Périplo pela política externa do governo Lula III
Com visão, planejamento estratégico e investimento
em áreas-chave, o Brasil poderá cumprir sua promessa como uma voz influente no
cenário internacional.
OS GRANDES DESAFIOS DA POLÍTICA EXTERNA
O governo Lula, após dez meses de mandato, enfrenta
uma série de desafios complexos na arena da política externa. O país é uma
potência regional e tem buscado desempenhar um papel de destaque no cenário
internacional. Nesse contexto, dois desafios específicos se destacam: o
conflito entre Israel e Palestina e a Guerra na Ucrânia. Além disso, o país
assumiu a presidência rotativa do Conselho de Segurança da ONU, em outubro de
2023, posição que traz consigo uma série de responsabilidades e oportunidades internacionais
significativas. A liderança no Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) também é um
desafio. Embora esteja em um lugar de destaque, problemas estruturais internos
em áreas como industrialização, defesa, tecnologia e educação impedem o Brasil
de se colocar na linha de frente da política global.
CONFLITO ISRAEL-PALESTINA: A BUSCA POR UMA SOLUÇÃO
DURADOURA
O conflito entre Israel e Palestina é uma das
questões mais intrincadas e de longa data da história contemporânea. Esse
conflito tem sido marcado por décadas de tensões, violência e sofrimento
humano, tornando-se um desafio maior para líderes de todo o mundo. O Brasil, no
entanto, tem desempenhado um papel relevante na promoção de um cessar-fogo e na
busca por uma solução pacífica. Embora as posições do mandatário tenham variado
e por vezes distoado da posição da Esquerda brasileira, Lula expressou em duas ocasiões
que considera os ataques e sequestros de civis israelenses pelo Hamas como atos
de terrorismo. Ele também rejeitou os apelos de seus seguidores para rotular as
ações de Israel como “terrorismo de Estado”. Isso deixa o país em posição
ambígua no que diz respeito ao genocidio perpetrado por Israel.
A escalada do conflito, iniciada no dia 7 de
outubro de 2023, partiu da ofensiva do Hamas (Movimento de Resistência
Islâmica) e da posterior declaração de guerra por Israel. Os constantes ataques
à população palestina na Faixa de Gaza têm resultado em um aumento
significativo do número de vítimas civis. A cifra de mortos, que supera os oito
mil, é profundamente perturbadora, com mais de 3.500 crianças entre as vítimas.
O cenário descrito como uma “avalanche sem precedentes de sofrimento humano”
pela ONU, ilustra a tragédia em curso. É importante frisar que a população
palestina vem sendo violentada e morta pelo exército israelense por mais de
sete décadas, desde a criação do Estado de Israel em 1948, sendo motivo de
séria preocupação internacional.
O presidente Lula assumiu a tarefa de tentar mediar
a paz no Oriente Médio através de uma série de conversas com líderes globais,
incluindo o presidente russo, Vladimir Putin. O diálogo assumiu uma importância
notável devido ao conflito na Ucrânia. Ambos os líderes, em sua conversa,
enfatizaram a necessidade urgente de estabelecer um cessar-fogo imediato,
visando evitar mais perdas humanas.
Além da conversa com Putin, Lula também buscou
dialogar com mandatários de outros nove países envolvidos no conflito e/ou com
interesses na região. Isso incluiu conversações com os presidentes do Chile,
Emirados Árabes Unidos, Israel, Palestina, Egito, Venezuela, Irã, Turquia e
Colômbia. Lula também trocou impressões com o presidente do Conselho Europeu,
sublinhando seu empenho em buscar soluções multilaterais para a crise no
Oriente Médio. A atuação de Lula revela que a retomada da diplomacia presidencial
é uma extensão de sua busca por um mundo mais pacífico.
GUERRA NA UCRÂNIA: NEUTRALIDADE E MEDIAÇÃO
BRASILEIRA
A guerra na Ucrânia é um dos conflitos mais
sensíveis e complexos da atualidade, com implicações globais significativas,
incluindo o severo impacto econômico e energético. A crise na região tem sido
marcada por tensões prolongadas e atos de violência que tiveram um impacto
devastador na vida das pessoas. Nesse contexto, o Brasil adotou uma política de
neutralidade e busca desempenhar o papel de um mediador imparcial.
