O desespero no hospital de Gaza que abriga civis em meio a bombardeios
O diretor do principal hospital na Cidade de Gaza,
Bassam Mourad, disse ter recebido vários avisos para evacuar o edifício,
segundo a agência de notícia Reuters.
Além de tratar doentes e pessoas feriadas na guerra
entre Israel e o Hamas, o hospital Al-Quds atualmente abriga entre 12 mil e 14
mil pessoas que foram obrigadas a sair de suas casas, segundo Mourad.
“O número muda todos os dias, além dos
departamentos hospitalares e da unidade de terapia intensiva”, afirmou Mourad.
“O primeiro aviso foi através de um telefonema do
Crescente Vermelho Palestino. O exército israelense ligou para a entidade para
exigir a evacuação de todos os pacientes e trabalhadores, bem como daqueles que
residem no hospital", disse ele. “Mencionaram que esta área será uma zona
militar, que haverá confrontos e a área será perigosa e que temos que evacuar
rapidamente”.
O diretor do Crescente Vermelho, Marwan Jilani,
disse à BBC News que havia bombardeamento intenso ao redor do hospital durante
a tarde e que uma bomba havia caído "a metros de distância",
danificando janelas e obrigando as pessoas abrigadas naquela parte do edifício
a irem para outra.
A Federação Internacional da Cruz Vermelha e do
Crescente Vermelho emitiu um comunicado dizendo que os trabalhadores do
hospital relataram ataques violentos muito próximos.
A evacuação de pacientes, incluindo bebês em
incubadoras e pessoas na UTI, é patricamente impossível na atual situação,
disse a entidade.
A entidade afirmou ainda que os médicos e
enfermeiros não deveriam ser colocados diante deste dilema entre "ter que
deixar pacientes para trás ou arriscar suas vidas ficando no hospital".
O palestino Abu Qusai Al-Deeb disse à Reuters que
está se abrigando no hospital há três semanas e já recebeu 6 avisos de
evacuação.
"Nós dissemos para eles identificarem quais
locais são seguros e nós deixaremos o hospital. Não há lugar seguro, nem no
sul, nem em qualquer lugar de Gaza", disse ele.
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'Ordem civil começando a
ruir'
Nos últimos dias, milhares de pessoas invadiram
depósitos de ajuda humanitária em Gaza, em um “sinal preocupante de que a ordem
civil está começando a ruir”, segundo a agência de ajuda da ONU para refugiados
palestinos (UNRWA).
Pessoas levaram farinha e outros suprimentos
básicos depois de invadirem vários armazéns e centros de distribuição no centro
e sul do território no sábado, segundo a UNRWA.
“As pessoas estão assustadas, frustradas e
desesperadas”, disse a agência das Nações Unidas em nota à imprensa.
Segundo o correspondente da BBC Jeremy Bowen, que
está a cerca de 10 quilômetros de Gaza, no sul de Israel, os bombardeios da
artilharia israelense contra Gaza são ininterruptos.
Ele define a invasão aos armazéns como "um
desenvolvimento realmente preocupante da guerra".
Bowen afirma que é muito difícil acompanhar
exatamente o que se passa no terreno, em Gaza, porque os israelenses têm falado
pouco sobre as suas operações.
Embora alguma conectividade e telecomunicações
tenham sido restauradas, a maior parte de Gaza ficou isolada do resto do mundo
por mais de um dia.
Após mais de 24h de corte quase total das
telecomunicações, linhas telefônicas e conexões à Internet estão voltando
lentamente na região.
A conectividade foi cortada quando Israel
intensificou o bombardeio contra Gaza e deu início a uma grande operação por
terra envolvendo tanques e tropas.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) afirmam que
aviões de guerra atacaram “mais de 450 alvos militares pertencentes à
organização terrorista Hamas na Faixa de Gaza” nas últimas 24 horas.
Israel tem bombardeado Gaza desde os ataques do
Hamas, em 7 de outubro, que quando 1.400 pessoas morreram e outras 229 foram
sequestradas e desde então são mantidas como reféns.
O Ministério da Saúde administrado pelo Hamas em
Gaza afirma que mais de 8.000 pessoas morreram desde o início dos bombardeios
de Israel.
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'Guerra longa e difícil'
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu,
confirmou a presença de soldados e comandantes israelenses na Faixa de Gaza,
“destacados por toda parte”, em coletiva de imprensa neste sábado (28/10).
Ele afirmou que a operação terrestre em curso em
Gaza é a segunda fase da guerra com o Hamas e disse que espera uma “guerra
longa e difícil”. Netanyahu descreveu a guerra como a “segunda guerra de
independência” de Israel.
