quinta-feira, 26 de outubro de 2023

"Defender a vida é mobilizar para a vacina", diz ministra da Saúde a bolsonarista

A ministra da Saúde, Nísia Trindade, participa na manhã desta quarta-feira (25/10) de audiência conjunta das comissões de Assuntos Sociais (CAS) e Direitos Humanos (CDH), no Senado. Ela apresentou os investimentos feitos no setor nos últimos 10 anos, quais serão as prioridades da pasta para 2024 e rebateu acusações dos parlamentares sobre a legalização do aborto.

"No que diz respeito ao aborto e a política de drogas, seguimos a legislação, reiteramos as palavras do presidente da República de que essas matérias devem ser discutidas pelo poder Legislativo. Mas, ao mesmo tempo, como responsáveis pela saúde pública, vemos como nosso papel o atendimento, o cuidado com as pessoas na ótica da saúde", rebateu a ministra ao senador Jorge Seif (PL-SC). Ele leu a Carta aos Evangélicos feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no ano passado. Em trechos, o presidente afirma ser contra a legalização do aborto e o porte de drogas, e afirma que o legislativo é quem decide sobre essas questões.

O senador Eduardo Girão (Novo-CE) reclamou do tempo para perguntar à ministra, já que cinco minutos seria "pouco tempo para a inquisição". "Gostaria de fazer um apelo: de fato, defendamos a vida. E, neste momento, defender a vida significa uma mobilização forte em torno da vacina, com o cuidado com as nossas crianças. Gostaria de contar com os senhores para que, com a mesma veemência que me fazem esse inquérito, defendam a vida, a saúde, a paz nas escolas, a segurança", comentou Trindade.

•        Ações do Ministério da Saúde nos últimos 10 meses

De acordo com Nísia Trindade, o primeiro passo foi recuperar a confiança da sociedade no Ministério da Saúde. "O SUS é a instituição mais democrática do país", disse. Ela exibiu, então, um gráfico que mostra a queda progressiva nos investimentos em saúde, desde 2014. Segundo ela, neste ano, houve investimento recorde em saúde — R$ 34,4 bilhões de acréscimos no orçamento.

Para 2024, a ministra promete o incremento de mais R$ 41 bilhões no setor. As prioridades do próximo anos são a ampliação e fortalecimento da atenção primaria, o fortalecimento atenção especializada, a preparação para futuras emergências (sanitárias e climáticas), investimento e ampliação do complexo econômico industrial da saúde e a expansão digital.

<><> Governo lança programa de combate à desinformação sobre vacinação

Como parte de uma estratégia nacional em defesa da vacinação, o governo federal lançou, nesta terça-feira (24/10), o programa Saúde com Ciência, que tem o intuito de combater a desinformação, fortalecer as políticas públicas de saúde e valorizar o conhecimento e produções científicas. Além disso, o projeto prevê retomar a ampla cobertura vacinal da população brasileira.

A iniciativa é coordenada pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom). O projeto também conta a parceria da Advocacia-Geral da União, Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e da Controladoria-Geral da União.

A primeira fase do programa foca em reduzir o impacto de conteúdos falsos sobre vacinação. Segundo um mapeamento do Ministério da Saúde, 6.801 publicações com desinformação foram veiculadas nas redes sociais entre julho e setembro deste ano. Esses conteúdos impactaram 23,3 milhões de usuários.

Nesse mesmo período temporal, a pasta observou que as informações falsas sobre vacinas versaram principalmente sobre a falta eficácia dos imunizantes e suposta falsificação no número de mortes da covid-19. As peças de desinformação também afirmavam que as vacinas podem causar doenças como câncer, aids ou diabetes, e que na aplicação seria implantado um chip no corpo da pessoa. Todas essas questões foram desmentidas por sucessivos estudos científicos.

•        Pilares

O Programa Saúde com Ciência é fundamentado em cinco pilares: comunicação estratégica; capacitação e treinamento; cooperação institucional; acompanhamento, análise e pesquisa; responsabilização. No âmbito comunicacional, o governo quer oferecer informações respaldadas em evidências científicas em canais oficiais. Esse processo será acompanhado pela capacitação de profissionais de saúde, com o objetivo de fornecer suporte necessário para lidar com a desinformação e promover um ambiente informacional seguro e íntegro à população.

O governo também prevê o estabelecimento de parcerias sólidas e acordos com órgãos do Poder Público, veículos de comunicação, empresas de telecomunicações, plataformas digitais, ambiente acadêmico, especialistas e organizações da sociedade civil para ampliar as ferramentas de difusão de informações.

O programa contará com um portal específico, destinado a veiculação de notícias e análises sobre desinformações identificadas. O espaço também contará com um setor para responder dúvidas frequentes, disponibilização de materiais de apoio para downloads, calendário de vacinação, um quiz que possibilita que o cidadão saiba se ele caiu em alguma desinformação ou compartilhou conteúdos falsos sem saber, além de um passo a passo de como denunciar informações enganosas.

