quinta-feira, 26 de outubro de 2023

Milícia fala em “caos” no Rio se houver prisões, diz ex-Bope

Rodrigo Pimentel, ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar do Rio, disse na 3ª feira (24.out.2023) que a milícia já sinalizou que estabelecerá o “caos” no Estado se houver prisões. Segundo o ex-PM, os milicianos deram uma resposta ao governo ao bloquear vias estratégicas na 2ª feira (23.out). Pimental deu declaração em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo.

Na 2ª feira (23.out), os milicianos queimaram 35 ônibus em represália à morte de um sobrinho de Matheus da Silva Rezende, também conhecido como Zinho e um dos chefes da milícia no Estado. Teteu ou Faustão, como era chamado, foi atingido durante operação da Polícia Civil.

Para o ex-capitão Pimentel, a posição do governador do Rio Cláudio de Castro (PL) foi omissa e covarde. “Tivemos um apagão. Durante toda a tarde, o governador fingiu que nada estava acontecendo, exceto por uma postagem em rede social”, declarou o ex-Bope. O ex-PM afirmou que a operação realizada pela Polícia Civil do Rio foi desorganizada. Para ele, não houve o envolvimento da Polícia Militar.

•        Homem apontado como operador financeiro de milícia é preso no Rio

A Polícia Civil do Rio de Janeiro prendeu no final da tarde desta terça-feira (24) em Ramos, na zona norte da cidade, um homem suspeito de ser o operador financeiro de uma milícia chefiada por Danilo Dias Lima, conhecido como Tandera, uma das três principais lideranças criminosas procuradas no estado.

A prisão foi realizada por policiais da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais), da Polinter, da DRE (Delegacia de Repressão a Entorpecentes) e da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) e anunciada pelo governador Cláudio Castro (PL).

"Acabamos de dar mais um golpe duro na milícia", disse Castro.

O homem preso é André Felipe Mendes, primo de Tandera. Segundo o governador, ele é investigado pela Polícia Civil e pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) do Ministério Público. Ele foi encontrado com uma escopeta e munições.

"Contra ele havia um mandado de prisão expedido. Repito: Não vamos retroceder no combate a essas máfias que ousam aterrorizar a população", afirmou o governador. O mandado era por organização criminosa, expedido pela Vara Especializada da capital.

A defesa de Mendes não foi localizada.

Também nesta terça, Castro anunciou a criação de um grupo de trabalho com o Ministério da Justiça para investigar a lavagem de dinheiro no Rio.

O grupo terá a participação de representantes de instituições de segurança e controle financeiro, como a Fazenda Estadual, o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e a Secretaria Nacional de Segurança Pública.

Na segunda-feira (22), ao menos 35 ônibus e um trem foram incendiados no Rio como resposta à morte de Matheus da Silva Rezende, o Faustão, um dos líderes da maior milícia do estado.

A situação deixou o trânsito caótico na zona oeste da cidade, com oito bairros afetados —diversas vias foram fechadas.

Os ataques de milicianos ao transporte público causaram um prejuízo financeiro de cerca de R$ 38 milhões para as empresas. Cada ônibus demora seis meses para ser reposto.

A estimativa é que 2,5 milhões de pessoas foram afetadas pelos incêndios.

Seis pessoas foram presas e serão indiciadas por terrorismo. Outras seis que haviam sido detidas foram liberadas por falta de provas de envolvimento nos ataques ao transporte.

 

       PM do Rio prende policial dono de arma que estava com miliciano morto

 

A Polícia Militar do Rio de Janeiro prendeu administrativamente o sargento Bruno Bento do Nascimento, do Batalhão de Choque.

A corporação apura se a arma dele estava com o miliciano Matheus da Silva Rezende, o Faustão, no momento em que ele foi morto na segunda-feira (23).

No final da tarde de ontem, Bruno registrou em Teresópolis, cidade da região serrana do Rio, o desaparecimento de sua pistola automática Glock.

Em operação da Polícia Civil nesta terça-feira (24), policiais fizeram busca e apreensão em sua casa, pois descobriram que o miliciano usou a arma do policial militar no confronto no qual perdeu a vida.

A PM informou à CNN que “apura, por meio de sua Corregedoria e da 8ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar, as circunstâncias do caso”.

 

       Os mais procurados: quem são Zinho, Tandera e Abelha, líderes da milícia e do tráfico no Rio

 

Ataques em série contra veículos tomaram as ruas da zona oeste do Rio nesta segunda-feira, 23, em mais um capítulo do acirramento da violência na cidade visto nos últimos meses. Por trás desse cenário, o governo do Rio acredita que esteja uma disputa entre milicianos e traficantes que possui três expoentes: Zinho, Tandera e Abelha. O governador Cláudio Castro (PL) elegeu os três como os mais procurados do Estado.

