Circuncisão afeta a vida sexual? 4 perguntas sobre a prática
A
circuncisão é praticada há milhares de anos.
Os
historiadores acreditam que ela já existia 15 mil anos atrás na sociedade
egípcia e chegou até os nossos dias, com cerca de um a cada três homens
circuncidados no mundo.
Os
homens circuncidados – ou seja, que tiveram o prepúcio cortado do pênis,
deixando a glande a descoberto – são, em sua maioria, muçulmanos. No islamismo,
a circuncisão é praticada como um ritual nos recém-nascidos, da mesma forma que
no judaísmo.
Em
segundo lugar, estão os homens nascidos nos Estados Unidos – 80,5%, segundo
dados de 2016. Naquele país, a circuncisão é considerada há décadas uma
intervenção médica benéfica.
A
maior parte das circuncisões é realizada imediatamente após o nascimento. Os
homens não circuncidados podem precisar submeter-se à intervenção
posteriormente por motivos de saúde.
Aqui
temos as respostas da ciência a quatro perguntas sobre a circuncisão.
·
1.
Qual é a função biológica do prepúcio e o que acontece quando ele é cortado?
O
prepúcio é a parte da pele do pênis que recobre a glande.
Diferentemente
do restante da pele do pênis, que está presa ao órgão, o prepúcio fica solto.
Em condições normais, o prepúcio deveria poder recuar até descobrir totalmente
a glande, tanto no estado flácido quanto durante a ereção.
A
superfície interna do prepúcio é uma mucosa lubrificada, similar ao interior da
boca ou da vagina, entre as mulheres.
“Sua
função é cobrir o órgão e servir de revestimento”, segundo a urologista Ana
María Autrán, da Confederação Americana de Urologia.
Os
especialistas também acreditam que o prepúcio pode ter alguma função
imunológica.
O
homem pode prescindir do prepúcio, mas a glande é uma região muito sensível do
pênis. Quando o prepúcio é retirado por questões de saúde na infância, na
adolescência ou na idade adulta, a glande, que antes estava protegida, passa a
ficar em contato direto com o ar e com as roupas.
Por
isso, nas primeiras semanas, o paciente sente incômodo causado pelo contato da
glande com os tecidos. E pode também sentir dores durante as ereções. Mas, com
o passar do tempo, a pele da glande fica mais rígida e perde um pouco da
sensibilidade.
A
cirurgia geralmente é realizada de duas formas: a tradicional, cortando o
prepúcio com bisturi, ou com um grampeador cirúrgico. Pode-se aplicar apenas
anestesia local, embora, muitas vezes, o paciente seja sedado antes da
intervenção em uma região tão sensível do corpo.
·
2.
Quando é preciso submeter-se à circuncisão?
Deixando
de lado os motivos religiosos e concentrando-nos nas razões de saúde, existem
diferentes opiniões a respeito.
De
um lado, encontra-se a posição majoritária nos Estados Unidos, de que é
preferível submeter os bebês à circuncisão quando eles nascem. Segundo a
Academia Norte-Americana de Pediatria (AAP, na sigla em inglês), “os benefícios
para a saúde da circuncisão masculina no recém-nascido superam os riscos”.
Entre
esses benefícios, a organização menciona a prevenção de infecções do trato
urinário, o câncer de pênis e o contágio de algumas doenças sexualmente
transmissíveis, incluindo o HIV/AIDS.
“A circuncisão masculina realizada durante o
período neonatal apresenta taxas de complicações consideravelmente mais baixas
do que quando realizadas em etapas posteriores da vida”, segundo a AAP.
Por
outro lado, a organização afirma que não existem elementos suficientes para
pedir que a circuncisão seja uma intervenção de rotina para todos os bebês. “É
uma decisão que deve ser tomada pelos pais, sempre auxiliados por um médico”,
explica o pediatra Ilan Shapiro, membro da AAP, à BBC News Mundo, o serviço em
espanhol da BBC.
Já
a Real Associação Médica Holandesa, por exemplo, adota uma posição oposta. Ela
afirma que os bebês não devem ser submetidos à circuncisão porque “não existem
provas convincentes de que a circuncisão seja útil ou necessária em termos de
prevenção ou higiene”. Por isso, ela “não é justificável, exceto por razões
médicas/terapêuticas”.
