Longevidade no Brasil: o desafio de viver mais e melhor
Quem não deseja viver mais? Prolongar os anos de
vida é um anseio comum. Por outro lado, o envelhecimento ainda é tratado como
tabu. O medo de envelhecer faz com que o assunto não seja debatido de forma
ampla e, pior, faz com que nós não estejamos engajados em nos preparar para o
avanço da idade. Colocar esse tema em evidência tem sido o principal objetivo
do Fórum da Longevidade, promovido pelo Bradesco Seguros.
Afinal, ter uma vida mais longa já é uma realidade
no Brasil. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística), a expectativa de vida do brasileiro saltou de 66 anos em 1991
para 77 anos em 2021, último registro divulgado pelo órgão. Em contrapartida,
na avaliação do médico Alexandre Kalache, gerontólogo e consultor de
Longevidade do Bradesco Seguros, a plena qualidade de vida ainda está distante
dos cidadãos da terceira idade. “É um desafio, pois estamos vivendo mais, mas
não necessariamente melhor. Então, é um compromisso que todos nós temos que ter
em vivermos mais, sim, mas com mais qualidade”, destaca. De acordo com Kalache,
28 milhões de idosos brasileiros, de um total de 33 milhões, vivem em condições
de pobreza – e, consequentemente, com questionável qualidade de vida.
Outro dado que corrobora a importância de discutir
a longevidade é a projeção de que esse recorte populacional será cada vez
maior. Atualmente, 15% da população brasileira é idosa, enquanto em 2050
estima-se que essa proporção seja dobrada.
Mas se o envelhecimento é inevitável, o que devemos
fazer para que esse processo seja mais saudável e, ao mesmo tempo, passe a ser
tratado com a naturalidade que lhe é inerente?
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Os quatro capitais
Ao conceder entrevistas de forma animada e bem
humorada ou se apresentar magistralmente no palco, Alexandre Kalache parece um
garoto. Mas o especialista faz questão de mostrar que ali está um senhor de 78
anos e que, realmente, a idade é apenas um número. Um dos pioneiros no estudo
do envelhecimento e na proposição de políticas ao idoso, o médico explica que,
para alcançar uma vida mais longa e plena, é preciso acumular quatro capitais.
“Saúde; conhecimento - porque quem não acumular conhecimento nessa evolução da
tecnologia vai dançar; capital social, e o último, também muito importante, que
é você ter a segurança de que vai ter um teto em cima da cabeça, comida na
prateleira e um dinheiro no bolso, nem que seja para comprar os remédios. Quem
puder fazer uma economia, um pé de meia em um país onde não há letramento
financeiro, maravilha”, argumenta.
Em relação ao primeiro item, a saúde, Kalache
afirma que não há um grande segredo. Basta encarar a situação de frente e se
dispor a mudar hábitos. “A primeira coisa não é novidade nenhuma. É estilo de
vida. Você tem que cuidar do seu corpo porque ele é precioso. Tem que ter
alimentação adequada, tem que malhar, fazer atividade física”, pontua. O
especialista também acredita que nunca é tarde para adotar um estilo de vida
que tenha foco na longevidade.
“O que eu sempre digo é que se você quer se
preparar para o envelhecimento e chegar bem aos 100, comece já. Você sempre
terá ganhos, mas quanto mais cedo, melhor. Comece já, para que você seja um
sexagenário saudável e ativo”, alerta.
Engajado na disseminação de uma cultura mais
inclusiva, Kalache diz que apenas as escolhas individuais não definem a
longevidade. Segundo ele, é necessário cobrar que políticas públicas voltadas
ao envelhecimento e ao público idoso sejam, de fato, efetivas. “É complexo. O
envelhecimento no Brasil é precoce e é um processo que não está bem adequado. A
pandemia nos mostrou isso. Veja quanta gente morreu com as famosas comorbidades
muito antes da hora, uma hipertensão, diabetes, problema cardiovascular. Vamos caprichar
para melhorar o seu estilo de vida e pedir ao poder público que prepare as
políticas adequadas e que permitam que vocês, mais jovens, tenham um
envelhecimento melhor que os seus pais e seus avós”, destaca.
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Uma receita simples
Estamos vivendo mais do que nossos pais e avós.
Mas, em paralelo, enfrentamos problemas que aparentemente não faziam parte da
rotina de nossos antepassados, ou não eram tratados como deveriam.
A rotina estressante e a saúde mental são elementos
relevantes no desafio da longevidade das atuais gerações. O canadense Kiran
Rabheru, psiquiatra especialista no público idoso, conta que precisamos
encontrar formas de lidar com o estresse, pois ele tem efeitos que vão além da
simples estafa mental. “O estresse faz parte de nossas vidas e ele,
literalmente, incendeia seu corpo. Chamamos isso de resposta inflamatória. Os
biomarcadores de inflamação disparam quando seu corpo está sob muito estresse.
Portanto, precisamos encontrar maneiras diferentes de reduzir esse efeito sobre
nós”, afirma. Essa resposta inflamatória pode causar inflamação crônica e, por
consequência, doenças de diferentes dimensões, como problemas cardíacos,
câncer, doenças na pele, nos ossos e depressão.
A preocupação com os problemas sociais também é um
ponto de relevância. Devemos, sim, participar ativamente da vida política e
social, mas com moderação, equilíbrio e combinando alguns hábitos importantes
para a saúde física e mental. “Nós não vamos mudar o mundo. Então, o que
podemos mudar? Há três coisas que podemos controlar: o que pensamos, como nos
sentimos e como reagimos e nos comportamos em relação ao estresse. Não podemos
controlar mais nada. Não sei o que o presidente fará amanhã ou como o tempo estará.
