segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Estudo vê relação entre aleitamento materno e inteligência

Estudo publicado pela revista britânica The Lancet nesta quarta-feira (18/03) afirma que o aleitamento materno prolongado melhora o rendimento escolar, eleva a capacidade intelectual e pode, assim, significar salários maiores quando o bebê atingir a idade adulta.

Esse é o primeiro estudo a sugerir que a amamentação por mais de 12 meses tem um grande impacto no desenvolvimento cognitivo. Os efeitos "influenciam o desenvolvimento cerebral e a inteligência das crianças e persistem também durante a vida adulta", explicou o pesquisador Bernardo Lessa Horta, da Ufpel.

A pesquisa da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel) é baseada em análises feitas num grupo de quase 3.500 pessoas, que foram acompanhadas desde o nascimento até os 30 anos de idade.

O estudo conclui que uma criança que é amamentada por pelo menos um ano terá, aos 30 anos, uma quociente de inteligência (QI) mais elevado, 0,9 ano a mais de escolaridade e um salário 341 reais superior à média daqueles que foram amamentados por um período mais curto.

Horta e sua equipe analisaram dados de cerca de 6 mil bebês nascidos no ano de 1982 em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Desse grupo de pessoas, 3.493 realizaram testes de QI aos 30 anos.

Os especialistas dividiram os participantes em cinco grupos, com base no tempo em que foram amamentados, controlando dez variáveis sociais e biológicas que também podem influenciar o quociente de inteligência, como renda familiar, nível de escolarização dos pais, genética, idade da mãe, se ela fumou durante a gravidez, peso do bebê e tipo de parto.

Os pesquisadores apontam que o leite materno possui uma composição única, na qual se destacam os ácidos graxos de cadeia longa, essenciais para o desenvolvimento cerebral.

"Concluímos que a amamentação prolongada está seguramente relacionada à capacidade intelectual na idade adulta, o que significa que a quantidade de leite materno consumida desempenha um papel importante", afirmou Horta.

Entretanto, outros especialistas ressalvam que o estudo ainda necessita do reforço de novas pesquisas para que se chegue a uma conclusão definitiva.

 

       Açúcar do leite materno promove desenvolvimento do cérebro

 

Amamentar traz numerosas vantagens para a saúde, não só da mãe como do recém-nascido. O leite materno contém anticorpos que protegem o sistema imunológico ainda não inteiramente desenvolvido. Por sua vez, mães que aleitam têm menor risco de câncer de mama e de ovário, e de distúrbios metabólicos como o diabetes mellitus.

Pesquisadores do Human Nutrition Research Center on Aging (HNRCA) da Universidade Tufts de Massachusetts, EUA, dedicado ao papel da nutrição no envelhecimento humano, constataram uma relação entre o desenvolvimento cerebral dos fetos e o mio-inositol (ou inositol), um açúcar alcoólico contido no leite materno.

O estudo Componente do leite humano mio-inositol promove conectividade cerebral, publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Science (PNAS), indica que a substância é encontrada em altas doses sobretudo nos primeiros meses da amamentação – coincidindo, portanto, com o período em que as sinapses se desenvolvem com rapidez especial no cérebro dos bebês.

No âmbito do estudo Global Exploration of Human Milk (GEHM), os cientistas recolheram amostras de mães saudáveis da Cidade do México, de Cincinnati (EUA) e de Xangai (China). A concentração do micronutriente mostrou-se estável, independentemente de fatores como origem étnica ou histórico social, que pudessem, por exemplo, influenciar os hábitos alimentares das participantes.

Testes adicionais em roedores e em neurônios humanos confirmaram que o inositol eleva tanto o tamanho quanto o número das conexões neuronais no cérebro em formação.

"Desde o nascimento, a formação e refinamento das interconexões cerebrais é determinada tanto por forças genéticas e ambientais quanto pelas experiências humanas", explica, em comunicado da Universidade Tufts, Thomas Biederer, chefe da equipe do HNRCA e principal autor da pesquisa publicada na revista científica Proceedings of the National Academy of Science.

A influência desses fatores é especialmente decisiva em duas fases da vida: na primeira infância e no envelhecimento, quando as ligações sinápticas vão gradualmente se perdendo.

•        Grãos, farelo e melão para um cérebro melhor?

Alimentação e suprimento de nutrientes são de particular importância para as crianças pequenas, ainda mais em idade de aleitamento, já que nelas a barreira hematoencefálica é mais permeável que nos adultos, e os micronutrientes chegam mais facilmente até o cérebro.

"Para mim, como neurologista, é fascinante quão profundos são os efeitos cerebrais dos micronutrientes", comenta Biederer.

