Cerrado desmatado
pode reduzir águas nos rios em 1/3 e afetar geração de energia, indica estudo
Os
rios do Cerrado, responsáveis por boa parte do abastecimento hídrico e da
geração de energia elétrica do Brasil, perderam 15,4% de sua vazão de água por
causa do desmatamento e das mudanças climáticas entre 1985 e 2022.
E
a perspectiva de futuro não é nada animadora: um terço do volume de águas (34%)
tende a ser perdido até 2050 caso a destruição do bioma continue no ritmo
atual.
Essas
são algumas das conclusões de um estudo inédito sobre a redução das vazões dos
rios do Cerrado, realizado pelo geógrafo Yuri Salmona, doutor em ciências
florestais pela Universidade de Brasília (UnB).
A
pesquisa será apresentada nesta quinta-feira (10/11) na Conferência das Nações
Unidas para o Clima, a COP 27, no Egito.
Oito
das 12 principais bacias hidrográficas brasileiras — como as dos rios São
Francisco e Paraná — nascem no território do Cerrado, conhecido como
"berço das águas" e segundo maior bioma do país, só atrás da
Amazônia.
A
pesquisa, que foi apoiada pelo Instituto Sociedade, População e Natureza
(ISPN), analisou o comportamento de 81 bacias hidrográficas. No total, 88%
delas já apresentam diminuição da vazão de água causada por alterações do uso
do solo e, em menor escala, pelas mudanças climáticas.
O
geógrafo mediu a recente perda e a tendência para o futuro por meio de modelos
matemáticos, compilando dados históricos sobre vazão de água, alterações no uso
do solo, chuvas e evapotranspiração (ciclo de retorno da água à atmosfera).
Segundo
ele, 56,7% da queda da vazão se deve a mudanças do uso do solo no entorno dos
rios, especialmente para expansão do agronegócio — outros 43,3% foram causados
pelas mudanças climáticas no planeta.
Em
grande parte, a vegetação do Cerrado vem sendo destruída para implantação de pastos
ou de grandes áreas de cultivo de commodities, como a soja. Estima-se que 47%
da área original do bioma já foi totalmente desmatada.
"De
1985 para cá, nós perdemos 19,7 mil metros cúbicos de água por segundo nas
bacias analisadas, o equivalente à vazão do rio Paraná. É como se tivéssemos
jogado fora o rio Paraná inteiro nesse período", explica Salmona.
Para
projetar a queda da vazão nos próximos 28 anos, o pesquisador considerou os
índices de desmatamento atuais e a tendência para o futuro.
Ele
levou em conta uma possível queda dessa taxa — hoje entre 5 mil e 8 mil km² por
ano — porque se o desmatamento continuar no ritmo atual, logo não haverá mais
Cerrado para desmatar. "É como um homem calvo: ele já perdeu todos os fios
de cabelo com potencial para cair. Os restante não vai cair porque é o resto
mesmo", explica.
Segundo
Salmona, perder um terço dessas bacias significa diminuir a oferta de água que
vai chegar nas torneiras da população, pois os rios que nascem no Cerrado
abastecem dezenas de milhões de pessoas no país.
Outra
consequência é a geração de energia elétrica.
"Menos
água significa que vamos gerar menos energia elétrica nas usinas. Conservar o
Cerrado é uma questão estratégica e de soberania nacional", diz o
geógrafo, cujo estudo foi apresentado no programa de doutorado da UnB, na
semana passada.
Das
bacias analisadas, Salmona destaca três rios cujo volume de água está caindo
com o avanço do agronegócio em seu entorno: o rio da Corda, no Maranhão, e os
rios Arrojado e Ondas, ambos na Bahia.
No
primeiro, o volume diminuiu 25% de 1985 a 2022 — ou seja 391,5 metros cúbicos
por segundo.
De
acordo com o geógrafo, 74% desse valor teve como causa a substituição da
vegetação original do entorno para dar lugar a pastagens, produção de
commodities e áreas urbanas. Para os próximos 28 anos, as projeções indicam uma
perda 56% do tamanho atual do rio da Corda.
No
oeste baiano, a situação é parecida.
