Desigualdade social: causas e consequências
A desigualdade
social está presente em boa parte do mundo, inclusive no Brasil.
Ela é marcada por uma disparidade de oportunidades, diferenças econômicas e
muitos outros fatores negativos. Assim, fazendo com que suas causas e
consequências sejam assunto entre os mais diversos estudiosos. A seguir,
elencamos alguns conceitos importantes para entender o problema.
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O que é desigualdade
social?
Desigualdade social é a diferença entre classes sociais. Para entender esse conceito,
precisamos levar em consideração que uma classe social é um grupo de pessoas
com status social similar. Sendo que esse status pode ser definido por
distintas variáveis que abarcam aspectos econômicos, educacionais, culturais,
de gênero, raça e crença.
Assim, a desigualdade social está diretamente relacionada a fatores
que tornam alguns indivíduos menos favorecidos do que outros dentro de uma
sociedade hierarquizada. Isso dá origem também à desigualdade econômica, de
gênero e racial.
·
Desigualdade econômica
A desigualdade
econômica se refere à má distribuição de renda entre as classes
sociais. Ela fica bem nítida ao observar que uma pequena parcela da população
concentra a maior parte do dinheiro. Enquanto isso, boa parte da sociedade é
pobre e passa por diversas consequências advindas da instabilidade financeira.
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Desigualdade de gênero
A desigualdade
de gênero é consequência de uma sociedade patriarcal e machista que
subjuga mulheres e privilegia homens. Bem como as outras formas de
desigualdade, é um processo sutil e complexo, variando politicamente e
historicamente de acordo com a sociedade.
No entanto, de modo geral, a desigualdade de gênero
em todos os lugares traz consequências em comum. Essas são:
- Oportunidades e salários desiguais (fatores econômicos
relacionados à pobreza);
- Sobrecarga de trabalho (advinda da imposição de tarefas domésticas
e maternidade compulsória);
- Risco de violência (violência
doméstica, relações abusivas e feminicídio);
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Desigualdade racial e étnica
A desigualdade
racial e étnica é o resultado de uma estrutura de poder que coloca
uma etnia ou raça acima das outras de forma hierárquica. Junto à desigualdade
racial há o racismo, discriminação e segregação racial. Tudo isso deriva de um processo
histórico, social e político que se difere dependendo da sociedade.
O Brasil é marcado pela colonização que explorou
negros africanos e indígenas por meio da escravidão. Por muito tempo, as
teorias científicas e sociológicas desenvolvidas no país procuraram afirmar que
uma raça era melhor que a outra. Mesmo com a ciência avançando e destruindo
tais argumentos e com o estabelecimento de políticas de ações
afirmativas, racismo e
desigualdade social ainda imperam juntos. Logo, os negros e
indígenas são menos favorecidos.
Causas da desigualdade
social
A desigualdade
social, há muito tempo, é um tema discutido por diferentes pensadores e
sociólogos. As diversas teorias elaboradas divergem e também se encontram em
alguns momentos. Assim, tentando traçar um panorama sobre as origens, as causas
e as consequências da desigualdade.
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Jean-Jacques Rousseau
Em 1755, por exemplo, Jean-Jacques Rousseau
escreveu um ensaio denominado “Discurso sobre a origem e os fundamentos da
desigualdade entre os homens”. Para tratar do assunto, o filósofo inicia
diferenciando os dois tipos de desigualdade existentes na espécie humana. A
primeira é a natural ou física, que é estabelecida pela natureza, tratando de
fatores como idade, saúde e força. A segunda é a desigualdade moral ou
política, que ocorre por causa dos privilégios diferentes que grupos de pessoas
têm em relação a outros.
A desigualdade que acontece por causa da natureza
humana é inevitável. No entanto, o segundo tipo de desigualdade conceituado por
Rousseau nasce da diferença de poder, riqueza e propriedade e é inaceitável.
Para Rousseau, a propriedade privada é o elemento fundador da sociedade civil
que, posteriormente, gerou misérias à humanidade.
Lentamente, a sociedade foi se subdividindo,
formando famílias abrigadas em moradias que, juntas, formavam comunidades. Em
suma, com a propriedade privada, segundo o filósofo, surgiu também ganância,
competição, vaidade, vício e desigualdade.
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Karl Marx
Centenas de outras teorias surgiram para abordar as
origens e as causas da desigualdade
social. Para Karl Marx, por exemplo, a desigualdade era sintoma de um
outro problema:
O trabalho assalariado da estrutura capitalista,
que divide a sociedade entre classe burguesa e proletária. Sendo que o
proletariado é explorado, enquanto os ricos ficam mais ricos.
Há, por outro lado, teorias que acreditam que a
desigualdade é inevitável e alegam que posições superiores exigem mais
treinamento. Assim, devem receber mais recompensas. São essas teorias que levam
à ideia de meritocracia, que é baseada na capacidade:
Um indivíduo alcança determinada conquista/posição
por mérito, isto é, devido ao seu esforço, talento e capacidade para tal. Esse
conceito, no entanto, ignora o fato das oportunidades serem injustamente
desiguais entre as classes sociais.
Em suma, as teorias mais relevantes sobre as
origens da desigualdade concordam que há um longo e lento processo social,
histórico e político que resulta na divisão de classes e na consequente desigualdade social que traz
consequências diversas.
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Consequências da
desigualdade social
A desigualdade
social impera contra a justiça social. Isso tem consequências inúmeras
às classes desfavorecidas, bem como à sociedade como um todo. A desigualdade
leva ao aumento da pobreza, da má qualidade da alimentação e à fome. Com isso,
também há más condições de moradia, falta de saneamento básico, saúde precária,
alta taxa de mortalidade infantil, violência e desemprego.
