
presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PT-PR), também
reagiu. Em suas redes, a deputada afirmou que Moro "vive da mentira"
desde que era juiz. "Na campanha eleitoral, o TSE [Tribunal Superior
Eleitoral] proibiu a divulgação dessa mentira, mas o agora senador não se
emenda e volta a delinquir", disse Gleisi.
Waack: Equilíbrio emocional é o mínimo
que se espera de qualquer chefe de Estado
O
presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acha que o plano do crime organizado
para matar o senador e ex-juiz Sergio Moro (União Brasil-PR), entre outros
alvos, é uma armação do próprio Moro.
Essa
afirmação do presidente da República não para de pé um só segundo, pois não tem
a menor base nos fatos.
Mas
admita-se que todo político tenha o direito de se cobrir de ridículo e de dar
um tiro no próprio pé. Porém, quando o político é presidente da República, as
coisas ridículas que ele diz têm outra dimensão.
Nesse
caso, a dimensão do que Lula disse é ridicularizar o trabalho da Polícia
Federal, que prendeu os bandidos do PCC que armavam os atentados. Ridicularizar
o Ministério Público de São Paulo, que descobriu o plano do crime organizado.
Ridicularizar seu ministro da Justiça, que qualificou de muito séria a
investigação. Ridicularizar o próprio cargo de chefe de Estado.
O
que levanta uma outra indagação. A um político experiente como Lula costuma-se
atribuir a cada palavra que diz um cálculo político.
Qual
teria sido a intenção política de Lula ao reiterar três vezes uma bobagem como
essa, a da armação de Moro?
Ou
foi só o resultado do estado psicológico de uma pessoa que produz maus
resultados políticos para si mesma, pois vive presa a uma confusão de
sentimentos, ódios, rancores?
Equilíbrio
emocional é o mínimo que se espera de qualquer chefe de estado.
Fonte:
DCM/Metrópoles/Correio Braziliense/CNN Brasil
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