Bolsonaro: em público, a simplicidade; no privado, o esforço para levar as joias
A
âncora da CNN Brasil Daniela Lima informou que a ex-primeira-dama Michelle
Bolsonaro acionou um advogado durante o fim de semana para providenciar a
devolução das joias enviadas pela Arábia Saudita supostamente como presentes.
Parte
das peças, avaliadas em R$ 16,5 milhões, ficou retida na alfândega porque não
foi declarada por emissários do governo que voltavam de viagem do país árabe.
Para ficar com as jóias era preciso pagar taxas de importação ou incluí-las no
acervo presidencial como itens de interesse público.
Fora
isso é descaminho.
A
pressa de Michelle em tirar as joias do colo mostra o potencial do estrago na
imagem da ex-primeira-dama, já lançada por Valdemar Costa Neto, chefe do PL,
como possível candidata a presidente.
A
caminhada, a exemplo do que aconteceu com seu marido, envolve a construção da
imagem, junto ao grande público, de que no fundo eles são pessoas simples e
despojadas que não vestem roupas caras e se alimentam à base de pão com leite
condensado.
Inúmeras
vezes Bolsonaro se deixou fotografar em público, para suas redes, posando como
homem do povo, incapaz de se incomodar com a sujeira da farofa do frango
derrubada em seu colo.
Pois
hoje, nas redes sociais, o clã é assombrado pela má repercussão do caso das
joias.
Um
levantamento da consultoria Arquimedes apontou que a maioria das menções à
história no Twitter é negativa (74,7% dos usuários). Poucos foram a público
defender o direito de Bolsonaro e esposa receberam ilegalmente os presentes
milionários oferecidos pela monarquia saudita interessada em negócios com o
Brasil.
Quem
acompanha os descaminhos do clã vai se lembrar que histórias mal contadas a
respeito de rachadinhas, compras de imóveis em dinheiro vivo e até cheques
suspeitos para a primeira-dama não impediram que Bolsonaro obtivesse 58 milhões
de votos na última eleição, a maioria vindos de enclaves do Sul, Sudeste e
Centro-Oeste.
Há
nuances entre um caso e outro, porém.
Os
escândalos destrinchados em sua gestão foram gestados em seus tempos de
parlamentar e/ou envolviam os filhos, por quem seus eleitores não costumam
botar a mão no fogo. “Votei no pai, não nos filhos”, costumam dizer os eleitores
mais fieis de Bolsonaro.
É
provável que a história das joias seja recebida com ceticismo ou sono profundo
por quem foi convencido, nos últimos anos, a não consumir nem confiar em nada
do que sai na imprensa profissional. A história das joias foi revelada por dois
repórteres do Estado de S.Paulo.
A
essa altura os grupos de Telegram e WhatsApp já produzem versões palatáveis
para justificar a história até aqui injustificada e injustificável como se
fosse parte de uma campanha de perseguição.
Mas
a pressa da ex-primeira-dama para se livrar logo das joias e se dizer traída
talvez aponte que é melhor não correr riscos.
Uma
coisa é convencer os eleitores dispostos a serem convencidos. Outra é convencer
a Justiça.
Ø
Joias
foram recebidas no dia que Bolsonaro acertou a venda de uma refinaria aos
árabes
A
agenda de viagens internacionais do então ministro de Minas e Energia, Bento
Albuquerque, e de sua comitiva já era alvo de monitoramento por auditores da
Alfândega. O Estadão apurou que a intensidade dos compromissos fora do País –
dez viagens para o exterior em um único ano – já havia chamado a atenção dos
órgãos de fiscalização.
O
Estadão fez um levantamento sobre todos os compromissos oficiais de Bento
Albuquerque registrados em sua agenda oficial como ministro, desde que assumiu
o cargo em janeiro de 2019, até deixá-lo em maio de 2022, em meio às pressões
de Bolsonaro para intervir no preço dos combustíveis da Petrobras.
Os
dados oficiais mostram que as viagens constantes do ministro e sua comitiva só
cessaram em 2020, quando eclode a pandemia do coronavírus. Só em 2019, foram
dez viagens ao Exterior, englobando países como Israel, Estados Unidos,
Argentina, Japão, China, Áustria, França e Espanha.
