quarta-feira, 13 de dezembro de 2023

Governo tem últimos dias para aprovar no Congresso prioridades da pauta econômica

O governo tem, na prática, 10 dias para aprovar no Congresso Nacional propostas que considera prioritárias para aumentar a arrecadação e melhorar a situação fiscal do país no próximo ano.

Isso porque o Legislativo entrará oficialmente em recesso parlamentar no dia 23 de dezembro. Como as férias dos congressistas estão previstas para começar em um sábado e, geralmente, não há sessões na Câmara e no Senado às sextas-feiras, o prazo fica ainda mais curto. Provavelmente, o último dia de votações será na quinta-feira (21).

Lideranças governistas afirmam que tentarão aprovar os projetos da pauta econômica ainda neste ano. Entre as propostas, que podem elevar a arrecadação em R$ 50 bilhões em 2024, estão:

•        medida provisória que permite a tributação de incentivos fiscais (R$ 35 bilhões)

•        regulamentação do mercado de apostas esportivas (R$ 3 bilhões a R$ 6 bilhões)

•        fim do juros sobre capital próprio (R$ 10,5 bilhões)

Com as medidas, a equipe econômica espera ter mais condições para conseguir zerar o déficit fiscal em 2024 – meta considerada ousada por especialistas. Sem a aprovação das propostas, alcançar o objetivo será ainda mais difícil.

Também está na lista de prioridades da equipe econômica a aprovação da reforma tributária. Não há uma previsão de quanto pode ser arrecadado com a medida. O texto já foi aprovado pelos deputados, mas, como foi modificado no Senado, ainda precisa passar por nova votação na Câmara.

Além da falta de consenso sobre alguns pontos das propostas, a análise pelo Senado das indicações de Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal (STF); e de Paulo Gonet, para a Procuradoria-Geral da República, podem afetar as votações.

Parlamentares também têm cobrado o pagamento de emendas e o cumprimento de acordos para dar andamento à análise dos projetos.

•        Incentivos fiscais

O governo trabalha para votar ainda nesta semana, na comissão mista, a medida provisória que permite a tributação de incentivos fiscais concedidos pelos estados a empresas. Os governos concedem esses incentivos a fim de manter empregos e corporações nos seus estados.

Após esta etapa, o texto ainda precisará passar por votações nos plenários da Câmara e do Senado. Com a medida, o governo pretende arrecadar R$ 35 bilhões.

Entidades do setor produtivo pressionam contra a votação do texto. Na última semana, 58 associações assinaram uma manifestação argumentando que a medida vai afetar a geração de emprego por aumentar significativamente a carga tributária das empresas.

•        Apostas esportivas

O projeto regulamenta e tributa as apostas esportivas on-line. O texto já foi aprovado pela Câmara e aguarda votação no plenário do Senado, o que pode ocorrer nesta terça-feira (12).

Se aprovado pelos senadores, o projeto ainda terá que passar por nova análise dos deputados.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), tem sinalizado a interlocutores que haverá espaço para a proposta caminhar ainda este ano.

Segundo o projeto, as casas de apostas serão taxadas em 12% sobre tudo o que arrecadarem. Apostadores terão que arcar com o Imposto de Renda, anualmente, sobre o valor obtido em prêmios — a taxação será de 15% e só vai ocorrer se o total de prêmios superar a faixa de isenção do IR (R$ 2.112).

No último mês, o Ministério da Fazenda informou que 134 empresas manifestaram interesse prévio em se registrar para a atuação no Brasil. A licença de operação, de acordo com a proposta, custará até R$ 30 milhões.

Técnicos da Fazenda avaliam que a regulamentação do mercado de apostas esportivas pode aumentar a arrecadação de R$ 3 bilhões a R$ 6 bilhões em 2024.

•        Juros sobre capital próprio

Os juros sobre capital próprio são uma forma de distribuição dos lucros de uma empresa de capital aberto (que tem ações na bolsa) aos seus acionistas, para remunerar o capital investido.

Atualmente, esses valores podem ser deduzidos do Imposto de Renda da Pessoa Jurídica e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL). A proposta do governo pretende acabar com esse benefício tributário. A previsão do Executivo é arrecadar R$ 10,5 bilhões com a medida em 2024.

Em abril deste ano, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já tinha dito que o regime de juros sobre capital próprio estava na mira do governo federal. Na ocasião, Haddad afirmou que havia empresas manobrando "artificialmente" para transformar lucros obtidos em juros sobre capital próprio

•        Reforma tributária

Durante a passagem pelo Senado, o texto aprovado pela Câmara sofreu uma série de mudanças. Em sua maior parte, novos setores foram adicionados aos tratamentos tributários diferenciados.

A reforma tributária simplifica tributos federais, estaduais e municipais. Também estabelece a possibilidade de tratamentos diferenciados, setores com alíquotas reduzidas como, por exemplo, serviços de educação, medicamentos, transporte coletivo de passageiros e produtos agropecuários.

A proposta prevê um Imposto Seletivo — apelidado de "imposto do pecado" — para desestimular o consumo de produtos nocivos à saúde e ao meio ambiente, e assegura isenção de tributos para a cesta básica.

Pela reforma, cinco tributos serão substituídos por dois Impostos sobre Valor Agregado (IVAs) — um gerenciado pela União, e outro com gestão compartilhada entre estados e municípios:

•        Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS): com gestão federal, vai unificar IPI, PIS e Cofins;

•        Imposto sobre Bens e Serviços (IBS): com gestão compartilhada estados e municípios, vai unificar o ICMS (estadual) e ISS (municipal).