Os
rios de Ondas e Arrojado registraram diminuição do volume de água em 25% e
18,2%, respectivamente. E a tendência é que o primeiro vá perder 56% da água
até 2050; e o segundo, 36,2%.
"As
comunidades que vivem nessas áreas já estão sentindo os efeitos em seu modo de
vida com a diminuição da água, algumas só conseguem ficar em períodos de cheia.
Já existe o que chamamos de 'guerra da água', com grupos econômicos controlando
o acesso à água enquanto a população sofre com a escassez", explica
Salmosa.
Em
entrevista recente à BBC News Brasil, o biólogo Reuber Brandão, professor de
manejo de fauna e de áreas silvestres da UnB, afirmou que nascentes de alguns
rios no oeste da Bahia, como o Formoso e o Arrojado, recuaram vários
quilômetros em virtude do avanço do agronegócio.
"Conheço
veredas cujas nascentes recuaram mais de 10 quilômetros em relação à original.
Essas áreas, que tinham a presença de corpos aquáticos na paisagem, passaram a
ser muito mais secas", disse.
"Isso
tem um impacto muito grande sobre fauna e flora, porque as plantas que precisam
ter contato com a água do solo sofrem um estresse hídrico e começam a morrer.
Já a fauna foge para procurar água", completou.
• Irrigação de soja
Além
do desmatamento, boa parte da água do Cerrado é utilizada para irrigação de
produtos agrícolas, principalmente a soja. Essa água é retirada do solo com
autorização do Estado, por meio de outorgas previstas na lei.
Ela
é utilizada nos chamados pivôs centrais, círculos de irrigação com uma lança de
150 metros.
Uma
reportagem da Agência Pública de 2021 apontou que, apenas no oeste baiano, o
agronegócio capta 1,8 bilhão de litros de água por dia de maneira gratuita para
irrigação, com autorização do governo do Estado.
Esse
volume seria o suficiente para abastecer cerca de 11,8 milhões de brasileiros.
Parte dessa água é retirada por meio de barramentos em riachos e veredas, além
da captação direta de rios e de poços.
"O
agronegócio está inviabilizando seu próprio modelo ao desmatar e utilizar a
água dessa maneira sem controle externo, porque ele depende da água para
funcionar. Não estamos apenas exportando soja, mas exportando água. E se a água
acabar, o que vai acontecer? É a cobra comendo o próprio rabo", diz
Salmona.
• Biodiversidade do Cerrado
O
Cerrado é a savana com maior biodiversidade no planeta, com cerca de 14 mil
espécies de plantas, além de uma rica fauna.
Segundo
o Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real (Deter), do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o bioma perdeu 4.091,6 km² para o
desmatamento entre janeiro e julho deste ano, alta de 28,2% em relação ao mesmo
período do ano passado.
Os
dados mostram que os Estados que mais desmataram estão na região conhecida como
Matopiba — principal fronteira de expansão agrícola no país: Maranhão,
Tocantins, Piauí e Bahia.
De
acordo com o MapBiomas, plataforma que monitora o uso do solo no Brasil, 45,4%
do Cerrado já foi destruído para dar lugar à agropecuária.
Alguns
estudiosos do bioma, como Yuri Salmona e Reuber Brandão, defendem que a
economia brasileira teria mais benefícios se investisse em ciência e tecnologia
desenvolvidas a partir da abundante biodiversidade do Cerrado do que com o
atual modelo centrado em monoculturas e produção de commodities para
exportação.
"Hoje
o Brasil está destruindo o potencial econômico de 14 mil espécies, que poderiam
movimentar a indústria de cosméticos, por exemplo, para focar na produção de
três espécies: soja, capim e eucalipto", diz Salmona.
Já
Brandão acredita que produtos de vários setores poderiam ser desenvolvidos.
"O
Cerrado tem um potencial de biodiversidade gigantesco. Seja para bioprodutos
tecnológicos, como colas, ou para alimentícios, cosméticos e medicamentos, como
analgésicos. Há proteínas do veneno da jararaca, por exemplo, com valor
econômico enorme. Ou a grande quantidade de palmeiras e castanhas que nunca
foram estudadas", explicou.
Como fogo é usado para evitar incêndios
no Cerrado e Pantanal
Normalmente
apontado como um vilão do meio ambiente, o fogo tem sido cada vez mais usado
para prevenir incêndios em unidades de conservação brasileiras.