Em
alguns compromissos, o então ministro acompanhou o ex-presidente Jair Bolsonaro
(PL). Em outros, seguiu com sua comitiva para eventos ligados ao setor de minas
e energia.
Em
2020, com a pandemia, o número de viagens caiu consideravelmente, resumindo-se
a três compromissos. Albuquerque esteve apenas na Índia, nos Estados Unidos e
na Áustria, para a conferência anual do setor elétrico. Em 2021, o ritmo voltou
a se acelerar, mesmo com as restrições impostas pela covid-19. Naquele ano,
Bento Albuquerque participou de seis encontros internacionais. Passou pelos
Estados Unidos, Áustria, Rússia, Inglaterra e Emirados Árabes. Foi em outubro
de 2021 que o então ministro fez a visita à Arábia Saudita.
Antes
de voltar ao Brasil no dia 26 de outubro de 2021 e tentar entrar no Brasil de
forma ilegal com as joias dadas a Bolsonaro pelo regime saudita, Bento
Albuquerque teve compromissos durante quatro dias, incluindo encontro com o
príncipe Abdulaziz bin Salman Bin Abdulaziz Al-Saud, ministro de Energia da
Arábia Saudita, e o príncipe Mohammed bin Salman.
Foi
na despedida desta viagem, em 25 de outubro, que o regime árabe entregou os
presentes milionários para Bolsonaro, quando deixava o hotel com a sua comitiva
para retorno ao Brasil.
Naquele
mesmo momento, no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro almoçava na Embaixada da
Arábia Saudita, em Brasília, na residência de Ali Abdullah Bahittam. Bolsonaro
estava acompanhado do filho e senador Flávio Bolsonaro, além do ex-ministro das
Relações Exteriores, Carlos França e diplomatas de demais países do Oriente
Médio.
Naquele
encontro, um dos temas abordados foi a venda da refinaria Landulpho Alves
(RLAM), localizada em São Francisco do Conde, na Bahia, pela Petrobras. A
estatal repassou a refinaria para o Mubadala Capital, dos Emirados Árabes. A
operação foi concluída em novembro com o pagamento de US$ 1,8 bilhão (R$ 10,1
bilhões à época) para a Petrobras.
No
mês seguinte, em 19 de novembro, quando a Receita já havia retido as joias de
diamantes, Bento Albuquerque teve uma conversa por telefone com o ministro de
Energia da Arábia Saudita.
Em
22 de novembro, ele participou de uma reunião no Ministério das Relações
Exteriores, com o embaixador Carlos França. Três dias depois, fez uma reunião
com o ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino da Arábia Saudita.
O
Estadão procurou o Itamaraty e a Embaixada da Arábia Saudita no Brasil para
comentar o assunto. Por meio de nota, o Ministério das Relações Exteriores
declarou que “está averiguando eventual gestão junto à Receita Federal no caso,
e contribuirá para seu esclarecimento caso a gestão tenha sido feita”. A
Embaixada da Arábia Saudita não se manifestou até a publicação desta
reportagem.
Apesar
de Bento Albuquerque ter liderado o Ministério de Minas e Energia por apenas
cinco meses em 2022 – de janeiro a maio -, o almirante chegou a realizar sete viagens
internacionais neste curto período, passando por países como Suriname, Guiana,
Uruguai, Portugal, Rússia e Índia.
As
relações que o governo Jair Bolsonaro mantinha com o regime da Arábia Saudita
envolveram anúncios de acordos bilionários feitos diretamente pelo então
presidente Bolsonaro e Mohammed bin Salman, o príncipe herdeiro da Arábia
Saudita.
Dois
anos antes da comitiva do então ministro de Minas e Energia deixar a Arábia
Saudita com pacotes de joias de diamantes avaliados em cerca de R$ 16,5 milhões,
Bolsonaro esteve em Riade, capital do país árabe, para celebrar acordos
comerciais que envolviam US$ 10 bilhões (R$ 51,7 bilhões no câmbio atual).
