terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Longevidade no Brasil: o desafio de viver mais e melhor

Quem não deseja viver mais? Prolongar os anos de vida é um anseio comum. Por outro lado, o envelhecimento ainda é tratado como tabu. O medo de envelhecer faz com que o assunto não seja debatido de forma ampla e, pior, faz com que nós não estejamos engajados em nos preparar para o avanço da idade. Colocar esse tema em evidência tem sido o principal objetivo do Fórum da Longevidade, promovido pelo Bradesco Seguros.

Afinal, ter uma vida mais longa já é uma realidade no Brasil. Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a expectativa de vida do brasileiro saltou de 66 anos em 1991 para 77 anos em 2021, último registro divulgado pelo órgão. Em contrapartida, na avaliação do médico Alexandre Kalache, gerontólogo e consultor de Longevidade do Bradesco Seguros, a plena qualidade de vida ainda está distante dos cidadãos da terceira idade. “É um desafio, pois estamos vivendo mais, mas não necessariamente melhor. Então, é um compromisso que todos nós temos que ter em vivermos mais, sim, mas com mais qualidade”, destaca. De acordo com Kalache, 28 milhões de idosos brasileiros, de um total de 33 milhões, vivem em condições de pobreza – e, consequentemente, com questionável qualidade de vida.

Outro dado que corrobora a importância de discutir a longevidade é a projeção de que esse recorte populacional será cada vez maior. Atualmente, 15% da população brasileira é idosa, enquanto em 2050 estima-se que essa proporção seja dobrada.

Mas se o envelhecimento é inevitável, o que devemos fazer para que esse processo seja mais saudável e, ao mesmo tempo, passe a ser tratado com a naturalidade que lhe é inerente?

·        Os quatro capitais

Ao conceder entrevistas de forma animada e bem humorada ou se apresentar magistralmente no palco, Alexandre Kalache parece um garoto. Mas o especialista faz questão de mostrar que ali está um senhor de 78 anos e que, realmente, a idade é apenas um número. Um dos pioneiros no estudo do envelhecimento e na proposição de políticas ao idoso, o médico explica que, para alcançar uma vida mais longa e plena, é preciso acumular quatro capitais. “Saúde; conhecimento - porque quem não acumular conhecimento nessa evolução da tecnologia vai dançar; capital social, e o último, também muito importante, que é você ter a segurança de que vai ter um teto em cima da cabeça, comida na prateleira e um dinheiro no bolso, nem que seja para comprar os remédios. Quem puder fazer uma economia, um pé de meia em um país onde não há letramento financeiro, maravilha”, argumenta.

Em relação ao primeiro item, a saúde, Kalache afirma que não há um grande segredo. Basta encarar a situação de frente e se dispor a mudar hábitos. “A primeira coisa não é novidade nenhuma. É estilo de vida. Você tem que cuidar do seu corpo porque ele é precioso. Tem que ter alimentação adequada, tem que malhar, fazer atividade física”, pontua. O especialista também acredita que nunca é tarde para adotar um estilo de vida que tenha foco na longevidade.

“O que eu sempre digo é que se você quer se preparar para o envelhecimento e chegar bem aos 100, comece já. Você sempre terá ganhos, mas quanto mais cedo, melhor. Comece já, para que você seja um sexagenário saudável e ativo”, alerta.

Engajado na disseminação de uma cultura mais inclusiva, Kalache diz que apenas as escolhas individuais não definem a longevidade. Segundo ele, é necessário cobrar que políticas públicas voltadas ao envelhecimento e ao público idoso sejam, de fato, efetivas. “É complexo. O envelhecimento no Brasil é precoce e é um processo que não está bem adequado. A pandemia nos mostrou isso. Veja quanta gente morreu com as famosas comorbidades muito antes da hora, uma hipertensão, diabetes, problema cardiovascular. Vamos caprichar para melhorar o seu estilo de vida e pedir ao poder público que prepare as políticas adequadas e que permitam que vocês, mais jovens, tenham um envelhecimento melhor que os seus pais e seus avós”, destaca.

·        Uma receita simples

Estamos vivendo mais do que nossos pais e avós. Mas, em paralelo, enfrentamos problemas que aparentemente não faziam parte da rotina de nossos antepassados, ou não eram tratados como deveriam.

A rotina estressante e a saúde mental são elementos relevantes no desafio da longevidade das atuais gerações. O canadense Kiran Rabheru, psiquiatra especialista no público idoso, conta que precisamos encontrar formas de lidar com o estresse, pois ele tem efeitos que vão além da simples estafa mental. “O estresse faz parte de nossas vidas e ele, literalmente, incendeia seu corpo. Chamamos isso de resposta inflamatória. Os biomarcadores de inflamação disparam quando seu corpo está sob muito estresse. Portanto, precisamos encontrar maneiras diferentes de reduzir esse efeito sobre nós”, afirma. Essa resposta inflamatória pode causar inflamação crônica e, por consequência, doenças de diferentes dimensões, como problemas cardíacos, câncer, doenças na pele, nos ossos e depressão.

A preocupação com os problemas sociais também é um ponto de relevância. Devemos, sim, participar ativamente da vida política e social, mas com moderação, equilíbrio e combinando alguns hábitos importantes para a saúde física e mental. “Nós não vamos mudar o mundo. Então, o que podemos mudar? Há três coisas que podemos controlar: o que pensamos, como nos sentimos e como reagimos e nos comportamos em relação ao estresse. Não podemos controlar mais nada. Não sei o que o presidente fará amanhã ou como o tempo estará. O que eu controlo é minha própria atenção e tranquilidade. Combine isso com atividade física, atividade social e melhore sua rede de conexões e amigos”, explica.