A abordagem do Brasil em relação à guerra na
Ucrânia é baseada na necessidade de responsabilizar todos os lados envolvidos
no conflito e evitar um alinhamento automático com as posições do Ocidente ou
da Rússia. O país tem enfatizado a importância de um mundo multipolar, onde
todas as nações têm o direito de buscar seus interesses, desde que o façam de
maneira pacífica e respeitando o direito internacional.
O presidente Lula tem reiterado a disposição do
Brasil para atuar como mediador no conflito, desde que ambas as partes
envolvidas demonstrem disposição em buscar uma solução pacífica. O ex-chanceler
e atual assessor especial para assuntos internacionais da presidência, Celso
Amorim, desempenhou um papel essencial nesse esforço diplomático, demonstrando
o compromisso do Brasil com a busca de soluções pacíficas.
Amorim esteve em Kiev, no dia 10 de maio de 2023,
onde se reuniu com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, membros de seu
gabinete e com o vice-ministro do Exterior da Ucrânia, Andriy Melnyk. Além
disso, o ex-chanceler realizou uma viagem discreta à Rússia no dia 28 de março,
onde prospectou cenários para uma negociação de paz. Sua reunião com o
presidente russo, Vladimir Putin, no Palácio do Kremlin, em Moscou, refletiu a
receptividade surpreendente por parte do governo russo. O foco das conversas foi
o conflito, mas também incluiu discussões sobre temas bilaterais, como o
comércio de fertilizantes.
Apesar dos esforços de mediação e das tentativas de
trazer todas as partes envolvidas à mesa de negociações, até o momento, não se
chegou a um resultado concreto que ponha fim ao conflito. A mediação é um
caminho essencial para evitar mais derramamento de sangue e promover o diálogo
entre as partes, mas pode levar tempo até que um entendimento mútuo seja
alcançado.
Uma das características distintivas da abordagem
brasileira é a ênfase na importância de evitar a escalada do conflito. O Brasil
tem alertado para os riscos de aprofundar a crise e tem instado as partes a
encontrarem formas políticas e diplomáticas de resolução. Isso reflete a
preocupação do país com a segurança global e sua crença de que a guerra não é a
solução para conflitos complexos.
PRESIDÊNCIA ROTATIVA DO CONSELHO DE SEGURANÇA DA
ONU: LIDERANÇA GLOBAL
O Brasil ocupou a presidência rotativa do Conselho
de Segurança da ONU em outubro de 2023 e teve a responsabilidade de liderar
esforços globais em questões de paz e segurança. Essa posição confere ao Brasil
a oportunidade de influenciar a agenda internacional e promover iniciativas de
paz e cooperação.
A dificuldade em lidar com conflitos globais se
torna evidente, como no caso das resoluções em busca da paz e do cessar-fogo
imediato na Faixa de Gaza, bem como na criação de corredores humanitários.
Apesar dos esforços apresentados, o alinhamento automático dos Estados Unidos
com Israel, motivado por seus interesses políticos e estratégicos na região,
tem impedido a aprovação dessas resoluções devido ao seu poder de veto.
Outro exemplo é a rejeição da resolução russa, que
não mencionava o direito de defesa do Estado de Israel, demonstrando como as
divergências geopolíticas podem dificultar a tomada de decisões que promovam a
paz global. O Brasil enfrenta o desafio de conciliar as diferentes perspectivas
e interesses em jogo, buscando maneiras de superar obstáculos e promover
soluções que contribuam para a estabilidade e a segurança internacionais.
O DESAFIO DE DILMA NO BANCO DO BRICS
Em março de 2023, a ex-presidenta Dilma Rousseff
assumiu a presidência do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), também conhecido
como o “Banco do BRICS”. Seu mandato se estenderá até 2025, e o desafio à sua
frente é consolidar uma jovem instituição bancária de desenvolvimento no
cenário internacional.
