Moisés Mendes: Os tios do zap de Bolsonaro e os jovens do TikTok de
Milei
O fenômeno Javier Milei oferece um consolo aos
brasileiros, nas tentativas de comparação entre o argentino e Bolsonaro e entre
as bases da extrema direita lá e cá. Algumas coisas nos favorecem quanto ao
tamanho das ameaças.
Numa das simplificações possíveis, para que algumas
abordagens sejam aprofundadas, pode ser dito que o bolsonarismo nasce e se
mantém sobre um eleitorado já envelhecido. E que o mileinismo tem seu alicerce
nos jovens.
É o que reafirmam pesquisas mais recentes sobre
intenção de voto no segundo turno, que acontece dia 19 de novembro. Os jovens
mantêm Milei competitivo e é deles que o extremista depende para o curto e o
médio prazos.
Para relembrar, às vésperas da eleição no primeiro
turno, em 22 de outubro, uma pesquisa da consultoria Analogia revelou que 40,6%
dos eleitores de 16 a 29 anos estariam dispostos a votar em Milei. Com uma
maioria de homens, como acontece em relação ao eleitorado total.
O diretor do Grupo de Estudos de Desigualdade e
Mobilidade do Instituto Gino Germani, Eduardo Chávez Molina, analisou o perfil
desse eleitor de Milei e concluiu que em cada quatro jovens da sua base há
apenas uma mulher.
Também na Argentina o lastro da extrema direita é
de machos, e há detalhes interessantes. Molina mostra que, se restringir o que
chamam de jovens à faixa de 16 a 23 anos, os que declaram vínculos e fidelidade
a Milei são apenas 21% do total, contra 32% de peronistas.
Quanto mais jovem, menos o argentino seria ligado
às ideias do extremista. O jovem argentino que simpatiza ou confia em Milei
estaria mais perto dos 30 anos do que dos 20. É um jovem maduro, mas é jovem.
A mais recente pesquisa de intenção de voto da
Analogia para o segundo turno, que acontece em 19 de novembro, foi resumida
assim pelo jornal Página 12:
Sergio Massa, segundo os resultados desse
levantamento, lidera com 42,4%, com maioria de votantes mulheres entre 45 e 59
anos. Milei obteve 34,3%, com uma maioria de votantes homens dos segmentos
jovens entre 16 e 29 anos.
O jornal destaca as mulheres de Massa e os jovens
de Milei. No Brasil, uma pesquisa hoje poderia destacar os homens velhos de
Bolsonaro, porque seu contingente de jovens é baixo, quase precário, segundo
divisão por estratos feita pelo DataFolha em julho de 2022. No grupo de 16 a 24
anos, Bolsonaro contava com apenas 24% do eleitorado. Lula tinha 54%.
A base do eleitorado de Bolsonaro é o macho branco,
com curso superior, de classe média, com idade acima de 40 anos. É uma base com
forte participação de neopentecostais. O eleitor que dá lastro a Milei é o
jovem de até 30 anos, sem influências religiosas relevantes.
Não há jovens entre a militância que foi às ruas no
8 de janeiro e invadiu Brasília. Manés e terroristas presos eram em maioria
homens (60% do total, segundo o Ministério Público Federal) e com idades
predominantes entre 36 e 55 anos.
A radicalidade da afronta bolsonarista é coisa de
quase-idosos, o que não fecha com o perfil médio histórico de participantes de
ações políticas agressivas antissistema.
Eles estão, quanto à faixa etária, mais próximos do
invasor trumpista do Capitólio em 2021, já indiciado e processado, que tem
idade média de 42 anos.
Comparações entre perfis econômicos e de classes
sociais são mais complexas e arriscadas, tanto em relação aos americanos quanto
aos argentinos, no confronto com brasileiros simpatizantes da extrema direita.
Mas na comparação com a Argentina, a idade é um bom
indicador, nas tentativas de espelhar Milei e Bolsonaro e suas bases sociais.
Ambos são fenômenos acionando machos que se dizem antissistema, desiludidos
e/ou com índole fascista, mesmo que com frágil sustentação ideológica.
O resto, principalmente quanto às posições e
expectativas que provocam e provocaram na economia e nos costumes, não é tão
simples.
