Menopausa é a fase da vida com mais risco para osteoporose e problemas
cardíacos
As alterações hormonais representam um risco para
problemas de saúde, além dos sintomas comuns à menopausa, segundo pesquisas
científicas. Vários estudos mostram que há mais chances de osteoporose e
problemas cardiovasculares nessa fase da vida, assim como maior risco para o cérebro.
O Correio ouviu especialistas para tentar ter qualidade de vida a partir do
climatério.
Em publicação recente da Sociedade Americana do
Coração, cientistas ressaltam que os desníveis de hormônios e as mudanças na
composição corporal durante a transição para a menopausa podem aumentar a
chance de desenvolver problemas cardiovasculares.
"As mulheres nos Estados Unidos estão vivendo
mais tempo, e uma parcela significativa delas passará até 40% de suas vidas na
pós-menopausa", observa, em nota, Brooke Aggarwal, professora assistente
da univerisade Columbia University Medical Center, nos Estados Unidos, e
voluntária do movimento Go Red for Women, da instituição.
A empreendedora Míriam Teresa Cabral Cavalcante, 51
anos, conta que há dois anos entrou na menopausa. Apesar dos sintomas e das
mudanças no corpo terem aparecido, receber orientação profissional ajuda a
viver a fase com mais tranquilidade. "Tenho muita irritabilidade e
insônia, controlar o humor tem sido o meu maior desafio. Fui avisada que
poderia haver maior risco de problemas de saúde, inclusive fiquei hipertensa
quando entrei no climatério e ganhei peso nos últimos anos."
Ricardo Cals, cardiologista do Hospital Santa
Lúcia, em Brasília, reforça que o estrogênio tem efeitos protetores para a
saúde cardiovascular. "Ele age no tônus dos vasos sanguíneos, causando
vasodilatação e, consequentemente, diminuindo a deposição de colesterol ruim
nas paredes das artérias. Tem ainda papel no metabolismo e composição corporal.
Na menopausa há uma diminuição da queima calórica, ganho de peso e aumento da
gordura na região abdominal e visceral."
·
Dicas
No trabalho divulgado pela Sociedade Americana do
Coração, os pesquisadores dão algumas dicas para manter a saúde cardiovascular
em dia. Segundo eles, é importante também manter a pressão arterial, a
glicemia, o colesterol e o índice de massa corporal monitorados. Para os
cientistas, há uma espécie de ranking das melhores dietas para o coração:
alimentação rica em vegetais, frutas, grãos integrais, gordura saudável e
proteína magra. Além de baixo teor de sal, açúcar, álcool e alimentos
processados.
O sono é essencial, mas a transição para a
menopausa vem com numerosas interrupções no descanso. Dormir fortalece o
sistema imunológico, melhora o humor, dá mais energia e diminui o risco de
doenças crônicas. Ademais, segundo os especialistas, exercitar força e
resistência é bom para os ossos e músculos. À medida que a idade avança, a
densidade óssea é afetada e a massa muscular tende a diminuir.
Ensaio feito pela Fundação Internacional para a
Osteoporose (IOF), envolvendo mais de 7.000 mulheres acima dos 60 anos, de
cinco países, incluindo o Brasil, revelou que elas sofrem de fragilidade óssea.
Na prática significa que metade dessas mulheres tiveram ou vão ter problemas de
fraturas. O estudo também mostra que a saúde óssea é negligenciada em exames
médicos.
Conforme a publicação, a osteoporose é uma doença
progressiva que causa ossos fracos e frágeis que se quebram facilmente. Embora
a condição afete mulheres e homens, é mais comum acometer a população feminina
mais velha, uma vez que o efeito protetor do estrogênio diminui com a
menopausa. As fraturas levam à dor, imobilidade, internações hospitalares
prolongadas e, muitas vezes, à perda significativa de qualidade de vida e
independência.
·
Ameaças
Famida Jiwa, presidente do Subcomitê de Sociedades
de Pacientes da IOF, frisa que o trabalho internacional confirma que as lesões
relacionadas à osteoporose representam um importante problema de saúde.
"Embora saibamos que uma fratura por fragilidade duplica o risco de mais
lesões, o inquérito concluiu que cerca de 45% das mulheres que tinham machucado
um osso não receberam o tratamento anti-osteoporose necessário para prevenir
mais episódios potencialmente fatais, ameaçando acidentes no futuro."
Karen de Marca, diretora da Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia (SBEM), destaca que o estrogênio estimula a
atividade de osteoblastos, que formam os ossos e inibem os osteoclastos,
responsáveis pela reabsorção óssea. "Ele previne o processo de
osteoporose, sem, ou em menor quantidade, vemos uma queda da densidade óssea de
forma mais acelerada. Exercícios de força e resistência, promovem estímulo à
formação óssea. Atividades de equilíbrio colaboram para a mobilidade e
prevenção de quedas."
