'Aprendendo a aprender': 3 técnicas indicadas por
cientistas para qualquer pessoa melhorar nos estudos
A volta às aulas às vezes
é encarada com desânimo por muitos alunos, diante das dificuldades em aprender
conteúdos difíceis ou se preparar para exames importantes, como o Enem.
Mas será que há jeitos
mais eficientes de estudar e de aprender, diferentes daqueles a que recorremos
sempre?
Um livro recém-lançado no
Brasil coloca isso em discussão. Aprendendo a Aprender para Crianças e
Adolescentes - Como se Dar Bem na Escola (editora Best Seller) foi feito por
três pesquisadores: a PhD Barbara Oakley, professora de Engenharia na
Universidade e Oakland (EUA) e pesquisadora de psicologia cognitiva, o PhD
Terrence Sejnowski, especialista em neurociência e neurobiologia computacional,
e Alistair McConville, diretor de aprendizagem e inovação em uma escola
britânica.
Oakley é a criadora de um
curso online gratuito de mesmo nome ("Aprendendo a aprender") que foi
um dos mais populares da plataforma Coursera em 2018, com mais de 1,7 milhão de
pessoas inscritas. A pesquisadora ensina a tirar melhor proveito da forma como
o cérebro registra informações, com base em evidências científicas.
A experiência vem dela
própria: como má aluna de matemática e ciências na escola, Oakley se dedicou a
aprender essas disciplinas mais tarde na vida porque percebeu que com elas
poderia melhorar suas perspectivas profissionais. O caminho para isso, diz, foi
se tornar uma "boa aprendiz" e "mudar seu cérebro".
A seguir, a BBC News
Brasil seleciona técnicas sugeridas por ela e os demais pesquisadores do livro,
que podem ser úteis para alunos de qualquer idade — e em qualquer tipo de
estudo.
• 1. Empacou em um exercício?
Nosso cérebro, diz
Oakley, trabalha de dois jeitos diferentes, que se complementam no aprendizado:
o modo focado (quando estamos prestando atenção a um exercício, a um filme ou
ao professor, por exemplo) e o modo difuso (quando o cérebro está relaxado).
Se você empacar em um
exercício ou atividade, dê tempo a seu cérebro - seja com uma pausa de cinco a
dez minutos, seja alternando entre exercícios
"Acontece que o
cérebro precisa alternar entre o modo difuso e o focado para aprender de forma
efetiva", explica a cientista. Ou seja, relaxar a mente muitas vezes
permite encontrar soluções para problemas — é o motivo pelo qual às vezes temos
boas ideias durante caminhadas ou depois de uma boa noite de sono, quando o
cérebro entra no modo difuso.
Então, se você empacar em
um exercício ou atividade, mesmo tendo entendido a explicação inicial (o que é
fundamental para seguir adiante), Oakley diz que é preciso dar ao cérebro a
chance de sair do modo focado e entrar no difuso, seja com uma pausa de cinco a
dez minutos para fazer outra coisa, seja alternando entre exercícios.
"Quando você estiver
empacado em um exercício de matemática, o melhor a fazer é mudar o foco e
estudar um pouco de geografia. Assim, você conseguirá avançar quando voltar à
matemática", sugere Oakley.
"Se você sempre fica
empacado em uma disciplina, comece por ela quando for estudar. Assim, consegue
alternar com outras tarefas ao longo do dia (e dá ao cérebro a chance de
alternar). Não deixe o mais difícil para o fim, pois você já estará cansado e
sem tempo para a aprendizagem difusa."
A propósito, enquanto
Oakley defende a alternância de atividades para manter o cérebro eficiente, ela
é contra o multitasking — fazer muitas coisas ao mesmo tempo, por exemplo,
ficar no WhatsApp enquanto estuda. "É um erro. Só conseguimos focar em uma
coisa por vez", diz ela. "Quando mudamos o foco de atenção, perdemos
energia mental e nosso desempenho piora."
• 2. Costuma deixar estudos e tarefas para a última hora?
A estratégia que os
especialistas sugerem para evitar a procrastinação requer um despertador (ou
qualquer outro tipo de temporizador) e uma "recompensa":
- Desligue todas as
distrações (celular, TV etc.) e marque o temporizador para 25 minutos.
Concentre-se na tarefa o máximo que puder, sem alternar com outra. Não pare
para comer e rejeite interrupções;
- Depois dos 25 minutos,
dê a si mesmo uma recompensa (como assistir a um vídeo engraçado, ouvir uma
música, brincar com o cachorro etc.) por cinco ou dez minutos. O anseio pela
recompensa vai ajudar o cérebro a manter o foco nos 25 minutos de estudo. Isso
vai colocá-lo em modo difuso e o ajudará a descansar, para então retomar o
aprendizado com mais eficiência.
A sugestão é fazer esse
procedimento quantas vezes forem úteis ao longo do dia para manter a motivação.
Explicar a um amigo ou
escrever pontos-chave do aprendizado também ajudam o cérebro a guardar
informações.
Mas talvez você se
pergunte: para que estudar na segunda-feira se a prova é só na sexta? Oakley
explica que deixar tudo para a última hora atrapalha o cérebro na hora de
aprender.