Para o eleitor tiozão de Bolsonaro, o moralismo é
uma verdade ou uma farsa fundamental para sua inserção na extrema direita, como
ativista ou apenas como eleitor. Ele também é na essência um antilulista.
O eleitor jovem de Milei é alguém com pressa para
encontrar um novo milagre para suas misérias e desilusões, como foram os 10
anos de dolarização de Carlos Menem, que ele nem viveu, e com preocupações
secundárias com temas (aborto, drogas, gays, armas, militares) que mobilizam o
ódio, o preconceito e o reacionarismo bolsonaristas.
As diferenças se acentuam na capacidade de
ativismo, de militância real. Milei levou jovens pobres às ruas, Bolsonaro
levou seus homens carecas ricos e de classe média às motociatas.
Milei tem forte apoio virtual da geração TikTok na
internet. Bolsonaro tem os tios do zap e dos tuítes. Dizer que ambos são bons
no manejo das redes sociais é reduzir esse mundo a algo homogêneo. Bolsonaro
nem sabe o que é TikTok.
Pesquisadores têm à disposição um bom material para
investigar muitas suspeitas, como a de que o eleitorado jovem de Bolsonaro pode
ter encolhido entre 2018 e 2022.
Como elemento para traçar perspectivas de futuro, a
base jovem oferece ao mileinismo bem mais chances do que a base velha do
bolsonarismo. Milei, mesmo que perca a eleição, tem um eleitorado com a
vitalidade da juventude e da possibilidade de renovação por muito tempo.
Bolsonaro tem seus tios, que podem cansar diante de
novas derrotas e desencantos e da ameaça real de vê-lo na prisão.
Ø Militância de Milei segue Trump e Bolsonaro e questiona resultado das
urnas
A campanha para o segundo turno das
eleição argentina começou com os partidários do radical de extrema
direita Javier Milei, do Liberdade Avança, questionando o resultado do primeiro turno. Milei era o favorito
para ficar em primeiro lugar na votação, mas teve 30%, enquanto o peronista Sergio Massa, do União pela
Pátria, conquistou 36% dos votos. Patrícia Bullrich, do Juntos pela
Mudança, teve 23%.
A leitura da campanha do presidenciável foi
feita pela pesquisadora Luiza Foltran, do Monitor do Debate Político no
Meio Digital, da Universidade de São Paulo, durante o Central do Brasil desta
segunda-feira (30).
Foltran analisou o clima nas ruas neste início de
segundo turno e quais tem sido as estratégias dos dois candidatos. "O
clima é bem disputado. A eleição está bem disputada e a militância dos dois
lados está bastante engajada."
De acordo com a pesquisadora, a militância de Milei
está usando aplicativos de mensagem para questionar a lisura do pleito. "A
campanha do Milei, que vinha com muito entusiasmo, entra um pouco derrotada,
inclusive questionando o resultado das eleições. Monitoramos os grupos de
Telegram, o discurso que vem sendo replicado. Como aconteceu no Brasil a
entrada no segundo turno é em um tom de fraude, de crítica ao sistema eleitoral
argentino", explicou.
Ela descreve que Milei apostou no discurso radical
no primeiro turno e agora precisa achar o tom para alcançar o eleitorado da
direita mais convencional na Argentina.
"Acho que o fato novo nestas eleições é o
Milei, com um discurso anticasta e antipolítica, com ideias bem radicais. É
muito impressionante. É um discurso de muita radicalidade. Milei começa o
comício com imagens de explosões, com a defesa de "que se bajan
todos" [Que saiam todos, em português], com uma militância jovem
muito empolgada com essa proposta de acabar com o sistema político",
analisou.
"Apesar de já ter demonstrado o seu apoio
imediatamente no dia seguinte para ele [Milei], ela [Bullrich] representa
um setor mais conservador e tradicional e tem na sua base um eleitorado mais
velho. O Milei tem o desafio de não só ganhar o voto da Bullrich, que é
antiperonista e antissistema, mas também ganhar o voto da Bullrich do conservadorismo
tradicional", concluiu.
Já Sérgio Massa, que também é o atual ministro da
Economia, tem explorado na campanha os temas sociais e importância dos
subsídios do Estado em diversos setores.