•        A polícia acredita que os ataques desta semana foram uma reação do grupo miliciano liderado por Luiz Antonio da Silva Braga, o Zinho, de 44 anos, à morte do sobrinho, Matheus da Silva Rezende, também conhecido por Faustão e Teteu, pela polícia do Rio. Rezende era o braço direito de Zinho e o segundo na hierarquia do grupo. Ele morreu durante um confronto com policiais civis, na manhã de segunda, em uma favela dominada pela milícia, na zona oeste do Rio.

Zinho ascendeu à liderança do grupo há dois anos, após a morte de seu irmão, Wellington da Silva Braga, o Ecko. Mesmo sem ter sido militar, ele foi admitido na milícia por sua habilidade com as contas, apontam investigações. Era o responsável, segundo o governo, por contabilizar e lavar o dinheiro oriundo das atividades ilícitas, entre elas a venda clandestina de sinais de TV a cabo, licenças para serviços de transporte, venda de gás e cobrança de taxas de segurança dos pequenos comerciantes.

Em recente operação na casa do miliciano, no bairro do Recreio, avaliada em R$ 1,5 milhão, foi apreendida grande quantidade de joias e relógios, além de R$ 125 mil em espécie, segundo a polícia.

Em setembro, Zinho e Matheus foram denunciados pelo Ministério Público do Rio pelo homicídio do ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, e de um amigo, em agosto de 2022. Jerominho cumpriu mandatos na Câmara do Rio de Janeiro entre 2000 e 2008 e teria fundado a milícia Liga da Justiça.

•        Danilo Dias Lima, o Tandera, de 37 anos, foi parceiro de Ecko e Zinho em várias ações criminosas, segundo a polícia do Rio, mas acabou rompendo com o grupo miliciano e se aliando a outros parceiros no crime.

Tandera passou a controlar vastas regiões em cidades da Baixada Fluminense, como Seropédica, Queimados e Nova Iguaçu. O miliciano é conhecido pelo uso de armas potentes, bombas e pelo estilo cruel.

Há relatos de que algumas de suas vítimas foram decapitadas e mutiladas pelo criminoso, que posou fazendo deboche ao lado dos corpos. Ele também ficou conhecido por lavar dinheiro com criptomoedas.

Tandera é investigado desde 2016 por organização criminosa, homicídios e lavagem de dinheiro. Ele foi preso duas vezes e, em uma delas, fugiu.

Depois da morte de seu principal parceiro, Delson Lima Neto, o Delsinho, em agosto de 2022, durante operação da Polícia Civil, em Nova Iguaçu, Tandera deixou o controle direto da organização criminosa.

•        Wilson Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha, de 52 anos, é o único desses milicianos que atua diretamente no tráfico de drogas e está entre as lideranças do Comando Vermelho (CV), segundo o governo do Rio.

O criminoso, com trânsito entre traficantes e milicianos, saiu pela porta da frente do Complexo de Bangu, em julho de 2021, mesmo com mandado de prisão expedido.

Segundo o Ministério Público do Rio, Abelha participou da decisão do CV de invadir o Morro de São Carlos, em 2020, que estava sob controle de uma facção rival. No meio do confronto entre os criminosos, Ana Cristina da Silva, de 25 anos, se curvou para proteger o filho de 3 anos e foi atingida por tiros de fuzil.

Ele também estaria envolvido na morte de ao menos dez traficantes de Castelar, em Belford Roxo. Há cinco mandados de prisão contra ele na Justiça do Rio.

 

       Castro tenta conter desgaste com ataques, e aliados veem erros e queda nas pesquisas

 

A crise na segurança pública do Rio de Janeiro tem causado um desgaste político na imagem do governador Cláudio Castro (PL), conforme avaliam aliados próximos ao chefe do Palácio Guanabara.

Ouvidos pela reportagem, integrantes do entorno de Castro dizem que a escalada de violência fará com que o governador tenha um derretimento de popularidade.

Diante do cenário, o governador já traça estratégias para contornar o desgaste. Além de ouvir a cúpula de segurança do governo, Castro também tem sido aconselhado por marqueteiros e políticos sobre qual é a melhor forma de se posicionar em relação à crise.

Uma das orientações que recebeu é repetir o mote do "siga o dinheiro", que ganhou fama no caso americano Watergate.

Na terça-feira (24), Castro anunciou um grupo de trabalho para investigar a lavagem de dinheiro de criminosos. O trabalho será tocado pelo governo do estado em conjunto com o Ministério Público e o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).

Na segunda (23), 35 ônibus e um trem foram incendiados na zona oeste do Rio em represália à morte de um miliciano. É a notícia mais recente do aumento de tensão causada por grupos criminosos na região metropolitana da capital do estado.

A avaliação de aliados do núcleo duro do governo é a de que o desgaste se dá principalmente pelas decisões tomadas por Castro no combate ao crime organizado. Eles dizem que as medidas foram equivocadas e não conseguiram trazer à população uma resposta efetiva nem eficaz.

