sexta-feira, 10 de março de 2023


 Campos Neto, uma mente subalterna no comando do BC

Podia-se criticar à vontade Roberto Campos, avô. Mas não se podia negar, no Campos ministro, a coragem de assumir suas posições, a capacidade de iniciativa, as soluções criativas, visando resolver problemas concretos.

Do avô, Roberto Campos Neto herdou apenas o nome. É um burocrata, um executivo que se daria bem no segundo escalão de uma grande empresa, jamais em um cargo de chefia. Nem se fala sobre sua timidez. É possível ser um grande executivo sendo tímido. Até se poderia dar um desconto na sua falta de ideias.

Mas as informações dos últimos dias mostram, que é fundamentalmente um subalterno, uma pessoa que cumpre missões, com pouco senso de dignidade e de responsabilidade pública.

Agora, à medida que vão caindo as fichas, que aparece Campos Neto em pic-nics com Ministros de Bolsonaro, em grupos de WhatsApp, mostrando uma intimidade indecorosa, em relação ao alto cargo de presidente de um Banco Central independente, vai caindo a ficha em relação a seus atos.

O primeiro deles quase passou despercebido. Foi quando o Banco Central forneceu ao governo Bolsonaro estudos estatísticos supostamente provando que a imunidade de rebanho seria melhor para a economia do que a vacinação. O então Ministro Paulo Guedes chegou a mencionar o trabalho, mas, depois, ele foi recolhido, ao perceberem o vexame que significava.

Agora, o furo do Metrópoles mostra que, no grupo de WhatsApp dos Ministros de Bolsonaro, Campos Neto apresentou projeções, mostrando que Bolsonaro poderia vencer as eleições graças à abstenção. Provavelmente foram esses estudos que embasaram a iniciativa criminosa de colocar a Polícia Rodoviária Federal para bloquear ônibus com eleitores no Nordeste.

Nem se fale do primarismo ingênuo e vergonhoso de votar nos dois turnos das eleições com a camisa verde-amarelo, símbolo do bolsonarismo. Só uma pessoa extremamente ingênua e sem discernimento para incorrer nesse desgaste.

À medida que vazam suas primeiras conversas com o governo Lula, Campos Neto revela-se uma pessoa pouco confiável, dizendo uma coisa em particular, outra nas notas do Banco Central.

Mais que isso, a manutenção de reuniões fechadas com o mercado, a maneira como o presidente do BTG Pactual, André Esteves, se referiu a ele em uma live interna, tudo isso mostra uma pessoa sem dimensão pessoal e pública.

No entanto, é ele o condutor da política monetária, um burocrata incapaz de um pensamento inovador, incapaz de um gesto sequer para reduzir spreads bancários, para impedir a cartelização na formação de taxas, para segurar a volatilidade do câmbio.

A tragédia brasileira não reside apenas nisso, mas em uma mídia incapaz de uma discussão aprofundada sequer sobre os rumos das taxas de juros, ou sobre a necessidade de aprimoramento do sistema de metas inflacionárias.

Ontem, na Globonews, era possível assistir um comentarista absolutamente jejuno em temas econômicos, disparar dardos nos infiéis que ousassem duvidar do Banco Central. Parecia Moisés destruindo o bezerro de ouro.

Criou-se mais um paradoxo nessa fantástica democracia brasileira. A independência do Banco Central é vendida como um dos pilares das sociedades democráticas. Mesmo sem ter recebido um voto sequer, o BC passa a definir, de moto próprio, a sua política econômica. E qualquer crítica ao BC é interpretada como uma ameaça à democracia. Existe algo mais anti-democrático do que isso? Não se dá a palavra a um economista sequer que ouse criticar o banco.

O subdesenvolvimento é trabalho de gerações.

        ACENOS DE CAMPOS NETO MOSTRAM BOA VONTADE, MAS NÃO CONVENCEM

Os acenos do presidente do Banco Central ao governo, não tem sensibilizado os petistas. O vice-líder do governo na Câmara, Rogério Correia (PT-MG), considera que Roberto Campos Neto deve explicações ao país sobre por que os juros são tão elevados no Brasil.

“Mostrou boa vontade, mas não convence sobre taxas tão altas e fora da realidade brasileira e mundial”, disse o deputado ao Congresso em Foco.

Segundo o deputado, embora tenha feito acenos para manter boas relações com o governo, Campos Neto não explicou o porquê de os juros serem tão altos. “Não explica por que a taxa aqui tem defasagem de 8% em relação à inflação. É a maior diferença entre inflação e taxa de juros no mundo. O segundo país, o México, tem defasagem de 4%. A inflação está relativamente baixa e a taxa de juros completamente alta”, afirmou o vice-líder.

Nas últimas semanas o presidente Lula e parlamentares do PT aumentaram o tom das críticas à atuação de Campos Neto, indicado ao cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. A taxa de juros está em 13,75% ao ano, o maior patamar em seis anos.