Por
meio de queimadas controladas feitas antes da estiagem, gestores de parques e
comunidades tradicionais buscam reduzir a quantidade de material inflamável
disponível, como capim e folhas secas.
A
técnica vem sendo usada principalmente no Cerrado, mas já começa a ser aplicada
em outros biomas, como o Pantanal e em formações savânicas na Amazônia.
O
objetivo é impedir a ocorrência de grandes incêndios no auge da seca, quando
fica mais difícil controlar as chamas e o fogo costuma ser bem mais destrutivo.
As
queimadas são aplicadas em áreas diferentes de cada vez, para que os animais
consigam fugir e a vegetação tenha tempo de se regenerar. Agentes monitoram as
chamas para mantê-las baixas e evitar que escapem para outras áreas.
Segundo o Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão ambiental federal, hoje 37
unidades de conservação federais no Brasil já realizam as chamadas
"queimas prescritas".
A
técnica não é empregada em florestas tropicais, como a Mata Atlântica e a
Floresta Amazônica. Nesses ambientes, mais úmidos, o fogo não costuma ocorrer
naturalmente e tende a provocar danos maiores.
"É
uma quebra de paradigma", diz à BBC News Brasil o coordenador de Prevenção
e Combate a Incêndios do ICMBio, João Morita.
Ele
afirma que, ao incorporar o fogo em suas políticas, o ICMBio conseguiu reduzir
a incidência de grandes incêndios em unidades de conservação e atenuou
conflitos com comunidades que dependem das queimadas para manter seus modos de
vida.
O
tema, porém, é controverso, e há várias iniciativas no país que buscam desencorajar
o uso tradicional das queimadas por associá-las à degradação ambiental (leia
mais abaixo).
• Biomas íntimos do fogo
No
Brasil, as queimas prescritas começaram a ser adotadas em 2014, no Cerrado.
Desde então, foram incorporadas por quase todos os 15 parques nacionais nesse
bioma.
João
Morita, do ICMBio, diz que a prática já reduziu a incidência de grandes
incêndios em locais como a Serra Geral do Tocantins, a Serra da Canastra (MG),
a Chapada das Mesas (MA) e a Chapada dos Guimarães (MT).
Na
Chapada dos Veadeiros (GO), que sofreu um grande incêndio em 2021, as queimas
prescritas evitaram que as chamas chegassem às áreas de uso público, diz
Morita.
Em
2017, a técnica passou a ser aplicada também em áreas de savanas semelhantes ao
Cerrado na Região Amazônica, como no Parque Nacional do Viruá (RR), na Reserva
Biológica do Guaporé (RO) e no Parque Nacional dos Campos Amazônicos (RO e AM).
E,
em 2021, o método chegou ao Pantanal, um ano após o bioma sofrer incêndios
devastadores.
Ali,
a queima prescrita tem sido testada no Sesc Pantanal, a maior Reserva
Particular do Patrimônio Natural (RPNM) do país, e ainda neste ano deve ser
aplicada no Parque Nacional do Pantanal Matogrossense.
Morita,
do ICMBio, diz que as espécies vegetais do Pantanal têm 70% de similaridade com
as do Cerrado, o que torna a queima prescrita uma possível ferramenta para
combater os incêndios catastróficos que têm afetado o bioma.
Ele
diz que os pesquisadores à frente dos testes no Sesc Pantanal devem finalizar
nos próximos meses uma publicação científica sobre os impactos da queima na
fauna e flora locais.
A
se confirmarem os efeitos positivos, Morita diz que a técnica tende a ser
expandida aos poucos para outras partes do bioma.
O
ICMBio também tem auxiliado órgãos estaduais a implantar o método - é o caso do
Parque Estadual do Juquery, última área protegida de Cerrado na Grande São
Paulo.
O
parque teve um grande incêndio em 2021 e deve começar a fazer queimadas
prescritas neste ano, segundo Morita.
Há
ainda a intenção de levar a técnica no futuro para unidades de conservação na
Caatinga e no Pampa, segundo o gestor do ICMBio.