O que eu controlo é minha própria atenção e tranquilidade. Combine isso com
atividade física, atividade social e melhore sua rede de conexões e amigos”,
explica.
O especialista também contou o que ele costuma
receitar a seus pacientes, a chamada “regra dos 20”. “Eu digo a eles: ‘você tem
que dar no mínimo 20 sorrisos, 20 minutos de caminhada e 20 minutos de conversa
com alguém todos os dias’. Então, os remédios serão mais eficazes. Essa é a
minha receita simples”, encerra.
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Os segredos das estrelas
Além dos especialistas, o Fórum da Longevidade
também contou com a participação de celebridades, como as atrizes Bruna
Lombardi e Zezé Motta. As artistas contaram ao público presente o que procuram
fazer para a manutenção do bem-estar. Para Bruna Lombardi, de 71 anos, a
meditação é uma iniciativa constante em sua rotina. “É uma profunda conexão de
você com você mesmo. O grande caminho para nós chegarmos a algum lugar na vida
é o autoconhecimento. Isso serve para qualquer um. É você descobrir dentro de você,
quem você é, trabalhar com isso e vencer todos os rótulos que a sociedade tenta
nos colocar”, diz a atriz e escritora.
Aos 79 anos, a atriz e cantora Zezé Motta destacou
a importância dos hábitos e da disciplina em sua vida e carreira. Zezé pratica
exercícios físicos regularmente, conta com uma dieta balanceada e costuma dar o
devido valor ao descanso. “Esses hábitos me ajudaram muito e sempre que eu falo
sobre isso me dá muita saudade da minha comadre Marília Pêra. Eu aprendi muito
com ela essa questão da disciplina. Uma cantora não pode dormir mal,
principalmente na véspera de um show, pois prejudica a voz, o fôlego. Na minha
idade, então, tem que ter essa disciplina”, detalha.
Ø Conheça 5
hábitos que ajudam a manter os músculos após os 50 anos
Ao chegar nos 50 anos, alguns processos do corpo tornam-se mais lentos, e a manutenção dos
músculos, que são importantes para proteger a estrutura óssea de eventuais
quedas, fica mais complicada. O metabolismo desacelera e a queima de gordura
fica mais difícil, o que impacta negativamente na hipertrofia.
Segundo o personal trainer Leandro Twin, da Growth
Supplements, há também o risco de sarcopenia, quadro caracterizado pela perda de massa muscular
causada pelo envelhecimento. “Felizmente, interromper a sarcopenia é fácil,
pois bastam alguns ajustes de rotina e treinamento de força de duas a três
vezes por semana”, explica.
“Além disso, nessa idade, quando comemos, a
capacidade do corpo de usar os nutrientes, especialmente as proteínas, para
construir músculos é reduzida. Isso acontece porque o processo de digestão,
absorção e utilização dos nutrientes pelos músculos diminui. Portanto, o
impacto positivo que uma refeição deveria ter na construção muscular é menor”,
afirma o nutricionista esportivo Diogo Cirico, também da Growth.
No entanto, Twin e Cirico contam que existem alguns
hábitos capazes de influenciar a capacidade de manter e aumentar a massa muscular. Veja exemplos:
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1. Fazer musculação
A hipertrofia é o processo em que o tecido muscular
sofre microlesões — enquanto ele se regenera, aumenta de volume. A melhor forma
de estimular o músculo é por meio de exercícios físicos com carga, mas, claro,
dentro da capacidade e limite do indivíduo.
Caso a academia não seja acessível, é sempre
possível realizar exercícios com o próprio peso – a modalidade é chamada de
calistenia.
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2. Apostar no treino funcional
“O treinamento funcional mistura várias habilidades
como força, flexibilidade, resistência, equilíbrio e coordenação motora, que
são úteis no dia a dia”, afirma Twin.
Além de proporcionar o bom desempenho físico, o
treinamento funcional trabalha os movimentos para evitar possíveis machucados
durante o exercício de musculação. Logo, a chance de sofrer uma lesão muscular
e começar do zero diminui.
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3. Garantir o descanso adequado
O personal trainer enfatiza que a musculação é, na
verdade, um estímulo a microlesões no músculo, mas o descanso adequado permite
a recuperação do tecido, permitindo o crescimento da massa. “Sem o descanso, as
lesões do músculo permanecem e a pessoa fica mais fraca”, ressalta.
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4. Comer proteína suficiente
Quando consumimos proteínas, elas se transformam em
aminoácidos, que circulam pelo sangue e são essenciais para a síntese muscular.
“São como os construtores, ajudando a formar músculos. A leucina, um tipo de
aminoácido, ativa uma via chamada mTOR, fundamental para estruturar os
músculos”, afirma Cirico.
O nutricionista destaca a carne vermelha, frango,
peixe, leite, ovos e proteínas vegetais, como oleaginosas e leguminosas, como
opções proteicas.
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5. Consumir de carboidratos
Os músculos utilizam carboidratos como principal
fonte de energia durante os exercícios. Consumir pouco do macronutriente
significa menos energia e pior desempenho atlético, o que afeta a capacidade de
estimular a síntese de músculos.
Arroz, batata, aveia, macarrão, pão, frutas,
legumes e leguminosas como feijão, ervilha, lentilha e grão de bico são
exemplos de carboidratos pouco gordurosos.
Fonte: Gazeta do Povo/Metrópoles
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