Andropausa: especialistas explicam termo importante para a saúde dos
homens
Apesar da popularidade do termo andropausa,
especialistas da saúde reforçam que usar a palavra é errado. Menopausa vem do
latim, meno de menstruação, pausa de parada. É a data da última menstruação. O
homem não para de produzir hormônios. O que, de fato, existe é DAEM, Distúrbio
Androgênico do Envelhecimento Masculino, ou hipogonadismo masculino, baixa
função hormonal. A sintetização de testosterona pelo organismo diminui,
nesse caso, em razão do envelhecimento.
Pouco discutida, mas de grande impacto na saúde, a
DAEM emerge como um tema relevante na saúde masculina. Caracterizada por uma
queda gradual nos níveis de testosterona à medida que os homens envelhecem, a
condição pode resultar em uma série de sintomas, incluindo fadiga, alterações
de humor, perda de massa muscular e diminuição da libido, além do
enfraquecimento ósseo.
Especialistas, profissionais da área e cientistas
buscam desenvolver e aplicar abordagens personalizadas para lidar com os
desafios que surgem nesse período de transição. Ensaios sobre terapias
hormonais e mudanças no estilo de vida ganham destaque.
Uma pesquisa, publicada recentemente na revista
Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences e liderada por estudiosos
brasileiros, investigou a relação entre o hipogonodismo do desencadeado pelo
envelhecimento e sintomas, por meio de uma revisão de literatura de estudos
divulgados nos últimos dez anos. Os resultados destacaram a irritabilidade e a
falta de ânimo como problemas significativos, impactando a qualidade de vida e
as relações interpessoais.
Os autores destacaram a necessidade de entender as
complexidades hormonais e as influências psicológicas subjacentes aos sintomas,
bem como a busca por possíveis estratégias para amenizá-las. "A
compreensão dessa relação é fundamental para fornecer um atendimento adequado
aos homens que enfrentam esses desafios", frisaram, em nota.
·
Alívio dos obstáculos
O ensaio pontua a terapia de reposição de
testosterona como uma opção importante, embora os riscos e benefícios devam ser
cuidadosamente avaliados. Os estudiosos ressaltaram que mudanças no estilo de
vida, como se exercitar e manter uma boa dieta, são estratégias valiosas para
aliviar os sintomas. Eles citam mais uma tática para lidar com os desafios
dessa etapa, sobretudo com a irritabilidade e falta de ânimo: o aconselhamento
psicológico. A prática ajuda abordar questões e desafios emocionais.
Olhar para o que os homens passam durante a DAEM é
um dos caminhos da ciência para avaliar o que ainda é necessário compreender
sobre essa etapa. Um estudo, detalhado na revista Korean Journal of Adult
Nursing, focou nos desafios e nas experiências de um grupo masculino que vive
essa fase.
Para o trabalho, os pesquisadores fizeram
entrevistas com um grupo de 10 homens que viviam o hipogonodismo. Os
participantes relataram experimentar vários sintomas, como fadiga, diminuição
da libido e mudanças de humor, que afetaram negativamente seu bem-estar físico
e psicológico. Eles também expressaram falta de conhecimento sobre a situação e
seus tratamentos, o que os levou a procurar informações na internet.
O ensaio sublinhou a importância de compreender as
experiências e necessidades de homens de meia-idade à medida que enfrentam os
desafios do envelhecimento. Os resultados sugerem que os profissionais de saúde
devem fornecer mais educação e apoio para esses pacientes e promover hábitos de
vida saudáveis para prevenir ou gerenciar os sintomas.
Marcelo Ronsoni, presidente do Departamento de
Endocrinologia Feminina, Andrologia e Transgeneridade da Sociedade Brasileira
de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), sublinha que os níveis baixos de
testosterona estão associados a alterações de humor, incluindo características
depressivas. "Há estudos em andamento para tentar avaliar o impacto
cognitivo desses pacientes", ressalta ele.
O especialista reitera o baixo número de pesquisas
sobre o tema. "Não temos estudos grandes e elaborados para esse fim
especificamente. Mas, sim, há um impacto da testosterona na saúde mental, sobre
a qualidade de vida e, principalmente, dados mais específicos sobre o humor,
impactado negativamente nesses pacientes."
·
Efeitos colaterais
Um ensaio da Sociedade Brasileira de Urologia
(SBU), apresentado em novembro, no Congresso Brasileiro de Urologia, revelou a
eficácia de uma nova alternativa na reposição de testosterona. Para o
trabalho, os cientistas acompanharam 20 homens com hipogonadismo — condição
caracterizada pela produção insuficiente de hormônios sexuais, principalmente
testosterona nos homens.
A publicação mostrou que o citrato de clomifeno
é uma opção eficaz na terapia de reposição de testosterona. Ao longo de seis
meses, os participantes experimentaram um aumento significativo nos níveis do
hormônio, indicando o potencial do medicamento em lidar com os sintomas
associados, como a baixa libido.
Realizado sem tratamento prévio, o estudo avaliou
dados como idade, índice de massa corporal (IMC) e perfil hormonal completo. A
resposta foi medida por análises laboratoriais e questionários. Os resultados
mostraram uma relação positiva entre a eficácia do clomifeno e fatores como os
níveis de hormônio luteinizante e estradiol.
Não houve apenas um aumento nos níveis hormonais,
mas melhora na qualidade de vida. Com casos do distúrbio aumentando conforme a
população envelhece, essas descobertas fornecem uma perspectiva promissora para
enfrentar os desafios do envelhecimento androgênico.
Conforme Rubens Pedrenho, membro titular da
Sociedade Brasileira de Urologia, o tratamento clássico consiste em terapia de
reposição de testosterona, realizado normalmente com injeções periódicas ou
géis para aplicação diária. "Independentemente da via, essa será uma
administração exógena, e uma vez iniciada, será para o resto da vida."
Pedrenho detalha que essa dinâmica ocorre porque o
corpo, com a substância externa, entende que os níveis do
hormônio normalizaram. Assim, os testículos que produzem a testosterona
natural, compreendem que está tudo bem e cessam a produção. "O que pode
acarretar atrofia das células produtoras, e como os testículos sintetizam
testosterona e espermatozoides, pode resultar em infertilidade. O citrato de
clomifeno entra como opção sem as consequências para os testículos."
Fonte: Correio Braziliense
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