quinta-feira, 9 de março de 2023


 Dinossauros da América do Sul: o gigante com crista de espinhos descoberto na Argentina

Ele media nove metros de comprimento e vivia no que hoje é a Patagônia argentina, há 140 milhões de anos.

Mas sua característica mais extraordinária era a crista cheia de espinhos enormes que se estendia do pescoço até o dorso.

A nova espécie de dinossauro foi encontrada na província de Neuquén, no norte da Patagônia, e foi chamada de Bajadasaurus pronuspinax.

O termo faz alusão à formação geológica em que foi encontrada, a Bajada Colorada, e aos longos espinhos inclinados para a frente que o caracterizam.

"Os espinhos neurais - como são chamados - são projeções de ossos que saem da parte superior das vértebras do pescoço", explicou à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, o paleontólogo Pablo Gallina, pesquisador da Fundação Felix de Azara da Universidade Maimonides em Buenos Aires e do Conselho Nacional de Investigações Científicas e Técnicas da Argentina, o Conicet.

"Eles são espinhos muito alongados e, particularmente na Bajadasaurus, chegaram a um metro ou 1,20 m", acrescentou Gallina, principal autor do estudo publicado na revista Scientific Reports.

Que características esses espinhos tinham e que função cumpriam?

        'Como chifres de antílope'

Os fósseis de Bajadasaurus foram encontrados em 2013 por pesquisadores da Fundação Félix de Azara e do Museu Paleontológico Ernesto Bachmann, em Villa El Chocón, em Neuquén.

Os Bajadasaurus pertenciam ao grupo dos dinossauros saurópodes, que eram herbívoros, quadrúpedes e caracterizados como de grande porte e com pescoço e cauda compridos.

Dentro desse grupo, eles estavam na família dos chamados dicreosáuridos, que se diferenciavam por seus grandes espinhos.

No caso dos Bajadasaurus, os espinhos estavam cobertos por um material que os reforçava.

"Nós entendemos que se tivessem sido formados somente por ossos e talvez em vida revestidos apenas por pele, seriam estruturas muito frágeis e poderiam ser quebradas muito facilmente com alguma pancada ou se o dinossauro fosse atacado por um predador", disse Gallina.

"Eles precisavam de uma estrutura externa que nós comparamos com o que acontece, por exemplo, com os chifres dos antílopes ou das cabras atuais, onde há uma caixa externa a esse osso formada por queratina."

        O enigma dos espinhos

O parente mais próximo do Bajadosaurus é outro dinossauro encontrado em Neuquén, o Amargasaurus, que também tinha grandes espinhos e viveu na área entre 15 milhões e 20 milhões de anos depois.

"Nos anos 80, quando o Amargasaurus apareceu, diferentes hipóteses começaram a ser especuladas porque esses espinhos chamavam bastante a atenção."

Sugeriu-se, por exemplo, que os espinhos fossem suportes de "uma espécie de membrana, que regularia a temperatura do corpo, algo que acontece em alguns répteis de hoje."

Outros pesquisadores consideravam a possibilidade de terem sido simplesmente uma crista de exibição com função de atração sexual ou que fossem estruturas capazes de sustentar uma corcunda de carne para armazenar reservas.

        Defesa passiva

Gallina e seus colegas levantam outra hipótese: a função dos espinhos era a defesa.

"A explicação que entendemos ser a mais provável é que eram espinhos que sobressaíam do corpo e tinham uma cobertura semelhante a um chifre. A presença dessa cobertura em cabras e antílopes deixa estrias nos ossos, marcas grandes que no Amargasaurus são bem visíveis."

O mais lógico, segundo o pesquisador, é que a espetacular exibição de espinhos desses dinossauros servisse como uma espécie de "alerta" para afugentar predadores, numa estratégia que ele descreve como "defesa passiva".

"Estes dinossauros passavam praticamente o dia inteiro comendo a vegetação. Tinham de estar permamentemente se alimentando. Eles ficavam com a cabeça abaixada, com o pescoço curvado para frente, deixando os espinhos expostos como se fossem um leque. Eram mais de 20 espinhos apontados para a frente, como um sinal de alerta."