O NBD foi fundado em 2014 pelos países que compõem
o BRICS, formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, até o
momento, (foi aprovada a entrada de Argentina, Etiópia, Egito, Arábia Saudita,
Emirados Árabes e Irã). O objetivo da instituição é fornecer capital e
empréstimos para impulsionar projetos de infraestrutura, desenvolvimento social
e sustentabilidade nos países membros. O NBD nasceu como uma alternativa aos
bancos multilaterais tradicionais, como o Banco Mundial e o Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID), e chamou a atenção pelo seu capital inicial
considerável (cerca de 100 bilhões de dólares), principalmente contribuído pela
China. O banco está focado em financiar projetos de infraestrutura em países
emergentes e em energias renováveis. O principal desafio da instituição está em
se consolidar como um player importante no cenário internacional.
Como um banco do BRICS, o NBD possui uma
presidência rotativa entre seus membros, com mandatos de cinco anos. Dilma
Rousseff foi indicada, pelo presidente Lula, para assumir a presidência do
banco.
Dilma Rousseff, em um de seus primeiros discursos
como presidente do NBD, afirmou que o objetivo estratégico da instituição é se
tornar o principal banco de desenvolvimento para mercados emergentes e países
em desenvolvimento. Entre os planos está a expansão do grupo de membros para
além do BRICS. Já foram aprovadas a entrada de Bangladesh, dos Emirados Árabes,
do Egito e do Uruguai. Esse movimento tornará o NBD mais global, refletindo a
diversidade e a complexidade dos mercados emergentes.
Além disso, a instituição busca expandir o uso de
moedas locais nas transações entre seus membros, diminuindo a dependência do
dólar em contratos entre países latinos, africanos e asiáticos. Isso
simplificará as negociações e facilitará as transações, além de combater a
hegemonia estadunidense. O desafio de consolidar o NBD no cenário internacional
é uma oportunidade única para o Brasil contribuir ativamente para o
desenvolvimento sustentável.
BRASIL NA POLÍTICA EXTERNA GLOBAL: POTENCIAL E
DESAFIOS ESTRUTURAIS
A análise da política externa de um país muitas
vezes se concentra nas negociações diplomáticas, acordos comerciais e parcerias
internacionais. No caso do Brasil, uma nação de dimensões continentais e
recursos abundantes, é interessante observar sua política externa de forma mais
ampla. O país desfruta de protagonismo global, mas problemas estruturais – como
a falta de uma política séria de Defesa, a ausência de indústrias de ponta e a
falta de soberania em diversas áreas – o impedem de se colocar na linha de
frente da política global.
Apesar disso, sua vasta extensão territorial,
recursos naturais abundantes, agricultura produtiva e economia em crescimento
são elementos que o colocam em uma posição estratégica.
O país tem participação ativa em organizações
internacionais como a ONU, o G-20 e a OMC, além de liderar iniciativas
regionais, como a União de Nações Sul-Americanas (UNASUL). O Brasil tem um
histórico de contribuições para missões de paz da ONU e atua como mediador em
questões de conflito, como a crise na Venezuela. No campo econômico, o Brasil é
um dos principais atores no agronegócio, na mineração e na produção de energia,
o que o coloca em uma posição estratégica em relação ao comércio internacional.
DESAFIOS ESTRUTURAIS
A ausência de uma política de Defesa coerente é um
dos desafios estruturais mais evidentes que limitam o potencial do Brasil como
protagonista global. O país possui Forças Armadas pouco competentes e
comprometidas, a falta de uma estratégia e de uma indústria de Defesa unificada
e recursos insuficientes afetam a sua capacidade de proteger suas fronteiras e
interesses no cenário internacional.
Para superar esse desafio, o Brasil precisa
desenvolver uma política coerente e integrada na área, que contemple suas
vulnerabilidades estratégicas e prepare suas Forças Armadas para enfrentar os
desafios do século XXI, deixando para trás intervenções na vida política, como
aconteceu no governo de Jair Bolsonaro, chegando a tentativa de golpe de 8 de
janeiro de 2023. Isso inclui investir em modernização militar, inteligência,
segurança cibernética e capacidades de defesa em áreas-chave, como a Amazônia,
o pré-sal e as fronteiras terrestres.
