quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Menopausa é a fase da vida com mais risco para osteoporose e problemas cardíacos

As alterações hormonais representam um risco para problemas de saúde, além dos sintomas comuns à menopausa, segundo pesquisas científicas. Vários estudos mostram que há mais chances de osteoporose e problemas cardiovasculares nessa fase da vida, assim como maior risco para o cérebro. O Correio ouviu especialistas para tentar ter qualidade de vida a partir do climatério.

Em publicação recente da Sociedade Americana do Coração, cientistas ressaltam que os desníveis de hormônios e as mudanças na composição corporal durante a transição para a menopausa podem aumentar a chance de desenvolver problemas cardiovasculares.

"As mulheres nos Estados Unidos estão vivendo mais tempo, e uma parcela significativa delas passará até 40% de suas vidas na pós-menopausa", observa, em nota, Brooke Aggarwal, professora assistente da univerisade Columbia University Medical Center, nos Estados Unidos, e voluntária do movimento Go Red for Women, da instituição.

A empreendedora Míriam Teresa Cabral Cavalcante, 51 anos, conta que há dois anos entrou na menopausa. Apesar dos sintomas e das mudanças no corpo terem aparecido, receber orientação profissional ajuda a viver a fase com mais tranquilidade. "Tenho muita irritabilidade e insônia, controlar o humor tem sido o meu maior desafio. Fui avisada que poderia haver maior risco de problemas de saúde, inclusive fiquei hipertensa quando entrei no climatério e ganhei peso nos últimos anos."

Ricardo Cals, cardiologista do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, reforça que o estrogênio tem efeitos protetores para a saúde cardiovascular. "Ele age no tônus dos vasos sanguíneos, causando vasodilatação e, consequentemente, diminuindo a deposição de colesterol ruim nas paredes das artérias. Tem ainda papel no metabolismo e composição corporal. Na menopausa há uma diminuição da queima calórica, ganho de peso e aumento da gordura na região abdominal e visceral."

·        Dicas

No trabalho divulgado pela Sociedade Americana do Coração, os pesquisadores dão algumas dicas para manter a saúde cardiovascular em dia. Segundo eles, é importante também manter a pressão arterial, a glicemia, o colesterol e o índice de massa corporal monitorados. Para os cientistas, há uma espécie de ranking das melhores dietas para o coração: alimentação rica em vegetais, frutas, grãos integrais, gordura saudável e proteína magra. Além de baixo teor de sal, açúcar, álcool e alimentos processados.

O sono é essencial, mas a transição para a menopausa vem com numerosas interrupções no descanso. Dormir fortalece o sistema imunológico, melhora o humor, dá mais energia e diminui o risco de doenças crônicas. Ademais, segundo os especialistas, exercitar força e resistência é bom para os ossos e músculos. À medida que a idade avança, a densidade óssea é afetada e a massa muscular tende a diminuir.

Ensaio feito pela Fundação Internacional para a Osteoporose (IOF), envolvendo mais de 7.000 mulheres acima dos 60 anos, de cinco países, incluindo o Brasil, revelou que elas sofrem de fragilidade óssea. Na prática significa que metade dessas mulheres tiveram ou vão ter problemas de fraturas. O estudo também mostra que a saúde óssea é negligenciada em exames médicos.

Conforme a publicação, a osteoporose é uma doença progressiva que causa ossos fracos e frágeis que se quebram facilmente. Embora a condição afete mulheres e homens, é mais comum acometer a população feminina mais velha, uma vez que o efeito protetor do estrogênio diminui com a menopausa. As fraturas levam à dor, imobilidade, internações hospitalares prolongadas e, muitas vezes, à perda significativa de qualidade de vida e independência.

·        Ameaças

Famida Jiwa, presidente do Subcomitê de Sociedades de Pacientes da IOF, frisa que o trabalho internacional confirma que as lesões relacionadas à osteoporose representam um importante problema de saúde. "Embora saibamos que uma fratura por fragilidade duplica o risco de mais lesões, o inquérito concluiu que cerca de 45% das mulheres que tinham machucado um osso não receberam o tratamento anti-osteoporose necessário para prevenir mais episódios potencialmente fatais, ameaçando acidentes no futuro."

Karen de Marca, diretora da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), destaca que o estrogênio estimula a atividade de osteoblastos, que formam os ossos e inibem os osteoclastos, responsáveis pela reabsorção óssea. "Ele previne o processo de osteoporose, sem, ou em menor quantidade, vemos uma queda da densidade óssea de forma mais acelerada. Exercícios de força e resistência, promovem estímulo à formação óssea. Atividades de equilíbrio colaboram para a mobilidade e prevenção de quedas."