"Tem uma série de temas de direitos sociais, como cultura, transporte e
educação, que são apelo até para quem é antiperonista. As pessoas ficam também
preocupadas com uma aventura que possa acabar com o que já tem consolidado e
levar a Argentina para um rumo pior", explicou.
Ø Por derrota de Javier Milei, fãs de BTS e Taylor Swift se unem na
Argentina
Uma inóspita aliança surgiu na Argentina, contra
a candidatura de Javier Milei e sua companheira de chapa, Victoria Villaruel, do Liberdade
Avança. Os fãs da banda BTS, maior nome do K-Pop, e da cantora americana Taylor
Swift querem a derrota da extrema-direita no pleito do próximo dia 19 de
novembro.
Para os fãs de Swift, Milei ofende valores que são
defendidos pela cantora em sua obra e isso os colocaria em posição antagônica
ao líder da extrema-direita argentina, que disputará o segundo turno das
eleições contra o peronista Sérgio Massa.
“Candidatos do Liberdade Avança descreveram as
mortes, torturas e desaparecimentos forçados cometidos durante a ditadura como
‘excessos’; acreditam que a igualdade no casamento é desnecessária, afirmam que
o feminismo é uma mentira, que não há diferença salarial de gênero e estão
considerando a legalização do comércio de órgãos”, publicou uma página de fãs
de Swift no X, antigo Twitter. “Como Taylor diz, precisamos estar do lado certo
da História”, encerra a postagem.
Para desespero dos entusiastas da chapa da
extrema-direita argentina, Villaruel provocou o grupo BTS em 2020, no X. Na
época, a vice na chapa de Milei afirmou que a sigla do grupo parecia “uma
doença sexualmente transmitida.”
Fãs do BTS, grupo organizado que provoca enormes
mobilizações nas redes sociais, reagiram à descoberta das publicações antigas.
“Repudiamos as declarações de ódio e xenofobia em relação à imagem do BTS
proferidas pela candidata Victoria Villarruel”, publicou a conta BTS Argentina.
“Esperamos as desculpas correspondentes.”
Ø Supremo Tribunal da Venezuela anula eleições primárias da oposição
O Supremo Tribunal de Justiça da Venezuela anulou a
eleição primária presidencial da oposição realizada em 22 de outubro passado,
após suspender as diferentes fases desse processo eleitoral depois de uma
denúncia de suposta fraude eleitoral apresentada pelo deputado opositor José
Brito.
"Suspendem-se todos os efeitos das diferentes
fases do processo eleitoral conduzido pela comissão nacional de
primárias", indica a sentença da Sala Eleitoral do STJ.
O STJ também ordenou que a comissão nacional de
primárias envie a esse órgão judicial os antecedentes administrativos das 25
fases que devem orientar o processo eleitoral, tais como: convocação e sua
constituição como comissão eleitoral; cronograma eleitoral, e o registro
eleitoral com seus prazos de impugnação e depuração, entre outros.
Da mesma forma, o comitê de primárias deve
apresentar as candidaturas com seus prazos de impugnação e depuração, incluindo
o ato de aceitação da candidatura apresentada por María Corina Machado, que foi
eleita nas eleições e que está inabilitada por 15 anos.
"É ordenada a notificação ao Procurador Geral
da República, Tarek William Saab, em vista das múltiplas e graves denúncias
relacionadas a esse evento eleitoral, apresentadas tanto pelo deputado José Brito
(...) bem como por outros representantes dos poderes públicos do Estado
venezuelano e por outros atores políticos, que foram amplamente divulgadas
através dos meios de comunicação social, cujos fatos descritos poderiam
configurar a suposta comissão de crimes contra a Constituição e a suposta
comissão de ilícitos eleitorais e a suposta comissão de crimes comuns",
destaca a sentença.
Em 25 de outubro, a Procuradoria abriu uma
investigação contra o processo eleitoral das primárias da oposição pelos crimes
prequalificados de usurpação de funções eleitorais, usurpação de identidade,
legitimação de capitais e associação para delinquir.
A respeito, o órgão citou como investigados o
presidente da Comissão Nacional de Primárias, Jesús Casal, e a vice-presidente,
Mildred Camero, que compareceram em 20 de outubro perante o Ministério Público.
Fonte: Brasil 247/Brasil de Fato
Nenhum comentário:
Postar um comentário