Milícia fala em “caos” no Rio se houver prisões,
diz ex-Bope
Rodrigo Pimentel,
ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Especiais) da Polícia Militar do Rio,
disse na 3ª feira (24.out.2023) que a milícia já sinalizou que estabelecerá o
“caos” no Estado se houver prisões. Segundo o ex-PM, os milicianos deram uma
resposta ao governo ao bloquear vias estratégicas na 2ª feira (23.out).
Pimental deu declaração em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo.
Na 2ª feira (23.out), os
milicianos queimaram 35 ônibus em represália à morte de um sobrinho de Matheus
da Silva Rezende, também conhecido como Zinho e um dos chefes da milícia no
Estado. Teteu ou Faustão, como era chamado, foi atingido durante operação da
Polícia Civil.
Para o ex-capitão
Pimentel, a posição do governador do Rio Cláudio de Castro (PL) foi omissa e
covarde. “Tivemos um apagão. Durante toda a tarde, o governador fingiu que nada
estava acontecendo, exceto por uma postagem em rede social”, declarou o ex-Bope.
O ex-PM afirmou que a operação realizada pela Polícia Civil do Rio foi
desorganizada. Para ele, não houve o envolvimento da Polícia Militar.
• Homem apontado como operador financeiro de milícia é preso no
Rio
A Polícia Civil do Rio de
Janeiro prendeu no final da tarde desta terça-feira (24) em Ramos, na zona
norte da cidade, um homem suspeito de ser o operador financeiro de uma milícia
chefiada por Danilo Dias Lima, conhecido como Tandera, uma das três principais
lideranças criminosas procuradas no estado.
A prisão foi realizada
por policiais da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas
e Inquéritos Especiais), da Polinter, da DRE (Delegacia de Repressão a
Entorpecentes) e da Core (Coordenadoria de Recursos Especiais) e anunciada pelo
governador Cláudio Castro (PL).
"Acabamos de dar
mais um golpe duro na milícia", disse Castro.
O homem preso é André
Felipe Mendes, primo de Tandera. Segundo o governador, ele é investigado pela
Polícia Civil e pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime
Organizado) do Ministério Público. Ele foi encontrado com uma escopeta e
munições.
"Contra ele havia um
mandado de prisão expedido. Repito: Não vamos retroceder no combate a essas
máfias que ousam aterrorizar a população", afirmou o governador. O mandado
era por organização criminosa, expedido pela Vara Especializada da capital.
A defesa de Mendes não
foi localizada.
Também nesta terça,
Castro anunciou a criação de um grupo de trabalho com o Ministério da Justiça
para investigar a lavagem de dinheiro no Rio.
O grupo terá a
participação de representantes de instituições de segurança e controle
financeiro, como a Fazenda Estadual, o Coaf (Conselho de Controle de Atividades
Financeiras) e a Secretaria Nacional de Segurança Pública.
Na segunda-feira (22), ao
menos 35 ônibus e um trem foram incendiados no Rio como resposta à morte de
Matheus da Silva Rezende, o Faustão, um dos líderes da maior milícia do estado.
A situação deixou o
trânsito caótico na zona oeste da cidade, com oito bairros afetados —diversas
vias foram fechadas.
Os ataques de milicianos
ao transporte público causaram um prejuízo financeiro de cerca de R$ 38 milhões
para as empresas. Cada ônibus demora seis meses para ser reposto.
A estimativa é que 2,5
milhões de pessoas foram afetadas pelos incêndios.
Seis pessoas foram presas
e serão indiciadas por terrorismo. Outras seis que haviam sido detidas foram
liberadas por falta de provas de envolvimento nos ataques ao transporte.
PM do Rio prende policial dono de arma que estava com
miliciano morto
A Polícia Militar do Rio
de Janeiro prendeu administrativamente o sargento Bruno Bento do Nascimento, do
Batalhão de Choque.
A corporação apura se a
arma dele estava com o miliciano Matheus da Silva Rezende, o Faustão, no
momento em que ele foi morto na segunda-feira (23).
No final da tarde de
ontem, Bruno registrou em Teresópolis, cidade da região serrana do Rio, o
desaparecimento de sua pistola automática Glock.
Em operação da Polícia
Civil nesta terça-feira (24), policiais fizeram busca e apreensão em sua casa,
pois descobriram que o miliciano usou a arma do policial militar no confronto
no qual perdeu a vida.
A PM informou à CNN que
“apura, por meio de sua Corregedoria e da 8ª Delegacia de Polícia Judiciária
Militar, as circunstâncias do caso”.
Os mais procurados: quem são Zinho, Tandera e Abelha, líderes
da milícia e do tráfico no Rio
Ataques em série contra
veículos tomaram as ruas da zona oeste do Rio nesta segunda-feira, 23, em mais
um capítulo do acirramento da violência na cidade visto nos últimos meses. Por
trás desse cenário, o governo do Rio acredita que esteja uma disputa entre
milicianos e traficantes que possui três expoentes: Zinho, Tandera e Abelha. O
governador Cláudio Castro (PL) elegeu os três como os mais procurados do
Estado.