João Lindolfo Borges, membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) , destaca que é necessário investir no tratamento adequado das lesões. "A negligência pós-fratura pode resultar em complicações significativas, uma vez que a osteoporose subjacente muitas vezes não é tratada adequadamente. A conscientização sobre a importância da detecção precoce, acompanhada de intervenções eficazes, é fundamental para mitigar os impactos adversos dessas fraturas e melhorar a qualidade de vida dos pacientes."

·        Riscos semelhantes

"A população feminina apresenta uma taxa menor de doenças cardiovasculares em comparação aos homens, até chegar na menopausa. Após os 50 anos, a falta do estrogênio possibilita a aceleração da doença aterosclerótica. Por isso que a mulher passa a ter um crescimento no risco cardiovascular, vai se aproximando cada vez mais da taxa masculina e, por volta dos 75 anos, as taxas de eventos cardiovasculares em mulheres e homens são parecidas. É importante que a pessoa vá ao médico, verifique suas condições de saúde, para detectar precocemente alterações que, se não tratadas, trazem consequências. Colesterol alterado, a curto prazo, pode não trazer grandes problemas, mas se ficar anos e não se fizer nada, ele pode ser um fator de risco para o infarto. É preciso acompanhar questões de saúde para que medidas de intervenção sejam implementadas a fim de reverter quadros de risco." - Luciano de Melo, presidente da Comissão de Climatério da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo)

·        Cérebro em xeque

Estudo, apresentado na reunião anual da The Menopause Society (Sociedade da Menopausa), nos Estados Unidos, explorou a relação entre os estágios da menopausa e a hemodinâmica cerebral durante o envelhecimento normal. Pesquisas anteriores indicam que mudanças na fisiologia do cérebro podem anteceder biomarcadores estruturais de neurodegeneração com o avanço da idade. Entender essas alterações é crucial para distinguir entre envelhecimento típico e atípico.

O novo ensaio analisou diferenças no fluxo sanguíneo cerebral em 131 mulheres em diferentes estágios da menopausa e 125 homens, ambos os grupos com idades entre 40 e 60 anos. Foram confirmadas diferenças generalizadas entre mulheres e homens da mesma faixa etária.

Comparadas aos homens, as voluntárias na pré-menopausa apresentaram diferenças significativas em duas áreas do cérebro, córtex temporal médio e córtex parietal inferior. Na perimenopausa, mudanças foram identificadas nos córtices parietal superior e frontal. Já na pós-menopausa, as alterações estavam presentes nos córtices pré-frontal e parietal inferior.

Conforme os autores, os resultados sugerem a possibilidade de mecanismos neuroprotetores durante a transição da menopausa em indivíduos tipicamente idosos. "Esperamos que nossas descobertas destaquem a importância de compreender a relação entre esta transição significativa da vida e a fisiologia cerebral", disse, em um comunicado, Nikou Louise Damestani, autora principal do Departamento de Radiologia do Massachusetts General Hospital, em Boston.

Marcelo Lobo, neurologista do Hospital Santa Lúcia, discorre que a diferença no fluxo sanguíneo cerebral entre homens e mulheres é mais pronunciada nas regiões do cérebro envolvidas na memória e no aprendizado.

"A diminuição dos níveis de estrogênio pode levar a alterações na estrutura e no funcionamento do cérebro, tornando-o mais suscetível à degeneração. Os estudos sugerem que a menopausa pode ser um fator de risco para o declínio cognitivo. É importante ressaltar que nem todas as mulheres na menopausa apresentam alterações no fluxo sanguíneo cerebral. A gravidade e a duração dessas alterações variam de acordo com a paciente."

<<<< Um depoimento -  Maria de Fátima Barbosa Costa, 49 anos, diarista

"Aos 47, comecei a sentir ondas de calor muito fortes, mudança de humor repentina e minha menstruação desregulada. Então uma amiga me orientou a procurar um ginecologista que logo falou que eu estava entrando na menopausa e me sugeriu fazer reposição hormonal e também atividade física. O pior é o ganho de peso, mas fazendo tudo direitinho, eu me sinto bem melhor. Também me alertaram sobre o risco de desenvolver algumas condições, disseram para manter hábitos saudáveis para evitar AVC, osteoporose e outros problemas de saúde."

 

Fonte: Correio Braziliense

 

Nenhum comentário: