segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Minutos que mudam o jogo: campanha da USP alerta para identificação rápida dos sintomas de AVC

É difícil encontrar um torcedor que não se lembre de uma vitória pra lá de emocionante do time do coração conquistada nos acréscimos, como aquele gol no finzinho do jogo que chega até a mudar a história de um campeonato. Mas não é só no futebol que tudo pode mudar em questão de minutos. Quando se fala em Acidente Vascular Cerebral (AVC) , o popular derrame, minutos mudam o jogo e podem salvar vidas. Minutos que Mudam o Jogo é o título da campanha promovida pelo Curso de Medicina da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB) da USP e pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para alertar a população no Dia Mundial de Prevenção do AVC, instituído em 29 de outubro.

“O AVC é a doença que mais mata no Brasil e uma das doenças que mais matam no mundo. Nosso objetivo com essa campanha é, além de falar do AVC, destacar que esta doença é uma emergência com uma janela terapêutica pequena. Ou seja, o diagnóstico imediato e o tratamento precoce podem salvar a vida de um paciente e reduzir a chance de sequelas”, detalha Julio Cesar Garcia Alencar, médico emergencista, docente da Medicina FOB e um dos idealizadores da campanha.

Matheus Menão Mochetti, aluno de Medicina da FOB, pesquisador na área de AVC e também idealizador da ação aponta números que evidenciam a relevância da temática: “Uma a cada quatro pessoas terá um AVC ao longo da vida, totalizando mais de 15 milhões de novos episódios por ano. No Brasil, são cerca de 11 óbitos por hora pela doença. Para diminuir esses números, acreditamos que o acesso à informação em saúde é a ferramenta mais poderosa que temos”.

Dessa forma, a ação Minutos que Mudam o Jogo contará com publicidade do slogan da campanha durante os jogos da 30ª rodada do Campeonato Brasileiro (no fim de semana em que se celebra o Dia Mundial do AVC), material no site da CBF e um vídeo da TV USP Bauru divulgado em redes sociais da USP e da própria Confederação. A principal meta da ação, segundo os organizadores, é divulgar de forma mais ampla possível quais são os primeiros sinais de quem está tendo um AVC e como proceder.

Como reconhecer os sinais

A campanha utiliza a sigla “Samu” para ajudar a população nesse reconhecimento:

•        S de Sorria: peça para a pessoa sorrir e observe se a boca está torta;

•        A de Abraço: peça um abraço e veja se a pessoa consegue levantar os dois braços;

•        M de Música: peça para a pessoa dizer uma frase ou cantar e repare se há dificuldade na fala;

•        U de Urgência: se notar um ou mais desses sinais, acione o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) pelo telefone 192 o mais rápido possível.

Confira o vídeo da campanha elaborado para as redes sociais:

•        “Gol de placa”

Sabendo da importância de reconhecer esses sinais e de como minutos podem ser valiosos, Mochetti reforça que a ideia da campanha é mesmo marcar essa relação da doença com o futebol. “No AVC, enquanto o tratamento não é iniciado, são cerca de 2 milhões de neurônios que morrem a cada minuto, o que ilustra a célebre frase: ‘Tempo é cérebro’. No futebol, sabemos que, muitas vezes, são os lances entre os 45 do segundo tempo e o apito final do juiz os mais decisivos da partida. Nos dois casos, a mensagem é clara: minutos mudam o jogo”.

O médico Julio Alencar complementa essa analogia em relação ao “gol de placa” que os profissionais de saúde podem fazer quando um paciente com AVC é levado de forma rápida ao serviço de saúde. “A cada medicação que injetamos e vemos a melhora imediata da pessoa é como se fosse um ‘gol de placa’. Por isso, ressaltamos a sigla Samu e também o próprio serviço do Samu, que atende pelo telefone 192 e é quem deve ser acionado em caso de suspeita de AVC. O Samu é quem levará o paciente no tempo adequado e no lugar adequado”, conclui.

 

       Organização Mundial do AVC alerta que 90% dos derrames são preveníveis

 

Uma em cada quatro pessoas com mais de 35 anos vai sofrer um acidente vascular cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame, em algum momento da vida – e 90% desses derrames poderia ser prevenido por meio do cuidado com um pequeno número de fatores de risco, incluindo hipertensão ou pressão alta, tabagismo, dieta e atividade física. O alerta é da Organização Mundial do AVC.

No Dia Mundial de combate ao AVC, lembrado neste domingo (29), a entidade destaca que a doença é uma das maiores causas de morte e incapacidade no mundo, pode acontecer com qualquer um em qualquer idade, e é algo que afeta a todos: sobreviventes, familiares e amigos, além de ambientes de trabalho e comunidades. 

A estimativa é que mais de 12 milhões de pessoas no mundo tenham um AVC este ano e que 6,5 milhões morram como resultado. Os dados mostram ainda que mais de 110 milhões de pessoas vivem com sequelas de um AVC. A incidência aumenta significativamente com a idade – mais de 60% dos casos acontece em pessoas com menos de 70 anos e 16%, em pessoas com menos de 50 anos.

"Mais da metade das pessoas que sofrem um derrame morrerão como resultado. Para os sobreviventes, o impacto pode ser devastador, afetando a mobilidade física, a alimentação, a fala e a linguagem, as emoções e os processos de pensamento. Essas necessidades complexas podem resultar em desafios financeiros e cuidados para o indivíduo e para os seus cuidadores", alerta a organização.

•        Entenda

De acordo com o neurologista e coordenador do serviço de AVC do Hospital Albert Einstein, Marco Túlio Araújo Pedatella, o AVC acontece quando há uma obstrução do fluxo de sangue pro cérebro. Ele pode ser isquêmico (quando há obstrução de vasos sanguíneos) ou hemorrágico (quando os vasos se rompem). Em ambos os casos, células do cérebro podem ser lesionadas ou morrer.

"Os principais fatores de risco que temos hoje pro AVC são pressão alta, diabetes, colesterol elevado, sedentarismo, fumo, uso excessivo de bebida alcoólica, além de outros fatores que a gente não consegue interferir muito, como idade, já que acaba sendo mais comum em pacientes mais idosos, sexo masculino, pessoas da raça negra e orientais e histórico familiar, que também é um fator de risco importante."

•        Jovens

Apesar de o AVC ser mais frequente entre a população acima de 60 anos, os relatos de casos entre jovens têm se tornado cada vez mais comuns. Pedatella lembra que, nesses casos, os impactos são enormes, uma vez que a doença pode gerar incapacidades importantes a depender do local e do tamanho da lesão no cérebro. 

"Acometendo um paciente jovem, uma pessoa que, muitas vezes, vai deixar de trabalhar, vai precisar fazer reabilitação, gerando enorme gastos. Em vários casos, dependendo da sequela, esse paciente precisa de ajuda até pra andar, então, vai tirar um familiar do trabalho pra poder auxiliar. Então acaba aumentando muitos os gastos de seguridade social, além dos gastos com tratamento e reabilitação."

"Infelizmente, a gente não tem um remédio que trate, que cure essas lesões. Os pacientes melhoram com a reabilitação, mas dependendo da lesão, do tamanho, da localização, podem ficar com alguma sequela mais incapacitantes."

•        Reconhecendo sinais

O especialista explica que reconhecer os sinais de um AVC e buscar tratamento rapidamente não apenas salva a vida do paciente, mas amplia suas chances de recuperação. "O AVC é um quadro repentino, súbito. Acontece de uma vez."

"A pessoa tem perda de força ou de sensibilidade de um ou de ambos os lados do corpo; perda da visão de um ou de ambos os olhos; visão dupla; desequilíbrio ou incoordenação motora; vertigem muito intensa; alteração na fala, seja uma dificuldade para falar, para articular palavras, para se fazer ser compreendido ou compreender; além de uma dor de cabeça muito intensa e diferente do padrão habitual".

"É recomendado que, na presença de qualquer um desses sinais, entre em contato com o serviço de urgência para que o paciente possa ser avaliado por um médico e afastar a possibilidade de um AVC. A gente tem uma janela muito estreita, no AVC isquêmico, pra poder tratar esse paciente e evitar sequelas incapacitantes – até quatro horas e meia com tratamento medicamentoso e até seis horas com procedimento endovascular."

 

Fonte: Jornal da USP/Agencia Brasil

 

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