Governo de
Netanyahu está tentando transformar Israel em ditadura, diz
ex-primeiro-ministro
O
governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu está “tentando fazer de Israel
uma ditadura”, de acordo com o ex-líder do país Ehud Barak, em um ataque contundente
contra o homem que ele serviu no gabinete.
“É
a crise mais grave que tivemos em Israel nos últimos 75 anos”, disse Barak, que
foi primeiro-ministro israelense entre 1999 e 2001, em um evento organizado
pelo think tank londrino Chatham House.
“É uma ameaça para nossa democracia e para
nosso modo de vida.”
Barak
substituiu Netanyahu como líder de Israel e mais tarde serviu como seu ministro
da Defesa por quatro anos. Mas ele atacou o novo governo de direita de seu
ex-chefe, dizendo que “age de forma flagrantemente ilegítima no que está
fazendo”.
“Estamos
defendendo a democracia contra aqueles que estão usando as próprias ferramentas
que a democracia oferece e a própria liberdade que ela concede a seus cidadãos
para destruí-la por dentro”, disse Barak.
“Chamamos
isso de mudança de regime de cima para baixo. Eles estão tentando fazer de
Israel uma ditadura. Não vamos aceitá-la. Isso não vai se encaixar em nossos
valores básicos e psique coletiva.”
Sua
intervenção ocorreu quando protestos e greves varreram o país, em meio a uma
manifestação de raiva pelos esforços de Netanyahu para enfraquecer o
judiciário.
Premiê suspende reforma do Judiciário
após protestos e oposição de militares de Israel
O
primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, anunciou o adiamento de uma
decisão sobre planos controversos para reformar o Judiciário do país, medida
que tem sido alvo de intensos protestos.
Na
noite de segunda-feira (27/3), no horário local, ele disse que suspenderia a
legislação para evitar uma "ruptura entre nosso povo".
No
entanto, não está claro se isso é apenas uma forma de o governo ganhar tempo.
O
anúncio foi feito após novos protestos espontâneos após o premiê demitir seu
ministro da Defesa, que havia se manifestado contra os planos.
Em
eventos sem precedentes, o maior sindicato do país convocou uma greve, e os
israelenses viram a sociedade fechar-se ao seu redor.
Do
aeroporto principal a lojas e bancos — até mesmo hospitais —, os serviços foram
interrompidos. A ação coordenada foi projetada para demover Netanyahu de forçar
a aprovação das reformas até o final desta semana.
O
líder da oposição, Yair Lapid, chamou-a de "a maior crise da história do
país".
O
governo, o mais à direita de todos os tempos em Israel, está tentando assumir o
controle total sobre o comitê que nomeia os juízes.
As
reformas dariam ao Parlamento autoridade para anular as decisões da Suprema
Corte com uma maioria básica e tornariam difícil declarar um primeiro-ministro
inapto para o cargo e removê-lo do poder.
Netanyahu
disse que as mudanças impediriam que os tribunais extrapolassem seus poderes,
mas os críticos afirmaram que isso o beneficiaria em um momento em que ele
enfrenta um julgamento por corrupção.
O
premiê é acusado de suborno, fraude e quebra de confiança em três casos, mas
nega qualquer irregularidade e afirma ser vítima de uma "caça às
bruxas".
Ao
se dirigir à nação para anunciar a decisão do adiamento de seus planos,
Netanyahu acusou uma "minoria extremista" de tentar dividir a nação e
criticou os militares que se opuseram ao projeto.
• Crise prossegue
A
suspensão da reforma dará tempo ao premiê, mas não resolverá o problema — os
manifestantes estavam lutando para que esse projeto de lei fosse descartado,
não adiado.
A
oposição de Israel disse que vai entrar em uma nova rodada de diálogo.
As
mudanças propostas provocaram uma onda de revolta de quase todas as partes da
sociedade israelense, incluindo seus poderosos militares, desde que foram
anunciadas em 4 de janeiro.
Nas
últimas semanas, centenas de militares ameaçaram parar seus serviços caso o
plano siga em frente e publicaram cartas abertas para expressar
descontentamento. Ex-chefes do Exército e das agências de inteligência também
criticaram publicamente a medida.
Alguns
membros da Força Aérea ouvidos pela imprensa israelense disseram ainda que não
estavam "preparados para servir a um regime ditatorial".
No
domingo (26/03), o ministro da Defesa, Yoav Gallant, foi demitido após se
posicionar contra a reforma. Ele descreveu as mudanças como um "perigo
imediato e tangível" para a segurança do Estado.
Em
um breve pronunciamento no dia anterior, o agora ex-ministro também afirmou que
membros das Forças de Defesa de Israel estavam irritados e desapontados com a
questão, em uma intensidade que ele nunca tinha visto antes.
Mas
afinal, por que muitos militares em Israel estão contra o pacote de reformas?