 

       Mais de 13% dos pais brasileiros afirmam que não vacinaram seus filhos, diz estudo inédito

 

Estudo inédito mostra que 13,3% dos pais brasileiros afirmam que não vacinaram seus filhos nas campanhas de imunização. Mas se for considerar a intenção dos responsáveis, antivacinas têm pouco espaço no Brasil.

De acordo com o trabalho produzido por pesquisadores da Rede de Pesquisa Solidária da USP (Universidade de São Paulo) e da Fundação José Luiz Egydio Setúbal, 83% daqueles com filhos de qualquer idade afirmam ter aderido às campanhas. Entre os entrevistados, 4% não quiseram responder ou não sabiam da informação.

Considerando somente os pais de crianças e adolescentes com idade igual ou menor a 14 anos, 98% afirmam que os filhos participaram de todas as campanhas para doenças imunopreveníveis da infância. A mesma proporção reconhece as vacinas como importantes e eficazes na proteção de doenças infecciosas, como a meningite.

Os dados da pesquisa foram apresentados nesta terça-feira (24) no 5º Fórum da Saúde da Infância, organizado pela Fundação José Luiz Egydio Setubal e sediado no Instituto Butantan, na zona oeste de São Paulo. Também participaram do estudo Tatiane Moraes, pesquisadora do Instituto de Estudos Avançados da USP e membro do Observatório Covid-19 BR; Isabel Seelaender, do Departamento de Ciência Política da USP; e Rebeca de Jesus Carvalho, pesquisadora da FGV (Fundação Getúlio Vargas).

Para avaliar a percepção dos brasileiros sobre vacinação e hesitação vacinal (quando, por diversos motivos, os pais não levam os filhos para receberem imunizantes do calendário infantil), foram entrevistadas 2.129 pessoas de 18 anos ou mais, de todas as regiões do país, entre os dias 29 de julho e 3 de agosto. As entrevistas foram feitas pessoalmente em seus domicílios. A margem de erro foi de 2,1 pontos percentuais.

Por meio de um questionário, os entrevistados responderam se vacinaram ou não seus filhos, independentemente da idade das crianças e adolescentes, se aderiram às campanhas de imunização do calendário infantil e da Covid para aqueles com 14 anos ou menos, e sobre a percepção da importância da vacinação para prevenção de doenças graves.

Nas diferentes regiões, a região Centro-Oeste teve a maior adesão (89,45%), enquanto a Sudeste teve menor índice (79,71%). Não houve diferença significativa em relação ao gênero do participante do estudo.

Entre pais e mães com filhos de idade igual ou inferior a 14 anos, que representavam cerca de 45% da amostra, a proporção dos que afirmaram aderir à vacinação dos filhos para todas os imunizantes preconizados foi de 95%, chegando a 100% na região Nordeste. A região Centro-Oeste teve a menor adesão (96,14%).

Os cientistas também perguntaram sobre a percepção de risco de doenças infecciosas, usando como modelo a vacinação contra meningite, doença que atinge a região da meninge cerebral e pode provocar, em suas formas mais graves, sequelas como perda de visão e audição, paralisia e morte.

Segundo a pesquisa, em média, 95,3% dos entrevistados afirmaram concordar plenamente com a vacinação contra a meningite para evitar sintomas da doença. Este índice vai para 98,4% quando considerados também aqueles que dizem concordar em partes. De maneira semelhante, menos de 1% dos participantes afirmam discordar da vacinação contra a doença para prevenir sintomas, seja parcial ou totalmente.

Para Lorena Barberia, pesquisadora do estudo e professora do Departamento de Ciência Política da USP, os dados do levantamento revelam como a população brasileira entende a importância da vacinação de crianças e adolescentes contra a meningite.

"Usamos a meningite como um exemplo para ajudar a entender os fatores que contribuem para pais com filhos aceitar a vacinação das suas crianças", diz.

VACINAÇÃO NAS ESCOLAS

A pesquisa também buscou entender também qual a compreensão dos pais e responsáveis sobre a vacinação contra gripe, HPV (vírus do papiloma humano) e Covid-19 nas escolas. Para esta parte do questionário, os entrevistados foram estimulados a responder à seguinte pergunta: "se houvesse uma campanha de vacinação nas escolas, você permitiria ou não permitiria que seus filhos fossem vacinados?".

Como resultado, cerca de 89% dos participantes concordam com a vacinação dos filhos contra a gripe nas instituições de ensino básico. No caso do HPV, parte de um projeto de imunização nas escolas vetado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), 88% aprovam.

Em relação à vacina contra Covid, a adesão seria de 83%, indicando, portanto, uma menor percepção dos pais e responsáveis da importância da imunização contra o coronavírus em crianças e adolescentes.

 

Fonte: Correio Braziliense

 

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