Tanto para o Amargosaurus quanto para o Bajadasaurus, "definitivamente foi positivo ter esses espinhos que à primeira vista parecem ter sido muito incômodos para o animal."

        Os fósseis e o nascimento dos Andes

Gallina e os colegas conseguiram recuperar 80% do crânio, o mais bem preservado do mundo para um dinossauro dicreosáurido.

Eles também extraíram das rochas as primeiras vértebras do pescoço e uma das partes do meio, além de dentes e mandíbulas.

"Os momentos de descoberta são de muita emoção. Ao encontrar algo de milhões de anos atrás, você faz uma viagem no tempo", disse Gallina.

Mais de 100 espécies de dinossauros foram encontradas na Argentina.

A que se deve essa enorme riqueza em fósseis?

"O que acontece é que praticamente em toda a Patagônia as rochas que estão no solo são de tempos em que existiam os dinossauros", explicou Gallina.

"Grande parte do Mesozóico, desde o Triássico ao Cretáceo, isto é, de 220 milhões de anos atrás a 65 milhões de anos atrás, está exposto nas rochas na superfície e isso é o resultado da elevação dos Andes."

O paleontólogo explicou que quando os Andes começaram a aparecer devido ao choque de placas tectônicas, há cerca de 70 milhões de anos, a cordilheira se arrastou e expôs, ao se elevar, todo o território que estava nas profundezas.

"É como se fosse um bolo com camadas em que todas as camadas profundas aparecem e são expostas se você levanta um lado dele", disse o paleontólogo.

"Então, o vento e a erosão foram desgastando essa superfície. Hoje, ao andar pelas ruas de Neuquén, caminhamos sobre o Cretáceo", acrescentou.

Outra razão da riqueza de fósseis é que, devido ao clima da Patagônia, a área é predominantemente deserta, com pouca vegetação, deixando a rocha exposta.

"Se fosse uma superfície como a Amazônia, seria muito difícil encontrar fósseis porque há muita vegetação."

        'Não há nada parecido'

Apesar do grande número de descobertas, o Bajadosaurus é particularmente importante, de acordo com Gallina.

"O Bajadasaurus foi encontrado em um local onde estamos trabalhando há alguns anos e que é um dos poucos de 140 milhões de anos que nos mostra algo dos dinossauros dessa época."

"Dos grandes titanossauros gigantes, os grandes carnívoros, há muitos registros."

'É um animal completamente desconhecido, que tinha características únicas e que nós tentamos interpretar, entender', diz pesquisador

Mas os dinossauros do Cretáceo Inferior, uma janela entre 145 milhões e 120 milhões de anos, são praticamente desconhecidos, disse o pesquisador.

"Estamos justamente aqui, trabalhando com rochas de 140 milhões de anos e tudo o que estamos reconhecendo são novas formas. Isso nos permite estudar a evolução dos dinossauros e como esses grupos se relacionam com os antigos dinossauros do Jurássico."

O que Gallina diria a um grupo de crianças ou adolescentes que vê pela primeira vez os restos de Bajadasaurus?

"A primeira coisa que eu diria é que abram sua imaginação. Ele é um animal completamente desconhecido, que tinha características únicas e nós tentamos interpretá-lo, fazendo estudos rigorosos e comparações com animais modernos como antílopes ou cabras."

"Isso nos ajuda a entender esses animais. Não há nada, nada hoje em dia, com que eles se pareçam."

 

       Qual será a espécie dominante na Terra se os seres humanos forem extintos?

 

Com a ameaça das mudanças climáticas e da atual pandemia de coronavírus, mais e mais pessoas estão fazendo um alerta: nossa existência está em perigo.

Mas o que aconteceria se um dia os seres humanos deixassem de existir?

É muito provável que o fim da raça humana não signifique o fim do mundo: a Terra existia bilhões de anos antes de aparecermos e certamente continuaria a existir por muito mais tempo sem nós.

Além disso, os ambientalistas argumentam que, sem a presença dos maiores predadores (nós), a Terra provavelmente prosperará como nunca antes.

Mas como seria um mundo sem humanos? Quais outras espécies se tornariam dominantes?

Foi o que perguntou um ouvinte do programa da BBC "Os casos curiosos de Rutherford e Fry", que se dedica a responder perguntas científicas enviadas pelo público.