O especialista também contou o que ele costuma receitar a seus pacientes, a chamada “regra dos 20”. “Eu digo a eles: ‘você tem que dar no mínimo 20 sorrisos, 20 minutos de caminhada e 20 minutos de conversa com alguém todos os dias’. Então, os remédios serão mais eficazes. Essa é a minha receita simples”, encerra.

·        Os segredos das estrelas

Além dos especialistas, o Fórum da Longevidade também contou com a participação de celebridades, como as atrizes Bruna Lombardi e Zezé Motta. As artistas contaram ao público presente o que procuram fazer para a manutenção do bem-estar. Para Bruna Lombardi, de 71 anos, a meditação é uma iniciativa constante em sua rotina. “É uma profunda conexão de você com você mesmo. O grande caminho para nós chegarmos a algum lugar na vida é o autoconhecimento. Isso serve para qualquer um. É você descobrir dentro de você, quem você é, trabalhar com isso e vencer todos os rótulos que a sociedade tenta nos colocar”, diz a atriz e escritora.

Aos 79 anos, a atriz e cantora Zezé Motta destacou a importância dos hábitos e da disciplina em sua vida e carreira. Zezé pratica exercícios físicos regularmente, conta com uma dieta balanceada e costuma dar o devido valor ao descanso. “Esses hábitos me ajudaram muito e sempre que eu falo sobre isso me dá muita saudade da minha comadre Marília Pêra. Eu aprendi muito com ela essa questão da disciplina. Uma cantora não pode dormir mal, principalmente na véspera de um show, pois prejudica a voz, o fôlego. Na minha idade, então, tem que ter essa disciplina”, detalha.

 

Ø  Conheça 5 hábitos que ajudam a manter os músculos após os 50 anos

 

Ao chegar nos 50 anos, alguns processos do corpo tornam-se mais lentos, e a manutenção dos músculos, que são importantes para proteger a estrutura óssea de eventuais quedas, fica mais complicada. O metabolismo desacelera e a queima de gordura fica mais difícil, o que impacta negativamente na hipertrofia.

Segundo o personal trainer Leandro Twin, da Growth Supplements, há também o risco de sarcopenia, quadro caracterizado pela perda de massa muscular causada pelo envelhecimento. “Felizmente, interromper a sarcopenia é fácil, pois bastam alguns ajustes de rotina e treinamento de força de duas a três vezes por semana”, explica.

“Além disso, nessa idade, quando comemos, a capacidade do corpo de usar os nutrientes, especialmente as proteínas, para construir músculos é reduzida. Isso acontece porque o processo de digestão, absorção e utilização dos nutrientes pelos músculos diminui. Portanto, o impacto positivo que uma refeição deveria ter na construção muscular é menor”, afirma o nutricionista esportivo Diogo Cirico, também da Growth.

No entanto, Twin e Cirico contam que existem alguns hábitos capazes de influenciar a capacidade de manter e aumentar a massa muscular. Veja exemplos:

·        1. Fazer musculação

A hipertrofia é o processo em que o tecido muscular sofre microlesões — enquanto ele se regenera, aumenta de volume. A melhor forma de estimular o músculo é por meio de exercícios físicos com carga, mas, claro, dentro da capacidade e limite do indivíduo.

Caso a academia não seja acessível, é sempre possível realizar exercícios com o próprio peso – a modalidade é chamada de calistenia.

·        2. Apostar no treino funcional

“O treinamento funcional mistura várias habilidades como força, flexibilidade, resistência, equilíbrio e coordenação motora, que são úteis no dia a dia”, afirma Twin.

Além de proporcionar o bom desempenho físico, o treinamento funcional trabalha os movimentos para evitar possíveis machucados durante o exercício de musculação. Logo, a chance de sofrer uma lesão muscular e começar do zero diminui.

·        3. Garantir o descanso adequado

O personal trainer enfatiza que a musculação é, na verdade, um estímulo a microlesões no músculo, mas o descanso adequado permite a recuperação do tecido, permitindo o crescimento da massa. “Sem o descanso, as lesões do músculo permanecem e a pessoa fica mais fraca”, ressalta.

·        4. Comer proteína suficiente

Quando consumimos proteínas, elas se transformam em aminoácidos, que circulam pelo sangue e são essenciais para a síntese muscular. “São como os construtores, ajudando a formar músculos. A leucina, um tipo de aminoácido, ativa uma via chamada mTOR, fundamental para estruturar os músculos”, afirma Cirico.

O nutricionista destaca a carne vermelha, frango, peixe, leite, ovos e proteínas vegetais, como oleaginosas e leguminosas, como opções proteicas.

·        5. Consumir de carboidratos

Os músculos utilizam carboidratos como principal fonte de energia durante os exercícios. Consumir pouco do macronutriente significa menos energia e pior desempenho atlético, o que afeta a capacidade de estimular a síntese de músculos.

Arroz, batata, aveia, macarrão, pão, frutas, legumes e leguminosas como feijão, ervilha, lentilha e grão de bico são exemplos de carboidratos pouco gordurosos.

 

Fonte: Gazeta do Povo/Metrópoles

 

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