BANDA PODRE’

Um exemplo citado é a operação da Maré, que visava desarticular o Comando Vermelho do complexo de favelas da zona norte do Rio. Elogiada pelo governador, a ação não conseguiu prender os líderes da facção —apenas 6 de 100 mandados de prisão foram cumpridos no primeiro dia da incursão, quando dois helicópteros foram atingidos por tiros e um policial civil ficou ferido.

Na operação, a prisão mais importante foi a de um PM que transportava cerca de 100 kg de cocaína nas proximidades do complexo da Penha. O militar da ativa, lotado no Batalhão de Santa Cruz, é apontado como homem de confiança de um dos chefes do Comando Vermelho, o Wilton Quintanilha, conhecido como Abelha.

O policial não foi o único agente das forças de segurança do estado envolvido com o crime organizado nas últimas semanas. No dia 19, a Polícia Federal prendeu quatro policiais civis suspeitos de cobrar propina de traficantes. No dia seguinte, um delegado também foi alvo da PF após a denúncia de ter extraviado 280 kg de cocaína.

Os três casos reforçaram a ideia de que, mesmo após três anos como governador, Castro ainda não conseguiu expurgar o que é chamado de "banda podre" da polícia. Isso, segundo aliados, enfraquece a imagem que o governador tenta passar de estar combatendo o crime organizado.

Outra avaliação é que, embora Castro faça pronunciamentos tão logo as ações policiais acontecem, o desempenho nas últimas entrevistas coletivas foi ruim.

O entorno do governador aponta que Castro não consegue fazer uma fala firme, apesar de apostar em frases de efeito. Em comparação, essas características puderam ser aproveitadas de forma positiva na campanha de reeleição, em que conseguiu a vitória já no primeiro turno.

Agora, porém, mesmo declarações mais incisivas estão tendo o efeito oposto. Na segunda-feira, enquanto o governador afirmava ter dado um "golpe duro na milícia", ações do grupo criminoso paralisavam a zona oeste, uma das principais regiões da cidade.

"O crime organizado que não ouse desafiar o Estado", disse Castro no momento os ataques afetavam 2,5 milhões pessoas e causaram um prejuízo avaliado em R$ 38 milhões.

DIVIDIR RESPONSABILIDADE

Para contornar o desgaste, um dos conselhos que Castro tem ouvido é que ele deve dividir a responsabilidade com as demais esferas de poder. É por isso que o governador tem reforçado que o crime organizado não é um problema endêmico do Rio e que o governo federal precisa cooperar para combatê-lo.

A orientação que recebeu é a de que ele não deve se restringir apenas ao Ministério da Justiça, mas também instar a ajuda da Receita Federal e do Coaf. Segundo um dos conselheiros do governador, conseguir mostrar as movimentações financeiras dos criminosos já será uma resposta eficaz no combate às milícias e facções —além de ajudar de forma efetiva nas investigações.

Outra frente para contornar o desgaste é tentar uma união entre os parlamentares do Rio, inclusive de oposição, para montar uma aliança ampla na contenção à escalada de violência. Isso, nos desejos do governador, ajudaria a pressionar o governo federal por mais ajuda ao estado e faria Castro ter uma imagem de agregador em meio a crise.

Porém, para os próprios aliados, essa frente é mais difícil de conseguir. O governador é bastante criticado pela esquerda justamente por sua política de segurança pública.

Já entre os aliados no Rio, Castro está enfraquecido e sofre pressão da base governista para acatar as indicações para cargos na gestão. Foi o que fez o governador trocar, em menos de um mês, o secretário da Polícia Civil. No final de setembro, José Renato Torres foi nomeado ao cargo. Na semana passada, ele foi exonerado e substituído pelo delegado e influenciador digital Marcus Amim, ligado ao presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Barcellar (PL).

ENDURECER DISCURSO

Na véspera de um ano eleitoral, em que Castro tenta indicar seus aliados como candidatos, há um receio na cúpula do governo de que o desgaste causado pela crise possa impactar em seu poder eleitoral. Para avaliar a opinião pública, a equipe do governador tem feito pesquisas frequentes.

Um dos resultados obtidos é de que Castro mantém uma base conservadora que tem como uma de suas prioridades o tema da segurança. São eleitores que defendem um pulso firme no combate à criminalidade.

Para não perder sua força em meio a esse eleitorado e conquistar novos apoiadores, temerários à escalada de violência, Castro também aposta em um tom belicoso e que traz de volta a ideia de inimigo número um do estado. É o que ele faz ao anunciar como alvo o nome dos três líderes das principais organizações criminosas do Rio: os milicianos Luís Antônio da Silva Braga, conhecido como Zinho, e Danilo Dias Lima, o Tandera, e o traficante Abelha.

 

Fonte: Poder 360/FolhaPress/Agencia Estado

 

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