“Isso é bom para banqueiro e especulador, e péssimo para investimento. É um país que precisa crescer no pós-pandemia, retomar o desenvolvimento, que á a meta de planejamento social do governo eleito”, critica o vice-líder do governo. “O Banco Central não se adaptou à nova realidade, inclusive eleitoral, e mantém uma política fiscal completamente ortodoxa. É preciso que se mantenha uma campanha no país contra juros abusivos”, defende.

Campos Neto disse que gostaria de se encontrar com Lula para explicar o trabalho do BC. O economista contou que não gosta de manter os juros elevados, mas que o compromisso do banco é com o crescimento econômico, algo que, segundo ele, tem de ser feito de maneira sustentável a longo prazo.

“Queria começar fazendo esse registro. Que o Banco Central precisa trabalhar junto com o governo, e que eu vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para aproximar o Banco Central do governo”, disse.

Campos Neto se esquivou ao ser questionado se votou vestido com a camisa da seleção brasileira, símbolo do bolsonarismo e por que se manteve no grupo de Whatsapp de ministros do governo Bolsonaro após a aprovação da autonomia do Banco Central. “Ato privado”, respondeu ele.

Em novo aceno ao governo, o presidente do BC afirmou que era importante reconhecer a legitimidade da eleição de Lula. “A gente (BC) sempre procurou convergência de ideias, nunca procurou nada em termos de colocação política. Nunca participei de nenhum ato político, de nenhuma campanha, não tenho mídia social. Sempre procuramos isolar o Banco Central”, ressaltou.

        Campos Neto pede a investidores "boa vontade" com governo Lula e diz que "é justo questionar juros altos"

O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, tem pedido, que os investidores tenham "um pouco mais de boa vontade" com o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e afirmou que é “justo questionar juros altos”. O BC vem sendo alvo de duras críticas por parte do presidente Lula, de integrantes do governo e de aliados em função da manutenção da taxa básica de juros em 13,75% ao ano, a mais alta do mundo.

"O investidor é muito apressado, é muito afoito. A gente precisa ter um pouco mais de boa vontade com o governo, 45 dias é pouco tempo. Acho que tem tido uma boa vontade enorme do ministro Haddad, de falar: olha, temos aqui um princípio de seguir um plano fiscal com disciplina, tem um arcabouço que está sendo trabalhado. Já foram elaborados alguns objetivos. A gente precisa ter um pouco de boa vontade", disse Campos Neto durante um evento com com investidores promovido pelo banco BTG Pactual, de acordo com o G1.

A fala indica uma espécie de jogo duplo de Campos Neto. Enquanto em público dá declarações elogiosas ao governo federal, ele mantém a política monetária do governo Jair Bolsonaro (PL) - por quem foi indicado para a presidência do BC -, agradando o mercado e a elite financeira.

Segundo Campos Neto, é "justo" debater o atual patamar da taxa de juros. “Eu acho que é justo questionar juros altos, é importante que tenha alguém que faça esse papel no governo sempre, faz parte do jogo do equilíbrio natural. Quando os juros reais estão altos é importante ter o debate sobre por que está alto, é trabalho do Banco Central esclarecer e melhorar a comunicação".

Campos Neto disse, ainda, acreditar ser possível ampliar os gastos sociais, como deseja o governo Lula, em paralelo com a responsabilidade fiscal. "Acho que dá pra fazer um fiscal responsável com social, dá pra casar. Tem de ter uma priorização de gastos, uma avaliação dos programas existentes", observou.

 

       "A questão não é se Campos Neto tem boas maneiras ou não, mas sua política destrutiva", diz Breno Altman

 

O jornalista Breno Altman ressaltou, durante participação no Bom dia 247, que o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, “não vai recuar um passo da política monetária que está aplicando” e deverá manter a taxa básica de juros no patamar de 13,75% ao ano.

 “Ele tenta posar de bom moço para arregimentar mais apoios e continuar o que está fazendo. Ele não vai recuar um passo. Ele não vai aparecer em uma entrevista como presidente do Banco Central passando recibo do papel político que cumpre. Ele foi lá, manso nas suas intervenções, disse que quer a maior harmonia possível com o governo, que entende a preocupação do Lula com as políticas sociais. Agora, não recua um passo da política monetária que está aplicando. Essa é a essência do problema, não é se o Roberto Campos Neto tem boas maneiras ou não”, disse Altman, repercutindo a entrevista concedida pelo presidente do BC ao programa Roda Viva, da TV Cultura.

O jornalista lembrou do avô de Campos Neto, Roberto Campos, que também parecia cordial, mas que nos bastidores destruía a economia brasileira. “O avô dele - a quem eu tive oportunidade de conhecer - também tinha boas maneiras. ‘Bobby Fields’, o velho Roberto Campos da ditadura militar, que fez com Otávio Bulhões a dupla mais recessiva da história do país, que eliminou direitos, que era a grande campeã do monetarismo como escola econômica, aquela que precede e formula parte do que a gente veio a conhecer como neoliberalismo. Roberto Campos, avô do Roberto Campos Neto, também tinha boas maneiras. Não necessariamente os piores inimigos do povo são mal-educados igual o Bolsonaro. Há inimigos do povo que são cordiais, cultos, gentis”, completou.