Aprender, na prática,
consiste em criar novas (ou mais fortes) correntes cerebrais. Quanto mais nos
dedicamos a coisas novas, mais criamos correntes no cérebro. Quanto mais
praticamos essas coisas e acrescentamos complexidade ao aprendizado, mais
fortes e compridas ficam essas correntes.
Se você deixa o estudo
para a última hora, não dá tempo para o seu cérebro fortalecer as correntes
cerebrais — ou seja, para aprender de fato. O cérebro precisa, inclusive, de
noites de sono para "ensaiar o que aprendeu durante o dia".
"Tempo e treino
trabalham juntos para ajudá-lo a consolidar as ideias no seu cérebro. Se o
tempo é curto, você não consegue criar novas estruturas no cérebro e ainda
perde energia preocupando-se com isso", agrega Oakley.
"Quando aprendemos
algo novo, precisamos revisar logo, antes que as espinhas dendríticas e as
conexões sinápticas (termos técnicos que se referem à atividade em nossos
neurônios durante a aprendizagem) comecem a desaparecer. Se elas desaparecerem,
temos de começar o processo de aprendizagem todo novamente."
• 3. Esquece facilmente o que leu e aprendeu?
É comum a gente entender
o conteúdo em aula, mas esquecê-lo quando vai estudá-lo em casa. Ou sublinhar o
texto de um livro, mas mesmo assim não guardar na cabeça o que está escrito
nele.
É que quando não
praticamos o conteúdo, não focamos profundamente ou não damos tempo para ele
ser assimilado, as conexões entre os neurônios do cérebro relacionadas àquele
conhecimento podem facilmente desaparecer.
"Não se engane:
quando você apenas lê suas anotações, a informação não entra na cabeça",
diz a autora.
Para isso, Oakley ensina
uma técnica chamada de "recordar ativamente", que significa trazer
ideias-chave de volta à mente.
Funciona assim: leia com
calma o texto e anote, na margem ou em outro papel, uma ou outra ideia que você
achar crucial no texto. Agora, o mais importante: depois de ler alguns trechos,
tire os olhos do livro e veja se consegue lembrar, sem olhar, as ideias-chave
que anotou. Repita-as na sua mente ou em voz alta.
Depois, tente lembrar a
mesma informação em horários e lugares diferente — outra forma interessante de
fixar a informação na nossa cabeça.
"Pesquisas mostram
que recordar ativamente durante estudos garante resultados melhores na
prova", diz o livro. Isso porque "a técnica não apenas coloca a
informação na memória, como constrói o entendimento".
* Dicas finais:
- Antes de dormir, faça
anotações ou repense sobre o que aprendeu no dia. "Isso abastece seus
sonhos e sua aprendizagem", diz o livro;
- Olhou a solução de um
exercício de matemática e acha que entendeu o conceito? Então pratique-o.
Apenas ler a solução não vai consolidar o entendimento no seu cérebro;
- Não estude com a TV
ligada. O som captura parte da sua atenção, mesmo que você não esteja
efetivamente prestando atenção na tela. A mesma ideia vale para o celular, que
"rouba" as correntes cerebrais que deveriam estar focando nos
estudos;
- Dormir bem
(constantemente, e não só no fim de semana) ajuda a consolidar o que você já
aprendeu e a abrir espaço para aprendizados novos;
- Exercício físico faz
novos neurônios crescerem, além de proporcionar momentos ótimos para estimular
o modo difuso do cérebro, essencial ao aprendizado;
- Comida saudável e
nutritiva, como frutas e vegetais, melhora a capacidade do cérebro de aprender
e recordar.
Barbara Oakley diz que
sempre tivemos interesse em melhorar nosso aprendizado — a diferença é que
agora conseguimos usar a neurociência a nosso favor.
"Durante séculos,
tivemos pouco conhecimento sobre como o cérebro realmente aprende", diz a
pesquisadora por e-mail à BBC News Brasil. "Com a neurociência moderna,
isso mudou. Por exemplo, podemos ver o que está acontecendo no cérebro,
(mostrando que) reler e sublinhar são tão ineficientes se comparados com
técnicas ativas, como relembrar, que promovem crescimento neural. Quando você
entende como seu cérebro trabalha durante o aprendizado, é muito mais fácil
usá-lo de modo mais eficiente e evitar técnicas que não funcionem."
Mas ela lembra que isso
não dispensa um esforço individual.
"Como o bom
aprendizado é geralmente mais difícil, nossa tendência às vezes é cair nas
'ilusões de aprendizado', de fazer as coisas do jeito fácil. Por exemplo, reler
a página de um livro e achar que pegamos as ideias principais, mas não pegamos.
Ou olhar a solução de um exercício e achar que entendemos como resolvê-lo, mas
não entendemos. (...) Se você souber como usar seu cérebro com mais eficiência,
vai economizar muito tempo, evitar muita frustração e expandir seus horizontes
de aprendizado — até mesmo para matérias para as quais você acha que não tem
aptidão."
Fonte: BBC News Brasil
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