A falta de investimento em tecnologia e pesquisa é
outro obstáculo significativo que impede o Brasil de se posicionar como um
protagonista global. Embora o país possua uma base industrial diversificada e
uma economia forte, a dependência de tecnologia estrangeira e a importação de
produtos de alto valor agregado minam sua autonomia e competitividade em
setores estratégicos. A promoção da pesquisa e desenvolvimento em áreas
críticas, como ciência, tecnologia e inovação, é essencial para superar essa
limitação.
A falta de soberania em várias áreas também é uma
preocupação fundamental para o Brasil. A exploração do pré-sal, por exemplo, é
uma fonte vital de recursos para o país, mas a presença de empresas
estrangeiras na exploração e a falta de regulamentações adequadas podem
comprometer sua soberania econômica. Da mesma forma, a vigilância do espaço
aéreo e a proteção da biodiversidade amazônica são áreas onde o Brasil enfrenta
desafios em relação à sua soberania.
Superar esses desafios requer uma abordagem
abrangente, que envolva investimento em infraestrutura, tecnologia,
regulamentações sólidas e estratégias de defesa eficazes. A promoção da
cooperação internacional e de parcerias com nações que compartilham interesses
comuns, principalmente em via da integração regional, é outra estratégia
importante para reforçar a soberania do Brasil em áreas críticas.
A NECESSIDADE DE PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
Para superar os desafios estruturais que atualmente
limitam o Brasil em seu papel na política global, é imperativo adotar um
planejamento estratégico mais abrangente. Em primeiro lugar, o Brasil precisa
de um investimento sério em tecnologia e pesquisa. Isso é essencial para
fortalecer suas indústrias de ponta e reduzir a dependência de produtos e
conhecimentos estrangeiros em áreas críticas. A promoção de centros de pesquisa
e inovação, bem como o apoio a startups e empresas de tecnologia, pode impulsionar
a economia e tornar o Brasil mais competitivo globalmente.
O estabelecimento de parcerias internacionais
sólidas também é essencial. O Brasil deve buscar cooperação com nações que
compartilham interesses comuns, permitindo a transferência de tecnologia e
conhecimento, algo que pode fortalecer a integração regional e internacional
como acontece nos BRICS.
Promover a educação de qualidade é fundamental para
atender às demandas do século XXI. A formação de uma força de trabalho
altamente qualificada é crucial para competir em uma economia global baseada no
conhecimento. Isso requer investimentos substanciais em educação e treinamento,
bem como o incentivo à pesquisa e ao desenvolvimento acadêmico.
O Brasil tem um enorme potencial para desempenhar
um papel de destaque na política global, graças a sua economia robusta,
recursos naturais abundantes e diversidade cultural. No entanto, para alcançar
esse objetivo, o país deve enfrentar corajosamente seus desafios estruturais.
Com visão, planejamento estratégico e investimento em áreas-chave, o Brasil
poderá cumprir sua promessa como uma voz influente no cenário internacional.
Enquanto enfrenta esses desafios, o protagonismo global do Brasil continua sendo
uma promessa que aguarda cumprimento.
RESQUÍCIOS DO ISOLAMENTO DIPLOMÁTICO E DO
PRAGMATISMO IRRESPONSÁVEL
Com a derrota eleitoral de Jair Bolsonaro, em
outubro de 2022, e o panorama de devastação causado pela desestruturação do
Estado e das políticas públicas, o termo “reconstrução” se consolidou como um
componente essencial no léxico político brasileiro. O período entre a vitória
de Luiz Inácio Lula da Silva e sua posse em 1º de janeiro de 2023 testemunhou
uma ação decisiva do Gabinete de Transição, que se comprometeu a eliminar os
resquícios da administração anterior e a inaugurar um novo capítulo na história
do Brasil. Essa equipe de transição, composta por cerca de mil indivíduos
representando o governo e a sociedade civil e dividida em 32 grupos de trabalho
(GT), completou, em um prazo de aproximadamente 30 dias, uma análise abrangente
da situação do país.