No
dia 29 de outubro de 2019, Bolsonaro celebrou a assinatura de um acordo que
previa o investimento bilionário no Brasil, por meio do Fundo de Investimento
Público saudita (PIF), que exploraria “oportunidades em parceria com o governo
brasileiro”.
O
próprio Bolsonaro tratou de ir às redes sociais para anunciar a negociação. “O
fundo soberano da Arábia Saudita vai investir até US$ 10 bilhões em projetos no
Brasil, cerca de R$ 40 bilhões”, escreveu o então presidente, em sua conta no
Twitter
NOTA
O
viajante ex-ministro Bento Albuquerque tem muito o que explicar. O governo da
Arábia Saudita não costuma presentear autoridades secundárias de países
estrangeiros. Ou seja, ele seria apenas o homem da mala, como se costuma dizer.
E Bolsonaro também, por ter pedido para a Receita devolver joias dois dias
antes de se mudar para os EUA.
Ø
Caso
das joias mostra que imagem de Bolsonaro se deteriora rápido e expõe disputa
por seu capital político
Polícia
Federal e Advocacia Geral da União vão investigar conduta de agentes públicos
que entraram no país com objetos de luxo recebidos em viagem internacional.
Especialistas ouvidos pela RFI dizem que o destino dos presentes deve ser o
acervo público
As
joias de mais de R$ 16 milhões que o governo da Arábia Saudita deu ao então
presidente Jair Bolsonaro e sua mulher Michelle, em outubro de 2021, têm
rendido muitos memes na internet e acaloradas conversas nos corredores de
Brasília, especialmente no PL, partido do clã Bolsonaro. O assunto ganhou novos
contornos esta semana com a informação de que chegou às mãos do ex-presidente
uma caixa que entrou ilegalmente no país. Ao deixar o governo, ele teria levado
alguns dos objetos.
É
o tipo de história que gruda no imaginário popular porque traz elementos de um
animado folhetim: os cobiçados brindes vieram daquela que é, talvez, a família
mais rica do mundo, que controla o governo e o petróleo sauditas. Um dos
presentes, um colar cheio de diamantes, chegou ao Brasil escondido dentro de
uma escultura de cavalos. Um assessor do ex-governo, que trazia parte dos
presentes, acabou barrado na alfândega, o paradeiro dos itens de luxo masculino
é incerto e, para coroar o enredo, o delegado da receita que fez a apreensão já
teve seu trabalho mostrado num programa da TV americana sobre fiscalização
aduaneira.
Bolsonaro
afirma que os presentes foram encaminhados ao acervo da Presidência da
República. A ex-primeira dama tem dito que não sabia da existência do agora
famoso colar de diamantes. O ex-ministro de Minas e Energia diz que seguiu os
procedimentos legais que pautam a troca de presentes entre autoridades de
Estado.
Ø
Aliados
de Bolsonaro avaliam que caso das joias sauditas complica retorno de
ex-presidente ao Brasil
Sem
uma linha de reação definida, o caso envolvendo o ingresso irregular no país
de joias procedentes da Arábia Saudita destinadas ao então presidente Jair
Bolsonaro e sua mulher, Michelle, complicam as tratativas para o retorno do
ex-chefe do Executivo dos Estados Unidos ao Brasil, segundo fontes ligadas a
ele disseram à Reuters.
Segundo
as fontes, Bolsonaro provavelmente deverá enfrentar uma nova investigação
criminal pelo caso. Ele agora está sem a garantia do foro privilegiado, o
que o deixa mais vulnerável a medidas restritivas como busca e apreensão.
O
ex-presidente já está sendo investigado pelo Supremo Tribunal Federal no
inquérito que apura os ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília em 8 de
janeiro e em ao menos mais quatro inquéritos. Há também ações contra o
ex-presidente analisadas na Justiça Eleitoral que pedem que ele fique
inelegível.
Não
bastasse, conforme as fontes, o caso ainda pode retirar o foco das atenções para
que o ex-presidente volte ao país no papel de líder da oposição ao governo Luiz
Inácio Lula da Silva que gostaria de encarnar.