• Os motivos da revolta
Muitos
dos integrantes das forças e reservistas que se pronunciaram publicamente
alegam que as mudanças podem enfraquecer o Estado e, portanto, representar uma
ameaça à segurança de Israel.
Esse
se torna um problema ainda maior diante da situação de instabilidade do Oriente
Médio e das tensões constantes entre Israel, palestinos e grupos extremistas da
região.
Alguns
militares ainda acreditam que o país precisa de uma democracia sólida e um
Judiciário independente para defender suas ações e condutas nesse ambiente
perante a comunidade internacional. E, segundo eles, o projeto apresentado por
Netanyahu vai contra os valores democráticos.
No
início de março, pilotos de um esquadrão de elite da Força Aérea de Israel
decidiram não participar de um treinamento programado em protesto contra as
reformas judiciais, mas foram convencidos por seus comandantes a continuar.
Ao
mesmo tempo, ex-comandantes da Força Aérea publicaram uma carta aberta na qual
pediam que o primeiro-ministro tomasse medidas para resolver a crise.
"Temos
medo das consequências desses processos e do perigo sério e tangível que
representa para a segurança nacional do Estado de Israel", dizia o texto,
assinado por mais de uma centena de reservistas.
Cerca
de 650 outros oficiais das forças especiais e unidades cibernéticas da reserva
afirmaram em uma carta separada que “não serviremos a uma ditadura. O contrato
foi quebrado. Estamos prontos para dar nossa vida e alma e o governo deve dar
responsabilidade e sanidade”.
Depois
de completar três anos de serviço obrigatório, muitos israelenses continuam na
reserva até os 40 anos, quando o serviço se torna voluntário. Os reservistas
são considerados especialmente importantes para as forças locais quando surgem
crises de segurança e servem regularmente em operações complexas no exterior.
• 'Mensagem de fraqueza'
Vários
oficiais de segurança aposentados de alto escalão, incluindo o ex-chefe do
Mossad Tamir Pardo e o ex-chefe da Shin Bet (Agência de Segurança de Israel)
Nadav Argaman, se manifestaram fortemente contra as reformas.
Pardo
afirmou em uma entrevista ao Canal 12 que Israel “não precisa de uma bomba
nuclear para ser destruído". “Nosso Estado decidiu experimentar um método
de autodestruição."
"Israel
chegou a uma situação muito perigosa em relação à segregação interna devido ao
plano da direita para enfraquecer o sistema judiciário e transformar o país em
uma ditadura."
Segundo
o militar, a disputa interna atual ainda envia “uma mensagem de fraqueza ao
mundo”.
"Tenho
70 anos. Nunca imaginei que chegaríamos a este ponto. Este é o maior perigo
existencial desde a independência."
Já
Nadav Argaman descreveu a reforma como “um carro indo em direção ao abismo”.
Em
entrevista à mesma emissora de televisão, o ex-chefe da Shin Bet disse que
Israel está “virado do avesso”. “O anarquista se tornou o governante.”
• A reforma
Analistas
apontam que o pacote de legislações proposto pelo governo de Benjamin Netanyahu
pode comprometer seriamente a separação entre os poderes e, em última análise,
enterraria a democracia de Israel.
A
reforma pode ser resumida em quatro pontos:
• Impedir que a Suprema Corte do país
revise legislações aprovadas pelo Parlamento
• Permitir que o Parlamento rejeite
decisões da Suprema Corte com maioria simples, ou seja, com 61 votos em um
total de 120 deputados.
• Empregar mudanças no comitê responsável
pela nomeação de todos os juízes do país, inclusive os integrantes da Suprema
Corte, de forma que o governo tenha maior influência
• Isenção da obrigação dos ministros de
Estado de cumprir determinações de seus assessores jurídicos, orientados pelo
procurador-geral
• Protestos e greve
Desde
o início do ano, grandes protestos têm sido organizados todas as semanas contra
os planos anunciados pelo governo de Netanyahu.
A
escala das manifestações cresceu nas últimas semanas, com centenas de milhares
de pessoas lotando as ruas de Tel Aviv e outras cidades do país. Os
manifestantes pedem o fim das reformas e a renúncia do primeiro-ministro,
Benjamin Netanyahu.
Nas
últimas horas, as forças de segurança utilizaram jatos de água para tentar
dispersar a multidão que se espalhava pelas ruas de Tel Aviv.
Ainda
nesta segunda (27/3), trabalhadores dos mais diversos campos paralisaram suas
atividades em protesto contra o plano.
O
maior sindicato do país, que reúne cerca de 800 mil trabalhadores nas áreas de
saúde, transporte e bancos, entre outros, anunciou a paralisação de seus
membros. O aeroporto de Tel Aviv, o principal do país, foi afetado e o fluxo de
saída dos aviões foi bloqueado.
Netanyahu
havia marcado um pronunciamento oficial televisionado para esta segunda, mas
desmarcou diante dos últimos acontecimentos.
Fonte:
CNN Brasil/BBC News Brasil
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