"Lutaremos e não nos renderemos. Não nos
retiraremos. Na superfície e no subsolo", continuou Netanyahu, se
referindo ao túneis subterrâneos usados pelo Hamas.
O primeiro-ministro se reuniu com famílias dos
reféns levados pelo Hamas, que demonstraram preocupação sobre a intensificação
dos ataques.
Neste sábado, o porta-voz das Forças de Defesa de
Israel, Daniel Hagari, emitiu um "apelo urgente" aos cidadãos do
norte de Gaza e da cidade de Gaza para que se deslocassem para o sul
"imediatamente".
Em uma postagem no X (antigo Twitter), Hagari
afirmou que eles poderão retornar para suas casas quando as "intensas hostilidades
terminarem".
Ele acrescentou que o Hamas coloca a vida dos
palestinos em perigo ao armazenar armas em áreas civis e que Israel não
esquecerá os ataques brutais do grupo em 7 de outubro.
"Sua janela para agir está se fechando",
alertou Hagari. "Vá para o sul para sua própria segurança."
As Forças de Defesa de Israel disseram à BBC que
foram utilizados vários métodos para transmitir esse último alerta à população
de Gaza, incluindo o lançamento de panfletos pelo ar, rádio, Internet e o que é
descrito como "métodos adicionais sobre os quais não podemos entrar em
detalhes".
Neste sábado, milhares de manifestantes
pró-Palestina protestam em Londres pedindo o fim dos ataques de Israel em Gaza.
No fim de semana passado, 100 mil pessoas saíram às
ruas da capital exigindo o fim dos bombardeios em Gaza.
Protestos também aconteceram em outras cidades do
Reino Unido, incluindo Manchester (Inglaterra) e Glasgow (Escócia).
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Crise diplomática com a
Turquia
A comunidade internacional segue dividida.
Na Assembleia Geral da ONU, na sexta-feira (27/10),
120 países votaram a favor de um cessar-fogo humanitário, incluindo Brasil,
França e Bélgica. No total, 14 países votaram contra e houve 45 abstenções.
A resolução, apesar de aprovada em massa, não têm
cumprimento obrigatório.
Já a Casa Branca diz que Israel tem "o direito
de levar a luta ao Hamas".
Neste sábado (28/10), para uma multidão eufórica em
Istambul, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, chamou os ataques de
Israel em Gaza de “massacre” e disse que os aliados ocidentais do país eram “os
principais culpados” por trás do que classificou como crimes de guerra
cometidos por Israel.
"Iremos declarar Israel como criminoso de
guerra para o mundo. Estamos nos preparando para isso e apresentaremos Israel
ao mundo como um criminoso de guerra."
Erdogan também manteve sua posição de não
considerar o Hamas uma “organização terrorista”. O grupo é descrito como tal em
países como EUA e Reino Unido.
O ministro das Relações Exteriores de Israel, Eli
Cohen, reagiu ordenando que diplomatas israelenses deixassem a Turquia depois
do que chamou de “declarações duras” de Istambul.
O presidente discursou em um grande palco para o
que ele disse ser uma multidão de 1,5 milhão de pessoas, que agitavam bandeiras
turcas e palestinas.
O evento, denominado Grande Comício da Palestina,
foi realizado no abandonado Aeroporto Ataturk, onde Erdogan já realizou
comícios.
No sábado, ele reiterou as suas críticas à recusa
de alguns países em pedir um cessar-fogo em Gaza, e apelou à unidade no mundo
muçulmano.
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'Invasão limitada'
Cerca de 100 aviões de combate foram usados na
operação de sexta para sábado, descrita por Israel como "invasão
limitada".
Mais cedo, o porta-voz Hagari havia afirmado que os
militares israelenses estavam "combatendo um inimigo mais fraco".
Ele confirmou que as tropas entraram no norte de
Gaza durante a noite, acrescentando que as forças "ainda estavam no
campo" neste sábado.
Segundo Hagari, vários comandantes do Hamas foram
mortos durante a noite como parte da "ofensiva ampliada".
Ele acrescentou que caminhões de ajuda humanitária
entrarão hoje em Gaza carregando alimentos e água.
Também informou que houve 311 mortes de militares
israelenses desde o ataque do Hamas em 7 de outubro e que baixas foram sofridas
durante as operações noturnas.
Hagari confirmou ainda que 229 pessoas são mantidas
como reféns em Gaza.
Segundo ele, "estamos trabalhando para atingir
os objetivos que estabelecemos para nós mesmos e que foram definidos para nós.
A dissolução do Hamas, a segurança das fronteiras e um esforço nacional para
trazer de volta os sequestrados."
Sobre o destino dos reféns, Hagari disse que
"trazer de volta os sequestrados para casa é um esforço nacional supremo.