A expectativa é de que o texto seja votado ainda nesta semana na Câmara dos Deputados.

•        Vetos

A liderança do governo no Congresso também tem se desdobrado para construir, neste fim de ano, acordos em torno das manutenções de vetos do presidente Lula a projetos aprovados pela Câmara e pelo Senado.

Por duas vezes, entre outubro e dezembro, sessões conjuntas das duas Casas para análise de vetos foram convocadas e canceladas por tropeços na articulação política do Planalto. Em outras duas ocasiões, o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), chegou a anunciar a convocação de sessões, que acabaram canceladas.

Desta vez, o Planalto espera construir acordo para sessão convocada para esta quinta (14). O avanço nos vetos é necessário para destravar a pauta do Congresso e possibilitar a votação das leis orçamentárias de 2024.

Entre os vetos que deverão ser apreciados, estão os do marco temporal para demarcação de terras indígenas, do novo arcabouço fiscal, do voto de qualidade no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) e da desoneração da folha de pagamentos.

Parlamentares da base aliada ao governo têm dado como certa a derrota na disputa pela manutenção dos vetos de Lula ao projeto que define um marco temporal. Randolfe Rodrigues, no entanto, tem repetido que o governo mantém a defesa dos vetos.

O governo tem, por outro lado, negociado os vetos ao arcabouço e ao Carf. Trechos já foram negociados pela equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

 

       Cúpula do Congresso está incomodada com falhas do governo na articulação e pauta econômica pode travar

 

Parlamentares estão incomodados com as falhas do governo na articulação política e sinalizaram que pautas importantes para o Palácio do Planalto podem ser represadas.

Na prática, os congressistas condicionam a votação de projetos à derrubada de vetos presidenciais não combinados com o Congresso.

Deputados ouvidos pelo g1 disseram que não “querem nada” para votar as propostas prioritárias para o governo, apenas que os acordos fechados com os partidos sejam cumpridos.

Segundo um desses parlamentares, o que o governo combinou para ter governabilidade precisa ser cumprido e o “prazo acabou”.

•        Arcabouço e Carf

O que incomoda os parlamentares são, principalmente, os vetos do governo a dispositivos do arcabouço fiscal e ao projeto que alterou as regras para julgamentos do Carf.

•        Lula vetou dois trechos do arcabouço. Um deles determinava condições para que o gestor não seja enquadrado na Lei de Responsabilidade Fiscal quando descumprir o limite inferior do resultado primário.

Congressistas reclamam que o governo tem agido para postergar as sessão do Congresso Nacional que vai analisar os vetos presidenciais na tentativa de mudar os acordos já fechados.

Com isso, avaliam que a MP 1185, que muda a tributação de subvenções de ICMS concedidos por estados a empresas não será votada pelo plenário da Câmara nesta semana.

Essa MP é importante para o governo. Nas contas da equipe econômica, se o texto for aprovado, pode aumentar a arrecadação da União em R$ 35 bilhões.

Na prática a MP extingue uma prática que hoje ocorre em relação a pagamentos de impostos federais. As empresas abatem da base de cálculo desses impostos benefícios fiscais que recebem dos estados. Com isso, o valor que devem pagar à União fica menor.

Esta matéria foi classificada pelo líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), como a prioridade das prioridades, nesta semana decisiva para o Planalto.

"Antes de quinta [data da sessão do Congresso para analisar os vetos], a 1185 não vota no plenário de jeito nenhum”, afirmou um dos deputados ouvidos pelo g1.

As críticas recaem sobre o ministro Alexandre Padilha, das Relações Institucionais.

Segundo os parlamentares, a promessa de pagamento de emendas ainda neste ano é “conversa mole”, porque elas são obrigatórias. “O que falta é o governo cumprir os acordos que fizeram”, se queixou um deputado.

 

       Se for necessário esse país fazer o endividamento para crescer, qual é o problema, questiona Lula

 

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) discursou nesta terça-feira (12) durante reunião no Palácio do Planalto do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável, chamado como "Conselhão". Na ocasião, o presidente defendeu que o país cresça mesmo com dívidas.

"Se for necessário esse país fazer o endividamento para crescer, qual é o problema? Qual o problema de você fazer uma dívida para produzir ativos produtivos para esse país?", questionou o presidente.

Em outro momento, Lula disse que o Brasil tem o "caminho das pedras" para tal.

"Nós temos que decidir agora se nós vamos retirar essa pedra ou não, se vamos chegar a conclusão de, olha, a Lei de Responsabilidade Fiscal, déficit e voltar para nossa vidinha", afirmou o presidente.

Lula falou, ainda, sobre a importância de ouvir o que as pessoas estão dizendo e aprender com isso.

Eu só queria dizer sobre a lição que aprendi hoje. Vocês perceberam que não é difícil governar um país, não é difícil governar uma cidade ou um estado, basta que a gente tenha a capacidade de ouvir as pessoas e aprender com as pessoas", argumentou o presidente.

Ao fim da reunião, Lula disse que deve ficar mais tempo trabalhando, inclusive durante o recesso de fim de ano.

"Vou terminar dizendo o seguinte. Eu pensei em tirar um descanso do dia 26 de dezembro ao dia 3 de janeiro. Já vi que vou ter que tirar esse material todo para estudar", adiantou.

 

 

Fonte: g1

 

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