“Ao
contrário do que se costuma pensar, a circuncisão traz o risco de complicações
médicas e psicológicas. As complicações mais comuns são o sangramento,
infecções, estenose do canal (o estreitamento da uretra) e ataques de pânico”,
defende a organização.
Os
principais motivos médicos que podem levar à circuncisão são a fimose, a
parafimose e a balanopostite.
A
fimose ocorre quando o prepúcio é tão estreito na sua extremidade que não
permite o seu deslizamento normal até liberar totalmente a glande. Quando
detectada com pouca idade, pode ser curada com cremes para que não seja
necessário realizar a cirurgia.
A
parafimose ocorre quando o prepúcio desliza completamente, mas depois não
retorna para a posição original.
Já
a balanopostite é a inflamação da glande, quase sempre causada por falta de
higiene. Para evitá-la, desde pequenos, os meninos devem retirar o prepúcio e
limpar bem a região com água e sabão para retirar o esmegma – uma secreção
espessa e esbranquiçada – que é produzido abaixo do prepúcio.
Estas
complicações podem aparecer em qualquer etapa da vida, desde a infância até a
terceira idade.
·
3.
A circuncisão tem algum impacto na vida sexual e na sensibilidade?
Segundo
Shapiro, esta é uma pergunta difícil de responder. Estatisticamente, são poucos
os casos de homens que conseguem comparar sua vida sexual antes e depois da
circuncisão e, por isso, não existem estudos contundentes a respeito.
Enquanto
o pênis se acomoda à sua nova conformação após a circuncisão, o paciente sofre
aumento da sensibilidade na glande, o que pode gerar incômodos, segundo Autrán.
Posteriormente,
a pele da glande, que era protegida pelo prepúcio lubrificado, muda ao ficar em
contato direto com o ar. “Ela começa a ressecar e, quando a pele endurece, essa
sensibilidade muda”, explica Shapiro.
Ele
acrescenta que o prepúcio também é uma região repleta de nervos que são
perdidos quando ele é extraído.
Alguns
pacientes chegam ao consultório pedindo ao médico que os submeta à circuncisão
por razões estéticas. Eles entendem que o seu pênis ficará mais bonito sem a
cobertura protetora.
Também
se faz este tipo de intervenção, mas é preciso eliminar alguns mitos: o pênis
não aumentará de tamanho, não ficará mais longo, nem terá maior potência na
hora do sexo. E a ejaculação será igual à de antes.
Uma
advertência dos especialistas é que os pacientes não tenham relações sexuais
nas quatro ou cinco semanas posteriores à intervenção cirúrgica, para evitar dores
e complicações da cicatrização.
·
4.
A circuncisão ajuda a prevenir o HIV e outras doenças sexualmente
transmissíveis?
Um
dos benefícios promovidos pelos defensores da circuncisão é que ela ajuda a
prevenir doenças sexualmente transmissíveis (DST), como o HIV/AIDS.
A
própria ONU, no seu programa de luta contra o HIV, realiza campanhas de
circuncisão em massa em países do leste e do sul da África que apresentam altos
níveis de incidência do vírus.
Já
foi demonstrado que a eliminação do prepúcio reduz a taxa de contágio do HIV,
mas apenas em homens heterossexuais e em regiões de alta transmissão.
“A relação entre a circuncisão e a transmissão
do HIV é, no mínimo, pouco clara, o que é ilustrado pelo fato de que os Estados
Unidos apresentam alta incidência de DSTs e infecções por HIV com alto
percentual de circuncisões de rotina”, afirma a associação holandesa. “Na
Holanda, ocorre exatamente o contrário: baixa incidência de HIV/AIDS, combinada
com um número relativamente baixo de circuncisões.”
Em
homens que mantêm relações sexuais com outros homens e são ativos, a proteção
da circuncisão contra o HIV é parcial, enquanto, entre os passivos, não foram
observadas diferenças.
Outras
DSTs, como a gonorreia, sífilis, clamídia, herpes, o vírus do papiloma humano e
úlceras genitais, foram estudadas pela medicina porque se acreditava que a
circuncisão evitaria seu contágio. Mas não existem evidências que comprovem
esta afirmação.
Fonte:
BBC News Mundo
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