E todas as nossas atividades, operacionais e de inteligência, visam atingir o
objetivo".
Enquanto isso, antecipando uma possível expansão do
conflito para outros países, o Departamento de Estado dos EUA orientou na
sexta-feira os seus cidadãos a deixarem o Líbano enquanto há voos comerciais
disponíveis, "devido à situação de segurança imprevisível".
Disparos entre as forças israelenses e o poderoso
grupo xiita libanês Hezbollah têm se intensificado dia após dia. Israel colocou
soldados e equipamentos militares na região de sua fronteira com o Líbano e
evacuou dezenas de milhares de civis que ali viviam.
Na rede social X (antigo Twitter), o Departamento
de Estado afirmou: "Não há garantia de que o governo dos EUA irá evacuar
cidadãos americanos e seus familiares em uma situação de crise."
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Resolução da ONU
Na tarde de sexta-feira, a Assembleia Geral da ONU
aprovou uma resolução pedindo por uma trégua humanitária imediata em Gaza.
A resolução — apresentada pela Jordânia em nome do
grupo de países árabes — também condenou todos os atos de violência contra
civis palestinos e israelenses, incluindo todos os "ataques terroristas e
indiscriminados".
O texto também pediu a imediata libertação dos
reféns mantidos pelo Hamas em Gaza, mas não faz menção específica aos ataques
de 7 de outubro contra Israel
Foram 120 votos a favor, incluindo o do Brasil, 14
contra e 45 abstenções.
Israel reagiu fortemente à resolução.
"Hoje é um dia que será considerado infame.
Todos nós testemunhamos que a ONU já não detém nem um pingo de legitimidade ou
relevância", disse o embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan,
acrescentando que seu país vai usar "todos os meios" para combater o
Hamas.
As resoluções da Assembleia Geral não têm
cumprimento obrigatório, mas têm peso moral devido à universalidade dos seus
membros.
O secretário-geral da ONU, António Gueterres,
também fez um apelo por um cessar-fogo no X, dizendo que "este é o momento
da verdade".
"Repito meu apelo por um cessar-fogo
humanitário no Oriente Médio, pela libertação incondicional de todos os reféns
e pela entrega de suprimentos vitais na escala necessária. Todos devem assumir
suas responsabilidades. Este é o momento da verdade. A história julgará todos
nós", escreveu.
Durante café da manhã com jornalistas, no Palácio
do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que é
"insanidade" do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu,
querer acabar com a Faixa de Gaza.
"O ato do Hamas foi terrorista, que não é
possível fazer um ataque, matar inocentes, sequestrar gente da forma que eles
fizeram, sem medir as consequências do que acontece depois. Porque, agora, o
que nós temos é a insanidade do primeiro-ministro de Israel querendo acabar com
a Faixa de Gaza, se esquecendo que lá não tem só soldado do Hamas, que lá tem
mulheres e crianças, que são as grandes vítimas dessa guerra", disse Lula.
O presidente explicou que o Brasil não reconhece o
Hamas como organização terrorista porque o país segue as avaliações do Conselho
de Segurança da ONU.
"A posição nossa é clara. Toda guerra não tem
apenas um culpado, ou um mais culpado."
·
O conflito
O grupo palestino Hamas, que controla a Faixa de
Gaza, lançou em 7 de outubro um ataque surpresa a Israel, matando mais de 1.400
e capturando reféns.
Israel reagiu com bombardeios que já mataram mais
de 8.000 pessoas, segundo o Ministério da Saúde em Gaza controlado pelo Hamas.
Em 14 de outubro, as forças israelenses anunciaram
para breve uma ofensiva ainda maior por ar, terra e mar contra o território.
Israel também deu um ultimato aos moradores no
norte da Faixa de Gaza — cerca de 1,1 milhão de pessoas — para se deslocarem
para o sul do território.
Esse prazo, estendido algumas vezes, expirou no dia
15 de outubro.
O norte de Gaza — que inclui a Cidade de Gaza e
dois campos de refugiados — é uma das partes mais densamente povoadas do
território.
Na ocasião, o Hamas disse aos civis que ignorassem
a ordem de evacuação, descrevendo-a como "propaganda falsa".
No entanto, milhares de palestinos obedeceram à
ordem de Israel e abandonaram suas casas.
Apesar disso, Israel bombardeou e continua
bombardeando várias localidades no sul do território.
Segundo a agência da ONU para os refugiados
palestinos, a situação no sul de Gaza é tão ruim que alguns civis estão
voltando para o norte.
O ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant,
disse que a campanha militar em Gaza "pode levar um mês, dois ou três, mas
no final não haverá mais Hamas".
Fonte: BBC News Mundo
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