Ainda segundo Altman, Campos Neto tentou fazer chantagem ao sinalizar que poderá revisar a política monetária desde que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adote uma “política fiscal restritiva”, baseada no corte de gastos e investimentos. “Ele [Roberto Campos Neto] defendeu a continuidade da política monetária, sem nenhum tipo de aceno. Aliás, ele faz uma chantagem. No elogio dele à Fazenda [Ministério da Fazenda] há uma chantagem, que é: vocês apliquem uma política fiscal restritiva, apliquem as fórmulas da austeridade fiscal, cortem gastos, cortem investimentos, privatizem, que aí eu resolvo a política monetária. Ele usa a política monetária como chantagem”, destacou.

 

       "Banco Central não pode estar desconectado da realidade e do projeto eleito pelo povo", diz Gleisi

 

A presidente nacional do PT, deputada federal Gleisi Hoffmann (PT), usou as redes sociais para cobrar explicações do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, sobre a manutenção da taxa básica de juros da economia brasileira em 13,75% ao ano.

"Campos Neto tentou, mas não explicou o básico no Roda Viva. Por que o juro real no Brasil é mais do que o dobro da 2ª maior taxa do mundo? E qual o risco fiscal a temos. Mesmo autônomo, o BC não pode estar desconectado da realidade brasileira e do projeto eleito pelo povo”, postou Gleisi no Twitter.

A postagem de Gleisi faz referência à entrevista concedida por Campos Neto ao Roda Viva, exibida pela TV Cultura na segunda-feira (13). Na entrevista, Campos Neto disse que votará contra a mudança na meta de inflação, o que que mantém implícita a aposta na manutenção da taxa de juros de 13,75% ao ano. Ele também não justificou as razões para manter o patamar dos juros entre os mais elevados do mundo.

Gleisi disse ser preciso enfrentar o “discurso mercadocrata dos ricos”, em relação ao risco fiscal que, segundo ela, é “uma mentira corroborada pelo BC". "O Banco Central, uma autarquia do Estado brasileiro, corrobora com a mentira, impondo um arrocho de juros elevados ao Brasil. Isso tem que mudar”, declarou.

 

       Juros altos do BC poderão custar R$ 203 bilhões a mais para o Tesouro em relação a 2022. Por Jeferson Miola

 

O relatório fiscal do Banco Inter de 30/1/2023 projeta que a despesa do Tesouro Nacional para o pagamento dos juros da dívida poderá atingir R$ 790 bilhões em 2023.

Será mais um recorde vergonhoso do Banco Central. E custará R$ 203 bilhões a mais que o recorde histórico anterior, alcançado no ano passado, quando o Tesouro gastou R$ 586,4 bilhões devido ao aumento do custo da dívida.

O aumento das despesas do Tesouro para o pagamento dos juros da dívida saltou enormemente a partir do início de 2021, quando o Banco Central elevou a taxa básica de juros até alcançar os atuais 13,75%s ao ano.

A alta absurda de juros faz do Brasil o paraíso mundial do rentismo, com ganhos reais de 8% ao ano, já descontada a inflação.

Com esta política de juros estratosféricos, em 2021 e 2022 o Banco Central gerou uma despesa adicional de R$ 410 bilhões para o Tesouro Nacional em relação ao patamar de juros de 2020.

De acordo com o economista André Lara Resende, nos dois anos o país consumiu 1,75% a mais do PIB em relação a 2020 para pagar os juros da dívida, e 3,65% a mais em 2022.

Com o desembolso projetado para 2023 pelo Banco Inter, de R$ 790 bilhões com os custos da dívida, o Banco Central obriga o Tesouro a gastar R$ R$ 477 bilhões a mais que o patamar de gastos de 2020 – algo próximo a 6% do PIB. Isso significa que a espiral de juros altos acumulará R$ 887 bilhões de gastos adicionais em três anos [R$ 410 bi em 2021 e 2022 + R$ 477 bi em 2023].

A política de juros altos do Banco Central é ineficiente e tremendamente prejudicial ao país. Esta taxa pornográfica de ganho real de 8% ao ano, que beneficia um punhado de rentistas em prejuízo de dezenas de milhões de brasileiros, impede o crescimento econômico e joga o país na recessão.

A manutenção desta política equivocada pelo Banco Central justifica as desconfianças em torno do presidente bolsonarista da instituição: ou Roberto Campos Neto está executando um plano de terrorismo econômico e sabotagem do governo Lula, ou ele está aprofundando o processo de saqueio e pilhagem do país. Ou, então, ele está fazendo as duas coisas ao mesmo tempo.

 

Fonte: Por Luis Nassif, no Jornal GGN/Congresso em Foco/Brasil 247

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