As
queimas controladas também vêm ganhando espaço nos últimos anos em outros
países que têm sido duramente afetados por incêndios, como o Canadá, os EUA, a
Austrália e Portugal.
Tanto
no Brasil quanto em alguns desses países, gestores de parques têm trocado
experiências com povos indígenas e comunidades tradicionais, que há séculos
manejam o fogo em territórios com grande biodiversidade.
• Fenômeno natural
Nos
biomas brasileiros onde o ICMBio realiza queimas prescritas, o fogo pode ser
provocado naturalmente por raios, normalmente no fim ou no início da estação
chuvosa.
Nessas
épocas, há alguma umidade no ar e na terra, o que ajuda a controlar as chamas.
As
queimas prescritas tentam replicar esse fenômeno natural. Por isso, costumam
ser feitas antes do auge da estiagem.
"O
incêndio no auge da seca tem uma propagação muito mais veloz e é muito mais
cruel, quente e severo", diz Morita.
"A
queima prescrita é diferente: ela dá tempo aos animais se entocarem, fugirem ou
voarem. Não é uma linha de fogo reta, porque queremos propiciar rotas de
fuga", afirma.
Além
de reduzir o risco de incêndios na seca, ele diz que a queima prescrita busca
criar um mosaico de paisagens que favoreça a diversidade de plantas e animais,
já que cada espécie tende a preferir um tipo de ambiente.
Morita
afirma que as queimas também têm sido usadas em unidades de conservação para
eliminar plantas invasoras, como o eucalipto e o capim braquiária.
• A função do fogo no Cerrado
No
Cerrado, onde as queimas prescritas mais avançaram, a influência do fogo no
ambiente é estudada há bastante tempo.
As
chamas aceleram os ciclos ecológicos ao permitir a renovação da vegetação
rasteira e quebrar a dormência de sementes, que podem enfim germinar.
As
folhas tenras da rebrota alimentam mamíferos, e as flores em abundância atraem
polinizadores.
Um
artigo publicado em 2019 na revista Ecology abordou a velocidade com que o
Cerrado se regenera após o fogo.
Liderado
pela bióloga Alessandra Fidelis, professora da Universidade Estadual Paulista
(Unesp), o estudo enfocou uma erva do Cerrado (Bulbostylis paradoxa,
popularmente conhecida como "cabelo-de-índio") que começa a florescer
24 horas depois da queima.
Outro
sinal da influência do fogo no Cerrado são suas árvores com cascas suberosas
(com textura de cortiça), raízes profundas e troncos subterrâneos -
características que as protegem das chamas.
Quando
fica muito tempo sem queimar, a vegetação do Cerrado tende a se adensar, o que
reduz os habitats de plantas e animais adaptados a áreas mais abertas.
Morita
diz que, no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães (MT), por exemplo, há
áreas que não queimam há mais de 25 anos, o que provocou o desaparecimento de
algumas veredas.
Uma
das formações mais típicas do Cerrado, as veredas ocorrem à beira de rios e
nascentes e se caracterizam por uma vegetação rasteira, na qual se destacam
palmeiras de buriti.
Segundo
Morita, a ausência do fogo fez com que algumas veredas do parque fossem tomadas
por arbustos.
"Claro
que não vamos queimar todas as veredas, mas estamos reabrindo as veredas que
estavam fechadas", diz Morita.
Ele
cita ainda os sinais da longa ausência do fogo em outro ponto emblemático do
parque, a cachoeira Véu da Noiva.
Em
1827, a então chamada Cachoeira do Inferno foi pintada pelo francês Aimé-Adrien
Taunay em meio a uma paisagem dominada por uma vegetação rasteira, com árvores
restritas à mata ciliar.
Fotos
atuais, porém, mostram que a área foi toda tomada por árvores e arbustos.
• Manejo Integrado do Fogo
João
Morita, do ICMBio, diz que a queima prescrita é uma das várias ações que
compõem o Manejo Integrado do Fogo (MIF), política mais abrangente do órgão que
regula o uso dessa ferramenta.
A
política inclui outras técnicas, como o aceiro negro, quando se queimam faixas
de vegetação para que sirvam de barreira à propagação das chamas.