• A polícia acredita que os ataques desta semana foram uma
reação do grupo miliciano liderado por Luiz Antonio da Silva Braga, o Zinho, de
44 anos, à morte do sobrinho, Matheus da Silva Rezende, também conhecido por
Faustão e Teteu, pela polícia do Rio. Rezende era o braço direito de Zinho e o
segundo na hierarquia do grupo. Ele morreu durante um confronto com policiais
civis, na manhã de segunda, em uma favela dominada pela milícia, na zona oeste
do Rio.
Zinho ascendeu à
liderança do grupo há dois anos, após a morte de seu irmão, Wellington da Silva
Braga, o Ecko. Mesmo sem ter sido militar, ele foi admitido na milícia por sua
habilidade com as contas, apontam investigações. Era o responsável, segundo o
governo, por contabilizar e lavar o dinheiro oriundo das atividades ilícitas,
entre elas a venda clandestina de sinais de TV a cabo, licenças para serviços
de transporte, venda de gás e cobrança de taxas de segurança dos pequenos
comerciantes.
Em recente operação na
casa do miliciano, no bairro do Recreio, avaliada em R$ 1,5 milhão, foi
apreendida grande quantidade de joias e relógios, além de R$ 125 mil em
espécie, segundo a polícia.
Em setembro, Zinho e
Matheus foram denunciados pelo Ministério Público do Rio pelo homicídio do
ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, e de um amigo, em agosto de
2022. Jerominho cumpriu mandatos na Câmara do Rio de Janeiro entre 2000 e 2008
e teria fundado a milícia Liga da Justiça.
• Danilo Dias Lima, o Tandera, de 37 anos, foi parceiro de Ecko
e Zinho em várias ações criminosas, segundo a polícia do Rio, mas acabou
rompendo com o grupo miliciano e se aliando a outros parceiros no crime.
Tandera passou a
controlar vastas regiões em cidades da Baixada Fluminense, como Seropédica,
Queimados e Nova Iguaçu. O miliciano é conhecido pelo uso de armas potentes,
bombas e pelo estilo cruel.
Há relatos de que algumas
de suas vítimas foram decapitadas e mutiladas pelo criminoso, que posou fazendo
deboche ao lado dos corpos. Ele também ficou conhecido por lavar dinheiro com
criptomoedas.
Tandera é investigado
desde 2016 por organização criminosa, homicídios e lavagem de dinheiro. Ele foi
preso duas vezes e, em uma delas, fugiu.
Depois da morte de seu
principal parceiro, Delson Lima Neto, o Delsinho, em agosto de 2022, durante
operação da Polícia Civil, em Nova Iguaçu, Tandera deixou o controle direto da
organização criminosa.
• Wilson Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha, de 52 anos, é o
único desses milicianos que atua diretamente no tráfico de drogas e está entre
as lideranças do Comando Vermelho (CV), segundo o governo do Rio.
O criminoso, com trânsito
entre traficantes e milicianos, saiu pela porta da frente do Complexo de Bangu,
em julho de 2021, mesmo com mandado de prisão expedido.
Segundo o Ministério
Público do Rio, Abelha participou da decisão do CV de invadir o Morro de São
Carlos, em 2020, que estava sob controle de uma facção rival. No meio do
confronto entre os criminosos, Ana Cristina da Silva, de 25 anos, se curvou
para proteger o filho de 3 anos e foi atingida por tiros de fuzil.
Ele também estaria
envolvido na morte de ao menos dez traficantes de Castelar, em Belford Roxo. Há
cinco mandados de prisão contra ele na Justiça do Rio.
Castro tenta conter desgaste com ataques, e aliados veem erros
e queda nas pesquisas
A crise na segurança
pública do Rio de Janeiro tem causado um desgaste político na imagem do
governador Cláudio Castro (PL), conforme avaliam aliados próximos ao chefe do
Palácio Guanabara.
Ouvidos pela reportagem,
integrantes do entorno de Castro dizem que a escalada de violência fará com que
o governador tenha um derretimento de popularidade.
Diante do cenário, o
governador já traça estratégias para contornar o desgaste. Além de ouvir a
cúpula de segurança do governo, Castro também tem sido aconselhado por
marqueteiros e políticos sobre qual é a melhor forma de se posicionar em
relação à crise.
Uma das orientações que
recebeu é repetir o mote do "siga o dinheiro", que ganhou fama no
caso americano Watergate.
Na terça-feira (24),
Castro anunciou um grupo de trabalho para investigar a lavagem de dinheiro de
criminosos. O trabalho será tocado pelo governo do estado em conjunto com o
Ministério Público e o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras).
Na segunda (23), 35
ônibus e um trem foram incendiados na zona oeste do Rio em represália à morte
de um miliciano. É a notícia mais recente do aumento de tensão causada por
grupos criminosos na região metropolitana da capital do estado.
A avaliação de aliados do
núcleo duro do governo é a de que o desgaste se dá principalmente pelas
decisões tomadas por Castro no combate ao crime organizado. Eles dizem que as
medidas foram equivocadas e não conseguiram trazer à população uma resposta
efetiva nem eficaz.