Para encontrar a resposta para esse cenário hipotético, os cientistas Hannah Fry e Adam Rutherford, apresentadores do programa, consultaram o zoólogo Matthew Cobb.

Segundo Cobb, existem diferentes maneiras de definir o que constitui uma espécie "dominante".

Pode ser que seja a espécie mais numerosa, por exemplo. Se formos levar isso em consideração, Cobb aponta para os insetos, que hoje são de longe a maior forma de vida.

        Campeões microscópicos

No entanto, a especialista Kate Jones argumenta que, se vamos medir a dominância em termos de números, os verdadeiros vencedores são organismos muito, muito menores.

"Acho que as espécies dominantes foram, continuam sendo e provavelmente sempre serão os micróbios", diz ela.

Segundo Jones, isso não se deve apenas a seu número e biomassa, mas também ao fato de que eles vivem em todos os tipos de habitats da Terra: da Antártica e do Ártico às saídas de ar no fundo do mar.

Eles também existem desde muito antes de nós: apareceram cerca de 3,5 bilhões de anos atrás (nós apenas há cerca de 6 milhões de anos).

E pode-se até dizer que eles já nos dominam, uma vez que em nossos corpos existem mais bactérias e outros micróbios do que células humanas.

        Os conquistadores

Mas se falamos de domínio em termos de quais espécies conquistaram ou destruíram outras, ou de seus habitats, não há dúvida de que os seres humanos até agora conquistaram o duvidoso título de "número um".

"Basicamente, onde quer que vamos, nos livramos dos animais maiores - começando pelo mamute e pelo rinoceronte lanudo - e à medida que nos movemos pelo planeta, para onde vamos, eles desaparecem", diz Cobb.

"Com o desaparecimento desses animais, o papel deles no ecossistema também foi perdido, então nossa chegada transformou o ecossistema de todo o planeta", prossegue.

A espécie humana teve tanto sucesso nessa conquista destrutiva que muitos cientistas acreditam que estamos a caminho da Sexta Grande Extinção (houve cinco antes, a última eliminou os dinossauros e três quartos de toda a vida na Terra, 66 milhões de anos atrás).

Se isso acontecesse, quais espécies poderiam sobreviver?

A resposta pode ser encontrada analisando o que aconteceu nas extinções anteriores.

"Se você observar a história, a extinção segue um padrão, não é aleatória. Algumas espécies são mais propensas à extinção do que outras, e algumas características podem tornar as espécies mais precárias", explica Rutherford, que é geneticista.

O astrônomo Phil Plait, conhecido como "O Mau Astrônomo" porque se dedica a desfazer mitos sobre o espaço, diz que uma coisa que as extinções passadas tinham em comum é que todas elas produziram uma profunda mudança no ambiente do planeta.

"Houve uma mudança climática repentina, mudanças ambientais repentinas, mudanças na química do solo, mudanças nas temperaturas da água e do ar, e provavelmente isso foi o que causou essas extinções."

Mas, assim como a última extinção exterminou os dinossauros terrestres, dando origem ao surgimento e domínio do homem, que outro modo de vida poderia nos substituir se formos aniquilados?

"Acho que será uma espécie que possa se adaptar às novas condições", diz Kate Jones. "Por exemplo, algo que pode comer plástico."

No entanto, para além da especulação, Rutherford ressalta que a evolução é uma coisa muito difícil de prever.

"Sabemos que haveria coisas com olhos, coisas com asas. Haveria carnívoros, herbívoros, talvez plástico-voros. Mas para além disso, eu não gostaria de fazer previsões específicas", diz ele.

Quem se atreveu a fazê-lo foi o geólogo escocês Dougal Dixon, que em 1981 publicou o livro Depois do homem: uma zoologia do futuro, no qual ele não apenas conta como imagina as espécies dominantes do futuro, mas também as ilustra.

Seguindo os princípios básicos da seleção natural, Dixon previu que cerca de 50 milhões de anos após o desaparecimento dos seres humanos, o mundo será dominado por morcegos de cinco pés e roedores gigantes.

Ciência ou ficção científica? Bem, a verdade é que não estaremos aqui para descobrir.

 

Fonte: BBC News Mundo

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