O
MIF também inclui a realização de pesquisas sobre efeitos do fogo no ambiente e
acordos sobre o uso de queimadas com comunidades que vivam em unidades de
conservação ou suas imediações.
Segundo
Morita, muitas dessas comunidades "precisam do fogo para a manutenção de
seus modos de vida".
Queimadas
são usadas, por exemplo, na coivara, técnica agrícola amplamente difundida
entre povos indígenas e comunidades rurais brasileiras.
Nela,
abrem-se clareiras na mata com o auxílio do fogo para o cultivo de alimentos.
As roças são depois abandonadas até que a floresta se regenere.
Outro
exemplo é um método usado no Jalapão (TO), Oeste da Bahia e Serra do Espinhaço
(MG), onde comunidades tradicionais usam o fogo para acelerar a rebrota de
espécies vegetais usadas no seu sustento, como o capim dourado e flores
sempre-vivas.
Segundo
o ICMBio, hoje 197 unidades de conservação federais, em todos os biomas brasileiros,
trabalham de alguma forma com o Manejo Integrado do Fogo (MIF).
Em
vários pontos do país, no entanto, há iniciativas que buscam eliminar as
queimadas das zonas rurais.
Na
Amazônia, por exemplo, órgãos que assessoram agricultores têm pregado a substituição
das queimadas por técnicas nas quais folhas e galhos podados são mantidos sobre
o solo até se decomporem.
Em
entrevista à BBC em novembro de 2021, o agrônomo Osvaldo Kato, pesquisador da
Embrapa Amazônia Oriental, disse que o crescimento da população e a diminuição
das áreas de floresta eram obstáculos à manutenção das queimadas tradicionais
na Amazônia.
Segundo
ele, "quando havia muita terra e menos gente", era possível aguardar
muito anos até que as áreas queimadas para a abertura de roças se regenerassem
e voltassem a ser cultivadas.
"Mas
não dá mais tempo de fazer isso", afirmou.
Nesse
cenário, segundo ele, é preferível adotar métodos agroecológicos, que dispensam
o fogo e permitem cultivar uma mesma área ininterruptamente.
Além
disso, segundo Kato, qualquer tipo de queimada injeta gás carbônico na
atmosfera num momento em que a humanidade precisa cortar emissões para frear o
aquecimento global.
Movimentos
contrários às queimadas também têm crescido na Caatinga, onde o fogo frequente
é apontado como uma das principais causas para a crescente desertificação no
bioma.
A
própria legislação proíbe o uso do fogo para suprimir vegetação exceto em
situações pontuais, como em práticas de subsistência de comunidades
tradicionais ou em queimas controladas em unidades de conservação. Em áreas
privadas, realizar queimadas é ilegal a menos que haja autorização do órgão
ambiental competente.
João
Morita, do ICMBio, diz que, quando muito frequente ou mal empregado, o fogo de
fato pode ser bastante nocivo. É o caso, segundo ele, das queimadas usadas para
substituir florestas por pastagens ou expandir monoculturas (plantações de uma
única espécie).
Esse
uso do fogo empobrece o ambiente e deve ser reprimido, defende o gestor do
ICMBio.
Mas
ele contesta a associação entre qualquer tipo de queimada e o aquecimento
global.
Morita
diz que as queimas prescritas em ambientes de savana buscam eliminar
principalmente o capim. E esse capim, quando incinerado, recupera 100% de sua
massa em 18 meses, afirma ele.
Ou
seja, todo o carbono emitido na queima é reabsorvido um ano e meio depois,
segundo o gestor do ICMBio.
Por
outro lado, diz Morita, quando incêndios ocorrem na estação seca, o fogo
consome muitas árvores além do capim, gerando muito mais emissões.
Como
ele afirma que incêndios vão continuar a ocorrer - sejam intencionais,
acidentais ou naturais -, Morita diz que é preferível agir para limitar seus
danos.
O
gestor diz ainda que nem todas as comunidades em unidades de conservação têm
condições de abrir mão do fogo para abrir roças. Nesses casos, segundo ele, é
melhor ordenar o uso das queimadas do que reprimi-las.
"Não
é todo mundo que tem um trator ou a possibilidade de receber tecnologias
alternativas ao fogo para produzir alimentos", diz João Morita.
Fonte:
BBC News Brasil
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