Nesta
segunda-feira, a Polícia Federal decidiu abrir um inquérito após a Receita
Federal informar que o governo Bolsonaro não adotou os procedimentos
necessários para a incorporação ao patrimônio público de joias presenteadas
pelo governo saudita a uma comitiva brasileira que visitou o país em 2021.
Parte das joias ficou retida na Receita Federal em Guarulhos --um conjunto avaliado
em 16,5 milhões de reais--, enquanto um outro pacote foi entregue à
Presidência.
A
Receita Federal e o Ministério Público Federal de São Paulo também instauraram
apurações sobre o caso revelado na sexta-feira pelo jornal O Estado de S.
Paulo. Nesta terça-feira, a Controladoria-Geral da União (CGU) informou ter
instaurado uma Investigação Preliminar Sumária (IPS), com o objetivo de apurar
a atuação de servidores públicos no caso.
Até
o momento, conforme duas fontes, Bolsonaro não indicou qual a linha seus
aliados devem seguir para se manifestar sobre o caso, o que tem dificultado a
atuação em sua defesa até dos bolsonaristas mais aguerridos.
O
episódio tem complicadores, avaliam as fontes, porque há uma série de ofícios
de integrantes do governo pedindo a liberação das joias, retidas desde outubro
de 2021 no Aeroporto de Guarulhos, inclusive às vésperas de Bolsonaro deixar o
comando do país.
No
partido, segundo uma das fontes, a avaliação é que o caso das joias foi
mal conduzido e não é um problema partidário, mas exclusivamente de Bolsonaro e
de Michelle. A ex-primeira-dama foi aconselhada a adiar o giro que iria começar
a fazer este mês para promover o PL Mulher.
Michelle
tem sido tratada pelo presidente do partido, Valdemar Costa Neto, como uma das
apostas da legenda para 2026 caso o ex-presidente venha a ser condenado pelo
Tribunal Superior Eleitoral e impedido de concorrer.
O
próprio retorno de Bolsonaro dos Estados Unidos, segundo outra fonte ligada à
família, segue incerto e deve ser postergado em razão do caso das joias. Na
manhã de terça, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que coordenou a campanha do
pai à reeleição, chegou a publicar no Twitter que o ex-presidente voltaria ao
país no dia 15.
"Acabou
a espera! Bolsonaro vem aí! No dia 15 de março, o nosso Johnny Bravo volta para
o Brasil. Já pode pendurar a bandeira verde e amarela e vestir as cores do
nosso país. Juntos, vamos fazer uma oposição forte e responsável, pelo bem do
nosso Brasil. Deus, pátria e família!", postou Flávio.
Pouco
mais de dez minutos depois, Flávio apagou o que havia dito e se retratou.
"Peço desculpas pela postagem anterior, deve ser a saudade grande! Na
verdade a data de retorno do nosso líder @jairbolsonaro no dia 15/março
era provável, mas não confirmada ainda. Assim que houver uma data definitiva
ele mesmo divulgará, tá ok!", disse.
Flávio
Bolsonaro e os demais filhos ainda não acharam o tom para responder o caso,
segundo uma das fontes, à espera de uma linha de atuação do próprio pai. A
suspeita, conforme essa fonte, foi de "fogo amigo", ou seja, alguém
de dentro do núcleo de confiança teria vazado o caso. Flávio está
particularmente preocupado com o impacto do episódio, conforme essa fonte.
Bolsonaro
viajou para os Estados Unidos na véspera do fim do governo, não participando
das festividades de passagem de gestão para Luiz Inácio Lula da Silva. Ele
nunca aceitou publicamente a derrota para o petista.
Em
sua última versão sobre o 8 de janeiro, o ex-presidente disse "ter
certeza" que foi arquitetado pela esquerda. Contudo, investigações
oficiais já identificaram o envolvimento direto de apoiadores de Bolsonaro no
planejamento e execução da invasão e da depredação dos prédios das sedes dos
Três Poderes.
Fonte:
Yahoo Notícias/Agencia Estado/Rfi/Reuters
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