No que tange ao GT de política externa, a abordagem
adotada foi particularmente interessante. As ações prejudiciais executadas e as
oportunidades desperdiçadas durante a gestão de Bolsonaro funcionaram como um
guia para as correções necessárias e como uma base para as ações iniciais,
alinhadas com o programa de governo do Lula III. Além disso, essa oportunidade
permitiu uma análise crítica das falhas observadas nos dois governos anteriores
de Lula.
A reconstrução da política externa, num primeiro
estágio, concentrou-se na resolução de questões orçamentárias urgentes,
incluindo o equacionamento de uma dívida de aproximadamente R$5 bilhões que
precisava ser quitada ainda em 2022. Segundo o ex-coordenador dos GT’s de
transição e atual presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, “a política externa
do governo [Bolsonaro] transformou o Brasil num pária. Mas não é só um pária”.
O não pagamento acarretaria na perda do direito de voto do Brasil em organizações
internacionais de grande relevância, como a ONU (Organização das Nações
Unidas), a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e
a OIT (Organização Internacional do Trabalho). A situação expôs o isolamento e
o desmonte do governo anterior em relação à diplomacia multilateral, que
historicamente representou uma das áreas de foco preferenciais da política
externa brasileira.
Como parte da “reconstrução”, o atual ministro das
Relações Exteriores, Mauro Vieira anunciou, em seu discurso de posse, a
reintegração do Brasil ao Pacto Global para Migração Segura, Ordenada e
Regular, uma medida posteriormente formalizada por meio de comunicados enviados
à ONU e à OIM (Organização Internacional para as Migrações). Além disso, a
agenda incluiu a retirada do Brasil do Consenso de Genebra e a revisão das
políticas de vistos humanitários, com destaque para haitianos e afegãos. Em
âmbito regional, o presidente Lula anunciou em seus discursos iniciais a
reintegração do Brasil à UNASUL e à CELAC, bem como a reativação da Organização
do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA). A normalização das relações com a
Venezuela também foi considerada prioritária, corrigindo a estratégia de
isolamento adotada por Bolsonaro que se transformou em um ponto de disputa
estratégica entre EUA, Rússia e China.
Praticamente em todas as áreas em que o Brasil
havia desempenhado um papel de destaque no cenário global – como saúde, meio
ambiente, mudança climática, desenvolvimento sustentável, direitos humanos,
questões sociais e integração regional, assim como nas relações com os países
africanos e na cooperação para o desenvolvimento – as posições brasileiras
haviam regredido durante o governo anterior, marcado pelo isolamento
diplomático e o pragmatismo irresponsável. A reconstrução não se limitou a
retornar ao status quo, mas a projetar as políticas em um novo contexto global,
regional e doméstico, de acordo com a agenda do governo comprometido com a
mudança e a restauração da política externa do Brasil. A ênfase na agenda
ambiental e climática emergiu como um exemplo proeminente desse desafio.
Desde o primeiro discurso de Lula como presidente
eleito, ficou evidente que a agenda ambiental e climática assumiria um papel
central na política externa e na liderança do país. A primeira atividade
oficial de Lula, ainda como presidente eleito, foi a sua participação na COP
27, no Egito, onde reafirmou o compromisso com a proteção dos biomas, condenou
a extração e o garimpo ilegal e defendeu medidas de combate à violência contra
as populações indígenas. Ao lado dos presidentes da Colômbia, Gustavo Petro, e
do Chile, Gabriel Boric, a política externa de Lula III tem a oportunidade de
centralizar a agenda climática e ambiental na cooperação regional, rompendo com
a ênfase anterior em setores como integração política, defesa, energia e
infraestrutura. Essa mudança, ao priorizar as questões ambientais e climáticas,
abre caminho para que a justiça social e a justiça climática se tornem
conceitos fundamentais na agenda da integração sul-americana.
O cenário internacional é marcado por uma
competição crescente entre as duas principais potências, Estados Unidos e China, em busca da hegemonia global. Esse
conflito leste-oeste tem repercussões em todo o mundo e exige que o Brasil tome
uma posição equilibrada. Por um lado, é vital para o Brasil manter relações
sólidas tanto com os Estados Unidos quanto com a China, dada a importância de
ambos os países como parceiros comerciais e estratégicos.
Fonte: Por Bruno Fabricio Alcebino da Silva, no Le
Monde
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