BANDA PODRE’
Um exemplo citado é a
operação da Maré, que visava desarticular o Comando Vermelho do complexo de
favelas da zona norte do Rio. Elogiada pelo governador, a ação não conseguiu
prender os líderes da facção —apenas 6 de 100 mandados de prisão foram
cumpridos no primeiro dia da incursão, quando dois helicópteros foram atingidos
por tiros e um policial civil ficou ferido.
Na operação, a prisão
mais importante foi a de um PM que transportava cerca de 100 kg de cocaína nas
proximidades do complexo da Penha. O militar da ativa, lotado no Batalhão de
Santa Cruz, é apontado como homem de confiança de um dos chefes do Comando
Vermelho, o Wilton Quintanilha, conhecido como Abelha.
O policial não foi o
único agente das forças de segurança do estado envolvido com o crime organizado
nas últimas semanas. No dia 19, a Polícia Federal prendeu quatro policiais
civis suspeitos de cobrar propina de traficantes. No dia seguinte, um delegado
também foi alvo da PF após a denúncia de ter extraviado 280 kg de cocaína.
Os três casos reforçaram
a ideia de que, mesmo após três anos como governador, Castro ainda não
conseguiu expurgar o que é chamado de "banda podre" da polícia. Isso,
segundo aliados, enfraquece a imagem que o governador tenta passar de estar
combatendo o crime organizado.
Outra avaliação é que,
embora Castro faça pronunciamentos tão logo as ações policiais acontecem, o
desempenho nas últimas entrevistas coletivas foi ruim.
O entorno do governador
aponta que Castro não consegue fazer uma fala firme, apesar de apostar em
frases de efeito. Em comparação, essas características puderam ser aproveitadas
de forma positiva na campanha de reeleição, em que conseguiu a vitória já no
primeiro turno.
Agora, porém, mesmo
declarações mais incisivas estão tendo o efeito oposto. Na segunda-feira,
enquanto o governador afirmava ter dado um "golpe duro na milícia",
ações do grupo criminoso paralisavam a zona oeste, uma das principais regiões
da cidade.
"O crime organizado
que não ouse desafiar o Estado", disse Castro no momento os ataques
afetavam 2,5 milhões pessoas e causaram um prejuízo avaliado em R$ 38 milhões.
DIVIDIR RESPONSABILIDADE
Para contornar o
desgaste, um dos conselhos que Castro tem ouvido é que ele deve dividir a
responsabilidade com as demais esferas de poder. É por isso que o governador
tem reforçado que o crime organizado não é um problema endêmico do Rio e que o
governo federal precisa cooperar para combatê-lo.
A orientação que recebeu
é a de que ele não deve se restringir apenas ao Ministério da Justiça, mas
também instar a ajuda da Receita Federal e do Coaf. Segundo um dos conselheiros
do governador, conseguir mostrar as movimentações financeiras dos criminosos já
será uma resposta eficaz no combate às milícias e facções —além de ajudar de
forma efetiva nas investigações.
Outra frente para
contornar o desgaste é tentar uma união entre os parlamentares do Rio,
inclusive de oposição, para montar uma aliança ampla na contenção à escalada de
violência. Isso, nos desejos do governador, ajudaria a pressionar o governo
federal por mais ajuda ao estado e faria Castro ter uma imagem de agregador em
meio a crise.
Porém, para os próprios
aliados, essa frente é mais difícil de conseguir. O governador é bastante
criticado pela esquerda justamente por sua política de segurança pública.
Já entre os aliados no
Rio, Castro está enfraquecido e sofre pressão da base governista para acatar as
indicações para cargos na gestão. Foi o que fez o governador trocar, em menos
de um mês, o secretário da Polícia Civil. No final de setembro, José Renato
Torres foi nomeado ao cargo. Na semana passada, ele foi exonerado e substituído
pelo delegado e influenciador digital Marcus Amim, ligado ao presidente da
Assembleia Legislativa, Rodrigo Barcellar (PL).
ENDURECER DISCURSO
Na véspera de um ano
eleitoral, em que Castro tenta indicar seus aliados como candidatos, há um
receio na cúpula do governo de que o desgaste causado pela crise possa impactar
em seu poder eleitoral. Para avaliar a opinião pública, a equipe do governador
tem feito pesquisas frequentes.
Um dos resultados obtidos
é de que Castro mantém uma base conservadora que tem como uma de suas
prioridades o tema da segurança. São eleitores que defendem um pulso firme no
combate à criminalidade.
Para não perder sua força
em meio a esse eleitorado e conquistar novos apoiadores, temerários à escalada
de violência, Castro também aposta em um tom belicoso e que traz de volta a
ideia de inimigo número um do estado. É o que ele faz ao anunciar como alvo o
nome dos três líderes das principais organizações criminosas do Rio: os
milicianos Luís Antônio da Silva Braga, conhecido como Zinho, e Danilo Dias
Lima, o Tandera, e o traficante Abelha.
Fonte: Poder
360/FolhaPress/Agencia Estado
Nenhum comentário:
Postar um comentário