Concomitante a todos esses fatores, há estresse e outros problemas psicológicos. Kate Pickett e Richard Wilkinson
abordam, em “O nível: Por que uma sociedade mais igualitária é melhor para
todos“, os efeitos das desigualdades sociais no mundo. Eles abarcam
problemas como dúvida sobre si mesmo, ansiedade social,
estresse e medo de como se é visto pelos outros. Os autores mostram, ainda, que
sociedades menos desiguais no mundo são mais saudáveis e mais felizes.
Anos depois da publicação do livro, a realidade da
desigualdade continua crescendo e trazendo à tona mais consequências. Ao medir
os níveis do hormônio do estresse, o cortisol, em bebês, descobriu-se que a
pobreza e a quantidade de tempo passada nessa situação podem prejudicar o
desenvolvimento mental das crianças. Pickett e Wilkinson descobriram que a
renda familiar é um determinante mais poderoso no desenvolvimento cognitivo do
que ser criado por pais solteiros ou passar pela depressão materna.
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Evidências estatísticas
Em matéria publicada no The Guardian, os
pesquisadores citam diversas evidências estatísticas que mostram que as
sociedades desiguais são responsáveis por vidas pessoais menos gratificantes,
prejuízos à saúde pública e ao progresso educacional, aumento de crime e
redução da expectativa de vida.
A desigualdade também tem prejuízos econômicos. Um estudo, que cobriu dados de 30 anos dos países da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), acompanhou o aumento da
desigualdade nos 25 anos anteriores à crise econômica de 2008. Com base na
análise, os pesquisadores concluíram que a desigualdade de renda tem um impacto
negativo e estatisticamente significativo no crescimento subsequente.
A análise mostra que o aumento das disparidades de
renda impedem o desenvolvimento de habilidades entre os indivíduos com
histórico de educação parental mais pobre. Em outras palavras, há uma tendência
de redução do crescimento econômico. Uma vez que as famílias mais pobres (que
são grande parte da população) não investem em educação superior.
Nesse contexto, um estudo mostrou que crianças com uma escrivaninha e um lugar tranquilo
para estudar têm melhor desempenho na escola. Durante a pandemia de COVID-19,
por exemplo, esses indivíduos foram ainda mais afetados.
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Desigualdade social no
Brasil
Em 2019, o Brasil ocupou a sétima posição entre os
países mais desiguais do mundo no relatório mundial do Programa das Nações
Unidas para Desenvolvimento (Pnud). A diretora da Oxfam Brasil, destaca que há
três principais fatores determinantes fazendo com que o país permaneça nessa
posição negativa:
- O racismo
- A questão de gênero
- A tributação desigual de impostos, que acaba pesando muito mais
sobre a população mais pobre
A pandemia de Covid-19, que começou em 2020,
alavancou a disparidade econômica do Brasil. O número de bilionários saltou
44%, passando de 45 bilionários para 65, sendo que, juntos, eles detêm mais de
219 bilhões de dólares (o equivalente a 1,2 trilhão de reais).
Ao mesmo tempo, a fome no Brasil também avançou.
Segundo dados da Rede Penssan, a segurança alimentar brasileira caiu de 77,1% para 44,8%. Em 2021, pelo menos 15% da
população passou a conviver com a falta diária de ter o que comer.
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Desigualdade social e o
meio ambiente
De acordo com uma matéria publicada na Página 22, a desigualdade social e o meio ambiente podem
estar relacionados. O texto defende a ideia de que a escala social e,
consequentemente acabar com a desigualdade social, são fatores essenciais para
a restauração do meio ambiente.
Além disso, processos de restauração podem ajudar
nesse movimento. Mas como? Algumas técnicas de restauração de ecossistema, como
plantações de mudas e sementes, ajudam a gerar empregos. Com base no Acordo de
Paris, que tem o objetivo de recuperar até 12 milhões de hectares até 2030,
cerca de 112 mil empregos poderão ser gerados anualmente.
Ampliar processos de restauração dos ecossistemas
também contribuiria para reduzir outros pontos da desigualdade social. Alguns exemplos são a insegurança alimentar,
hídrica e energética, além de assegurar direitos de povos indígenas.
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Como acabar com a
desigualdade social?
A educação é vista como um forte equalizador,
permitindo que as classes desfavorecidas ascendam na sociedade. Um estudo publicado no The Journal of Higher
Education, no entanto, trouxe evidências de que ela não funciona tão bem
como costumávamos pensar.
Manzoni, autora do estudo, examinou dados de mais
de 56 mil indivíduos e descobriu que, se um filho obtiver um diploma semelhante
ao de um pai, ele ganhará mais dinheiro do que se o pai não tivesse o mesmo
nível de educação. Ou seja, um filho formado em medicina que tem o pai médico
provavelmente ganhará mais do que aquele que não tinha um pai com o mesmo nível
de educação.
Esse efeito demonstra que a estratificação social é
preservada, mas não fica claro o que impulsiona essa desigualdade estrutural. A
educação é essencial para mudar o problema, mas não é suficiente para resolver
os desafios da desigualdade. Estudiosos propõem outras soluções que envolvem
investimentos em infraestrutura para reduzir a pobreza. Além do fim de abusos
trabalhistas e até mesmo uma nova economia que funcione para melhorar a vida de
todos.
A Organização das Nações Unidas (ONU) tem
trabalhado para ajudar na resolução do problema. Entre os 17 Objetivos
de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o primeiro
visa à erradicação da pobreza, o quinto objetiva alcançar
a igualdade de gênero. Por fim, o décimo estabelece medidas para acabar com a desigualdade
social.
Fonte: eCycle
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