João Lindolfo Borges, membro da Sociedade
Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) , destaca que é necessário
investir no tratamento adequado das lesões. "A negligência pós-fratura
pode resultar em complicações significativas, uma vez que a osteoporose
subjacente muitas vezes não é tratada adequadamente. A conscientização sobre a
importância da detecção precoce, acompanhada de intervenções eficazes, é
fundamental para mitigar os impactos adversos dessas fraturas e melhorar a
qualidade de vida dos pacientes."
·
Riscos semelhantes
"A população feminina apresenta uma taxa menor
de doenças cardiovasculares em comparação aos homens, até chegar na menopausa.
Após os 50 anos, a falta do estrogênio possibilita a aceleração da doença
aterosclerótica. Por isso que a mulher passa a ter um crescimento no risco
cardiovascular, vai se aproximando cada vez mais da taxa masculina e, por volta
dos 75 anos, as taxas de eventos cardiovasculares em mulheres e homens são
parecidas. É importante que a pessoa vá ao médico, verifique suas condições de
saúde, para detectar precocemente alterações que, se não tratadas, trazem
consequências. Colesterol alterado, a curto prazo, pode não trazer grandes
problemas, mas se ficar anos e não se fizer nada, ele pode ser um fator de
risco para o infarto. É preciso acompanhar questões de saúde para que medidas
de intervenção sejam implementadas a fim de reverter quadros de risco." - Luciano
de Melo, presidente da Comissão de Climatério da Federação Brasileira das
Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo)
·
Cérebro em xeque
Estudo, apresentado na reunião anual da The
Menopause Society (Sociedade da Menopausa), nos Estados Unidos, explorou a
relação entre os estágios da menopausa e a hemodinâmica cerebral durante o
envelhecimento normal. Pesquisas anteriores indicam que mudanças na fisiologia
do cérebro podem anteceder biomarcadores estruturais de neurodegeneração com o
avanço da idade. Entender essas alterações é crucial para distinguir entre
envelhecimento típico e atípico.
O novo ensaio analisou diferenças no fluxo
sanguíneo cerebral em 131 mulheres em diferentes estágios da menopausa e 125
homens, ambos os grupos com idades entre 40 e 60 anos. Foram confirmadas
diferenças generalizadas entre mulheres e homens da mesma faixa etária.
Comparadas aos homens, as voluntárias na
pré-menopausa apresentaram diferenças significativas em duas áreas do cérebro,
córtex temporal médio e córtex parietal inferior. Na perimenopausa, mudanças
foram identificadas nos córtices parietal superior e frontal. Já na
pós-menopausa, as alterações estavam presentes nos córtices pré-frontal e
parietal inferior.
Conforme os autores, os resultados sugerem a
possibilidade de mecanismos neuroprotetores durante a transição da menopausa em
indivíduos tipicamente idosos. "Esperamos que nossas descobertas destaquem
a importância de compreender a relação entre esta transição significativa da
vida e a fisiologia cerebral", disse, em um comunicado, Nikou Louise
Damestani, autora principal do Departamento de Radiologia do Massachusetts
General Hospital, em Boston.
Marcelo Lobo, neurologista do Hospital Santa Lúcia,
discorre que a diferença no fluxo sanguíneo cerebral entre homens e mulheres é
mais pronunciada nas regiões do cérebro envolvidas na memória e no aprendizado.
"A diminuição dos níveis de estrogênio pode
levar a alterações na estrutura e no funcionamento do cérebro, tornando-o mais
suscetível à degeneração. Os estudos sugerem que a menopausa pode ser um fator
de risco para o declínio cognitivo. É importante ressaltar que nem todas as
mulheres na menopausa apresentam alterações no fluxo sanguíneo cerebral. A
gravidade e a duração dessas alterações variam de acordo com a paciente."
<<<< Um depoimento - Maria de Fátima Barbosa Costa, 49 anos,
diarista
"Aos 47, comecei a sentir ondas de calor muito
fortes, mudança de humor repentina e minha menstruação desregulada. Então uma
amiga me orientou a procurar um ginecologista que logo falou que eu estava
entrando na menopausa e me sugeriu fazer reposição hormonal e também atividade
física. O pior é o ganho de peso, mas fazendo tudo direitinho, eu me sinto bem
melhor. Também me alertaram sobre o risco de desenvolver algumas condições,
disseram para manter hábitos saudáveis para evitar AVC, osteoporose e outros problemas
de saúde."
Fonte: Correio Braziliense
Nenhum comentário:
Postar um comentário