Pesquisas anteriores mostraram que, nas crianças, o nível de inositol no cérebro cai com o avanço da idade. Adultos que sofrem de depressão forte e distúrbios bipolares igualmente apresentam taxas mais baixas da substância do que os indivíduos saudáveis. No entanto, até o momento, não está claro se a deficiência de inositol é a causa dessas doenças ou um efeito colateral dos medicamentos usados no tratamento.

O mio-inositol apresenta a metade da doçura da sacarose (açúcar de mesa), sendo encontrado em certos tipos de cereal e em feijões, farelo e melões. Devido à precocidade dos achados científicos e das questões em aberto, contudo, Biederer não aconselha adultos a atentarem especialmente para o consumo da substância.

Para os bebês que não são amamentados, por outro lado, as conclusões do estudo poderão ser decisivas, contribuindo para aperfeiçoar as fórmulas de leite artificial, ressalva o neurologista.

 

       Dez fatos sobre o aleitamento materno

 

Além de nutrir, o leite materno ajuda no desenvolvimento do sistema imunológico e na digestão.

1. Como o leite materno se forma?

O leite materno começa a se formar durante a gravidez. Cerca de 24 horas depois do parto, os hormônios progesterona e prolactina colocam as glândulas mamárias em funcionamento. Com a primeira amamentação, a criança dá o sinal de partida definitivo para a produção de leite. Além disso, o hormônio prolactina regula o sistema nervoso da mãe e a quantidade que deve ser produzida.

2. Por que o leite materno faz tão bem para o bebê?

Dizem que o leite materno tem poderes quase mágicos. Nas primeiras semanas de vida, ele protege a criança de infecções intestinais, gases e prisão de ventre, além de auxiliar na digestão. O leite materno também ajuda o bebê a desenvolver seu sistema imunológico e se armar contra alergias. Além disso, o movimento feito pela boca do bebê auxilia no desenvolvimento do palato e da mandíbula.

3. Qual é a composição do leite materno?

A lista de ingredientes é muito grande. Os mais importantes são minerais, vitaminas, gordura e aminoácidos. Além disso, o leite contém nucleotídeos, que fornecem as bases para o DNA; carboidratos, que dão energia; fatores de crescimento, substâncias que auxiliam na maturação da mucosa intestinal; e fatores antimicrobianos, utilizados pelo sistema imunológico para identificar partículas estranhas e neutralizá-las.

4. Fases do leite materno

A composição do leite materno está em constante modificação. Nos primeiros dias do aleitamento, as glândulas mamárias produzem o colostro, um primeiro leite muito rico em nutrientes. A partir do quarto dia, ele se transforma num leite de transição, e, somente no décimo dia, as glândulas mamárias produzem o leite maduro. Mas, esse também se modifica permanentemente ao longo do crescimento da criança.

5. Qual é a quantidade de leite produzida?

Uma mulher produz até um litro de leite por dia. Uma criança bebe por amamentação entre 200 e 250 mililitros. Mas as glândulas mamárias podem se orientar rapidamente pelas necessidades do bebê e oferecer mais ou menos leite.

6. Por quanto tempo uma criança deve ser amamentada?

Esse é um tema controverso. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda o aleitamento materno pelo menos até o sexto mês de vida da criança, e como fonte de alimentação exclusiva até o quarto mês.

7. Diferenças culturais

O tempo do aleitamento materno difere entre as culturas. Assim, na República Centro-Africana, as mulheres amamentam seus filhos até o 53º mês de vida, ou seja, quase quatro anos e meio. Para isso, uma mãe produz até 16 mil litros de leite. A média mundial é de 30 meses.

8. Leite materno

Antigamente, as crianças eram amamentadas com "leite feminino". O termo leite materno passou a ser usado após uma campanha promovida no século 18, que estimulava o aleitamento materno, em vez de essa função ser repassada a amas de leite. As crianças deveriam ser amamentadas por suas mães, e não por "qualquer" mulher.

9. Controvérsia em lugares públicos

Uma mãe que amamenta em locais públicos não costuma ser bem vista, principalmente em países anglo-saxões. Nessas regiões, fotos de mulheres amamentando postadas no Facebook são excluídas imediatamente.

10. Aleitamento materno no mundo animal

Quando se trata da alimentação de filhotes, seres humanos e animais não são tão parecidos. Enquanto o ser humano pode desamamentar seu filho a qualquer momento ou até mesmo não amamentá-lo, os filhotes de mamíferos dependem do leite de suas mães por um longo período. Eles só podem ficar sem o líquido materno quando estão hábeis a conseguir alimento por conta própria. Um macaco da família dos hominídeos, por exemplo, é amamentado durante cinco a sete anos.

 

Fonte: Deutsche Welle

 

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